30.5.19

A discussão

Um diz que sabe. O outro, que tem certeza.
Um afirma. Outro nega. Os dois se estranham.
E entre o sim e o não, essa estranheza
Onde os dois pensam que batem, mas apanham.

Sobra arrogância. Carece delicadeza.
Quanto mais perdem, mais pensam que ganham.
É verbo solto o que sai da alma presa
De um e de outro, enquanto se arranham.

A discussão, que não vai levar a nada,
Além de deixar a alma mais cansada
Nessa busca obsessiva por ter razão,

Vale como um atestado da estupidez humana
Que morre desgastada em luta insana
E não consegue escutar seu coração.



28.5.19

Poesia

Chegaram até mim,
Feito poemas,
Suas palavras,
Mas eu sabia
Que era amor
Cada cor que iluminava
Cada pedaço
De cada poesia.

Chegaram até mim
Versos sem rimas,
Palavras livres
De metrificação,
Mas deu pra perceber
Que dentro delas
Havia um pedaço
Do seu coração...

Bendita a mão que semeia
Versos livres a mão cheia,
Pro poema se espalhar...
Um verso, caindo n'alma,
Envolve a alma com calma,
Fazendo a alma cantar...

24.5.19

João Gilberto


A primeira vez que escutei João Gilberto
Adorei o jeito do João tocar violão,
Eu nunca vi João Gilberto de perto
Mas ninguém chegou mais perto do meu coração,

Eu vim da Bahia, ele cantava, e estava certo,
E a Bahia não tem comparação,
Ninguém escutou, nem meu avô nem meu neto
Um violão como o violão de João,

A primeira vez que escutei me apaixonei,
Lembro até hoje da primeira vez que escutei:
Ninguém no mundo toca violão assim

Cadenciado, desencontrado,
Afinado ensinando a cantar desafinado,
João tão genial quanto Jobim...

Memórias

Memórias da família que ficaram,
O que nos contaram sobre o que viveram,
Memórias que os anos não apagaram
E que nossos corações não esqueceram,

Como um legado que nos deixaram,
Como fotografias que não envelheceram,
Gestos gentis que nunca amarelaram,
Carinhos bons que nunca se perderam,

Histórias que nossos antepassados nos contaram,
Daqueles dias desde que aqui chegaram,
Do que enfrentaram, de como cresceram,

E da saudade da pátria amada que deixaram,
E do amor dessa nova pátria que encontraram,
Do tanto de amor que entregaram e receberam...

Marthinha

Marthinha aparece,
Não esquece da gente,
Eu sei que somos um grupo as vezes displicente,
Somos uma multiplicidade de pensamentos,
A incrível turma de mil e novecentos
E oitenta e três,
Falamos muitos assuntos, todos de uma vez,
Mas quando uma voz
Como a sua, amiguinha,
Fica escondidinha,
Sem dizer nada,
Faz uma falta danada,
Porque você é como chicabom:
É tudo de bom.
Por isso, fala alguma coisa
Pra gente saber
Como foi seu dia,
Como está sua filha,
Como estão seus netos,
Seus projetos,
Como está seu coração,
Fala de maconha,
De Chico,
De chikungunya,
Fala da cor do seu esmalte de unha,
Fala de amor,
Mas fala,
Porque quando você se cala,
O que todo o resto fala
Parece não dizer nada,
Você faz uma falta danada,
Você faz uma falta, danada,
Antenada,
Descolada,
Que adora uma pedalada,
E uma discussão bem temperada,
Fala,
Estala os dedos,
Diz dos seus medos,
Conta da solidão,
Fala do seu novo apartamento,
Desse fogão rabugento
Que só esquenta as panelas que ele quer,
As outras não,
Fala mulher,
A gente escuta,
Pode chamar Lula de filho da puta,
Bolsonaro de jumento bem intencionado,
Eu vou ler e vou gostar
Porque melhor que concordar
Ou discordar,
É aceitar
Você aqui do nosso lado.
Por isso esse poeminha improvisado.
Volta, Marthinha,
Sem você esse grupo parece abandonado,
Adoro você,
Adoramos você,
Tenta aparecer...
Marthinha,
Cadê você ?
Eu vim aqui só pra te ver...

Um beijo no seu coração

Bom dia

Que seja um dia bom demais pra gente,
Notícias boas pra nos alegrar,
Que comece com pão com queijo, café quente,
E o amor, porque o amor não pode faltar,

Que o Whatsapp mande posts diferentes 
Dessas más notícias que nos  costuma mandar,
Que Deus esteja, também, sempre presente 
Em cada decisão que a gente tomar,

Seja pra esquerda, seja pra direita,
Que a gente faça da forma mais bem feita,
Que é o unico jeito da gente escapar

De arrependimentos que doem tanto...
Bom dia, sem maldade, sem quebranto,
E com a luz divina sempre a nos guiar.

