31.12.12

Votos de ano novo...

Banhos de luz para olhos viciados,
Taças de paz pra corações entristecidos,
Brindes de otimismo para desenganados,
Carinhos para os que se sentem esquecidos,
 
Que possamos assim, juntos, misturados,
E apesar do cansaço, agradecidos,
Seguir em frente, ainda que cansados,
E que continuemos, mesmo enfraquecidos...

Que saibamos viver bem entre os pecados:
Os dos outros e os nossos, leves ou abusados,
Saindo deles fortalecidos...

E cada vez menos descuidados,
Sigamos menos errados,
Mais alinhados, menos distraidos...

23.12.12

Poema de Natal

I
Recorda a Humanidade, neste dia
Os fatos que cercaram Tua chegada:
O Anjo anunciando-Te a Maria,
José quando acolheu a sua amada.
 
De Nazaré a Belém, Tua romaria,
Onde não havia vaga na pousada,
O Teu nascimento numa estrebaria,
A manjedoura, Tua primeira morada...
 
Recorda a Humanidade, entre louvores,
Os Anjos anunciando-Te aos pastores,
Os magos e Herodes, a adoração e o medo...
 
Recorda a Humanidade nessa hora
Os primeiros movimentos da Tua história
Imensa e encantadora desde cedo...
 
II
Desde aqueles dias
Já se vão dois mil anos...
Do mesmo modo
Como os pastores,
Aqui estamos...
Soubemos da Boa Nova
E aqui viemos
Como fizeram os pastores
Há dois mil anos...
E, como os pastores,
Nós nos sabemos
Pobres seres humanos,
Nada possuímos
Nem trazemos,
Como os pastores
Há dois mil anos...
Não viemos,
Como os pastores,
Tão logo e assim que soubemos...
Nós nos atrasamos...
Mas aqui estamos
Na Tua presença e,
Por tão pequenos,
Silenciamos...
E assim, orando,
Nós nos ajoelhamos,
Como os pastores
Nós nos alegramos,
Como os pastores
Há dois mil anos...
 
III
E aqui estamos de mãos vazias...
O que intencionávamos trazer perdemos
Com companhias, com teorias,
Com coisas que valiam menos...
E aqui estamos.
Não trazemos nada.
O que tínhamos ficou pelo caminho.
Nós nos dispersamos pela caminhada
E caminhamos em desalinho...
E aqui estamos. Nada trazemos.
Nem mirra, nem ouro e nem incenso...
Pelo caminho nós os perdemos
E nos restou esse vazio imenso...
E aqui estamos.
Nós nos dispersamos.
Nós nos atrasamos.
Mas aqui viemos.
Já se passaram mais de dois mil anos
E ainda não aprendemos...
Aqui estamos.
Ajoelhados.
De mãos vazias.
Em pensamento.
Aqui estamos, muito cansados,
Diante do Teu nascimento.
 
IV
O ouro que traríamos,
Valioso,
Peça imponente,
Belíssima cor,
Recebeu tantas ofertas
Nesses dias
Que o trocamos
Sem nenhum pudor
Por bugigangas,
Quinquilharias,
Sem garantias,
Coisas sem valor:
Bijuterias,
Peças sem valia,
Pedras sem brilho
E sem nenhum teor...
Gastamos todo
Com ninharias,
Trocamos,
Demos
E esquecemos
De repor...
Hoje não temos
Mais do que a lembrança
Do que já tivemos
E, além disso,
Dor...
E porque gastamos,
E porque perdemos,
Comportamo-nos
Como o mau pastor
Que se descuida
Do que seria
Para cuidar
Como bom cuidador...
Aqui estamos
De mãos vazias,
Nada mais temos,
Nada nos restou...
De mãos vazias
Aqui estamos...
Vazios
Na presença Do Senhor...
 
V
O aroma leve de um suave incenso
Nós preparamos para trazer.
Aspecto doce, odor delicado,
Especificamente preparado
Para o menino que viemos ver.
Foi quando até aqui, pelo caminho,
Outros aromas doces conhecemos,
Por outros cheiros nos atraímos,
Outras essências sentimos,
Outras fragrâncias colhemos
E o aroma leve do incenso suave
Que preparamos foi se perdendo
E como a água quando escorre pelo ralo
Já não nos é possível agora identificá-lo...
_O que é que andamos fazendo?
Por outros cheiros nos seduzimos,
Outros perfumes vulgares,
Azedos, acres, fáceis, sedutores,
Odores oferecidos, maus odores,
Dezenas e centenas e milhares...
E assim o símbolo de tua espiritualidade
Contaminamos em nossa caminhada...
Estúpidos condutores, e descuidados,
E incautos, fomos contaminados
E hoje trazemos a alma infectada...
E o aroma suave do incenso doce
Já não possuímos nesse momento...
Envolve-nos, Senhor, com tua essência,
Ajoelhados, na Tua presença,
Reverenciando Teu nascimento...
 
VI
A mirra, preparamos com carinho
E embalamos cuidadosamente...
O sofrimento é parte do caminho...
A dor é sempre presente...
 
Mas donos de um cuidado tão mesquinho,
De um jeito tão displicente,
Bastou o primeiro copo de vinho
E o primeiro gole amargo de aguardente,
 
E a mirra a derramamos e a perdemos,
A dor embriagada dói bem menos...
Desrespeitamos Teu sofrimento...
 
E hoje aqui, não mais tão embriagados,
Postamo-nos diante de Ti, ajoelhados,
Diante do Teu nascimento...
 
VII
Submersos em trevas e isolados,
Por desacertos nos conduzimos...
Enfraquecidos, tolos, derrotados
Que a nós mesmos nos destruímos...
A sombra, como semente alimentada,
Cresceu e se espalhou, erva daninha...
A Humanidade quedou-se, acinzentada,
Perdeu o rumo, perdeu a linha...
O desafeto e o desamor, unidos,
Tornaram-se gestos diários
Que os homens fracos e os distraídos
Trataram como comportamentos necessários...
E assim, do desamor nasceram a usura,
A ira torpe, a falta de perdão,
O ódio entre a criatura e a criatura
E a rudeza do coração...
Mísseis cruzando os céus, caças insanos,
Botões dizimando nações sem piedade,
Homens selvagens, seres humanos
Vestidos de pura bestialidade...
A morte provocada pela guerra,
O lucro à custa da crueldade,
A sombra assustadora sobre a Terra
Ameaçando a Humanidade...
Flagelo.
Fome.
Miséria.
Medo.
Terror.
Suspeita.
Desamparo.
Dor.
O homem que vive entre feras desde cedo
Fica contaminado por esse horror.
A que chegamos...
Não sobrou nada.
Nenhuma luz.
Só ódio.
Só discórdia.
E uma Humanidade necessitada
Da Tua infinita Misericórdia.
E longe dela, ai de nós pelo que somos.
Pelo caminho ruim que caminhamos.
Pelo que fizemos.
Pelo que fomos
E pelo muito que erramos.
Longe da Tua Misericórdia, nada.
Ranger de dentes.
Choro.
Fome.
Frio.
A Tua Misericórdia é a luz da nossa estrada,
Cesto de peixe que nunca está vazio...
Aqui estamos, pois.
Muito cansados.
Já não suportamos tanto sofrimento.
Aqui estamos, ajoelhados,
Diante do Teu nascimento.
 
VIII
Mas é Natal, e assim,
Ecos dos Anjos
Ainda fazem-se ouvir
Em Seu Louvor...
Ecos que anunciam
A Boa Nova:
 _Eis que hoje vos nasceu O Salvador.
Eis que é Natal.
E as vozes dos Anjos vibram.
Cânticos de Anjos
Em Legião
Dizendo:
 _Hosana...
Nasceu Jesus,
Alegrai, pois,
Vosso coração...
Eis que é Natal
E, por aí, pastores
Ainda se alegram
Com a anunciação...
Vibram e falam
Uns para os outros,
E alguns se postam
Em oração...
Que delicado
O cântico dos Anjos,
Escuta-se ao longe
Um trecho seu:
_Glória a Deus nas alturas
E paz na Terra...
Jesus nasceu...
Santificada essa Boa Nova,
Iluminada essa hora
Como a esperança que se renova:
Toda alegria
Ao mesmo tempo
Agora...
É terna e pura a luz da Tua estrela,
Silenciosa e serena,
E vê quem tem olhos de ver seu brilho,
Como quem entende um poema...
Acolhedora a Tua manjedoura,
Tão pouco e ao mesmo tempo tanto, tanto...
Impressionantemente acolhedora
Como se fosse Teu manto...
Suave e belo o significado
Da Tua mensagem de amor,
Ao mesmo tempo imenso, delicado
E inexplicavelmente acolhedor...
Simples pastores por companhia,
Delicadeza, naturalidade...
De onde trouxeram tanta alegria
E tanta felicidade?
E a música que cantam, como um coro
De várias vozes e grande harmonia?
Como quem cuida um tesouro,
Como se fossem os próprios José e Maria...
A música que cantam... Que serena...
Retalhos inteiros feitos de paz...
Encantador recordar esta cena
Dos Teus primeiros Natais...
E a gruta acolhedora, Teu resguardo...
A manjedoura... Nenhuma ostentação...
Nem luz, nem brilho e, no entanto, nenhum fardo...
Nenhuma pena... Nenhum senão...
A gruta, feita de simplicidade...
Nenhum palácio significa tanto...
Não há vestígios de suntuosidade,
Há, sim, sinais de que é um lugar santo...
 
