30.12.02

A lenta caminhada
Depois de escutar as canções de Todo Caetano...

"Às vezes é solitário viver"...
Às vezes é impossivel voltar...
Às vezes, imprevisível saber...
Às vezes, maravilhoso sonhar...
Às vezes é necessário crescer...
Às vezes muito dificil falar...
Às vezes imprescindivel escrever...
Às vezes desnecessário rimar...
Às vezes é complicado morrer...
Às vezes mais triste é continuar...
Às vezes é muito para aprender...
Às vezes nadica para ensinar...
Ás vezes só tempo prá perceber...
Às vezes segundos para acabar...
Às vezes há tanto prá se fazer...
Às vezes é tão cruel acordar...
Às vezes é solidário poder
Dividir, dar, distribuir, entregar...
Às vezes é solitário fazer...
Às vezes é necessário chorar...

27.12.02

O Mapa do Lugar

Um dia, se eu tiver merecimento,
Devo ir morar em Milton Nascimento...
Morando lá, uma vez cada semana
Eu vou passear em Herbert Vianna
Que com certeza, se eu não me engano,
Fica pertinho de onde fica Caetano...

24.12.02

Sobre o "escrever bonitinho"...
Resposta à um comentário recebido sobre meu modo de escrever...

Estive por aqui e voce escreve muito bonitinho.
Foram as sua palavras...
As primeiras que li...
Escrever bonitinho...
Imaginei:
O que seria escrever bonitinho?...
Eu só conseguiria entender como escrever bonitinho
Escrever com a alma...
Transcrever o pensamento e o pulso do coração...
Qualquer tentativa que eu fizesse de escrever a forma
E a rima
E o ritimo
Que não passasse por escrever dessa forma
Não seria escrever bonitinho.
Por isso aceitei suas palavras
E pus uma medalha no peito com orgulho:
Eu escrevo bonitinho.
Minha letra é bonitinha,
E a minha rima
Porque é do coração que elas nascem
E é lá no coração que elas crescem...
O mesmo lugar aonde nasce e cresce o amor...
Qualquer palavra minha que não venha dai,
Qualquer idéia,
Qualquer rima
Não será esse escrever bonitinho
Porque será feito a ave empalhada
De voo ralo,
Ou feito o rio de escoar confuso e lento
Insuficiente para o pensamento...
Que bom voce ter percebido
Como é bonitinho meu escrever...
Somente desse modo tentarei meu texto
Porque somente deste modo
Eu o compreenderia
Bonitinho...
Obrigado por sua visita
E seu carinho...
A Tua Nobreza
Poeminha em 3 partes para Paola Faria

I
Reserva um canto prá guardá-la, inteira:
O coração, o sonho, a poesia...
Protege-a da maldade traiçoeira...
Afaste-a sempre da má companhia...

Jamais troque-a por nada, em qualquer tempo...
Jamais a exiba com ar de superior...
Não deixe que pereça à chuva e ao vento
E nem que se desbote e perca a cor...

Como se fosse pedra preciosa,
Como se fosse a Fonte milagrosa,
Como se fosse a luz sobre a incerteza,

Trate de conservá-la com cuidado...
Trate de resguardá-la do pecado...
Trate de protege-la da maldade...

Porque se buscas a Felicidade
O teu caminho é a tua dignidade
E a tua dignidade é a tua nobreza...

16.12.02

Estava escrito no cartão...
À minha prima Bárbara Abud.

O importante é sonhar,
Não interessa em que altura

Estava escrito no cartão.
E eu completei assim:


O importante é que tu permaneças
Essa mistura
De ternura
E inquietude...
O importante é que não te percas
Da tua grande virtude:
A tua dignidade.
O importante
É que a tua verdade
E a tua razão
Nunca sufoquem Deus
No teu maravilhoso coração.
Seu primo,
Luis.
A Febre

Madrugada. Febre alta. Era a agonia.
Quarenta graus de morte e de calor.
A febre sufocava. A dor doía...
Cansaço. Desconforto. Mal. Torpor.

Febre alta. Agonia. Madrugada.
O corpo parecia se entregar.
A voz gritava, desesperada.
Tudo que a voz sabia era gritar.

Febre alta. Quarenta. Desespero.
Um desacerto. Um dano. Um exagero.
A dor agonizando a madrugada.

Às vezes também é assim a vida:
Tem dias que arde em febre descabida
Como quem traz a alma sufocada.

A febre ardendo. A alma torporosa.
Cansaço. Desconforto. Mal-estar.
Uma agonia insana e escandalosa.
A alma parecendo sufocar

Como se fosse eterna a madrugada,
Como se fosse imensa essa agonia,
Como se fosse um sol que incendiava,
Como se a noite devorasse o dia...

