O próximo minuto
Nada definitivamente é mais exato
Nem mais impressionantemente absoluto
Do que o próximo minuto.
Talvez porque contenha o mapa do caminho
E a rota torta da escravidão,
A porta para o amor, que é com carinho,
E o convite para a perdição.
O próximo minuto
Guarda consigo a escuridão do oculto
E o azul claro da felicidade.
A dor, o sofrimento, o tempo bruto,
E a delicadeza, e a suavidade.
Ao mesmo tempo a próxima armadilha
E a tábua da salvação,
O mapa desvendando o fio da trilha
E a bala que transpassa o coração.
O próximo minuto.
A chave para o próximo poema
Ou para a imensa culpa e miserável,
A solução impossível do teorema
E a dor que se apresenta insuportável.
Portanto não há nada que o supere
Nem nada que por direito o subestime
Porque é ele, sem que se espere,
Quem livra o condenado e faz o crime,
Contém o germen da solidão,
Possui a cura do sofrimento,
A letra já esquecida da canção,
O nome do medicamento.
O próximo minuto: inesperado.
Como quem tece com delicadeza,
Traz do futuro e leva pro passado,
Contém a formula do acre e da beleza,
E traz a solução, a senha, a cura,
E a palavra maldita que condena,
A escuridão sem fim, soturna, escura,
E a manhã de sol em Ipanema.
E como um gesto rápido e astuto,
O próximo minuto
Nunca falha,
O próximo minuto nunca avisa,
Impositivo, nunca se atrapalha,
E é imperceptível, como a brisa.
O próximo minuto,
O mais sonhado,
A solução de tudo, o beijo, o tiro.
As vezes feito um gesto planejado.
As vezes, súbito, o ultimo suspiro.
Nunca te esqueças, portanto: ele é implacável.
Ele não deixa de ser um só instante
Absolutamente abominável
E inexplicavelmente impressionante.
O próximo minuto. O mais discreto.
A única certeza alem do luto.
O mágico minuto. O mais completo.
O mais temido: o próximo minuto.
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