Ela pedia,
Eu criava,
As canções para as peças de teatro que ela escrevia,
E as notas do meu violão adivinhava,
Ela pedia,
E eu que não faço músicas, não negava,
Porque ela já pedia sabendo que eu iria,
E eu fazia, e no final ela gostava,
Tistu, Pinoquio, era uma alegria
A cada novo personagem que ela encontrava,
Havia coro de crianças, coreografia,
E o respeitável público adorava,
Eu nunca fiz músicas por mera cantoria,
E até as que eu fazia pra ela eu nem guardava,
Tudo que eu fiz, eu fiz porque ela pedia,
Cada acorde do violão, cada palavra,
Tudo foi pra ela com alegria,
Ela escrevia as peças, eu musicava,
A melhor parceria,
A única em que eu acreditava,
As vezes uma pessoa ou outra me pedia
Uma canção. Confesso: eu enrolava.
Mas as canções que ela me mostrava que queria,
Essas eu dava.
Hoje, o violão, em silêncio, já não cria,
Ela já não me pede mais as canções que eu entregava,
Mas o coração traz guardada uma alegria:
A de ter feito todas as canções que conhecia,
E de ter deixado ela feliz assim, com quase nada.