A alma padecendo em desconforto
Como quem se desgarra e perde o porto...
Como quem é só descontentamento...

Algum lugar há de existir, no entanto,
Que ponha fim à dor e ao desencanto
E que amenize a cor do sofrimento...



Aprendizado lento
Após escutar o CD Os Tribalistas

Já sei namorar...
Eu só não sei ainda
Prosseguir
Se a gente dá de chegar
No caminho do acabar...

12.12.02

Canalha
A uma amiga que me ofendeu sem me dizer o motivo, provavelmente vitima do mal da mentira, esse poema...

Não deverias me chamar _Canalha!!!!
Sem que eu pudesse me defender...
Fizeste da palavra a tua navalha,
Arma que mata sem conhecer...

_Canalha!!!! Sem me dar nenhum motivo...
Nenhuma forma de explicação...
Como se fosse um gesto obsessivo...
Como se fosses a dona da razão...

_Canalha!!!! Foi assim que me chamaste...
Como se eu fosse um troco, um trapo, um traste...
Foi essa a tua atitude inconsequente...

Toma cuidado. A letra descuidada
Com que tu ofendes é a mesma que te enquadra
E te condena, invariávelmente...

29.11.02

Oração pelos jovens médicos

Para Cibele Durães, Fernanda de Paula, Juliana Starling, Kellen Dalla e Rachel Cunha.
Amigas que o carinho da vida me permitiu conhecer e cujos corações amorosos e cheios de delicadeza me sensibilizaram desde o primeiro momento.
Hoje, 29 de novembro de 2002 estas meninas superpoderosas recebem seu Diploma de Médico.
É para elas hoje o meu carinho e a minha poesia.


Senhor,
Abençoa estes filhos incansáveis do teu amor...
Já médicos, ainda tão moços...
Fazei com que o tempo que hoje se inicia
Reafirme em seus corações diariamente
A convicção de seus ideais
E de sua vocação
E a coroação de seus esforços e de seus sacrifícios.
Provê, Senhor, os seus cinco sentidos,
Com a beleza e com o mistério da arte da cura,
Fazendo com que estejam sempre preparados para perceber
A palavra não dita,
O sintoma insidioso e não revelado,
Ou sinal que ainda não apareceu...
Permite que, como novos magos
Embriagados de ciência e coração,
Manipulem a dor, ainda que tamanha,
Devolvendo serenidade ao aflito
E alegria ao triste.
Alimenta os seus corações
Com a paz e a serenidade diante dos teus desígnios...
Preserva o sorriso de cada um destes rostos, Senhor,
Já médicos, ainda tão moços.
Protegendo-os da intolerância,
Dos maldizeres,
Das mentiras e queixas e intransigências
Com as quais o seu trabalho se defrontará diariamente...
Seca-lhes as lágrimas das suas tristezas
Para que tragam sempre na alma a serenidade necessária
À difícil tarefa
De combater a dor
E as lágrimas dos que os procurarem...
Concede-lhes a verdadeira alegria,
Fruto do bem estar de propiciar a cura...
Mas quando esta, por algum motivo não for possível,
Permite que mantenham-se serenos e obstinados
Na busca do equilíbrio e da estabilização
Daqueles males ditos incuráveis,
Daquelas dores ditas incessantes,
E dos martírios sem fim...
E naquelas vezes em que também esta estabilidade se perder
E parecer impossível,
Faz com que se vistam de perseverança e determinação
E assim, imensamente alimentados dessa grandeza invisível,
Lutem, como guerreiros incansáveis,
Contra a constatação da morte...
E
Mesmo quando a morte, com sua certeza implacável, vier chegar
Permite que se utilizem ainda de alguma insistência incompreensível
E de uma fascinação inexplicável,
A reanimação,
A fim de vencer a morte
Mesmo quando ela está aparentemente estabelecida.
Mas nos dias em que o insucesso e o fracasso de suas tentativas
Transformar em nada os seus esforços
E em coisa alguma a sua luta,
Seus dias a fio,
E suas noites em claro,
E o óbito ocupar o lugar da cura,
Permite, Senhor,
Que os seus corações se mantenham vivos em sua serenidade e em sua inquietude
Como é sereno o coração dos justos
E como é inquieto o coração dos que procuram o caminho
Da cura,
Do equilíbrio,
Da reanimação
E da aceitação da morte...
Insufla o coração destes meninos, Senhor,
E destas meninas,
Já médicos, ainda tão moços,
Com o signo da paciência
E com a bandeira da tolerância.
Hoje eles sabem que o caminho em que agora se iniciam,
Como pássaros iniciam o seu vôo na amplidão,
É um caminho que se renova
Em um animo que se remultiplica.
É mais que uma profissão.
E proporcionará muito mais que a conquista de empregos, status, nome, títulos e glória.
O caminho que hoje se lhes apresenta é como a energia
Que se mistura a cada parte de seus corpos
E invade cada pedaço de seus pensamentos,
Fazendo com que o respirem quando andarem
E o pronunciem cada vez que conversarem.
Vai se revelar cada vez que se vestirem.
Em cada pedaço de cada coisa que comerem.
E em cada vez que amarem.
E cada vez que cantarem
E chorarem
E sorrirem,
E a cada vez que brincarem,
E a cada vez que durmirem,
Vibrará em cada um destes meninos,
Destas meninas,
Já médicos, ainda tão moços,
O caminho que hoje se inicia.
E este caminho que se inicia passará a fazer parte de seus dias
Como um nome numa certidão de nascimento,
Como uma família,
Como um filho
Do qual em tempo algum será possível
Recusar reconhecer-lhe a consangüinidade.
Nunca permite, Senhor,
Por conta disso,
Que seus amores se afastem
Ou os deixem
Queixando-se egoisticamente de desatenção
Ou falta de tempo.
Faz com que cada um destes corações delicados,
Já médicos, ainda tão moços,
Contaminem suas companhias com a força desse caminho que hoje começa
E recebam delas o apoio e o carinho necessário
Para essa tarefa solitária
Intima
E profunda
Que é ser médico.
Que a alegria que transborda hoje de cada um destes corações delicados
Seja tão gloriosa quanto o futuro que espera por cada um deles.
Ah, Senhor...
Agradeço a felicidade de em algum tempo no curso da minha vida
Ter cruzado com estes corações tão meigos,
Sorrisos tão delicados,
E vozes tão gentis.
Guarda-os Senhor, na tua paz
E os abençoa na tua grandeza.
Hoje e sempre.
Amém.

13.11.02

Poeminha meio injuriado
Em Campos uma mesma Fundação que gere dois Hospitais decidiu dobrar o valor do salário de um deles e preservar o do outro, criando para médicos com a mesma função salários completammente diferentes.

Se o meu trabalho não é meia-sola
E se eu não fiz só meia-faculdade
E se salário é direito e não esmola,
Porque é que o patrão que me controla
Insiste em me pagar pela metade?

8.11.02

Segunda Feira
Manhã de segunda feira, 28 de outubro de 2002...

Era manhã de segunda feira.
A expressão da face brasileira
Era a expressão natural de quem sorria
Como se fosse a manhã de um novo dia...
Como se fosse o começo de um futuro,
O fim de um tempo ruim, de um tempo escuro,
A redenção que de tanto anunciada
Era chegada.
Era manhã de segunda.
A treva parecia moribunda.
A dor se desmanchava em agonia.
O desespero se diluia.
O medo, tantas vezes decantado,
Padecia, indefeso e assustado
E sem saída...
Segunda feira cheia de vida.
Parto sem dor da Nação revigorada.
Conto de Fada
De um povo proletário:
Um Presidente operário
Redescobrindo a Nação...
A esperança vencendo a escuridão...
Era a manhã de segunda que trazia
A Anunciação. A luz da Estrela-guia.
Era a manhã de segunda feira
Lavando enfim a alma brasileira...
...

E eu devo ter percebido nesse dia
A cor vermelha da flor que parecia
A Pátria apaixonada. A mãe gentil.
Era segunda feira em meu Brasil...
O meio do caminho

No meio do caminho
Tinha um poeta.
No meio do poeta
Um coração.
No coração do poeta
Uma palavra.
Correta.
Pura.
Mansa.
Doce.
Brava.
No meio da palavra
Uma emoção.
No meio do caminho do poeta
Tinha um poema
Sem definição,
Como a palavra
Escrita e incompleta,
Como a poesia
Da imaginação.
Imensa ao mesmo tempo
Que é discreta.
Quieta ao mesmo tempo
Que é trovão.
No meio do caminho a descoberta
Da poesia,
Musica sem som...
No meio do caminho
Havia um poeta
Magrinho
Chamado Carlos Drummond.

A vida como ela dói

Febre. Tosse. Prenhez Tubária.
Parada cardio-respiratória.
Sarampo. Coqueluche. Miliária.
Bronquiolite. Artrite migratória.

