21.2.12

Onde?

Onde a poesia que eu pensei que havia
Deixado aqui pra depois escrever?
Poxa, poesia, mas que mania
Que você tem de desaparecer...

Não foi a primeira vez que a poesia
Sumiu da minha frente sem eu ver...
E eu que cheguei a pensar  que a conhecia...
Como é que eu deixei isso acontecer?

Na minha frente, e não mais que de repente,
Desaparece da minha frente
A poesia que era quase minha...

A poesia que eu pensei que era,
Sumiu, porque a poesia não espera,
Antes de me contar o que continha...

20.2.12

Em algum lugar

Onde o poema que era pra estar aqui?
Em que lugar aquele verso se meteu?
Pra onde ele foi que eu não vi?
Pra que lado ele correu?

Onde o poema que, quando eu me distrai,
Aproveitando, desapareceu?
Onde o poema que eu quase escrevi?
Onde o poema que pensei ia ser meu?

A pagina de papel espera, em branco,
A versejada que desejei tanto
Que quase comecei a rabiscar...

Pra onde foi aquela poesia
Que me deixou -distração ou ironia?-
Esta outra poesia em seu lugar?

16.2.12

Fim de férias

De volta à vida diária e rotineira,
Ao atendimento ambulatorial,
À vida que tem sido pela vida inteira
A minha vida normal,

De volta à vida receitadeira:
Paracetamol, metroclopramida, fenobarbital,
De volta à vida sem sol, sem prainha cervejeira,
De volta à vida sem bailes de carnaval...

De volta à vida diária: a da pereba,
A do enterobius vermiculares, a da giárdia e ameba,
À vida que desidrata em disenteria,

De volta ao mundo das convulsões febris,
De volta, feliz, a esse mundo infeliz,
De volta ao meu mundo, ao meu dia a dia...

Poeminha insone


Aos que não tem sono e não conseguem dormir,
Aos que navegam bem na madrugada,
Aos que passeiam daqui pra ali,
Transformando a navegação numa embolada,

Aos que se deitam, mas voltam pra curtir,
Pra compartilhar, pra postar, pra dar risada,
Aos que não conseguem nem tentam insistir,
E levam a noite nessa virada,

Aos sonâmbulos que quase não bocejam,
Mas, ao invés disso, festejam
A noite e essa solidão que não machuca...

Aos que não tem sono pelo mundo afora,
Esse sonetinho escrito agora,
Às duas da manhã, com café sem açúcar...

12.2.12

Poeminha aerado


(escrito em 8 de fevereiro durante a viagem do Rio a Natal)
Um poeminha escrito a 12 mil metros de altura,
Um outro escrito ao nivel do mar...
Em que pedaço de céu o primeiro deles se segura?
Em que pedaço de chão ao outro é dado voar?

Um poeminha escrito a 12 mil metros... Que loucura...
O que mais a poesia é capaz de inventar?
É como se não cessasse nunca essa procura:
Inspirar, fluir, nascer, crescer, ficar...

A 12 mil metros, um poeminha inteiro
Entre o Rio Grande do Norte e o de Janeiro,
Entre Natal e o Rio essa visita.

A 12 mil metros, frases pousando,
Criando versos que vão se entrelaçando
A 12 mil metros... Que coisa mais bonita...

5.2.12

Tricolor de coração


Sou tricolor de coração,
Sou do time tantas vezes de me dar tanta alegria,
Tantas vezes vitorioso, tantas outras não...
O bom da felicidade é não possuir garantia...

Sou tricolor de coração... Um azarão?
E o que me importa? E por que me importaria?
Sou do time tantas vezes que me causa essa aflição,
Sou do time tantas vezes que me causa essa poesia...

Sou tricolor. E o que mais, além disso, me interessa?
Sou tricolor. Já não tenho pressa
Nem necessidade de vencer ou vencer...

Sou tricolor. Isso pra mim é suficiente.
Poupe-me portanto desse seu acre inconsequente.
Sou tricolor, e isso me dá prazer...

4.2.12

A falta

Eu sou pior que meus versos. Admito.
Invejo deles a cor, o tom, o palavreado.
Tudo neles parece mais bonito,
Tudo mais límpido, mais vivo e bem cuidado.
 
Às vezes acho isso tão esquisito
E não entendo o que foi que deu errado:
O método? A auto-estima? O treino? O rito?
A execução daquilo que foi planejado?
 
O fato é que o poema, ainda que frágil,
É como se pertencesse a um outro estágio,
É como se possuísse outra autoria...
 
Eu quase me perco, muita vez, a olha-los...
Como eu tão turvo? Como eles tão claros?
Por que é que falta em mim tanta poesia?

3.2.12

A poesia


Eu sou pior do que os versos que eu crio,
Por isso passo meu tempo os observando.
Por que tão cheios de luz e eu tão vazio?
Por que tão inteiros e eu tão desmontando?

Por que tão dóceis e eu tão arredio?
Às vezes eu gasto meu tempo articulando
Palavras como se fosse um desafio,
Mas é o meu verso que vai me desafiando...

Eu sou pior do que os versos que eu consigo...
Mas se eles não ligam, eu também não ligo,
E continuo escrevendo...

Quem sabe um dia, sem que eu perceba,
A poesia inteira que eu bebi, me beba,
E eu vá, bebido de poesia, renascendo...

Acorda e segue

Eu sou pior que os pedaços de poesia
Que tento rabiscar diariamente.
Careço de versos mais leves, de harmonia,
De rima rica, de leitura fluente...

Minha vida é feita de letra mais vazia,
Restos de frase torta e inconsequente,
Formando poemas sem sumo, sem ousadia,
Poesias sem graça, coisa decadente...

E, por ser verso sem garantia,
Rima sem antidoto anti-desarmonia,
Discretos sinais de que vai um dia ser feliz,

Por isso mesmo é que o poema, complacente,
Permanece ao meu lado, paciente,
Dizendo pra mim: acorda e segue, Luis...