17.9.24

O poema inacabado

Eu sempre quis fazer um poema inacabado,
Mas nunca soube por onde começar,
Por qual verso nunca dantes terminado,
Eu sempre quis escrever sem terminar,

Confesso que desde então tenho tentado,
Mas pobre de mim, porque não basta tentar,
É preciso escrever um verso desfalcado,
Um soneto impossível de se completar,

Mas a poesia nessas horas me ignora, 
Observa meu soneto lá de fora,
E vai me entregando palavras de improviso, 

E o poema inacabado que eu buscava,
Vai se escondendo, encabulado, na palavra,
Até ir-se embora, sem deixar aviso...

15.9.24

Meu violão

Meu violão, toda vez quando o silêncio 
Vem apertar o meu coração, 
Torna-se minha minha voz, 
Diz tudo que eu quero, 
Para isso basta eu dedilhar uma canção,

E toda raiva, todo medo, toda alegria,
Vai escorrendo através da minha mão,
Que toca as suas cordas, 
Que então vibram
Numa frequência sem tradução,

E o som que o bojo do violão ecoa,
É a minha voz em outra dimensão, 
Quem olha, pensa que eu estou tocando Chico, 
Quem olha, pensa que eu estou tocando João,

Mas meu violão, toda vez quando o silêncio 
Vem apertar o meu coração, 
Me empresta acordes,
E abraça meu silêncio, 
Fala por mim o meu violão...

14.9.24

O bebê canguru

A mãe e o filho. O colo. E então, o abraço.
O apego que acontece naturalmente.
O afeto vencendo os restos de cansaço.
O mundo inteiro ali, como um presente.

A mãe e o filho. Cada um no seu espaço,
E uma interação surpreendente.
A mãe e o filho. O amor. O vínculo. O laço.
O bom início que vai durar eternamente.

A mãe e o filho. Parece que se bastam.
Afastam-se do mundo, mas não se afastam.
Não existe melhor definição para intimidade.

A mãe e o filho. E o resto não tem importância.
O melhor início para a vida desde a infância.
A mãe e o filho para toda e eternidade. 

4.9.24

A poesia

A poesia como medicamento,
A poesia como consolação,
Pra qualquer hora, pra qualquer momento,
A poesia como oração, 

A poesia como um alento,
Que deixa a alma com a sensação 
De estar sendo banhada por um unguento, 
A poesia como proteção, 

Um sonetinho, uma quadra,  um verso livre,
A poesia é um amor que vive,
E faz brotar amor por onde passa,

A poesia como um amor, portanto, 
Que sai espalhando amor por todo canto, 
A poesia como um amor que nos abraça.