31.12.10

Conte com a gente

Em 2011 conte com a gente
Pra estudar,
Pra discutir,
Pra discordar,
E viver,
Pra concordar,
Pra prosseguir,
Pra amamentar,
Pra nascer,
Pra apaziguar,
Pra insistir,
Pra fomentar,
Pra crescer,
Pra provocar,
Pra fugir
Quando ficar
For morrer,
Conte com a gente em 2011
Do mesmo modo que em 2010,
Com os mesmos olhos,
Com as mesmas mãos,
Com os mesmos pés...
Conte com a gente então,
O resto é nada,
Viver é compartilhar
Sem possuir,
Quem pensa que proprietário
É um grande otário,
O sinonimo de ter
É dividir...
Por isso em 2011
Conte com a gente,
Mesmo que triste,
Desesperado,
Quero chegar a 2012
Menos cansado,
Mas sei exatamente que pra isso
Preciso trabalhar mais
Contra o desanimo,
Contra o cansaço,
Contra o rancor,
Que é o ladrão da paz...
Então é assim:
Conte sempre comigo.
Amigo que é amigo
Não disfarça...
Feliz 2011...
Não perca a cabeça...
E nem a poesia...
E nem a graça...

25.12.10

Autonomia
(para Camyla)

O coração não obedece a horário:
Não tem que ser hoje, não tem que ser amanhã,
Não segue um roteiro, como um aeroviário:
Colombia, Bruxelas, Amsterdã...

Não tem medida, nem regra, pouso ou páreo,
Tentar domina-lo? Tentativa vã...
Desafia o império, escapa ao corsário,
Transcende à fé budista e à fé cristã...

O coração tem um nome: autonomia.
Segue seu rumo sem fio guia,
Descobre e traça o tom da própria estrada...

Redige a sua própria carta de alforria,
É seu próprio credor, fiador e garantia
E a vida inteira vai nele impregnada...

 

24.12.10

Pedido em forma de poeminha para Splanchnizomai

Prezada leitora atenta e verborragica,
Observadora e simpática leitora,
Tão realista que chega a ser dramática,
E objetiva, porque observadora,

As vezes tento entender a sua tática
Como um aluno que tenta aprender com a professora,
Mas logo perco o folego, como a criança asmática,
E falho, como a feiticeira sem vassoura...

Por isso, minha leitora extravagante,
Permita-se, da data de hoje em diante,
De alguma maneira ser localizada:

Um mail, um blog, um flog, um facebook,
Um msn, uma comunidade do orkut,
Pra que as minhas respostas possam ser postadas,

E assim, por entre replicas e treplicas,
Possamos trocar conversas quilometricas
No reino das frases inesgotadas...

23.12.10

João 3,16

Porque Deus amou o mundo,
Mas amou,
Não apenas simpatizou
Ou gostou muito,
Ou demonstrou alguma outra forma qualquer
De afinidade,
Mas amou o mundo,
Não este pedaço
Ou aquele,
Ou esta parte
Ou a outra,
Mas o mundo
Inteiro,
Sem paredes,
Sem muralhas,
Sem fronteiras,
Amou o mundo
Não de um amor passageiro,
Egoístico
Ou fugaz,
Mas amou de modo absoluto,
Completo
E único,
De tal maneira
Que deu a ele,
Mas deu,
Não apenas prometeu
Ou mostrou que tinha,
Ou emprestou,
Ou tão somente contou,
Mas deu a ele O Seu Filho,
Não o amigo do Seu Filho,
O primo próximo,
O filho do Seu Filho,
Mas Seu Filho,
Não o mais novo,
Não o mais forte,
Não o mais bonito, mas
Deu a ele o Seu Filho unigênito
Para que todo aquele,
Não um ou outro,
Ou este ou aquele,
Ou uns mais, uns menos,
Ou uns nem,
Mas, indistintamente
E sem reservas,
Todo aquele que nele crê,
Não que fala em nome Dele,
Não que prega o nome Dele,
Não que escreve o nome Dele,
Não que arrebata multidões em nome Dele,
Não que grita: Senhor, Senhor,
Mas todo aquele que Nele crê
Não pereça,
Ainda que enfraqueça, não pereça,
Ainda que caia,
Ainda que padeça, não pereça,
Ainda que sofra,
Ainda que esmoreça, não pereça,
Ainda que amargue,
Não pereça
Mas tenha vida,
Não glória,
Metal,
Poder,
Ou honrarias de Estado,
Não fama,
Nome,
Prestígio,
Ou bem estar social,
Mas vida,
Não pequenina,
Passageira,
De efemeridade
Cercada pelas paredes do tempo
Imperdoável,
Mas tenha vida
Eterna...

