28.9.03

A forma leve de amar você
Tati é um anjo. E anjos são livres por definição. E mesmo os anjos que não tem asas nem vestidinhos brancos nem tocam trombetas nem moram nas nuvens, mesmo estes, são livres, porque voar e ser livre é coisa dos anjos. Amar um anjo não pode ser amar assim, de qualquer jeito. Amar um anjo deve ser leve feito espuma, embora imenso feito o mar. Amar um anjo é aprender a forma leve que há de amar.

É não precisar se ver a toda hora:
Pode ser se ver agora
Mas pode ser ficar uma semana sem se olhar...
É não cercar seu caminho...
É ter que às vezes ficar sozinho
Pra ficar sempre
Sem se cansar.
É não passar torpedo o dia inteiro
Porque o amor, quando é verdadeiro,
Não depende de um torpedo
Pra durar.
E se chegar sexta feira
E der vontade de fazer besteira,
Andar a toa,
De passear,
E justo nesse dia você resolver voar,
É ter paciência...
Tomar um gole de tolerância...
Amar é mais que estar na sua presença...
Amar é imenso, mesmo que à distancia...
É não ficar preso.
Nada dessa coisa de fixação...
É como dar um pouco de desprezo...
É dar um pouco de desatenção...
Mas é amar também com lealdade,
Amar é feito de fidelidade
E de vontade de ser feliz...
Mas o caminho da felicidade
É feito as ruas da grande cidade:
Tem setas, placas, pontes, guardas, curvas,
E a contramão,
E o fino por um triz...
Amar assim é leve feito a espuma
Embora enorme feito o grande mar.
É quase nada, feito um grão de areia,
E ao mesmo tempo imenso feito o ar...
Quase apagado, como a lua nova,
Que é a mesma lua cheia das noites de luar...
É aprender a não ser pra ser...
Não precisar dizer pra dizer...
Não precisar tocar pra tocar...
É aprender a forma leve que há de amar.
O perfume
Ontem pela manhã eu tive a nítida impressão de um fim de história.
Um fim tão delicado quanto seu inicio.
E como todo fim delicado deixa um perfume, também este fim deixou um aroma suave de perfume.
Um poema?
Ah... Uma estória que começa em poesia não pode ter um fim, ainda que suposto, sem poesia...
Mas foi apenas uma impressão que não se cumpriu...
E que deixou um poema que aqui segue.


Vivi dias felizes do seu lado...
(e eu nem sonhava quando te encontrei)
Foi algo assim como um tempo encantado...
Eu era um pária e me tornei um Rei...

Olhei para um futuro iluminado
E eu quis ter o futuro que eu sonhei...
Mas o futuro passou... virou passado...
Passou... mas foi verdade o que provei...

Saboreei poesias deliciosas...
Um mar de rosas maravilhosas
Depois de tanto tempo sem carinho...

Passou. Não quis ficar. Voou, que pena,
Deixando o seu perfume em meu poema
E as marcas dos seus pés no meu caminho...

Passou. Não quis ficar. Mas o perfume
Traz o sabor suave do seu nome...
De um tempo bom quando eu não fui sozinho...

26.9.03

Voce é um anjo...

Você é um anjo? Responde...
Caiu do céu? Diz pra mim...
Conta-me: foi quando? aonde?
No meio de que jardim?
Caiu do céu por acaso
Ou veio aqui cumprir uma missão?
Chegou bem na hora? Houve atraso?
Alguma antecipação?
Como cruzou meu caminho
Descobrindo onde é que eu tava,
Oferecendo o carinho
De que eu tanto precisava?
E porque não foi embora
Logo depois que me viu?
Porque mudou minha estória?
Porque é que não desistiu?
Porque é que não sentiu medo?
Porque ficou do meu lado?
Porque contou seu segredo?
Porque aprendeu meu passado?
Porque fez planos futuros?
Porque tentou me ajudar?
Brilhou meus dias escuros
E me ensinou a voar...
Porque me estendeu seu braço?
Porque tocou minha mão?
Porque curou meu cansaço
Da vida, da ingratidão?
Porque pediu um poema?
Porque me olhou delicada?
Porque essa voz tão serena
E essa pele amorenada?
Você é um anjo, confessa...
Caiu do céu feito um passe...
Como quem chega sem pressa...
Como quem pousa com classe...
Disse-me coisas de um jeito
Saboroso de falar...
Tomou conta do meu peito
De um jeito bom de tomar...
Ficou comigo. E, brincando,
Transformou a minha vida...
Eu nem vi você chegando...
Eu nem penso em despedida...
Um anjo bom, certamente...
Um anjo que me envolveu...
Entrou na minha vida lentamente...
Um anjo bom... Que bom que Deus me deu...
Amigas
Para Tati e Silvana

Basta um olhar. E é como a frase inteira...
Basta um sorriso, mais nada...
Amigas: Deus as fez dessa maneira...
Amigas: donas da mesma risada...
Gostosa essa amizade verdadeira...
Cumplicidade compartilhada...
Amigas: Deus as quis dessa maneira...
Amigas: que expressão mais delicada...