IX
E dois mil longos anos se passaram...
Aqueles que, como nós, Te conheceram,
Durante esse tempo se desviaram
E após tantos desvios se perderam...
 
E em dois mil longos anos que afastaram
Da Tua presença os que viram e não creram,
Multiplicaram-se os que Te negaram,
Espalharam-se os que não Te receberam...
 
E dois mil anos não foram bastante
Para que nós chegássemos aqui diante
De Ti como em outra época Simeão...
 
Os nossos olhos, endurecidos,
Envoltos em trevas, escurecidos,
Ainda não compreenderam a Tua lição...
 
X
Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo,
Caminho, Verdade, Vida,
Recebe nossa alma vazia nessa hora,
Pela Tua Misericórdia, estremecida...
E permanece nosso pensamento assim:
Magnificado e em lágrimas submergido...
Deixamos lá fora as sandálias, o pó ruim,
Trazemos o pensamento enternecido,
Extasiado com Tua singeleza,
Complexa, imensa e cheia de verdade,
Admirados com a força gigantesca
Da Tua aparente fragilidade...
Trazemos, humilhado,
O coração cansado,
Trazemos, destruído,
O coração sofrido,
Trazemos, derrotado,
O coração errado,
Trazemos, combalido,
O coração doído...
 
XI
Insufla nossa boca
Com Teu sopro santo,
Fazendo-a cheia
Das palavras de Simeão:
Podemos partir,
Desde agora,
Porque nossos olhos
Viram A salvação...
 
XII
Senhor Jesus,
Feliz Natal!
Nos Céus Os Anjos Dizem: _Amém...
Cantando:
_Glória a Deus nas alturas
E Paz na Terra
Aos homens
A quem Ele quer bem...
 
 
Que assim seja...

17.12.12

Compensação

Ainda bem que há sempre outra saida,
Ainda bem que há vida além das crises,
Ainda bem que além das despedidas
Há dias mais tranquilos e felizes,

Ainda bem que além da dor sofrida,
Das desarrumações e dos deslizes,
Há vida, delicada e distraida,
Ar puro para além das hemoptises...

Para além do desespero, a poesia,
Para além da febre alta, a calmaria,
Para além da ventania, a brisa boa...

Compensação, para além do desespero,
Como o porto aguardando o marinheiro,
Como as asas guardando o passaro que voa...
 

16.12.12

O fim do mundo


Se o mundo acabar dentro de uma semana
Eu juro que paro de escrever poesia,
Dai eu fujo pra Copacabana
Um dia antes desse fatidico dia.

Se o mundo acabar (e o mundo não me engana
 Com essa história de que isso não passa de profecia),
Eu vou querer ver isso lá do Sana,
Porque da minha casa é covardia.

Eu vou levar comigo alguns escritos,
Mas nem tantos, não muitos, só os mais bonitos,
Que é pra ver se eu acabo impressionando...

Se o mundo acabar eu não fico. Eu vou-me embora,
Porque a coisa já ta feia e se acabar piora...
É o fim do mundo que está apenas começando...

5.12.12

Plantão dia de Natal

Dezembro. Cansaço do ano inteiro.
Dezembro. Vontade de comemorar.
Dezembro. Mas bem que podia ser janeiro.
Dezembro. Mas bem que podia ser o mar.

Dezembro. E é aí que chove um crianceiro.
Dezembro é mês de criança fervilhar.
Dezembro. E eu aqui, verso pensamenteiro.
Dezembro. Eterno recomeçar.

Dezembro. Ninguém parece sem dinheiro.
Dezembro. Dos meses do ano é o mês mais festeiro,
Pena que demora tanto pra chegar.

Dezembro. E eu daqui sentindo o cheiro
Da ceia de Natal, mas que tempero...
Eu de plantão... Então... Quem quer trocar?

A poesia

Ninguém para atender. A poesia,
Por isso mesmo, vem me visitar.
Ela se sabe boa companhia,
Com ela eu gosto de conversar.

Ninguém para atender: disenteria,
Prurido, piodermite, falta de ar...
Somente a poesia ainda me espia,
Esperando a hora de poder entrar.

Ninguém para atender. Eu cá, sozinho,
Não fosse a poesia em meu caminho,
Confesso não saberia o que fazer

Nas horas aparentemente tão vazias
Das tardes quentes e das noites frias
Quando não há ninguém para atender...
 
 

Dezembro


Dezembro. A cidade movimentada.
Dezembro. De onde veio tanta gente?
Dezembro. A cidade em luzes enfeitada,
E tanto quanto enfeitada, impaciente.