Conjuntivite. Dengue. Hemorragia.
Pseudoparalisia de Parrot.
Ptiríase. Escabiose. Mialgia.
Fratura. Entorse. Congestão. Tumor.

Glomerulonefrite. Asfixia.
Claudicação. Angina. Pneuomia.
Hemangioma. Choque. Afogamento.

Nenhuma relação de dores drásticas,
Palavras mórbidas ou dramáticas.
Somente um Boletim de Atendimento...

4.11.02

A Minha Irmã...
Escutando uma canção de Tom Jobim...

Se todas flores iguais a voce
Fossem iguais a voce
Do jeito que voce é para mim,
Eu poderia escrever,
E adoraria poder,
E arriscaria dizer
Um verso assim:
Que maravilha viver
Por toda vida
Colhendo Margarida
Em meu jardim...
Testemunho

Eu nunca escrevi nenhuma poesia...
Não sou poeta e nunca fui, portanto...
Eu tento é amenizar minha agonia
E às vezes me esconder da chuva fria
No meu canto...

Jamais eu escrevi nenhum poema...
Não tenho o dom da escrita absoluta...
Mas quando o acre da vida me envenena
E o meu desequilibrio me condena
Somente a minha letra é quem me escuta...

Não sou portanto o ilustre literato...
Não faço versos como quem conhece...
Porém se o tempo é cruel e é insensato
E é rude e é insensível e é ingrato
Eu faço da poesia a minha prece...

Não sei fazer sonetos, redondilhas,
Não trago em mim a alma parnasiana...
A rima me defende de armadilhas
E o ritimo me aponta novas trilhas.
No verso é que eu me escapo do meu drama...

Por isso eu nunca rascunhei poesia...
Não sou poeta. Um náufrago somente.
Mas se a grandeza do mar me desafia
Com sua furia audaciosa e doentia
A minha letra me faz sobrevivente...
Poema para Juliana
Minha amiga Juliana Starling, carioquíssima e apaixonada pelo Rio, se forma em Medicina nos próximos dias pela Faculdade de Medicina de Campos. Acompanhei, como pediatra, sua formação em Obstetricia. Sei o tamanho do sacrificio que ela fez para chegar até aqui. A voce, Juliana, nosso carinho e nossa torcida.

É só pra te contar dessa saudade...
É só pra descontar essa distancia...
É só pra recordar nossa amizade...
É só prá te saudar com elegancia...

É só prá te dizer do meu afeto...
É só pra te encontrar feliz da vida...
É só para tentar chegar mais perto...
É só prá não falar em despedida...

É só prá me alegrar da tua alegria...
É só prá estar na tua companhia...
É só prá ter lugar na tua torcida...

É só por conhecer a tua estória...
É só para aplaudir tua vitória
Suada, longa, limpa e merecida...



29.10.02

Outro soneto imperfeito para passarinha...

Passarinha carioca de alma livre
Que não se assusta com tempestade...
Absoluta na forma como vive
E soberana em sua liberdade...

Passarinha carioca. Toda inteira.
De loura cabeleira e pele clara.
Faz sexta parecer segunda feira.
Faz água parecer bebida rara...

Passarinha carioca. Soberana.
Gostosa feito Copacabana.
Dona de Campo Grande e de Ipanema...

Passarinha carioca. Toda fibra.
Deliciosa feito Guaratiba.
Toma esse beijo em forma de poema...

23.10.02

O Medo

Tem gente que tem medo de Lula...
Tem gente que tem medo de coice de mula...
Tem gente que tem medo de mula-sem-cabeça...
Eu tenho medo é de que a nossa capacidade de indignação desapareça...

Tem gente que tem medo do castigo...
Tem gente que tem medo de perder o abrigo...
Tem gente que tem medo do exílio, do degredo...
Eu tenho medo é de ficar com medo...

Tem gente que tem medo de dormir no escuro...
Tem gente que tem medo de pular o muro...
Tem gente que tem medo da ameaça à bala...
Eu tenho medo é de ter medo da mão que me apunhala...

Tem gente que tem medo de poesia...
Tem gente que tem medo de encarar a luz do dia...
Tem gente que tem medo do que escreve e diz...
Eu tenho medo é de um dia ter medo de ser feliz...

Tem gente que tem medo de levar um tiro...
Tem gente que tem medo do beijo do vampiro...
Tem gente que tem medo só de imaginar...
Eu tenho medo é de um dia eu ter medo de sonhar...

Tem gente que tem medo de encarar o tapa...
Tem gente que tem medo de sair na capa...
Tem gente que tem medo do próprio retrato...
Eu tenho medo é de deixar barato...

