17.6.25

As cinco pedrinhas

As cinco pedrinhas que eu carregava
Na minha vesícula biliar:
O silêncio que elas faziam me assustava,
Então o cirurgião resolveu tirar,

As cinco ali e eu nem imaginava, 
Até um exame de ultrassom me revelar,
Desculpem-me pedrinhas, mas não dava 
Pra essa situação continuar.

Anestesia, intubação, e a cirurgia,
E todas cinco que foram minhas um dia
Partiram, com vesícula e tudo, sem reclamar,

E agora, sem pedrinhas e sem vesícula,
Só me resta essa lembrancinha ridícula
Delas, que se foram pra nunca mais voltar...

11.6.25

A poesia

Todas as vezes em que a palavra elaborada
Acaba chegando em meu coração,
Nessas vezes uma simples leitura já me salva,
Fazendo o barulho de uma revolução,

Porque toda palavra carrega, disfarçada,
Uma surpresa, ou quase uma explosão,
Mesmo a palavra comum, a mais apagada,
Mesmo aquela palavra mais sem expressão, 

A poesia torna todas elas renovadas,
Palavras em poesia são como espadas,
Ou como escudos, dependendo da intenção,

Deixam de ser, assim, quaisquer palavras.
Poesia é a palavra preparada
Para provocar, em quem lê, inquietação...

8.6.25

Todas as vezes que eu leio poesia

Apos ler um poema de Rodrigo Ladeira 

Todas as vezes que eu leio poesia 
Uma alegria me escapa ao coração,
Uma alegria incomum, essa alegria,
Todas as vezes, mesmo por distração,  

Uma alegria que carrega uma energia,
Uma energia que atiça a inspiração,
Sempre que eu leio, pode ser qualquer dia,
Qualquer lugar, em qualquer ocasião,

E toda vez meu coração se agita,
Parece até que ele vê uma moça bonita,
Basta um poema cair na minha mão...

Então eu respiro e me acalmo quando leio,
A poesia para mim é um prato cheio,
Antídoto para toda solidão...

28.5.25

O encontro com Terezinha

Para Terezinha Matoso após o seu encontro sobre luto perinatal com mães de bebês nascidos com microcefalia 

Terezinha falava. As mães ouviam.
E Terezinha, enquanto falava, as encantava. 
Emocionava seus corações, que percebiam
Que era com o coração que ela falava. 

Pura emoção a medida que recebiam
Terezinha e a sua acolhida com a palavra.
Silêncio. Terezinha falava. As mães sentiam.
E o coração da gente se emocionava.

Dizem por ai que as mães, depois de Terezinha, 
Sempre que a dor vem, como erva daninha,
Abraçam o amor que trazem no coração, 

E seguem, com seus amores, abraçadas,
Mais protegidas, mais amparadas,
E depois daquele dia, nunca mais solidão...

29.4.25

A poesia

Ainda bem que existe a poesia. 
A poesia não conhece a solidão. 
É cobertor em meio à noite fria. 
É gole d'água em dia de verão. 

Ainda bem. Feito uma garantia 
Pra quem precisa de um aperto de mão. 
A rima é palavra cheia de magia
Que brota de dentro do coração.

Ainda bem que que ela nos chega, às vezes,
Como um garçom que serve seus fregueses,
Deixando nossos corações alimentados.

A poesia. Que bom que ela existe
Como um abraço quando a gente está triste,
Desses abraços bem apertados.

26.4.25

A vida é muito engraçada

Sábado. Era pra eu estar de plantão.
Mas eu não estou mais. Fui afastado.
Tudo por culpa de uma infecção de repetição,
Klebisiela, esse é o nome do culpado.

Mas na minha opinião foi armação:
A equipe bem que poderia ter esperado.
Afastar alguém assim, de supetão,
E num momento não delicado...

_Supera, moço,  já se passou um mês...
_Ah tá, é porque não foi com vocês,
Pimenta nos olhos dos outros não dói nada...

