21.4.09

Procuração (O verso brasileiro)

Nomeio para meu representante
O verso brasileiro, residente
Da rima, comportada ou dissonante,
Que torna o poema mais coerente...

Nomeio o verso, de hoje em diante,
E que esse titulo dure eternamente,
O verso, meu fiel acompanhante,
O verso bom, meu Principe Regente...

A ele entrego, em paz e confiante,
O meu destino deselegante
E todos os meus dias pela frente...

O verso, meu parceiro mais constante,
O verso brasileiro, doravante
O meu representante. Eu presente...
Procuração (A rima)

Procura-se rima de boa casta,
De letra nobre, de sentido são,
De texto fácil, de significação vasta,
De conteudo sem nenhuma exatidão,

Procura-se rima inédita, ainda que gasta,
Que possua força e qualificação,
Que seja como um boato que se alastra,
E ao mesmo tempo contida como um grão,

Procura-se rima bem apessoada,
Que seja comedida e comportada,
E faça a descompostura valer à pena...

Procura-se rima livre e disponível,
Que trate o inacreditável como crível,
E saiba dissolver-se no poema...

20.4.09

O principio de tudo

Palavra por palavra,
Minuto a minuto,
Fatia por fatia...
A eternidade
Teve inicio
Em seu primeiro dia...

11.4.09

O coração II

O coração, espirito guardado,
Grande demais para ser seduzido,
Forte demais para ser desencorajado,
Extremamente audacioso para ser seguido,
Irriquieto demais para ser filmado,
Sagaz demais para ser distraido,
Extremamente incomum para ser fotografado,
Extremamente incomum pra ser servido,
Inédito, ágil, unico, escancarado,
Benéfico, espalhado, bem instruido,
Às vezes como um objeto não identificado,
Às vezes como um lugar não permitido,
O coração, cancela sem cadeado,
Tentar cercea-lo é causa sem sentido,
É livre o coração, mesmo trancado,
É fluido universal, mesmo contido,
Às vezes como um trem descarrilhado,
Às vezes suave, como um gemido,
Às vezes ruidoso como um brado,
Às vezes não como a flecha de um cupido,
O coração, cantado e decantado,
O coração, a quem tudo é permitido...

9.4.09

O coração

O coração, espírito incontido,
Grande demais para ser formatado,
Ou, muitas vezes, para ser compreendido,
E muitas outras para poder ser explicado,
Por isso, alto demais para ser medido,
Complexo demais para ser domesticado,
Imenso o coração para ser todo lido,
Quase sem fim para ser inteiro decorado,
Etéreo demais para ser tolido,
Ou para ser, o coração, desativado,
Convicto demais para ser banido,
Coerente demais para ser barrado,
Barulhento demais para ser esquecido,
Inalcançavel demais para ser arrastado,
Vivo demais para ser desaprendido,
Veloz demais para ser desacelerado,
Enorme para ser todo destruido,
Ou para ser, por conta disso, controlado,
O coração. Como um poema vivo...
Como um poema, o coração, alado...

7.4.09

A criação

O homem criou o muro,
Deus criou o mar.
O homem criou o escuro,
Deus criou a luz pra iluminar.

O homem criou o duro,
Deus criou o espaço pra voar.
Até que um dia o homem caiu em apuros,
Mas Deus estava ali para ajudar...

5.4.09

Curantur

Um vinho, um video, um jogo de xadrez,
Um fim de semana pescando em Cabedelo,
Um verso de Shakespeare original em ingles,
Um Chico: Budapeste, A Fazenda Modelo,

Um feriado no final do mes,
Fazer as unhas, cortar cabelo,
Sair para jantar no japones,
Levar o cachorro pra tosar o pelo,

E quase nada em qualquer lugar,
Qualquer coisinha pode curar
Sem nenhum misterio, sem nenhuma ciencia,

Qualquer coisinha. É só experimentar.
É tiro e queda. Basta beliscar.
Qualquer besteira cura a carencia...
E novamente a cura...

E ainda eu digo: pra carencia, amiga
Tente escutar a musica de Lenine,
A bateria da Escola de Samba da Mangueira,
O essencialismo de Dorival Caymmi,
O verso bom de Manuel Bandeira...
Ainda a cura...

Outro remedio pra carencia, amiga,
É a poesia,
Mas também pode ser uma musica do Tom...
A rima é sempre boa companhia...
Ouvir Jobim cantando é sempre bom...

4.4.09

A cura...

O melhor remedio pra carencia, amiga,
É um banho frio,
Mas também pode ser um gole dágua...
Um banho lava o coração vazio...
Um gole arranca o coração da mágoa...