3.4.13

A palavra

Ama com fé e orgulho a poesia,
A rima, o ritmo, a palavra boa,
De Castro Alves a Drummond, boa companhia,
De Augusto dos Anjos a Pessoa...

Ama a palavra que nunca se esvazia,
Que sem luz, brilha, que sem asas, voa...
Imprevisível, com a estafilococcia,
Incontrolável, como a garoa...

Ama a palavra que nunca esfria,
Que assina a própria carta de alforria,
Que nunca foi rica e assim mesmo ri à toa...

Ama a palavra com o amor que não se adia,
Palavra além da que vende a livraria,
Orgulhe-se do amor da palavra que se doa...

Está escrito

Ainda bem que existem outros começos
E outras "parte dois" antes do fim,
Outras segundas chances pros tropeços,
Outros açucares pro sabor ruim...

Ainda bem que há outros endereços:
Passargada, Cuba, Quixeramobim,
E outras mercadorias, e outros preços,
E sempre foi e será sempre assim...

Por isso não se irrite nem perca a paciência:
Não é considerado crime a persistência,
A perseverança não é um delito...

Segue adiante, há sempre outro caminho,
Mas cuidado com as rosas que não tem espinho...
E seja feliz... Porque assim está escrito...

2.4.13

Os olhos de Fernanda

Para Fernanda Sá,
Enfermeira,
Fotógrafa,
Não necessariamente nesta ordem.

Seus olhos são delicados como as lentes
Da sua máquina de fotografar,
Veem por trás dos corações das gentes,
Dão voz ao que não tem voz para falar...

Seus olhos são como máquinas potentes
Com zoons e megapixels de sobrar,
Olhos brilhantes, suaves, diferentes,
Como se olhar fossem outro modo de cuidar...

Por isso seus olhos, Fernanda, brilham,
E nos cutucam, e, lindos, compartilham
A beleza que veem com toda a humanidade...

Fernanda fotografa, Fernanda Enfermeira,
Fernanda poesia para a vida inteira,
Fernanda e seus olhos cheios de verdade... 

Autonomia

Não quero nada que eu já não possua:
Sossego, trabalho, sonho, poesia,
A certeza de que a vida continua,
Uma lerdeza que até parece a Bahia...

Não quero nada que precise vir da rua:
Pacotes, sacolas, má companhia...
A mesmice é quase sempre nua e crua,
Carecendo de detalhes de alegria...

Por isso eu não procuro feito um tonto
Bobagens e besteiras que eu encontro
Muito mais suaves por onde ando...

Por isso eu penso que eu não quero nada.
Pra mim já basta o dia, a madrugada,
E os bons amigos de vez em quando...

Mercado livre

Eu vendo o que eu sei,
Eu vendo o que eu faço,
Eu vendo a ajuda que posso te dar:
Uma palavra amiga,
Um auxilio,
Um abraço,
Tem algum dinheiro?
Pode comprar.
Pode porque eu vendo
Palavras sinceras,
Teses de Doutorado,
Poemas infantis...
Historias de fadas
E belas, e feras,
Eu vendo formulas
De fazer você feliz...
De tudo um pouco:
Cultura,
Ornamentos,
Arte,
Letra,
Musica,
Casinhas na praia,
Eu vendo descontos:
De mil por trezentos,
Eu vendo de Nelson Sargento
A Tim Maia.
E vai de tudo um pouco,
Eu não nego nada:
Das drogas licitas,
Aos filmes de ação,
Dos livros de protesto,
Às figurinhas,
Da Bíblia Sagrada
Até o Alcorão...
Eu vendo.
Me paga e ceu entrego na hora.
Satisfação garantida
Ou seu dinheiro de volta.
Indiana Jones,
300,
O Senhor dos Anéis,
E a coleção completa
De John Travolta.
Me pede.
Eu entrego.
Me compra.
Eu envio.
A vida é um mercado
Em liquidação
Onde se compra e se vende de tudo.
Ou quase de tudo.
O coração não.

A poesia

A poesia é assim: não se aprende nem se ensina,
As vezes ninguém nem lê, e ela nem liga...
As vezes foge da métrica, outras, escapa da rima,
As vezes quer paz e amor, outras, quer briga...

A poesia é assim: não morre nem desanima,
As vezes dá um friozinho na barriga...
Tem dias que ela acorda em Teresina,
Tem noites que ela se esconde no Bixiga...

A poesia é assim: às vezes silenciosa...
Tem dias que ela é comum como uma prosa,
Tem dias que ela já chega Bilaqueando...

A poesia é assim: surpreendente...
Às vezes tensa, como a dor de dente...
As vezes leve, como o dia clareando...

1.4.13

A Grande Lei

Quem pode, pode, quem não pode, chia,
Quem podem,tenta, quem não pode, não,
Quem pode, passa a Semana Santa na Bahia,
Quem não pode, passa a Semana Santa de plantão.

Quem pode, escreve, quem não, copia,
Quem pode almoça, quem não pode come pão,
Quem pode tenta desvendar poesia,
Quem não pode reclama de tudo sem razão...

Quem pode cutuca, curte e compartilha
Porque sabe que homem nenhum é uma ilha,
E que sozinho não se vai a nenhum lugar,

Por isso quem pensa que não pode também pode,
Da Grande Lei da Vida nem ninguém foge,
É tudo uma questão de acreditar...

Cada um na sua

Cada um acredita no que quer,
Cada um vê a vida da forma que acredita:
Tem homem que acredita que é mulher,
Tem mulher que acredita que é bonita.

Tem gente que acredita nos hippies de Hair,
Tem gente que nos ricos da Arabia Saudita,
Tem gente que acredita em tudo que eu disser,
Tem gente que só na dissidente cubanita.

Tem gente que acredita em Coelhinho da Páscoa,
Tem gente que acredita que não exista o Alasca,
Nem que o homem um dia tenha chegado à Lua...

Cada um acredita nas verdades que aceita...
Viver é um livro em branco, sem receita...
E assim seguimos... Cada um na sua...