Dezembro. A festa. A ceia planejada.
Dezembro. Papai Noel. Tanto presente.
Dezembro. A excitação da criançada.
Dezembro. Nada lhe escapa, indiferente.

Dezembro. Festa de sinos, guizos, hinos,
De mesas fartas, sabores finos.
Dezembro inteiro saboreado com alegria.

Nem sei porque, caríssimo dezembro,
No meio disso tudo ainda me lembro:
"Não havia lugar para eles na hospedaria"...
 

Sorria, você está sendo filmado

Sorria, você está sendo filmado.
Cuidado, você está sendo seguido.
Repare, você está sendo enganado.
Assuma, você está sendo comprado.
Não grite, você esta sendo vendido.

Silencio, você está sendo ignorado.
Coitado, você está sendo ofendido.
Respire, você está sendo tragado.
Sai fora, você está sendo tapeado.
Disfarça, você está sendo seguido.

Não olhe, você está sendo observado.
Repita, você está sendo instruído.
Aceite, você está sendo moldado.
Reflita, você está sendo cooptado.
Em suma, você está sendo esculpido.

Concorde, você é um teleguiado.
Assine, você tem telhado de vidro.
Confesse, você está vivendo em pecado.
Continência, você é um mané pau mandado.
 Que pena, você tem um lindo sorriso...

21.11.12

A folha

Dou de cara com a folha de papel vazia,
A folha, como se estivesse a me esperar...
Vazia, a folha curiosa que me espia
Como se quisesse me provocar...

Mas sou em quem a provoco com minha caligrafia,
Palavras livres de se rabiscar...
A folha, provocada, quem diria,
Aos poucos, parece, começa a gostar...

Até quando, já suficientemente rabiscada,
A folha me agradece, encabulada,
Mostrando-me esse soneto escrito aqui,

E me sorri, tímida e maquiada,
Em forma de poesia improvisada
Que faz a folha tímida sorrir...

30.10.12

Na casa do meu Pai

Hoje recebi a noticia da partida do nosso querido Mário, esposo da amiga Gabriela por longos e longos anos.
Aos queridos Gabriela Dorothy Carvalho e Mário, agora unidos pela saudade, nosso carinho e nossa poesia.


Na casa do meu Pai há muitas moradas,
Um dia sempre chega a hora de partir,
De seguir viagem por novas estradas,
De experimentar outras formas de existir...

Na casa do meu Pai há muitas moradas,
Por isso esses dias de se despedir...
Despedidas são felicidades adiadas,
Encontros marcados para o porvir...

Na casa do meu Pai há muitas moradas
Em que viver é feito de temporadas,
E onde a misericórdia de Deus não se distrai,

E segue abençoando nossas vidas
Com seu amor que sobrevive às despedidas
Nas muitas moradas da casa de meu Pai...

21.10.12

A palavra compartilhada

A palavra, depois de escrita, não tem dono,
Se fica guardada, não tem serventia,
Guardar a palavra é condena-la ao abandono,
Guardar a palavra é subtrair-lhe a poesia...

A palavra, se guardada, é um Rei sem trono,
É Pedro Alvares Cabral sem a Bahia.
A palavra espalhada perde o sono,
Disseminada, cai na folia...

Compartilhar a palavra é um mandamento
Que permite à palavra o livramento,
Que tempera a palavra com alegria...

Compartilhar a palavra, incondicionalmente,
É permitir-lhe a liberdade inconsequente,
É entregar-lhe a sua carta de alforria...

 

15.10.12

Aos meus professores

Aos meus professores que me ensinaram
A necessidade incessante de aprender,
Aos que insistiram e nunca me deixaram,
Aos que evitaram que eu pudesse me perder,

Aos meus professores que nunca se cansaram
Desde os dias em que aprendi a ler,
Aos que me corrigiram quando me reprovaram,
Aos que me mostraram os caminhos de crescer,

Aos meus professores pelo tudo que fizeram,
Aos meus professores pelas notas que me deram,
Aos que me concederam perceber...

Aos meus professores, pelo que me permitiram,
Aos meus professores, porque não desistiram,
Aos guardiões do saber,

Minha poesia...

14.10.12

A mesma coisa

O que a maioria escreve normalmente,
Eu normalmente escrevo rimando,
Não penso muito, escrevo naturalmente,
E a poesia, naturalmente, vai gostando,

E eu não escrevo a palavra dissidente,
Mas a mesma palavra, só que combinando
A palavra de trás com a palavra da frente
Como se elas estivessem se abraçando.

O que eu escrevo é o que a maioria escreve,
A rima é que faz parecer mais leve,
Mas não há palavra ou significado diferente,

E embora a prosa seja esmagadora maioria,
Eu permaneço fiel à poesia,
Que é como a prosa, só que é mais saliente...