Era pra eu estar de plantão, mas outros planos
Nascendo, eu aos sessenta e cinco anos,
A vida é muito engraçada...

17.4.25

Véspera de feriado

Dia tranquilo. Véspera de feriado. 
Franguinho sendo preparado no fogão. 
O céu nublado. O coração nublado. 
A poesia tranquilizando o coração,

Como se cada verso rabiscado,
Trouxesse junto com ele uma condição 
Que deixasse o coração mais relaxado,
A poesia como uma forma de sedação... 

Dia tranquilo. Véspera de feriado. 
O verso esvaziando o coração pesado, 
E deixando leve o coração na mão, 

E o coração ficando tranquilo assim rimado,
Mais forte, mais suave e preparado, 
O coração com muito mais disposição.

15.4.25

A poesia respondendo a vida...

Para Rafaella e Terezinha 

A poesia respondendo a vida
Quando a vida faz perguntas sem parar,
A poesia não conhece despedidas,
E nem tem hora para começar,

A poesia respondendo a vida
Quando a vida está difícil de suportar,
A poesia levita, distraída, 
Fazendo o coração da gente levitar, 

A poesia respondendo a vida,
Diariamente encontrando uma saída,
Um tubo de ar para a gente respirar,

A poesia respondendo a vida,
E a vida respondendo agradecida
Com mais um poema para a vida colecionar...

O tempo

Metade do mês. Por isso esse versinho
Escrito de improviso no celular. 
O ano está passando rapidinho,
E mal dá tempo dá gente comemorar.

Ainda ontem era carnaval, no cavaquinho
Eu escolhia um Paulinho da Viola pra tocar,
Mas já é Páscoa, chocolate, coelhinho, 
E eu nem terminei ainda de sambar.

O ano tá passando bem depressa,
Ou será que é meu coração que tá sem pressa
E preferia um sambinha mais devagar?

Porém maio já surge no meu calendário,
Me lembrando que em setembro eu já faço aniversário,
O tempo passa. Resta pra gente aceitar.

25.3.25

Todo mundo precisa de cuidado

Todo mundo precisa de cuidado,
De oferecer e de receber atenção, 
Ninguém nasce completamente blindado,
Todo mundo precisa de proteção 

Às vezes pode ser um abraço apertado,
Outras vezes um poema, uma canção, 
Cuidado tem inúmeros significados, 
Todo mundo precisa, na minha opinião,

Cuidar de alguém e também deixar ser cuidado,
Isso é tão lindo como amar e ser amado,  
Assim como Jesus nos ensinou,

Toda gente precisa, por todo lado,  
Cuidado nunca é um bem demasiado, 
Cuidado é como se fosse um pedacinho de amor...

23.3.25

HOLEP

Oh próstata, tu que és tão forte,
Que comprimes a uretra, que atrapalha a urina,
Foi necessário que eu articulasse a tua própria morte
Para evitar dessa forma a minha ruína,

O laser so precisou de um suave corte
Usando sua luz com muita disciplina,
Oh próstata, desta vez tive mais sorte:
Não fazes mais parte da minha rotina...

Oh próstata, tu que me ameaçavas tanto,
Agora já não não me causas mais espanto:
Eu estou livre das tuas trapalhadas,

Dias sem febre, dias sem infecção,
Sem uroculturas e sem mais internação,
E com novas histórias para serem contadas...

Que assim seja


Aceitação

Um dia. Depois outro dia. Depois outro dia.
Pra somente depois o justo dia chegar. 
Sem necessidade de correria.
Sem nenhum motivo pra se apressar.

E o dia chega. Em plena sintonia. 
Sem caminhar por atalhos. Sem se atrasar. 
No momento exato em que deveria.
Sem precisar descaminhos pra tomar.

E nessa hora desse dia exato,
Nada acontece por acaso. É fato. 
Assim como nenhma fagulha acende em vão. 

No dia certo, na hora certa,
A vida nesse instante revela-se completa,
E o que nos cabe é só silêncio e aceitação.

