25.8.04

Fingindo
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Autopsicografia, Fernando Pessoa


É quase poesia. É uma ousadia.
Parece. Tenta ter a mesma cor.
Até se esforça, como quem copia,
Ou como faz o pássaro cantor...

Mas assim com a canção que o pássaro cria
É quase uma canção, o trovador
Tenta a palavra em forma de poesia...
Por isso é que o poeta é um fingidor...

E finge o verso, ou quase o verso, e tenta,
Espera, espelha, espalha, experimenta,
E a poesia quase vai surgindo...

Mas, como um terno imitação de um Armani,
Este soneto, amigo, não se engane,
É só o poeta, um fingidor, fingindo...

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