1.12.10

Afinidades

Eu me dou bem com as faltas de importancia,
Com os desinteresses em geral,
Com as coisas simples, sem relevancia,
Comuns, como biscoitos de agua e sal,

E vejo, onde ninguem ve elegancia,
Rabiscos de elegancia sem igual,
Eu me dou bem com o vento desde a infancia,
E com a formiga, com a folha, com a roupa no varal...

Não vivo a perseguir titularias...
Em vez de titulos, as rimas das poesias
Sabem fazer melhor a minha cabeça...

Eu me dou bem desde miudo entre as miudezas...
Sinto-me em casa entre as delicadezas...
Tomara Deus, por fim, que eu nunca cresça...

26.11.10

A espera (o poeta)

Passei uma hora tentando, esperando,
Arrodeando o poema por uma hora e meia,
Rabiscando um verso inutil, mas tentando,
E inalcançável, como a lua cheia...

Tentando me aproximar, me arrodeando,
Como se eu fosse uma teia,
Como quem nem sabe a letra e vai cantando,
Inconsistente, como um grão de areia...

E ali, por essa mais do que uma hora,
Como um viajante que não vai embora
Mesmo sem ter a chave do portão,

Tentei o poema com fibra de insistente,
Sonhando em recebe-lo de presente,
Ou por piedade, ou sinal de gratidão...
A espera (o poema)

O poema tentou uma hora me esperando,
Ou me arrodeou por uma hora e meia,
Tentando, sempre em silencio, mas tentando,
Inconfundivel, como uma lua cheia...

O poema, por mais de uma hora me arrodeando,
Como se fosse uma teia,
Cantando seu verso em silencio, mas cantando,
Imperceptivel, como um grão de areia...

E ali, por essa mais do que uma hora,
Como um carteiro que não vai embora
E permanece próximo ao portão,

O poema me esperou, verso insistente,
E trouxe-me esse soneto de presente
Que eu tento registrar, por gratidão...

30.10.10

Um poeminha pra Suelen

Eu te faria um poeminha assim
Escrito todo de palavra boa
Dessas palavras que se espalham num jardim,
Ou caem das asas de um passaro quando voa,

Eu te faria um poeminha assim
Porque tu és um docinho de pessoa
Que faz aparecer palavra em mim
E eu tento rabiscar um verso a toa

E eu te faria esse poeminha
Feito de letra delicadinha
Um verso pra tentar te fazer um bem

Um poeminha bobinho, eu te faria
Feito de vento, de luz, de fantasia,
Feito de palavrinha de nenem…

27.10.10

O seu sorriso
Para Camila Mendez

Não é somente um tempero pro seu rosto,
É um verso doce, sem tradução,
Não tem pecado, exala bom gosto,
Enigma que não tem explicação. 

É como um pássaro sempre bem disposto,
Discreto como bolha de sabão,
Como se o próprio coração exposto,
O seu sorriso é todo pulsação...

O seu sorriso é fermento pra quem mira,
É grave, como a mentira,
Oportunista, como um goleador,

Gigante como a Baia da Guanabara,
Intenso como a chuva que não para,
E quase inconfundivel, como o amor...