13.3.25

Morrendo

A gente morre devagarinho,
A gente morre sem perceber,
A gente morre a cada dia um pouquinho,
A gente morre sem se ver morrer,

A gente morre como um passarinho,
A gente morre às vezes sem saber,
E vai morrendo pelo caminho, 
Até um dia desaparecer,

E mesmo com o coração ainda batendo,
A gente não percebe, mas vai morrendo,
A gente não percebe, mas se vai,

E faz silêncio, mesmo ainda cantando,
Como uma poça d'água evaporando,
Como o suor da pele quando sai...

10.3.25

Aguardando a visita médica

Aguardando o Doutor. Escutando Paulinho. 
E começando meu dia com poesia.
Com poesia e samba. Não sozinho. 
Aguardando o Doutor, que vem de dia. 

Escutando Paulinho tocando cavaquinho, 
Delicadinho, como uma Sinfonia,
Enchendo de luz e paz o meu caminho,
Como um sinônimo de alegria.

Aguardando a visita com esse chorinho,
Que faz meu coração bater suavezinho,
Chorinho que me carrega como nem fosse levar,

Aguardando o dia que vem pela frente,
A música me cuidando de um jeito diferente,
E nunca deixando de me acompanhar.

3.3.25

O meu irmão

O meu irmão, desde cedo, me ensinando 
Lições de amor pela sua vida inteira, 
Às vezes sorrindo, às vezes apenas me olhando, 
Ele era feliz e amava à sua maneira, 

E desde criança, enquanto eu ia contando 
A ele histórias da literatura brasileira, 
O meu irmão se acalmava, e ia me acalmando,
E eu alisava a sua cabeleira,

Um dia ele se despediu da gente, mas desde esse dia,
Ele deixou nosso coração cheio da sua companhia,
E agora é ele que vem nos acalmar, 

Cantando pra gente as mesmas canções que a gente cantava,
Cuidando da gente igual como a gente cuidava,
E estando sempre presente em nosso olhar...

1.3.25

A poesia

Às vezes sinto vontade de escrever,
Mas a palavra foge do meu coração: 
Eu fico sem saber o que dizer,
O verso some sem explicação. 

Eu ainda tento, com se eu tivesse algum poder, 
Mas a palavra escapa da minha mão, 
Às vezes acontece, sem eu querer,  
Às vezes acontece  sem eu saber a razão,

Mas depois, como se a palavra se arrependesse,
Ou alguma coisa aqui dentro acontecesse,
Um soneto vai começando a germinar,

E, sem eu entender porque nem como,
A poesia me arranca do meu sono,
E me sacode para eu acordar.

23.1.25

As minhas Anas


As minhas Anas, minha companhia,
Minhas conselheiras, minha orientação, 
Suas palavras pra mim são como guia 
Que me desviam da grande inundação, 

As minhas Anas, melhor poesia 
Deus não podia ter me mostrado não, 
Ler as minhas Anas me clareia o dia
E enche de coragem o meu coração, 

Eu levo sempre comigo as Anas minhas,
Como se fossem minhas madrinhas,
Como se fossem minhas varinhas de condão,

As minhas Anas, meu porto seguro, 
Luzes a iluminar meu tempo escuro, 
Mestras que nunca largam da minha mão...

15.1.25

Esperança

Bom dia. Esperanças no ar.
Pra quem quiser alcançar. A esperança é assim:
Não tem dificuldades pra se espalhar, 
Depois que se espalha, vai até o fim.

Esperanças no ar: vamos aproveitar,
A esperança é o que transforma um dia ruim 
No melhor dia que ele pode se tornar. 
Eu quero um potinho de esperança pra mim.

Basta lavar os olhos, e, bem lavados,
Olhar o mundo com olhos renovados,
Livre dos ranços e das antipatias,

A esperança traz uma vida renovada,
Transformando  tempestades em quase nada, 
E iluminando de flores os nossos dias...