22.9.03

A Palavra Ruim

Eu disse coisas que não deveria...
A hora errada... a palavra errada...
Eu falhei justo quando não podia...
Eu fiz a coisa toda desastrada...

Em vez de me alegrar na sua alegria,
Em vez de participar da sua risada,
Eu fui indelicado aquele dia
Deixando a sua alma magoada...

Naquela hora, eu não percebia,
E, sem perceber, eu quase te perdia
Como quem perde uma jóia lapidada...

Minha indelicadeza te ofendia...
Minha palavra ruim te entristecia...
Eu fiz besteira aquela madrugada...

19.9.03

Os Sonetos Imperfeitos
Já há algum tempo eu comecei a tentar escrever sonetos. O máximo que consegui foi escrever estruturas imperfeitas que apavorariam Bilac. Chamei-os uma vez de sonetos imperfeitos, dado o numero abusivo de quebra das regras da criação dos sonetos. Como não escrevo seguindo mapas, decidi continuar a escreve-los assim, barbarizando as regras sem me arvorar a contesta-las. É apenas um modo de escrever poemas. Me desculpem os puristas mas arriscar é essencial. Este poeminha nasceu hoje entre as consultas de um ambulatório do SUS em Tocos, Distrito de Campos. Não sei porque exato esse tema veio me caçar ali na roça. Mas ai esta mais um soneto imperfeito feito de supetão...

Sonetos imperfeitos, como os faço,
Com cada verso escrito em um tamanho...
É essa a característica do meu traço...
E eu confesso: já nem acho estranho...

Sonetos imperfeitos como escrevo...
Que vem naturalmente de onde vem...
Depois de prontos é que eu percebo
A graça que cada um deles guarda e tem...

Sonetos imperfeitos. Nem sonetos,
Nem imperfeitos. Simplesmente feitos
Sem dar aviso... De supetão...

Sonetos imperfeitos que me cercam...
São feito gotas de óleo que não secam
E lubrificam meu coração...

17.9.03

As três formas de amar

Amar
Primeira forma

Primeiro eu. Segundo eu. Depois você.
Você me pediu pra amar assim.
Mas como, se eu não sei como fazer
Deixar você pra cuidar de mim?

Se o seu sorriso é que me faz sorrir
E a sua paz é a minha felicidade,
Falta aprender como não sentir
Tanta necessidade

De entregar tudo pra você primeiro
Para que assim sobre o mundo inteiro
Pra conquistar do seu lado.

Primeiro você. Isso é tão verdadeiro.
Segundo nós. Tem mais sabor e cheiro.
Terceiro eu. É bem mais reservado.


Amar
Segunda forma

Primeiro você. Segundo você. Depois eu.
Você falou que é assim que sabe amar.
Eu aceitei. Você me convenceu.
Ninguém entrega o que não pode dar.

Ninguém garante nada sem certeza.
Não compra nada sem ter pra pagar.
Sua verdade, a sua delicadeza...
Foi como isca de me pescar.

E não me importo em ser o terceiro.
O ultimo, às vezes, chega em primeiro.
Tem tantas voltas pro mundo dar...

Aceito o seu amor. Ele é sincero.
Sabor do doce que há muito espero.
Te amar é bom em qualquer lugar.


Amar
Terceira forma

Primeiro nós. Segundo Nós. Depois nós.
É aí que eu quero poder chegar.
Como duas vozes cantando a mesma voz.
Como a areia da praia guarda o mar.

Primeiro nós. Segundo nós. Depois o mundo
Inteiro só pra gente conquistar.
Nem um nem outro em primeiro ou em segundo,
Mas feito as duas asas de voar...

Mas feito a tinta e a tela... O carro e a estrada ...
A lua e a viola enluarada...
A rima e o poema pra rimar...

Num tempo quase sem diferença.
Entrega inteira... Integração imensa...
Num tempo suave que se chama amar...
A batida do coração

O coração de toda gente
Bate assim: tum-ta... tum-ta...
E é nesse batucar
Que segue em frente...
Mas a batida do meu é diferente:
Batuca assim: tum-tati...
E nesse ritimo ele bate
Enquanto eu vou tateando o que ele sente...