12.10.10

Às mães de UTI
(Às mães das crianças internadas na UTI Nicola Albano)

Mães delicadas, maravilhosas,
Mães heroinas do meu coração,
Mães dedicadas, mães cuidadosas,
Mães que são feitas todas de paixão...

Mães que são como o perfume das rosas:
Mexem com a nossa emoção...
Mães privilegiadas, mães dadivosas,
Tão lindas que não tem explicação...

Que Deus esteja sempre do seu lado
Mantendo esse coração iluminado
Que ensina o que é o amor à Terra inteira...

Muito obrigado por tudo, mães queridas
Que tocam com seu amor as nossas vidas
E com sua força tão verdadeira...

3.10.10

Refugio
(À Escola Jesus Cristo em seu aniversario: 27/out/2010)

E quando tudo em volta é ameaça,
Hipocrisia, maledicencia,
Como uma tempestade que não passa,
Como uma cólica que ataca com insistencia,

E quando em volta a vida perde a graça:
Angustia, dor, falta de transparencia,
Miséria, mágoa, desespero, farsa,
Desatenção, descuido, negligencia,

E quando tudo em volta não ajuda,
Como uma febre absurda
Que desconhece o caminho de ceder,

A Escola é o meu refugio verdadeiro,
Repouso generoso e companheiro,
Colo materno a me proteger...

(A Escola é o meu refugio preferido,
Meu significado, meu sentido,
Meu bálsamo de não esmorecer...)

6.8.10

Aos oitenta
(À minha mãe)

Experimente fazer oitenta
Como se estivesse contornando os vinte:
Maravilhosa,
Doce,
Delicada,
Segura,
Forte,
Leve,
E com requinte...
Experimente,
E o faça com elegancia,
Como quem sonha
Com o dia seguinte...
Experimente fazer oitenta
Como quem faz dez,
Como quem faz vinte e tres...
Como quem põe os pés
Em terra firme,
Como quem prometeu
A Deus
Fazer
E fez...
Experimente fazer oitenta
E soltar-se soberana por ai,
Como se fosse branda bailarina,
Um rio doce,
Um anjo que sorri...
Experimente,
Tente,
Nem é facil,
Eu sei,
Mas voce pode conseguir...
Mais do que ler e escrever
Aprenda a ouvir,
Mais do que somar e ter,
Aprenda a dar
Mais que multiplicar,
Aprenda a dividir
E se entregando,
Aprenda asim,
Doando-se,
A ganhar
Não a moeda
Misera, avarenta,
Outra riqueza sim,
Maior que o mar,
E a não ter nada
Como quem se agrada
Com o pão de cada dia
Conquistado,
A roupa do corpo,
Não muito mais,
E muita paz,
E o coração alinhado...
Experimente
Fazer oitenta
Como quem faz
Quatro ou cinco,
Ou desessete...
Como quem, soberana,
Não se rende,
Icaro que não se derrete...
Experimente,
E chegue aos seus oitenta
Com a poesia
De um recem-nascido...
Como se fosse
Mágica dos Anjos...
Experimente...
Voce não sairá arrependido...

6.6.10

Descobrimento

Tanta palavra,
Tanto trabalho,
Tanto diagnostico
Avassalador,
Tanta cultura
Entre a dor e a cura,
Tanta procura
Pelo fim da dor,
Tanta rotina,
Tanto envolvimento,
Tanto equipamento
De alto valor,
E nada disso
Garante um cuidador...
É necessário
Mais do que leitura,
Mais do que máquina
Ou do que o titulo
De Doutor...
A técnica
Não acaba com a tristeza,
O antibiótico
Não cura o sofredor...
É necessário
Mais do que o salário,
É necessário
Uma fonte de calor
Que afaste o medo
E faça companhia
Sem se importar
Com nome, idade ou cor...
É o amor...
Só ele o que nos basta.
Sem ele tudo é fraco
E enganador.
Experimente algum dia
Não ter nada,
Além de seu olhar
Confortador,
Além de um aperto de mão
Ou de um sorriso,
Além de um gesto
Doce e apoiador...
Experimente nesse dia
Não ter nada
E esse dia será
Revelador
Porque não será preciso
Mais que nada
Se, tendo nada,
Você tiver amor...
Porque a vida sem amor
É uma roubada
E é sempre transformada
Pelo amor...
Amor que é tudo de bom,
Que a tudo agrada...
Amor essencial...
Profundo amor...

5.6.10

Aritimética

Quem divide felicidade, multiplica felicidade,
Felicidade não ocupa lugar no coração.
Quer ser feliz? Seja feliz à vontade.
É só querer. É só não dizer não...

E dai se existe a dificuldade,
O desafeto, o ciume, a perseguição?...
A noite é só a metade.
A outra metade é o sol. É a claridão.

Por isso é que felicidade espalhada
Significa felicidade multiplicada
E aumenta suas chances de ser feliz...

Por isso é que é assim: nunca termina.
É como aquele restinho de purpurina
Grudada no seu nariz... 

4.6.10

Amamentar


Amamentar é um ato psíquico,


Indiscutivelmente, um ato político,

Seguramente, um gesto psicológico...

Amamentar é um momento magnífico,

Traduz, decerto, um posicionamento critico,

Amamentar é um ícone ecológico...

Para muitas mães, traduz um ato prático,

Para muitos bebes, um exercício rítmico,

Talvez, dos movimentos, o mais democrático,

Dos comportamentos, o mais mítico...

Amamentar é fantástico...

É o antídoto contra o bico plástico,

É mais antigo que o homem paleolítico,

Definitivamente o encontro mais romântico,

Possivelmente o termo mais poético,

Provavelmente o contato mais intimo,

E embora às vezes ganhe um tom dramático,

Não há como negar-lhe o lado místico...

Não há como não ver seu lado lúdico,

De significado tão elástico,

Coerente como um calculo aritmético.

Por isso um gesto sempre tão simpático,

Por isso nunca de um padrão estático,

Por isso quase sempre um gosto estético...

22.5.10

Poema Alagoano

Ao sopro da brisa entre a Ponta Verde e a Pajuçara
Escrevo um verso de um poema alagoano...
As nuvens impedem o sol na minha cara,
A praia tenta desviar meu plano:

Um verso alagoano... E o tempo para...
O pensamento parece um aeroplano.
A praia entre a Ponta e a Pajuçara é rara,
E o verso atonito escapa, doidivano...

Um poema alagoano que eu queria
Como um brinquedo pra minha poesia,
Um verso inteiro escrito em Alagoas

Como se eu estivesse deitado numa rede
Ao sopro da brisa entre a Pajuçara e a Ponta Verde,
E que trouxesse ao coração só coisas boas...
Poema aéreo (II)
Escrito em 16 de maio de 2010 em algum lugar no céu do Brasil entre Rio e Maceió, já quase aterrisando.

Cade a rima de que eu precisava
Para escrever esse poema aéreo?
Tentei daqui de cima uma palavra
Que respeitasse esse unico critério:

Que fosse aquela de que eu necessitava...
Não era pra me levar tão a sério...
Era só uma rima o que eu buscava...
Não um império...

O comandante anuncia a aterrissagem...
Já vai chegando ao fim a minha viagem
E a rima brincando de esconde-esconde...

E escapa para longe do soneto,
Quase gorando esse ultimo terceto...
Será que essa danada foi pra onde...
Poema aéreo
Escrito em 16 de maio de 2010 em algum lugar no céu do Brasil entre Rio e Maceió.


A rima escrita daqui de cima
A centenas de quilometros do chão,
Pode até parecer a mesma rima
Mas não é não...

E pode até parecer, porque combina,
A mesma rima, escrita num avião,
Mas certamente possui mais adrenalina
E um toque especial de inspiração...

