31.7.03

Gritos e Sussuros

Há sussuros que são mais que gritarias
E há barulhos que parecem sussurrados...
Bastou um sussuro: _Faça se a Luz!
Para que à Luz fossemos condenados,
Enquanto os barulhos imensos que nos cercam
Já um segundo depois nem são lembrados...

30.7.03

Epitáfio

Um catador de conchinhas que passava o tempo entre o aqui e o ali buscando o além...
Um catador de conchinhas que viveu a vida inteira assim, intensamente...
Um catador de conchinhas que catava conchinhas prá que nunca se soube bem...
Um catador de conchinhas que catava conchinhas por catar, somente...
O Caminhar

Caminho pelas ruas da Cidade.
Não sei exatamente onde parar.
Reduzo a velocidade.
De repente
Uma vontade enorme de voltar.
Prossigo.
Eu acelero novamente.
Alguma coisa teima em me levar
Adiante, além, ali...
Possivelmente
N´alguma estrada de continuar...
E vou seguindo.
Agora, acelerado.
Nem nada e nem ninguem me faz parar.
Eu sigo o meu caminho não traçado
Como que me pedindo pra eu traçar.
Caminho pelas ruas.
Já é tarde.
Parece que a cidade já não há.
Só descampado,
Velocidade,
Só mata ,
Lago,
Vento ,
Rio,
Mar...
E assim eu sigo
Como quem procura
Sem conhecer o que,
Porque buscar...
Caminho pelas ruas da Cidade...
Como é moroso o meu caminhar...

13.7.03

Iber
O menino Iber, filho dos amigos Joca e Beatriz, foi vitima de um acidente fatal quando, ao subir no muro para tentar repor uma bola em jogo, tocou sem querer num fio de alta tensão... Um segundo foi a distancia entre o menino e o anjo. Menino bom que tive a opotunidade de conhecer em seu primeiro choro na sala de parto... Que o menino-anjo nos proteja a partir de agora dos muros e das bolas e dos fios da vida... Que Deus nos abençoe.

Foi só por brincadeira, sem maldade...
Mais uma levadice de menino...
Nada demais... Nenhuma leviandade...
Nem foi pecado... Foi só desatino...

Pegar a bola no muro... Deu vontade...
E entre o jogo e a morte, um fio fino:
No caminho da bola a eletricidade...
No caminho da eletricidade, o seu destino...

E assim, por brincadeira, sem pecado,
Sem que se compreendesse o significado
E sem que houvesse alguém para explicar,

Além do muro alto, outros gramados
Onde o menino, quase sem pecados,
Inexplicavelmente foi morar...

4.7.03

A minha felicidade...

I
A minha felicidade não é só minha.
É minha e do vizinho que me cerca.
Felicidade, quando sozinha,
É poesia incompleta.

A minha felicidade não é só minha.
É minha e de cada um que me rodeia.
Quanto mais minha, mais da minha vizinha,
Como se eu fosse um ponto numa teia.

A minha felicidade é feito o cheiro
Que a cozinheira põe em seu tempero
E abre o apetite de quem cheira...

A minha felicidade não é só minha.
É como o vôo livre da andorinha.
É minha e é também da Terra inteira.

II
A minha felicidade é verdadeira.
Distribuida, permanece inteira,
E não termina, mesmo quando dada.

Fica pequenininha se trancada,
Quando é sozinha, fica abandonada,
Se eu guardo só pra mim, vira poeira.

E assim, feliz, sem ser feliz guardado,
(que diigam: coisa de poetinha)
A minha felicidade é o meu legado.
Achei quando pensei que já não tinha.

Quando eu já me sentia um derrotado
Chegou, sem eu notar de onde é que vinha.
Mas sei que só tomei ela emprestado:
Porque a minha felicidade não é só minha.