20.10.09

A corredeira

Dize-me com que versos tu caminhas
E eu te direi o poeta que tu és...
A forma como tu rimas tuas linhas,
Os versos com que tu desenhas teus papéis...

Como tu tratas as coisas comezinhas,
De que maneira tu contas de um a dez,
Com que argumentos tu agradas as Rainhas,
Com que argumentos tu agradas as ralés...

Dize-me com que versos poemeias,
Espalhando poemas a mancheias
Como quem trama a revolução

E eu te direi o poeta em que te tornas
Cada vez que em palavras tu transformas
A corredeira de teu coração...

18.10.09

18 de outubro
(Dia do Médico)

Gastrenterite aguda, pneumonia,
Abcesso, febre, vomitos, convulsão...
Palavras doentes por companhia,
Palavras pálidas por intima opção...

E desde o inicio quem arriscaria
De cada uma delas a significação?
Ptose, penfigo, hidrocefalia,
Apnéia, linfoma, decorticação...

Palavras doloridas e diárias,
Muitas vezes cruéis, como a urticária,
Outras tantas, gentis, como a amamentação...

Palavras que desenham seu caminho...
Quem dera escritas com o branco de seu linho...
Quem dera guardassem todas solução...

16.10.09

Sexteto para Lislie

Provavelmente nunca desmamada
Quem foi por 52 meses amamentada...
O leite materno... Abundancia de vida...
Nunca portanto a ultima mamada,
Porque esta amamentação foi sublimada:
O peito tornou-se o amor da mãe querida...

15.10.09

A melhor amiga
Para Carla Brasil

Se eu desculpasse sua existencia,
Ou se voce não existisse
O que eu seria?
Um perfume sem essencia...
Um Pais das Maravilhas sem Alice...
Um Vinicius de Moraes sem poesia...
A companhia

Dize-me com quem andas
E eu te direi um versinhoo:
Quem anda muito se perde,
As vezes, devagarinho...

Dize-me então com quem andas
E eu te contarei baixinho
O que aprendi com um verso de Drummond:
Tinha uma pedra no meio do caminho...

Então? Com quem é que andas?
Com quem vais por estas bandas?
Com quem divides teus pés?

Dize-me, e então de presente,
Eu saberei imediatamente
Por com quem andas, quem és...
A Cidade dos Anjos
(Para Roberta Profice)

Nunca chove na Cidade dos Anjos...
Na Cidade dos Anjos o vento nunca assusta...
Não há temporais, relampagos, trovoadas...
Nem raios além dos de um dia de sol...

Nunca chove lá como chove a chuva
Que alaga em poças
Nosso coração...
A Cidade dos Anjos traz suas praças
E calçadas
Trabalhadas com flores e borboletas
Além daqueles pequenos insetos multicoloridos
Da National Geograpihic
Cujo nome não sei dizer de cor...

Repleta de delicadezas,
A Cidade dos Anjos é um bordado
De sorrisos
Alinhavado
Com as malhas do coração gentil
De suas gentes...

Um dia,
Se eu tiver merecimento,
Quero pedir a Deus
Para visitar
A Cidade dos Anjos,
Onde moram os avós,
Os bisavós
E os velhinhos de nossa existencia...

Vou colher uma foto,
E depois de revelar
Colocarei ela num porta retratos
Ao lado da cabeceira da minha cama tosca
No meu quarto quase sem janelas
Onde venta lá fora
E chove as vezes,
E relampeja,
E trovoa...

E cada vez que eu olhar
Aquela foto colhida,
Eu me lembrarei
Do dia
Em que por bondade de Deus
Eu vi a Cidade dos Anjos
E por algum instante,
Entre Anjos,
Fui feliz...