A rima escrita daqui de tanta altura
Parece um gole puro de agua pura,
Não é a rima usual do dia a dia...

A rima escrita daqui da aeronave
É mais sutil, mais sensivel, é mais suave,
E é mais propicia para a poesia...

1.4.10

Quem foi que disse que pra ta junto precisa ta perto?
Para M.
Depois de ouvir a musica Pensa em Mim no CD Cheiro de Amor Acustico.

Naqueles dias quando estou sozinho,
Exatamente desacompanhado,
Eu sempre arrumo um jeito do meu caminho
Trazer voce do meu lado,

Seja no pensamento, de levinho,
Seja no celular, por um recado,
Seja num gesto feito de carinho,
Seja num mimo por um agrado,

E nesses dias sem voce por perto
Sua presença me afasta do deserto
E torna acompanhada a minha vida,

E eu respiro tranquilo e aliviado
Sem voce por perto mas com voce do meu lado
Fazendo a minha estrada mais querida...

30.3.10

Ao meu irmão Celsinho por ocasião de seus 49 anos em 21/03/10

É uma honra ter-te como irmão
Sincero, amigo, amável, camarada,
Inteiro feito só de coração
E de alma integra e dedicada

É uma honra sem comparação
A vida já não me deve mais nada.
Tenho por ti um rio de gratidão
E uma vida gratificada.

Feliz aniversário, bom menino.
Que Deus cubra de bençãos seu destino
E faça da tua vida um milagre diário...

Feliz aniversário, meu irmãozinho...
É o pique.. é hora... Palmas pra Celsinho...
Deus te abençoe. Feliz Aniversário!!!
Ao meu irmão Flávio, por ocasião de seus 51 anos em 05/09/09

Ja passa dos cincoenta esse menino
Que não desiste de sua mocidade...
Parece coisa magica do destino
Ou fruto doce da fatalidade:

Passar dos 50 e permanecer tão fino
Balde que transborda cordialidade...
51 mantendo-se um bambino,
Um bom menino, diga-se de passagem...

E não foi pouca vida essa vivida
Por esse menino cinquentão, e a lida
Não foi coisa menor, pouquinha coisa não...

Meu irmão, irmão cinquentenário...
Feliz irmão... Feliz aniversário...
Que Deus te proteja e guarde, meu irmão...

4.3.10

Saudade


Que graça teria a vida se não houvesse a saudade,
Se não houvesse a vontade de querer rever alguém,
Se não coubesse na alma da gente essa necessidade,
Se não houvesse esse incomodo da gente se sentir tão sem?

Que graça teria a vida sem essa outra metade
Que quando acaba consegue fazer tudo ficar tão bem?
Que graça teria a vida sem essa tristeza que invade
O coração de quem sente saudade... E o de mais ninguém...

Que graça teria a vida sem a sua companhia,
Saudade, que é castigante como chuva em noite fria,
Que é como um gosto vinagre, que é como um mundo sem cor?

Por isso é que me pergunto que graça a vida teria
Saudade, sem suas brasas pra fornalha da poesia,
Que graça teria a vida, saudade, sem sua dor?

26.2.10

Constatação
para M.

Olha,
você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro
em maio
e quase tão bonita
quanto a Revolução Cubana
Ferreira Gullar in Cantada

Voce é mais bonita do que um céu azulado,
Mais bonita do que uma tarde à beira-mar,
Voce é mais bonita do que um abraço apertado,
Mais bonita do que um verso de Gullar...

Voce é mais bonita do que um beijo roubado,
Mais bonita que o azul de Avatar,
Mais bonita do que eu teria imaginado,
Mais bonita do que eu saberia explicar...

Voce é mais bonita que a lua cheia
Espalhando prateados pela areia,
Desestabilizando o céu azul escuro...

Voce é mais bonita do que uma noite estrelada,
E diria a poesia, encabulada ,
Quase tão bonita quanto um bebe prematuro...
Oferenda

Não posso te oferecer o mundo inteiro,
Tudo que der na imaginação:
Um caminhão cheinho de dinheiro,
Milhões de premios num grande caminhão,

A paisagem do Rio de Janeiro,
A lua cheia pra iluminação,
Passagens prum passeio de cruzeiro,
Milhões de lojas em liquidação...

Não posso te oferecer porque primeiro:
Seria acusado logo de exagero,
Segundo: não teria a minima condição...

Por isso procuro ser mais verdadeiro,
E se não posso dar-te o mundo inteiro,
Entrego inteiro a ti meu coração...

3.2.10

A duvida

Que graça a vida teria se não houvesse poesia?
Escrever prosa sem rima, palavra não versejada,
Acordar, dormir, comer, trabalhar sem garantia,
Beber cerveja, enfartar, namorar, jogar pelada...

Pagar imposto de renda, mandar um mail pra tia,
Tomar remedio de verme depois de comer empada,
Aprender a dedilhar no violão Leo e Bia,
Gastar o tempo corrido com a hora sempre atrasada,

Que graça teria a vida se não houvesse Bandeira?
Que coisa... O que é que seria de nossa segunda feira?
Para que é que serviriam os  cadernos de escrever?

Se não houvesse Cecilia, se não houvesse Ferreira,
Será que a gente escreveria alegria de que maneira?
Se não houvesse a poesia como seria viver?
E se (ainda)...

E se eu votasse no outro candidato?
E se eu me mudasse para Araraquara?
E se eu não assinasse esse contrato?
E se eu não me entregasse assim de cara?

E se eu deixasse comida no prato?
E se eu me apaixonsse pela Guanabara?
E se eu decidisse ir morar no mato?
E se eu comprasse a coleção da Nara?

E se eu quisesse declamar poesia?
E se eu perdesse o prazo de garantia?
E se eu cantasse pra poder dormir?

E se eu fosse dormir hoje mais cedo?
E se eu dormisse sem perder o medo?
E se meu sonho era voce sorrir?
E se...
Para M.

E se eu soubesse conquistar seu coração?
Se eu descobrisse como voce ficar bem?
Se eu inventasse canções como o Barão?
Se eu não deixasse voce nunca ficar sem?

E se eu não contasse pra ninguém não?
E se eu não me importasse com ninguém?
E se eu chegasse pela contra-mão?
Se eu não ligasse de perder o trem?

Se eu me virasse todo pelo avesso
Trocando o final do fim pelo começo
E o começo assim não tivesse fim?

E se eu fizesse um verso que nem esse,
E se eu mostrasse a voce, se voce lesse,
Voce diria será o que de mim?

2.2.10

A casa

A casa onde eu moro não tem parede,
Por não ter muros, não tem portão,
E por não ter parede, não tem rede,
Nem rua, nem quintal, nem céu, nem chão...

Tem agua boa pra matar a sede,
E pra matar a fome, muito pão,
Não é azul, não é branca, nem é verde,
Não é casinha nem é casarão...

Nem endereço tem a minha casa,
Enchente não enche, tufão não arrasa,
E olha que haja tufão...

Eu moro num lugar desconhecido,
Eu moro ali desde recem-nascido,
Eu moro dentro do meu coração...

1.1.10


O bebe canguru

Quem ousaria incomodá-lo, assim?
Que dor? Que movimento descuidado?
Que som abusivo? Que toque frio e ruim?
Que exagero de luz mal calculado?

Quem ousaria provocar o fim
Desse sono reparador tão delicado?
Suave como um piano de Jobim...
Discreto como um Quintana declamado...

Quem ousaria tamanha iniqüidade?
Separar mãe e filho: insanidade...
Atrapalhar esse vínculo sagrado...

Bem aventurado o colo que se entrega
Ao filho, bem aventurado, que se apega
A esse encontro bem aventurado.