31.7.04

Adormecendo...
"Mano, aproveito a ocasião (inocência de Lucas) para a lhe pedir outra vez uma poesia sobre o sono das crianças."
De meu irmão Celso após ler O Pote de Ouro, aqui neste blog...

Desliga o fio da correria:
Escola, pipa, televisão...
Somente o sono por companhia:
O quarto de dormir do coração...

Desliga o som. Desfaz tudo. Esvazia
O pensamento. Guarda a respiração.
E após tudo vazio inventa e cria
Usando as letras da imaginação...

Desliga a luz e faz o faz de conta:
Inventa, molda, escreve, escolhe e apronta
De olhos fechados, pra ninguém ver...

Feito um segredo seu e do seu sono...
Feito uma idéia que não tem dono
E mora dentro do adormecer...

Receita para se tornar um Doutor Exemplar...
Uma homenagem à covardia e à omissão daquele que obedece, adubos do abuso, do desmando e da estupidez daquele que manda...

Sê bonzinho, Doutor, com quem te ofende,
E prá quem te ameaça diz: Amém!...
Bendito seja o Doutor quando ele atende
Numa só tarde quase ou mais de cem...

E não reclama, Doutor, mas sê bonzinho
Com quem te pune mesmo sem razão...
Um cordeirinho é sempre um cordeirinho...
Um tubarão é sempre um tubarão...

Com quem te explora, sê complacente...
Com quem te lesa, sempre sorridente...
Vai relegando tudo... Deixa estar...

Quem sabe um dia, porque Deus não falha,
Tu exibas, orgulhoso, uma medalha
De Honra ao Mérito, Doutor exemplar...

28.7.04

A tristeza diária
À minha amiga Bruna (www.fotolog.net/brubruzynha) após me pedir perdão pela tristeza diária...

Não te perdoo pela tristeza diária
Porque não há nada pra perdoar...
Tristeza não é pecado, moça linda,
Nem é pecado querer chorar...

Portanto fica assim do seu jeitinho...
Não precisa contar nem se explicar...
Estarei sempre por aqui, pertinho,
A porta sempre aberta. Pode entrar.

E não precisa dizer nem falar nada.
Pode ir deitar ou sentar-se, recostada.
Descansa o coração que tá tristinho...

Conta comigo, delicada amiga...
Se não quiser nada dizer, não diga...
Mas fica sempre com meu carinho...

27.7.04

O olhar da palavra

Tem gente que detesta poesia...
E não por não gostar, mas por ter medo...
Como quem morre de medo de bruxaria
Ou de os versos comentarem os seus segredos...

Tem gente que tem pavor, mas que ironia:
A poesia é leve feito um brinquedo,
Não tem pecado, a nada desafia,
E nunca fez ninguem morrer mais cedo...

É só palavra. E quem se arrepia
E teme os resultados que ela cria,
É porque andou, e como andou, pecando...

O que essa gente não desconfia
É que o mal não é o verso. É a hipocrisia.
O verso é só a palavra observando... 

26.7.04

Necessidade

Escrevo às vezes por sonoplastia...
Por ter vontade de batucar...
Pelo ritimo da palavra na poesia...
Escrevo às vezes por necessidade de sambar...

23.7.04

Aos donos do Poder
 
Quem pode, manda.
Quem tem juizo recorre se precisar.
Quem manda, até sem perceber, desmanda.
Quem tem juizo não morre por esperar.

Quem pode é sempre o que rege a Banda.
Quem tem juizo às vezes para prá escutar.
Quem pode é só a metade. É uma banda.
A outra, quem tem juizo pode mostrar.

Quem pode pensa que pode
Sem perceber que nem só de
Poder consiste o mandar...

Quem tem juizo não se desespera...
Quem tem juizo se prepara e espera
O tempo de quem manda terminar...

21.7.04

O Amor

Ah...Quando amares,
Ames assim:
Entrega inteira,
Sem faltar nada...
O amor é doce
Quando é fruto da alma
Completa e inteiramente apaixonada...

16.7.04

O pote de ouro
- Lucas, Lucas, venha ver o arco-íris!! - eu chamei meu irmão
- Hoje não choveu... Achei que só tivesse arco-íris quando chove...
in www.fotolog.net/marianaesuacam
 
Mariana,
Com 3 anos
É natural
Que seu irmão ainda não saiba:
Não é necessário,
Lucas,
Chover
Para ter arco-iris
No céu...
Um pote de ouro...
Isso sim
Faz os arco-iris
Acontecerem...

As varias formas de amar
 
Tem muita gente que ama assim:
Eu gosto de voce, mas gosto mais de mim...
Tem muita gente que ama assado:
Eu não sou ninguém sem voce do meu lado...
Tem muita gente que ama frito:
Voce é linda, mas eu sou mais bonito...
Tem muita gente que ama cozido:
Minha vida sem voce não tem sentido...
Tem muita gente que ama assim:
Um dia longe de voce é o fim...
Tem muita gente que ama assado:
Voce tem sorte por ter me encontrado...
Tem muita gente que ama frito:
O meu amor é maior que o infinito...
Tem muita gente que ama cozido:
Eu sou o que há de bom, não é, querido?
 
Assim, assado, frito, cozido:
O Amor é sempre crédito adquirido...
Cozido, frito ou assado, assim
A falta do amor é que é ruim...

15.7.04

Intimidade
Li em um banner promocional: Que momento, ao lado de seu pai, voce gostaria de ter gravado?
 
