26.1.02

Silêncios

Quem fala escolhe as verdades que diz...
Quem cala faz um silencio para cada uma delas...


Silêncios há, ruidosos que perturbam...
E outros, bem mais tímidos, que não...
Silêncios muito estranhos e abusados...
Inoportunos, maus, indelicados...
Silêncios feitos por provocação...

Silêncios há, corretos, genuínos,
Que não tem coisa alguma pra dizer...
Há outros que não contam, que sonegam,
Silêncios que se traem, que se entregam,
Silêncios que preferem se esconder...

Silêncios muito próprios, intimistas,
Silêncios que tem jeito de oração...
Como os silêncios que há no homem que ora
E os que há no arrependido quando chora.
Silêncios doídos feito confissão.

Eu já sofri silêncios levianos...
Eu já lutei contra uns intencionais...
Já me desesperei contra uns maldosos...
E contra outros, muito perigosos...
Silêncios de roubar a minha paz...

Já fiz silêncios feitos de segredos...
Já fiz silêncios só por covardia...
Já fiz silêncios por indiferença,
E outros muitos só por conveniência,
E outros tantos, ruins, que eu não queria...

Já fiz silêncios só de alimentar-me...
Silêncios de beber, querer, buscar...
Feito os silêncios de escrever poesia...
E ouvir Chico cantando Maravilha...
Feito os silêncios de aprender a amar...

Eu gosto dos silêncios inocentes
Como os que há na nutriz quando amamenta...
Como os silêncios da moça apaixonada...
Como os silêncios da casa abandonada...
Como os silêncios da lua, linda e lenta...

Assim, desprezo os silêncios que se calam
Por leviandade, que eram pra dizer...
Silêncios que revelam covardias...
Silêncios feitos de atitudes frias...
Pois eu desprezo os silêncios de esconder...

Eu curvo-me aos silêncios saborosos
Como os silêncios da voz que há em João...
Como os que estão e saem dos poemas...
Como os silêncios das coisinhas pequenas...
Como os que há no pulsar do coração...

Mas aprendi a desprezar silêncios
Que sabem responder, mas não respondem...
Silêncios com sorrisos disfarçados...
Silêncios que são sons mal educados
Deixando perceber o que é que escondem...

Eu aprendi a amar silêncios únicos
Como os que fez Jesus ao ser traído...
Capazes de calar a humanidade
Porque silêncios cheios de verdade...
Porque silêncios cheios de sentido...

Mas eu desprezo os silêncios maliciosos...
Silêncios mentirosos e covardes...
Como os silêncios que fez Pôncio Pilatos...
Como os silêncios odientos dos ingratos...
Silêncios carregados de inverdades...

Eu gosto dos silêncios que são tímidos.
Encabulados. Que não querem ser.
Silêncios delicados, sussurrados,
Feitos somente quase de cuidados...
Silêncios feitos só de se conter...

Eu quero um banho de silêncios puros...
Um copo cheio de silêncios claros...
Um prato feito de silêncios leves...
E descansar sobre os silêncios breves...
E me perder entre os silêncios raros...

Perdoem-me os silêncios miseráveis:
Eu gosto é dos silêncios que se dão...
Eu gosto é dos silêncios companheiros...
Eu guardo os meus silêncios verdadeiros
E os trago sempre no meu coração...

Nenhum comentário: