12.4.03

A prostituta

Talvez por gosto,
Talvez por necessidade,
Talvez curiosidade
Ou por falta de opção,
Ela emprestava seu corpo,
Ela alugava sua boca,
Oferecia seus olhos,
Mas guardava só pra si seu coração.
Talvez por medo,
Talvez por covardia,
Talvez por não se dar à luz do dia,
Talvez por sede
Ou experimentação,
A prostituta se prostituia
Com qualquer companhia,
De qualquer maneira
E por qualquer quinhão.
Roçava a sua pele
E os seus cabelos,
Mostrava sua barriga,
Passeava a sua mão.
Ela só não entregava o coração.
A prostituta
Da via Dutra,
Da Vialagos,
Do Vidigal,
Da Avenida Atlântica,
Da Lapa,
Do Largo do Machado,
Da Central,
A prostituta de Copacabana,
A prostituta do fim de semana,
A prostituta de ocasião,
A prostituta universitária,
A prostituta ordinária,
A salafrária,
A prostituta de caminhão,
Que dava a boca,
Que dava os dentes,
Que dava beijos cheios de paixão,
Era a mesma que por preço nenhum
E nem por nada
Oferecia seu coração.
E não negava por talvez um dia
Querer casar, ter filhos, mudar de profissão,
Ir morar em São Paulo, em São Francisco,
Em Pindamonhangaba ou Ribeirão,
Nem por noção nenhuma de pecado
Nem por arrependimento,
Por cautela, qual nada, nem cuidado,
Mas talvez porque por dentro
Da sua alma desalinhada
Permanecia guardada.
Sem que ela se desse conta, essa noção:
Vender o corpo,
Emprestar a pele,
Tocar a boca,
Passar a mão,
Meter os dentes,
Morder a carne,
Soltar o grito
De satisfação,
Feito uma fabrica de pecados
Feito uma fonte de gestos impensados,
Mas permanecer guardado
E absolutamente imaculado
O coração,
Como quem gasta as moedas
Com tolices
E deixa uma guardada pra voltar
Quando acabar a festa no salão.
Ah, prostitua,
Vadia,
Que se entrega fria
Por qualquer quinhão...
Tanta coisa pra aprender,
Tanta conduta,
Tanta culpa,
Tanta negação,
Tanta coisa errada
E condenada,
Tanta incorreção
Que quem diria
Que a poesia
Um dia te renderia
Carinho
Graça
E admiração:
Ninguém se gasta,
Ninguém se perde,
Ninguém capota na contra-mão
Quando se perde na vida
Mas não deixa destruir
Seu coração...
A única forma inconteste da verdade,
O único caminho de saída,
A única virtude,
A única formula da salvação...

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