29.5.05

Auto-retrato

Passarinho de alma cigarreira,
É feito só de musica o meu caminho...
A minha solidão é passageira...
Meu modo de escrever é passarinho


De alma cigarrinha. E eu vou cantando
Enquanto a vida vai me vivendo,
O som da musica, me dedilhando,
A poesia, mítica, me escrevendo...


Passarinho de alma cantadeira
Que canta musica alvissareira,
Não há nenhuma outra vida em mim...


Passarinho de alma cancioneira,
Eu vou vivendo assim dessa maneira
E enquanto canto, eu vou vivendo assim...

24.5.05

Experimente poesia

Experimente poesia.
Pensar poesia.
Escrever poesia.
Folhear poesia.
Experimente cantar
Um samba bom porque contém poesia,
Uma balada,
Uma canção de ninar...
Experimente amanhecer poesia,
Adormecer poesia,
Experimente sonhar...
Experimente, ao caminhar, poesia,
Antes de ir comprar pão na padaria,
Experimente depois do jantar...
Experimente poesia no trabalho,
Poesia com pão de alho
Ou com cerveja, num bar...
Experimente, pra sua mãe, poesia,
Pra sua filha,
Pra sua esposa, experimente poesia,
Ou pra mulher que você pretende conquistar...
Experimente,
Feito um antibiótico prum doente,
Feito um perdão pra não mais pecar.
Experimente poesia simplesmente.
Você vai gostar.
Ao prescrever, experimente poesia.
Experimente ao amamentar.
Ao escrever,
Ao preencher a guia,
Experimente quando a dor chegar.
Experimente. Pode ser a cria,
O filho que ta quase pra nascer.
Experimente. Pode ser a cura.
A noite escura quase a clarear.
Experimente. Pode ter o gosto
Da fruta saborosa de comer.
Experimente. Pode ser o dia
De praia boa pra mergulhar.
Experimente tentar.
Experimente poesia ao caminhar
Ou quando a raiva passar.
Experimente quando quiser surpreender
Ou quando você quiser desabafar.
Experimente pra se proteger,
Experimente pra se controlar,
Experimente poesia..
E nem é preciso conseguir. Basta tentar.
A simples tentativa tem um gosto
Quase impossível de se comparar.
Experimente poesia.
Contra o azar, experimente poesia,
Contra os distúrbios no lar,
Contra a insônia, contra a carestia,
Experimente contra o mal estar,
Experimente contra a tirania,
Experimente contra o regime militar,
Experimente contra a cleptocracia,
Experimente, sem se controlar...
Experimente poesia.
A poesia pode salvar
O condenado da noite fria
E o naufrago infeliz de se afogar.
A poesia pode ser a única garantia
A porta feita para escapar
Da cólera, do câncer, da agonia,
Da chuva acida, da aridez, da azia,
Dos psiquiatras, da psiquiatria,
Do mau humor e do mal estar...
E pode, a poesia, assim, salvando,
Como um tapete mágico levar
Você pra dentro de você,
Pra longe,
Pra onde você nem pode imaginar...
Experimente arriscar
Perante a vida,
Na hora da morte,
Antes da prova do vestibular.Depois da queda,
Antes da cirurgia,
Experimente na hora de se casar...
Experimente num mail pra Santa Maria,
Experimente ao remar,
Experimente sob o chuveiro,
Experimente no Rio de Janeiro,
Experimente sempre que viajar...
Experimente poesia.
Experimente em boa companhia,
Experimente em plena ventania,
Experimente em pleno alto mar.
Experimente assim, dessa maneira,
A poesia como coisa inteira,
A poesia em todo lugar...
Experimente saborear poesia,
Um prato cheio,
Um tasco,
Uma fatia,
Experimente...
Eu te garanto:
Você não vai conseguir parar
De experimentar...

14.5.05

A corja
À Doutora Denise Appolinária que numa sentença surpreendente e muito aguardada provou à toda população brasileira que a impunidade não está acima da Lei. De uma só tacada anulou a eleição da cidade de Campos e condenou todos os acusados à perda de mandato por 3 anos. Ainda que passivel de recursos, a decisão da Dra Denise mostra a todo Brasil que punição não é privilegio de quem é preto, pobre, feio ou mora longe.Parabéns, Dra Denise.

Uma corja de politicos ordinária
Que tomou de assalto a minha cidade,
Que fez fortuna às custas da miséria
E sob as sombras da impunidade
Disseminando sua obscuridade
E fez história
Locupletando-se com a ingenuidade
Da minha gente...
Uma corja de politicos doente...
Uma matilha de politicos salafrária...
Vestidos de intenções maledicentes
Multiplicaram-se feito serpentes
Fazendo da minha cidade seu covil...
Uma corja de politicos envergonhando o Brasil...
Tratando toda gente como otária,
Fazendo do estelionato a coisa diária,
Plantando a crise na minha cidade
E mergulhando a minha gente em crise...
Uma corja de politicos falsária...
Até que, um dia,
A Doutora Denise Appolinária...

10.5.05

A rima

Às vezes uma busca cansativa,
Por outras surge sem ninguém pedir...
É calma às vezes. Outras, explosiva.
Às vezes triste como ver um pai partir...

Às vezes fruto da alma pensativa,
Às vezes da alma a se distrair...
Às vezes frágil, sutil, subjetiva,
Às vezes pronta, como quem vai sair...

Ás vezes é o motivo do poema,
Às vezes encontrá-la é que é o problema,
Às vezes trai o verso mais moderno...

A rima, a pele da sutileza.
A rima, a tinta da delicadeza.
Perfeita a rima, como o leite materno.
Um poeminha para Leonor Brasileiro
À minha amiga Leonor Brasileiro, com carinho...
Escrito na madrugada desta segunda, em plantão...

Leonor me pediu, para ela, um poema.
Mas um poema pediu, não um versinho
Que fosse só dela, e que ela fosse o tema,
E que não fosse assim, pequenininho...

Mas me pediu Leonor fazendo cena,
Convencendo o poeta direitinho...
Como é que eu vou, Leonor, criar problema
Para um pedido com tanto carinho?

O que Leonor, certamente atribulada
Não percebeu, foi a poesia encabulada
E os seus esforços para atendê-la...

Pois é a poesia, Leonor, admirada,
Quem te observa a alma iluminada
E sonha um dia ter a sua estrela...

2.5.05

O som do soneto

O poema guarda o som da batucada
Plantado pelo poeta batuqeiro
Que empresta à rima a forma ritimada
Tratando a letra como um pandeiro.

E faz um baticum de voz calada,
Samba de pensamento partideiro...
Um batucar de rima cadenciada...
Cadencia, feito a de um samba do Salgueiro...

E assim, o poeta, de alma preparada,
Batuca o verso, letra improvisada,
Do jeito que faz quem samba no terreiro...

E a batucada que a mão faz, espalmada,
É a mesma que a palavra, declamada,
Revela em ritmo o verso brasileiro...

1.5.05

A pena máxima

Eu tenho um coração descomportado,
Impaciente, desinibido,
Que tende sempre a ir para o lado errado
E não percebe nunca onde há o perigo,

E bate sempre descompassado,
E, porque inexperiente, é distraido:
Não entra por onde era pra ter entrado,
Não sai por onde era pra ter saido...

E chega sempre algum tempo atrasado,
E mal vestido, e desarrumado,
Com a sensação do dever não cumprido...

Eu tenho um coração, pobre coitado,
Que mora no meu peito, condenado
À pena incondicional de ter nascido...