13.10.12

Verborragia

Às vezes eu tento escrever poesia,
Na maior parte das vezes sem saber como começar,
O poema é uma compra sem garantia
Feita por quem não sabe se vai ter como pagar.

Às vezes eu tento, já virou mania,
E sigo. Deixo a letra me levar:
Uma caneta, uma página vazia,
Um tempo livre, e eu começo a rabiscar...

Às vezes o poema sai como eu queria,
Outras, me envolve em sua verborragia
Antes que eu possa perceber ou concordar,

Por isso quase sempre eu nunca sei quem cria
O poema: se eu, que assumo sua autoria,
Ou essa força que eu não consigo controlar...

29.9.12

O tempo

Já não me resta tanto tempo pela frente,
Por isso, devo evitar, daqui pra diante,
Fazer besteiras, como fazia antigamente,
Contar vantagens, como se fosse um gigante,

Já não me resta tanto tempo, e, certamente,
O tempo esgota-se numa velocidade impressionante,
Devo tentar acertar mais que errar, pacientemente,
Tornando a vida assim mais interessante...
 
O tempo vai se esgotando, e eu, percebendo,
Devo errar menos, acertar mais, porque entendo
Que o tempo das irresponsabilidades já passou...
 
Quem sabe agindo assim vou aprendendo
A recuperar o tempo que andei perdendo
E a honrar o tempo que a vida me emprestou...

26.9.12

A rima (resposta a Carol)


Ao ler o poema A Rima (VI) no face, Carol me pergunta no seu comentário: "Para onde vai?"
Então, Carol, pra você a resposta:

Quem sabe Carol? Ela é autônoma e impulsiva,
E não gosta de dar satisfação a ninguém.
A rima é assim, extremamente criativa,
Vem pra cá, vai pra lá, desaparece além,

Por isso, Carol, é como uma água viva,
Que não queima e, pelo contrario, só faz bem,
Mas que do mesmo modo é subversiva,
E imprevisível, como choro de neném...

As vezes fica o tempo todo do seu lado,
E na hora que você tá mais precisado
A rima voa em pensamento pro Japão...

Por isso Carol, pra onde vai? Adivinha...
A rima é um trem que escreve a própria linha...
A rima é assim como é o coração...

A rima (VI)

Pra onde vai a rima quando distante?
Pra onde vai a a rima quando ausente?
Visitando um poema mais interessante?
Descansando numa banheira de água quente?

Pra onde vai a rima, espirito viajante,
Depois que desaparece da minha frente?
Conhecendo os cenários do inferno de Dante?
Banhando-se ao sol vermelho do oriente?

Por onde passeia? Por que poemas?
Por que Copacabanas e Ipanemas?
Com que significados? Com que nome?

Pra onde vai a rima depois de usada?
Rimar com que palavra nunca dantes navegada?
Pra onde vai a rima quando some?



25.9.12

A rima (V)


A rima tentou conversar, eu não ouvi,
Tentou me chamar, eu não prestei atenção,
Pediu para entrar num poema bem ali,
Qualquer palavra, não fez questão,

A rima insistiu, me chamou, não percebi,
Queria só uma chance de falar, eu não...
Fui todo deselegante, e foi aí
Que a rima foi-se embora. Eu não deixei opção...

Algum tempo depois, eis-me aqui arrependido,
Soneto sem rima é poema quase perdido:
Poesia sem rima não tem graça nenhuma...

De uma próxima vez, prometo tomar cuidado,
Cuidando para não fazer mais nada errado
Servir-lhe um soneto para que ela não suma...

A rima (IV)


Ta vendo, rima? Você vai embora
E olha o soneto como é que fica:
"Parece um moleque desengonçado",
Nem fica parecendo poesia...

Por isso é que eu peço: fica por perto,
Passargada sem rima é um areal...
Sem rima o poema às vezes quase acerta,
Mas no final alguma coisa engasga...

Agora sim, eu não disse? Coisa boa...
Já to me sentindo até outra pessoa...
Voce é demais, rima... Impressionante...

Viu como tudo com você da certo?
Viu como é bom ter você por perto?
Viu como o soneto fica elegante?

24.9.12

A rima (III)


Ta vendo rima como eu tenho razão?
Tudo se ajeita quando você colabora,
A poesia abre um baita sorrisão,
A esquisitice enrustida vai embora...

Ta vendo porque eu faço tanta questão
De ter você por perto, como agora?
Voce é assim, não tem complicação.
Decide o jogo. Faz gol na hora.

Que bom contar com você nos meus sonetos,
Nos meus versos brancos, nos meus versos pretos,
Que bom amiga, quando você está...

Obrigado por temperar minhas poesias,
Obrigado por estas pequenas alegrias
Maiores do que você pode imaginar...