12.9.03

O passo do tempo
Escrevi esse poemito tolo há mais de 20 anos. Fazia parte de meu caderninho de versos dos tempos da Medicina no Fundão. Tolo, jamais o publicaria. Uma foto-imagem guardada em www.dialomagem.blogger.com.br me o fez recordar. Nada. Quase nada. Um canto de um garoto ainda. Atonito com a velocidade da vida. Não fosse a imagem deliciosa do blog visitado, permaneceria comigo. Eu o reparto. Como quem dividia biscoito Maria e ki-suco no primário. Nada demais nesse verso. So comunhão.


O tempo passa depressa...
Tão depressa... Ninguem vê...
Pergunto: Que pressa é essa?
E o tempo, com muita pressa,
Não para pra responder...

11.9.03

A fração de um segundo

Ontem voce me disse assim: te amo...
Foi sem querer. Mas aconteceu.
Tentou mudar. Pode ter sido engano.
Mas voce sabe bem: falou, valeu...

Ontem voce escapou dizer: te amo...
Trocou pra eu te adoro assim que percebeu.
Mas depois que a bomba explodiu, causando o dano,
Não tem mais jeito... Já aconteceu...

Não era pra dizer. Mas voce disse.
Falou como quem diz uma tolice.
Eu te amo. Escapou. Foi de repente.

Quem sabe alguma coisa ai dentro
Ta balançando seu pensamento
Modificando o que voce sente?

Voce me disse eu te amo . E num segundo
Eu me senti como quem ganha o mundo.
Voce me deu a vida de presente.

8.9.03

Razão nenhuma

O coração, astuto e arredio,
Passeia livre da exatidão.
Vive desafiando o desafio
Com seu comportamento sem razão.
O coração... Que nunca está vazio...
Que nunca tem razão... O coração...

7.9.03

O Retorno
Em 6 de setembro comemorei 44 anos de idade. Era o momento de tornar registrado um pedaço da estória do meu pensamento. O registro da infancia. O descaminho após a separação. E o retorno. Lento. Leve. Mas definitivo. Uma festa de aniversário que a vida me preparou e tem me oferecido com graça. O Retorno não é um poema. É um relato. E, mais do que um relato, é uma reverecia à vida a que retorno e que retorna à mim. Navegar é preciso. Viver não é preciso. Retornar é estar de volta ao paraiso.

