29.6.24

Meu violãozinho

Quando eu arranho meu violãozinho, distraído,
O mundo para, enquanto a música, assim:
Um sol sustenido não faz o mundo menos sofrido,
Mas faz sofrer no mundo ser menos ruim,

Por isso, quando eu arranho meu violãozinho, eu lido
Melhor com cada inferno que há em mim:
O meu, o que me cerca, e o travestido
Que tenta me seduzir, e quer meu fim.

Mas meu violãozinho, dissonante, 
Me desvia dos caminhos do inferno de Dante,
E me mostra por alguns instantes seu melhor...

E faz isso por mim desde a minha juventude,
Meu violãozinho, meus acordes, meu açude, 
Como é bom ser feliz em dó menor...

20.6.24

Tricolor de coração

O ano de 2024 está perdido,
A gente torce só com o coração na mão.
2023 foi esquecido,
Vamos ter que aprender de novo essa lição:

Jogar com garra, o time inteiro aguerrido,
Cada partida uma decisão,
O que seja lá que por ventura tenha acontecido,
Tomou o time inteiro, como uma infecção.

O ano de 2024 foi embora.
Tem que pensar numa saída agora,
A torcida merece essa revolução,

Porque pode chover raio e tempestade,
A gente segue firme e com vontade,
E com orgulho de ser tricolor de coração. 

19.6.24

Chico Buarque faz oitenta anos

Chico aos oitenta anos impressiona,
Pela poesia, pela grandeza da canção,
Pela palavra, pela rima soberana,
Chico aos oitenta é um pássaro n'amplidão,

É o mestre da música que nunca nos abandona,
Na hora certa ele nos estende a sua mão,
Poeta maior que passeia por Copacabana
Como se fosse um ou outro cidadão,

Chico aos oitenta se transformou num gigante,
A sua música faz a gente voar distante,
A sua letra desequilibra nosso coração,

É o Buarque de Holanda mais Brasil do mundo inteiro,
Mas precisava ter nascido no Rio de Janeiro,
E ser tricolor. Viva os oitenta do nosso campeão...

8.6.24

Sábado de frio

Sábado de frio. Sem chuva na cidade.
O tempo parece que tá começando a melhorar. 
A vida vive mudando, na verdade. 
A gente precisa aprender a se adaptar. 

Amanhece sábado. Nenhuma novidade. 
As redes sociais é que demoram prá acordar. 
Mas já vale um sonetinho sem maldade. 
O improviso não faz rima com esperar.

Sabadozinho. O que virá pela frente?
Gente. Gente. Gente. E onde existe gente 
O imprevisível inevitavelmente vai acontecer. 

Enquanto isso, eu penso em coisas boas.
Eu vejo poesias nas pessoas, 
Por isso essa necessidade de escrever.

1.6.24

As histórias não contadas das UTIs Neonatais

Para onde vão as histórias não contadas
De dor e solidão e sofrimento,
Resumidas em condutas informatizadas,
Rotinas, discussões, procedimentos,

Tratadas como experiências desperdiçadas,
Vivências atiradas ao relento,
Para onde vão, se não ficam guardadas,
Se são descartadas com tudo que tem dentro?

Histórias que não são aprendidas nem ensinadas,
Sequer nos prontuários são registradas,
Porque estes guardam outro argumento,

Histórias de famílias silenciadas,
Que a vida precisa conhecer recuperadas,
E recontadas sutil enquanto é tempo.