A rima (II)


Confessa-me, rima, fala a verdade:
Tu bem que gostas quando eu vou te procurar.
É nessa hora que tu te escondes com vontade,
Deixando-me um dia inteiro a te esperar.

Tu bem que gostas de me causar dificuldade,
Tornando improvável acontecer de eu te encontrar,
Tu me provocas e somes, pura maldade,
E se eu fico aflito, tu pareces gostar...

Tudo bem, eu entendo. Tudo bem, eu aceito.
É teu temperamento. Ninguém é perfeito.
Mas saibas que eu te adoro mesmo assim:

Fugidia, provocadora, irreverente,
Autoritária, decididamente,
Mas que eu não quero longe de mim...

23.9.12

A rima

Ei, rima, me diz: cade voce?
Onde é que, fugitiva, foi parar?
Por que é que voce ta tentando se esconder?
Por que demora tanto a se mostrar?

Ei, rima, pode aparecer...
Aparece, pra gente poder brincar...
Eu sei que voce deve ter muito o que fazer,
É normal, eu sei, às vezes, se atrasar...

Mas rima, concorde comigo: tá na hora,
Porque o soneto, quando voce demora,
Fica tentando um meio de escapar...

Então chega logo, carissima senhora...
Ou eu termino esse soneto agora
Ou voce vai conseguir me atrapalhar...

Meu fim de semana

Meu fim de semana eu que faço acontecer,
Às vezes cai sábado, outras vezes, terça feira,
Às vezes demora um mês pra aparecer,
Outras vezes dura uma semana inteira,

Por vezes chega sem eu perceber,
De vez em quando, só depois de uma canseira,
Nem sempre é o mesmo, adora se esconder,
Meu fim de semana é assim dessa maneira,

Às vezes cai num fim de semana, outras não,
Às vezes a quinta é que é meu domingão,
Por isso eu vivo sem me preocupar...

Porque meu fim de semana pode ser qualquer dia,
Felicidade é assim: a gente cria
E arruma um jeito dela nunca se acabar...

20.9.12

O homem feliz

Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz
Maiakovski

Eu vi um homem feliz dias atras,
Não tinha cultura, não tinha dinheiro,
Mas com sua felicidade era capaz
De tentar fazer feliz o mundo inteiro...

Eu vi um homem feliz. Feliz demais.
Não lembro se em Campos ou no Rio de Janeiro.
Falava palavras de calma e paz
Porque era um homem feliz e verdadeiro...

Eu vi um homem feliz, faz alguns dias,
Não escondia suas alegrias,
Ao invés disso, as distribuía por ai...

Eu vi um homem feliz e necessário,
Pena que um homem raro e não um homem diário,
Eu vi um homem feliz, que bom que eu vi...



Tenta, garoto...

Tenta, garoto, rabiscar poesia,
Rimar cotia com tia mais um dia, tenta,
Porque rimando assim, cotia com tia,
É assim que a poesia se reinventa...

Por isso tenta, garoto, mais um dia,
Essa poesia que de alguma forma te sustenta,
Deixa que a rima tua alma guia,
Relaxa e confia, garoto, e experimenta...

A poesia, papel sem garantia...
Viagem longa sem companhia...
Talvez por isso pouca gente aguenta...

A poesia que nunca se esvazia...
Tenta, garoto, é pura regalia
Tentar a poesia que nunca se contenta...

O primeiro soneto

Primeiro soneto após a ambulatório...
Sobre o que eu escrevo, pra começar?
Não vou falar de febre ou de supositório,
Palavras assim não são pra poemar...

Primeiro soneto. Aciono meu sensório.
Algumas idéias começam a chegar.
O poema é o que dá vida ao ilusório
Que usa o poema para se encarnar...

Primeiro soneto. Difícil esse primeiro.
Comporta-se como um estranho forasteiro
Que não conhece bem como chegar...

Primeiro soneto. Que bom quando termina...
E essa descarga de ocitocina...
Soneto pronto. Pode relaxar...

Manhã de ambulatório

Passei a manhã inteira atendendo,
Miíase, escabiose, tosse, conjuntivite,
Criança a balde, criança que só vendo,
Criança a rodo, quase sem limite,

Criança espirrando, criança gemendo,
Criança que engoliu uma ponta de grafite,
Criança chorando, criança correndo,
Um formigueiro de crianças, acredite,

Passei a manhã inteira receitando...
Tanta criança doente precisando,
E eu precisando de alguém pra me ajudar...

O turno acaba. Hora de ir embora.
Não tem criança nenhuma mais lá fora...
Tá liberado, Doutor. Pode ir rimar...

13.9.12

Treze milhões

A OMS calcula a existência treze milhões de nascimentos prematuros a cada ano no planeta...