I
De onde eu vim era frio.
O vento assoviava uma canção ruim.
As cores eram cinzentas.
As vozes odientas,
As ruas eram toscas de onde eu vim.
O ar cheirava a ozena.
De onde eu vim não havia nenhum poema,
Nenhum alento.
De onde eu vim morava o pensamento
Estranho.
Vinagre era água de banho
E era a mesma água que tinha pra beber.
Era um lugar chamado desprazer
Onde comida era resto.
De aspecto abominável feito o incesto.
E não havia boa companhia no lugar de onde eu vim.
Só gente estranha. Gente disfarçada.
Maledicente, mal-intencionada,
Interesseira e desinteressada...
A ingratidão era a marca registrada.
Ninguém sorria pra mim.
A figueira era seca. Não frutificava.
A dracma, perdida.
A idéia era fragil. Não se sustentava
E a vida parecia não ter vida.
O vento ali não soprava
O fogo nem aquecia.
O sono jamais descansava.
A comida não alimentava quem comia.
E feito a morte quando não avisa,
E feito o câncer que não se anuncia,
Também a escuridão, lá de onde eu vim, não se anunciava.
Simplesmente se aproximava
E me abraçava
Como se fosse grande amiga minha.
Mas era só maçã envenenada.
Bruxa na pele de fada,
De olhar tranqüilo e aparência mansinha.
Mas era como a pele infectada
Disseminando a doença obscura
E sem cura
Do desespero...
E se divertia...
O desespero alheio, sua alegria.
E assim era a escuridão quando ela vinha...
Estúpida, insensível, erva daninha...
Covarde, fria, seca, podre, ruim...
E assim era o lugar de onde eu vim...
II
Mas de onde eu vim não era o meu lugar
Nem minha casa ou meu ninho...
Foi por descuidos e descaminhos
Pisando em flores, colhendo espinhos,
Feito uma nau perdida em alto mar,
Plantando estupidez, colhendo enganos,
Somando perdas, coletando danos,
Feito uma embarcação a naufragar.
Foi desse modo que eu fui parar
Nesse lugar que não me pertencia
E nem à minha vida e a meu destino.
Foi tão somente onde eu cheguei um dia
Por desacerto meu. Por desatino.
Não era meu lugar, mas de onde eu vim.
Fazia frio. Era um lugar ruim
Aonde eu cheguei quando eu perdi meu sim...
Onde eu quase morri...
Mas não era o lugar onde eu nasci
III
Onde eu nasci tinha musica, poesia,
Amor de pai e mãe, nome de irmão.
Um violão dedilhava a canção que eu escolhia
E um professor me ensinava a tocar violão.
Onde eu nasci tinha comida que satisfazia,
Tinha um quintal do tamanho da imaginação,
Tinha vovó Maria,
Bolas de gude só por distração,
E tinha as coisas erradas que eu fazia,
Pecados que de tão tolos já nem são...
Onde eu nasci tinha afeto.
Tinha o pai sempre por perto.
Beijo na testa. Aperto de mão.
Eu tinha casa boa de morar.
Brinquedo bom pra brincar.
Roupa lavada. Café com pão.
Tinha descanso e suporte,
Escudo e escora,
Ensinamentos da vida além da morte.
Lições de vida pela vida afora.
Eu tinha um quarto pra descansar.
Tudo de bom para acontecer.
E muitas musicas pra cantar.
E vários versos pra se escrever.
E quando o tempo fechava
E a noite absurda
Era a anunciação do temporal,
Havia a proteção que não faltava,
O aconchego, o colo, o braço, a mão...
A boa palavra
Que não chegava impondo condição...
E mesmo quando a dor era mais forte
Havia alento,
Refazimento,
Havia ungüento pra dor do mal...
Onde eu nasci era assim:
Repouso e pasto,
Caminho longo ao sol, porem seguro.
Havia o mundo, mundo, vasto mundo... Vasto.
Que eu observava de cima do meu muro.
Um muro alto que me protegia...
Um muro imenso que me preservava
Das tempestades de hipocrisia,
Do mau juízo, da má palavra...
E ali de cima do alto do meu muro
Que era como se fosse um pai pra mim
Eu respirava ar puro...
Onde eu nasci era assim...
IV
Mas
Um dia quando tudo deu errado
E nesse dia eu descuidei de mim
Eu fui, feito um cartão extraviado,
Desembocar nos rumos de onde eu vim...
Um dia, feito um rio extravasado,
Um dia, feito um temporal ruim,
Ruim feito um feitiço encomendado,
Ruim feito a crueldade que é sem fim,
Um dia, quando tudo foi quebrado,
Ou quase tudo, melhor assim,
Eu capotei... Cai desacordado...
Tive o meu rosto inteiro deformado...
Meu santuário usurpado...
Um dia, quando tudo deu errado...
Um dia, quando eu descuidei de mim...
V
Hoje
Há os que julgam que eu nunca fui.
Há os que acreditam que eu não voltarei.
Há ainda os que estão certos de que eu sou
Do lugar pra onde eu fui quando eu nem sei
Por que motivos, com que interesses,
Quando eu morri, quando eu me descuidei...
E ha os que me enxergam tão perdido
Que quase não conseguem acreditar
Que eu resolvi voltar pra minha casa...
Que eu tenho rumo e pernas de voltar...
Há os que me evitam,
Os que me procuram,
E os que só se aproximam pra roubar
Não a moeda, a vida...
Não o sonho...
Mas a capacidade de sonhar...
Ha os que sabem,
Os que nem supõem,
Os que se negam a acreditar...
Os que criticam,
Os que observam,
E há os que não sabem disfarçar:
Condenam,
Executam,
Discriminam
E cobram mesmo sem ter o que cobrar...
Enganam mesmo sem nenhum motivo,
Escondem sem ter coisa pra ocultar.
E mentem mesmo sem necessidade.
E falam coisas de não se falar.
Gentes...
Inúmeras pessoas.
Muita gente.
Quase impossível pra mim determinar
Tudo que falam,
Tudo que pensam,
Tudo que teimam em acreditar...
VI
Enquanto eu sigo o rumo do retorno
E cruzo pontes e matas e quebradas
E varo dias, e cruzo noites,
E passo acordado as madrugadas,

Enquanto eu varo noites sem sono
Cujo único objetivo é o de chegar
Eu cruzo gentes pelo caminho...
Como é imenso o meu caminhar...