23.5.19

Blanca

Eu bem que tentaria, se eu soubesse,
Um sonetinho lindo que homenageasse
O seu aniversário, você merece,
Ah, se eu tivesse essa classe...

A prova de que Deus nunca nos esquece,
É ter permitido que você estreasse
Nesse planeta como uma rosa que floresce,
E torna feliz o mundo quando nasce.

E foi exatamente assim naquele mês de maio:
Você nascia, forte como um raio,
E doce, pra uma doce encarnação,

A filha, a mãe, a avó e a médica, misturadas,
Que sintam-se nesse soneto homenageadas,
Que é quase nada, mas que vem do coração.

O relógio de ponto

O relógio de ponto está instalado,
Vai preparando sua digital,
Estrategicamente bem instalado
Na pequena varanda, perto do quintal,

Olhando de pertinho, o desgraçado
Até que não parece ser assim tão mau,
Mas não se engane: chegou atrasado,
Vai se entender com o poder municipal.

Não foi de graça, muito pelo contrário,
Mas pra vigiar esse bando de proletário
Não custa nada gastar um dinheirinho,

E eu que nunca sonhei com a aposentadoria,
Já tô desde agora imaginando o dia
Em que eu não precisar mais enfiar no relógio o meu dedinho.

Um poema pra Bia

Pra escrever um poema para Bia
Escolha uma palavra delicada,
Tempere com pitadas de alegria
E um aroma de coisa perfumada,

Tome o cuidado para que a poesia
Seja na medida para a homenageada,
De forma que, ao receber, ela sorria,
E quando ela sorrir se sinta amada,

Então, para escrever um poema assim,
Como uma amizade que não tem fim
Porque se faz diariamente conquistada,

Envolva-o com laços de sinceridade,
E avise pra sua amiga da faculdade
Que a poesia dela já pode ser usada.

Quinta feira

Amanhece nublada a quinta feira,
Jeito de chuva, cinzenta, dia frio,
Calor parece que só na agua da chaleira
Que quando ferve solta um assobio,

Quinta com frio. Não tá de brincadeira.
Sair de debaixo do cobertor causa arrepio.
Coitado de quem toma banho de banheira.
Castelo da Frozen, esse estado do Rio.

As articulações enferrujadas 
Me dizem que preferem continuar deitadas
Sem perceber que há muito o que fazer,

Então, movimentando as minhas juntas,
Eu finjo que não escuto as suas perguntas,
E assim a quinta começa a acontecer.

A ingratidão

Eu trago aquele poema aqui guardado,
Poema que nunca mais libertou meu pensamento,
Que foi como um vírus quando inoculado
Mudando quase tudo aqui por dentro,

E sempre que o leio, confesso-me assustado,
E cada vez que o faço, eu sou quem tento
Compreender o que há por trás do seu significado
E me repito a todo momento:

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja

A ingratidão, o nome dessa pantera
Matando o último sonho, a última quimera,
Como uma larva venenosa que rasteja...

22.5.19

Bom dia

Bom dia meu povo forte e destemido,
Povo que não dá mole e nem vacila,
O bicho tá pegando, mas tá bem vestido,
Uns de scarpin outros de mochila,

E que já chega no trabalho decidido
A sentar no consultório e comer fila,
Bom dia meu povo comprometido,
Povo valente, como o Sansāo de Dalila.

Bom dia porque hoje é mais um dia
De misturar a fé com a correria
E não perder o prumo da empreitada,

E porque somos valentes o bastante,
Por isso chegamos aqui e vamos adiante,
Sempre com Deus, porque sem Deus não somos nada.

21.5.19

Triste Rio

Que Rio triste de Janeiro a Janeiro,
Que Rio cheio de tiroteio,
Que Rio triste terra de pistoleiro,
Que Rio triste, nunca vi mais feio,

E eu que gostava tanto do Rio inteiro:
Flamengo, Copacabana, Catete, Recreio,
Mas hoje, "o que é isso, companheiro ?"
Diria Gabeira, cheio de receio...

E o tiroteio diário que não para,
Acaba com a baía da Guanabara
Deixando triste nosso coração...

Ah, Cristo Redentor que nos redime,
Livra nosso Rio de tanto crime,
E cobre o Rio com sua proteção...

1.5.19

Dia do trabalho

Acordar cedo. Diariamente.
Obedecer às ordens do patrão.
Salário não compra tudo. Provavelmente
Ou vai faltar manteiga ou faltar pão

E a cada dia tudo novamente
O relógio de ponto é o olho do patrão
Faça calor ou chova torrencialmente
Vale o que ele marca. O resto não.

É finalmente hoje é dia do trabalhador
Não tem relógio de ponto. Nem sim senhor.
Nem tem conversa fiada pra escutar.

Dia de casa. De festa. Um lindo dia
Tão lindo que mesmo com a panela vazia
A gente sai pra comemorar