Somos treze milhões de almas apressadas,
Nascidas antes do tempo que era pra ser,

Treze milhões de alguma forma condenadas,
Um numero que não para de crescer,

Somos treze milhões de almas deportadas
Para um cárcere de onde não se vê o sol nascer,
Longe dos braços das nossas mães, desconsoladas,
Com medo do que nos possa acontecer...

Treze milhões de almas aprisionadas
Em casas de acrílico padronizadas,
Sozinhas, entristecidas de tanto sofrer...

Somos treze milhões de almas cansadas,
Precisando demais ser abraçadas,
Treze milhões querendo tanto viver...

10.9.12

Nada


Nada é tão grande que não precise crescer,
Nada é tão puro que não necessite filtrar...
É uma questão de amadurecer...
É uma questão de necessitar...

Nada é tão fácil que não se precise aprender,
Nem tão difícil que não se consiga estudar...
Tudo na vida é uma questão de querer...
Tudo na vida é uma questão de sonhar...

É amanhã o tempo de colher,
Se o ontem foi o tempo de querer fazer,
O hoje é a hora de se semear...

É tudo uma questão de perceber,
De “não esmorecer para não desmerecer”,
Nada é tão pronto que não se possa mudar..." 

2.9.12

É como se deve...


A frase nunca sai escrita errado
Quando é escrita com o coração,
Nada sai feio ou desarrumado,
Nada necessita de correção,

Não existe acento mal colocado,
Ponto estragando a pontuação,
Erro nenhum, nem termo inapropriado,
Pra mim é assim. Tem defeito não.

E se quem escreve bem, corretamente,
E enquanto escreve impecavelmente
Não tira da alma nada do que escreve,

Ainda que sem erros de gramatica,
Escreve letra moribunda e apática...
É o coração que torna a vida leve...

É o coração que escreve sem pecados,
Sem erros nem termos inadequados,
O coração... É assim que a gente deve...

16.8.12

Logo eu...


To tão feliz... E nem sei por que...
Não to apaixonado, não ganhei na loteria,
To rindo a toa, mesmo sem entender,
Uma forma qualquer de idiopatia...

To tão feliz, mesmo sem compreender
A causa dessa felicidade que me asfixia...
Não fui sorteado, não sai na TV,
E ainda falta tanto pra minha aposentadoria...

Mas to feliz... E se fico preocupado,
É que a felicidade às vezes deixa a gente abobado,
E incomoda demais os mal humorados...

Mas to feliz, e pronto. Muito feliz. E ponto.
E é tanta felicidade que nem te conto...
E logo eu, tão cheio de pecados...

A poesia

A poesia de madrugada,
A poesia quando o sono vai embora,
A poesia bem comportada,
A poesia, trem que não demora...

A poesia, às vezes van lotada,
As vezes moça que jura que me adora,
As vezes melhora, as vezes tão sem nada
Que nem adianta insistir senão piora...

A poesia madrugadeira...
Madrugadas assim dessa maneira
Nem se parecem com madrugadas...

A poesia, boa companhia,
As vezes a unica, a poesia,
Que gosta de passear comigo de mãos dadas...

A poesia

A poesia, visita distraída,
Não marca dia nem hora pra chegar,
Às vezes, mal chega e já está de saída,
Outras vezes nem pede licença pra entrar...

Às vezes, como uma mulher desinibida,
Fala de coisas que ninguém pediu pra ela falar,
Outras vezes, silenciosa, retraída,
Demora a dizer, não diz sem pensar...

A poesia, cofre sem segredo,
A poesia, e talvez seu único medo:
O de um dia não ter mais por onde se expressar...

Visita distraída, a poesia,
Inesperada, sem som nem garantia,
Que às vezes chega e me chama pra brincar... 

5.8.12

A minha mãe aos oitenta

Quando todo mundo se cansa, ela é quem segue,
E cresce a cada desafio que ela enfrenta,
Quando todo mundo desiste, ela consegue,
Quando todo mundo desaba, ela sustenta,
 
E quando todo mundo exige que ela negue,
Ela, ao contrario de toda gente, aguenta,
A sua fé faz com que ela não se entregue,
E minha mãe é assim, linda, aos oitenta:

Menina que sonha, que vive o que prega,
Menina que não se cansa e não sossega,
Que sabe como recarregar seu coração,

Menina aos oitenta, e cada vez mais menina,
Que aos oitenta auxilia, orienta, exemplifica e ensina,
Que aos oitenta faz da vida uma lição...
 

3.8.12

A mãe do mundo


A mãe coreana, a mãe tailandesa,
A mãe brasileira, a mãe americana,
A mãe nicaraguense, a mãe chinesa,
A mãe norueguesa, a mãe cubana,

A mãe espanhola, a mãe portuguesa,
A mãe argentina, a mãe peruana,
A mãe indiana, a mãe inglesa,
A mãe sudanesa, a mãe italiana,

A mãe que se entrega pacientemente,
A mãe que se dá silenciosamente,
A mãe que quase se esquece, se doando...

Que Deus a proteja, incondicionalmente,
Que Deus cuide dela pacientemente,
A mãe do mundo, serena, amamentando...

Desistência

Desisto de tentar compreender a espécie humana.
As vezes que tento vejo que tento em vão.
Eu devo possuir a alma insana,
A razão insana, insano o coração...

Desisto, prefiro um poema do Quintana,
Um show do Chico, um violão do João,
É muita estranha a minha espécie. E desumana.
Desisto de tentar explicação.

Espécie que se mata entre a fome africana
E a hipercolesterolemia americana
E não se define entre o marasmo e a indigestão...

Ah, pobre espécie infeliz que não me engana...
Desisto de compreende-la, doidivana,
Ah, pobre espécie em decomposição...

21.7.12

Prece para proteção contra os corruptos


Papai do Céu, protegei os cofres públicos
Das mãos desses meliantes saqueadores
Que dizem defender a lei, mas são corruptos,
Que dizem proteger a lei, mas são salteadores...

Protegei desses, Papai do Céu, que não tem escrúpulos,
Salafrários, covardes, malfeitores,
Protegei desses, Papai do Céu, homens estúpidos,
Que não tem limites nem travas nem pudores,

Protegei os cofres públicos dessa gente
Que anda por ai e, livremente,
Corrói as esperanças da nação...

Protegei os cofres públicos desses bandoleiros
Que vendem suas almas por trinta dinheiros,
Livrai-nos da sua sede de corrupção...

Que assim seja.

28.6.12

O passado, o futuro...

Repensar o passado, planejando o futuro
Como se não houvesse outra opção,
Construindo, com velhos erros, novos rumos...
Que seja essa nossa vocação...

Aprender com o passado a escrever o futuro,
Tornando os dois parte da mesma construção,
Descobrindo possibilidades nunca dantes...
Criando caminhos de SIM onde antes NÃO...

Repensar o passado, refazendo teorias,
Reavaliando protocolos, garantias,
Trazendo à luz novos referenciais...

Planejar um futuro respeitoso,
Para que o bebe de ontem torne-se o idoso
De um amanhã de mais luz e de mais paz...

25.6.12

Sem medidas

O médico é um fingidor,
Finge tão completamente
Que chega a fingir a dor
Nos casos da dor ausente,

Um fingidor compulsivo,
Que tenta inconscientemente
Buscar a cura fingida
Da morte quase aparente...

Um fingidor sem medidas
Que finge ter varias vidas
E finge isso tão bem

Que vive as vidas que finge
Como um tinteiro que tinge
A propria vida que tem...

16.6.12

Quem cuida das mães de UTI?


Quem cuida das mães de UTI
Que esperam por seus filhos, assustadas?
Quem toma-lhes as mãos, frágeis e tremulas?
Quem seca-lhes as lágrimas sentidas?
Quem abranda-lhes as feições apavoradas,
E as suas noites de sono mal dormidas,
E os seus dias inteiros, pensativas,
E as suas horas inteiras, angustiadas?

Quem cuida das mães de UTI
Que oram por suas crianças internadas?
Quem descobre seus medos escondidos?
Quem compreende suas culpas descabidas?
Quem dá voz às suas vozes paralisadas?
E os seus corações que mal se aguentam,
Quem ouve, quem entende, quantos tentam?
Quem dá colo a sua dor desfigurada?

Quem cuida das mães de UTI
Que sabem pensar em seus filhos e em mais nada?
Quem oferece-lhes repouso e abrigo?
Quem dá-lhes um pouco de paz e de agua fresca?
Quem torna suas esperanças renovadas?
Quem mostra-lhes que há luz por entre os sustos?
Quem observa essa suavidade dos seus rostos?
Quem doa seu tempo a essas mães despedaçadas?

Quem cuida das mães de UTI
Que decoram de seus filhos suas risadas?
Que caminham lento por entre monitores,
Que esbarram em incubadoras, distraídas,
Que aprendem palavras estranhas, pouco usadas,
Que tocam seus bebes em berços aquecidos,
Que enxergam detalhes quase despercebidos,
Que cultivam felicidades adiadas?

Quem cuida das mães de UTI
Que vivem pros seus filhos, agoniadas?
Quem explica sua força contagiante
Capaz de faze-las sorrir, mesmo se tristes,
Esperançando as horas arrasadas?
Quem cuida das mães de UTI, mães silenciosas,
Quem cuida das mães de UTI, mães preciosas,
Quem cuida das mães de UTI, mães extremadas?