6.8.10

Aos oitenta
(À minha mãe)

Experimente fazer oitenta
Como se estivesse contornando os vinte:
Maravilhosa,
Doce,
Delicada,
Segura,
Forte,
Leve,
E com requinte...
Experimente,
E o faça com elegancia,
Como quem sonha
Com o dia seguinte...
Experimente fazer oitenta
Como quem faz dez,
Como quem faz vinte e tres...
Como quem põe os pés
Em terra firme,
Como quem prometeu
A Deus
Fazer
E fez...
Experimente fazer oitenta
E soltar-se soberana por ai,
Como se fosse branda bailarina,
Um rio doce,
Um anjo que sorri...
Experimente,
Tente,
Nem é facil,
Eu sei,
Mas voce pode conseguir...
Mais do que ler e escrever
Aprenda a ouvir,
Mais do que somar e ter,
Aprenda a dar
Mais que multiplicar,
Aprenda a dividir
E se entregando,
Aprenda asim,
Doando-se,
A ganhar
Não a moeda
Misera, avarenta,
Outra riqueza sim,
Maior que o mar,
E a não ter nada
Como quem se agrada
Com o pão de cada dia
Conquistado,
A roupa do corpo,
Não muito mais,
E muita paz,
E o coração alinhado...
Experimente
Fazer oitenta
Como quem faz
Quatro ou cinco,
Ou desessete...
Como quem, soberana,
Não se rende,
Icaro que não se derrete...
Experimente,
E chegue aos seus oitenta
Com a poesia
De um recem-nascido...
Como se fosse
Mágica dos Anjos...
Experimente...
Voce não sairá arrependido...

Um comentário:

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

Parabéns pela "Mãe Poema" que tens!
E que este oitenta seja a marca de muitas tantas poesias de um filho tão filho dela, quanto filho da "alegria".

Te amo, poetinha!

Que o Senhor Jesus encha sua mãe dEle Mesmo.

Um beijo,
Rosângela.