Hoje, cheio de saudade,
Sem ter momento nenhum pra recordar,
Sem ter imagem, sem ter sorriso,
Qualquer jeitinho bom de ele falar,
Eu so queria um minuto
Pertinho do pai querido
Que a saudade me levou,
Que o amor deixou comigo,
E de quem eu já nem sei
Me separar. 

14.7.04

O Coração Necessário

É necessário um Coração valente
Para vencer a escuridão da sombra...
O mal é quase sempre inconsequente,
Por isso assusta, e amedronta e assombra...

É necessário um Coração gigante
Feito um Colosso que nunca tomba...
Que não se curva à dor dilacerante
Nem capitula ante o ataque à bomba...

É necessário um Coração prudente
Que cruze intacto o Inferno de Dante...
O mal é sempre e cada vez mais mau...

É necessário um Coração paciente
Que siga sempre em frente e confiante
Até a vitória final...
Vozes
Para minha amiga Debora Assad

Às vezes cantam canções felizes,
Outras nem tanto,
Às vezes Cantos de Liberdade,
Outras em busca da absolvição,
Às vezes vozes que vem da boca,
Mas outras vezes, do coração.
Às vezes lentas,
Outras velozes,
As vezes meio assim:
Nem sim,
Nem não...
Às vezes saem meio preguiçosas,
Às vezes versos,
Às vezes prosas,
Às vezes pontos de interrogação...
Às vezes Carreras,
Às vezes João Gilberto,
Às vezes vozes de um cantar discreto,
As vezes de ouvir o mundo inteiro...
Às vezes vozes do interior mineiro,
Às vezes bem do Rio de Janeiro...
São como as vestes da canção as vozes...
São a maneira de Deus falar...
São o outro som do coração
E às vezes
Um jeito delicado de lutar...
Se a dor tem dias de nos visitar,
Ou se a alegria não sabe se conter,
Se a gente acorda com vontade de chorar
Ou com uma sede danada de viver,
Bastam as vozes
Como intrumento
Para o encantamento acontecer...
Vozes...
Distribuindo ao vento seus encantos...
Sem sem perceber,
Viver qualquer canção...
Do mesmo modo
Que ja dizia
Milton Nascimento:
"O que importa é ouvir a voz que vem do coração"...
Vozes
Veladas
Veludosas
Vozes
Tomem estes versos
Por gratidão...

13.7.04

A Poesia Escondida
Um soneto dedicado a meus dois fotologs:
www.fotolog.net/oprematuro
www.fotolog.net/diadebranco


Eu gosto de tirar fotografia:
Ela fala a verdade quando eu mostro...
A foto não contém hipocrisia
Nem subserviencia. Por isso eu gosto.

Eu gosto de brincar dessa mania:
Eu fotografo depois eu posto.
Eu nunca trago a máquina vazia
Mas sempre a cara e o coração expostos...

Como quem traz segredos de alquimia,
Como quem tira e leva mas não cria,
Como quem pega sem desfalcar,

Eu gosto de tirar fotografia
Por ter encontrado sinais de poesia
Na minha máquina de fotografar...

10.7.04

Por onde Chico?

Por onde Chico Buarque de Hollanda,
Seu verso e a sua voz encadeada?
Por onde passa, por onde anda
Espalhando a sua canção engatilhada?

9.7.04

A foto e o poema

Não era a foto da grosseria.
Não era a fotografia da agressão.
Não era a imagem da pancadaria.
Era uma foto de sangue sobre o chão.

Mas era foto. Não poesia.
A foto prova. A poesia não.
Por isso o medo da fotografia.
Por isso a imediata demissão

Não era sangue de hemofilia,
Nem gotas de trombocitopenia,
Mas sim, pingos de chute e de agressão.

Era a impressão digital da covardia...
Da violência... Da selvageria...
Da vida envergonhada pelo chão.


Desindividuos

Desindividuos são gentes sem postura...
Comportamento descomportado...
Seres humanos com vida e sem ternura
E um histórico de vida desbotado...

Desindividuos. Águas que evaporam.
Gentes que vão sem deixar saudade.
Por quem os sinos e os homens nem choram.
Pessoas sem personalidade...

Desindividuos. Seres diários
Que não constam sequer nos dicionários
Por serem coisas tão comezinhas...

Desindividuos. Gentes estranhas.
Quem há de compreende-los? A as suas manhas?
E a sua forma de vida tão mesquinha?

7.7.04

Um Anjo chamado Angela
Para Angela Sarmet, minha amiga, poetisa e pediatra...
Exatamente nessa ordem...


E Angela, sem asas, consultando...
Dizendo: Vinde a mim as criancinhas...
E as criancinhas amam Angela, um Anjo
De jeito maternal. E sem asinhas.

E atende como quem rima brincando...
São poesias suas receitinhas.
E o Anjo Angela vai receitando
Dizendo: Vinde a mim as dodoizinhas...

Sem asas, Angela, sobrevoando,
Vai se entregando, vai se entregando,
Vai semeando perolazinhas...

Adoro estar com Angela trabalhando...
Parece Deus ali, abençoando,
Dizendo: Vinde a mim as doentinhas...

6.7.04

O nome da flor
Um Chico modificado para uma autentica Margarida.
Minha irmã honra a delicadeza da flor que leva em seu nome...


O seu coração tem serenos jeitos
Modos suaves... Saberes modestos...
De tal maneira que priduz, perfeitos,
A intenção e a perfeição do gestos...