É o retorno à casa tão distante.
Retorno imprescindível e impressionante.
É meu caminho de volta ao lar

Onde ao chegar eu estarei cansado
Porem imensamente gratificado
Por ter conseguido chegar.
VII
Retorno.
Já posso ouvir a musica ao longe.
O som da casa que há muito deixei.
A arvore é a mesma. O cachorro
Acho que não. Talvez. Sei lá. Não sei.
Retorno.
Conheço, eu imagino, alguns olhares.
Algumas vozes. Lembro do portão.
Parece o mesmo. A rua, a mesma.
Acho que eu fui o único fujão.
Retorno.
Não tenho outra saída.
Definitivamente nenhuma outra razão:
Voltar somente. Retomar a vida.
Porque insistir andar na contramão?
Retorno.
É minha estória. Não tenho medo
É meu caminho. Parece minha canção:
Pra você ver: eu to voltando pra casa.
I wanna hold your hand. Me de a mão.
Retorno.
E não me esqueço da poesia.
Minha companhia de aflição.
Amou comigo. Sofreu comigo.
E não me impôs nenhuma condição.
Retorno.
As coisas não saíram do lugar.
Estavam exatamente onde ainda estão.
Retorno. É minha vida. É meu legado.
Minha alforria. Minha absolvição.
Retorno.
Deixo pra trás pecados e desvios.
A poeira nos sapatos. E a lição:
Partir diariamente. Seguir longe.
Voar em desvarios absurdos.
Atravessar descampados
E mares nunca dantes navegados
Mas não deixar morrer o coração
Que sempre volta. Mais cedo. Mais tarde.
Silenciosamente. Ou com alarde.
Surpreendendo quase sempre ou não.
Retorno.
A musica ao longe. A casa. A trilha.
O cão que já faz parte da família.
A minha mãe. Minha irmã. Meus dois irmãos.
E a criançada.
Meu Deus. Como essa turma ta levada.
Meu Deus. Quem me segura essa emoção.
Retorno.
Não há caminho mais verdadeiro.
Nada desviará minha atenção.
Coisa nenhuma. Nenhum dinheiro.
Nenhuma rota de distração.
Retorno.
É meu triunfo. E única ambição.
De volta à casa. Meu pouso certo.
Eu nunca estive tão perto.
Eu nunca andei com tanta determinação.
É minha casa. Discos. Livros. Poesias.
Os restos intocados dos meus dias.
Parece ate que estou nessa canção:
Eu tou voltando pra casa.
Nada me atrasa
Nada me faz perder a condução.
Tudo é igual
Ou parecido
Ou quase tudo
O cachorrinho não.
Retorno.
Trago na minha idéia uma canção.
E mil poemas de felicidade.
Eu tou voltando pra imortalidade.
Eu tou voltando pro meu coração.

5.9.03

Tudo que eu mereço

Às vezes tão sem modos, sem juizo...
Às vezes de um sorriso tão sincero...
Às vezes delicioso paraiso...
Às vezes o inferno que eu não quero...

Às vezes menos do que eu preciso...
Às vezes muito mais do que eu espero...
Às vezes calmo assim, quase indeciso...
Às vezes incendiário, feito Nero...

Às vezes me acalenta, cuidadoso...
Às vezes me encabula, escandaloso...
Às vezes nem parece o que eu conheço...

Às vezes tanto que me desmonta...
Às vezes real... Às vezes faz de conta...
Ah, esse amor é tudo que eu mereço...

3.9.03

Cinco Silencios


Primeiro Silencio
Um verso feito sem som
Escrito sem palavra de dizer.
Feito de coisa prá não ser mostrada,
Feito palpitação descompassada,
Feito sentir o coração bater...

Segundo Silencio
Existe um poema escrito sem palavras
De versos de não se fazerem à mão.
Palavras jamais datilografadas,
Um poema escrito além da compreensão.
Que é para alem dos olhos. Voz cantada
Para o deleite do coração.

Terceiro Silencio
Falar, mas sem usar palavra alguma...
Dizer das coisas sem pronunciar...
E assim dizendo sem dizer, assim,
Não deixar nunca de dizer nada
Perder a necessidade da palavra
Pra falar...

Quarto Silencio
A palavra que não tem som
Escreve o verso que não tem forma
Que é como o vento,
Que é como a luz,
Que é como o copo d´água quando entorna...

Porque a palavra inteira, sem tamanho,
Sem cor, sem vícios, sem definição,
É como o pensamento,
É como a idéia,
É como a forma do coração...

Quinto Silencio
A poesia não imaginada
Feita do verso que não se escreveu
Traduzindo a palavra não pensada
Feito a manhã que não aconteceu...
Tem gente que pensa que é nada...
Tem gente que traz a alma alimentada
Depois que leu...

1.9.03

A forma de amar assim...
Ouvindo Lulu Santos

Eu te amo calado
Como quem ouve
Uma Sinfonia...
Eu te amo agitado
Como quem anda
Na tempestade...
Eu te amo em silencio
Como quem
Escreve poesia...
Eu te amo imenso
Como quem acha
A Felicidade...