Tem gente que tem medo da arbitrariedade...
Tem gente que tem medo da verdade...
Tem gente que tem medo da perseguição...
Eu tenho medo é de acordar com medo de escutar a voz que vem do coração.

Tem gente que tem medo da Primeira Dama...
Tem gente que tem medo da segunda cesariana...
Tem gente que tem medo da Terceira Guerra...
Eu tenho medo é do medo que me emperra...

Tem gente que tem medo de lutar. E morre.
Tem gente que tem medo de enfrentar. E corre...
Tem gente que tem medo de cumprir a pena...
Eu tenho medo é de qualquer dia amanhecer com medo de escrever poema...

9.10.02

A Lição da Estrada

Ninguém é dono da tua vontade.
Não há remédio prá não se matar.
A Pílula de Vida de verdade
É ter algum motivo para amar...

Ninguém estabelece o teu caminho
Ou vive em teu lugar a tua vida.
Não é feliz quem é feliz sozinho.
Há sempre alguma fresta de saida.

Portanto toma conta do teu rumo.
Segura em tuas mãos teu próprio prumo.
O Sol não morre após a tempestade.

Não te disperses nas correntezas.
Jamais te asfixies em tuas tristezas.
Este é o sabor da tua Felicidade.
A Estrela
A Luis Inácio Lula da Silva, Presidente do Brasil

“Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel”
O Cio da Terra - Chico Buarque/Milton Nascimento.

" Só faltava o mel, só faltava o mel
Mas o mel chegou!
Pingava mel, da parede escorria mel
Eu passava o dedo
E provava sem medo e sem temor"
Na Casa Dela - Gilberto Gil




Tocar a mão na Estrela...
Banhar o coração na claridade...
Houve um período feito de maldade,
Da noite em meu País, da impunidade,
E ao mesmo tempo
Um tempo de delírio, fantasia,
De encantamento...
A poesia da ingenuidade...
Tocar a Estrela, quase uma heresia...
Tocá-la, quase a impossibilidade...
E, como se desejos impossíveis
Teassem fios inimagináveis,
Delírios que eram quase inatingíveis
Tornaram-se, aos poucos, permissíveis,
E, por assim dizer, realizáveis...
Tocar a Estrela com o Coração
Como se fosse a Voz de uma Nação,
Como se fosse o seu Hino...
E, mais do que tocar, pegar na mão...
A Estrela foi tornando uma opção...
Foi deixando de ser um desatino...
E foi assim:
João Desempregado disse sim,
Pedro Desiludido se animou,
Chico do Contra, embora achando ruim,
Quase no fim concordou, depois sorriu,
Juca Indeciso se decidiu,
Zé Otimista se convenceu,
Paulo Maluco esse dia nem surtou,
O Pecador porque se arrependeu,
O Filho Pródigo porque voltou,
O Guarda Noturno porque o sol nasceu,
A bela Atriz porque a noite chegou,
O Estudante por falta de medo,
O Apressado por um segundo,
O Encabulado quase em segredo,
O Profeta pra tentar salvar o mundo,
Tião Fazendeiro por distração,
Zeca Pedreiro por querer demais,
O Metalúrgico por opinião,
O Metaleiro porque tanto faz,
O Padre por amor à sua batina
E o Pastor por não ter que se confessar,
E o menino por causa da menina,
E o Pescador por causa do mar,
Cada um a seu modo e do seu jeito
Imaginou ser digno do direito,
Merecedor, por conceito,
De ver a Estrela brilhar...
Paolinha mandou fazer um vestido,
Geórgia convenceu o namorado,
Fernanda com seu jeito distraído,
Renata com seu modo comportado,
Simone fez questão de acordar cedo,
Andréya passou lendo a noite inteira,
Francine cruzou o dedo,
Cartola foi lembrado na Mangueira,
Flávia Cristina voltou da França,
Dra. Francis faltou plantão,
A Bárbara parecia uma criança
Passeando de avião,
A Poesia ficou toda prosa,
A luz do dia, cheia de si,
Copacabana amanheceu maravilhosa
De tanto rir
Porque de repente
Toda essa gente
Crioula, branca, pálida, amarela,
Foi desejando completamente
A Luz da Estrela...
Tocar a mão suada na Estrela...
Banhar o suor em sua claridade...
Como quem passa livre da maldade...
Como quem desrespeita a impunidade...
Como quem desafia o próprio tempo...
Como quem vive a própria fantasia...
Como quem faz o próprio encantamento...
Como quem canta a própria ingenuidade...
Como quem legaliza uma heresia
E desconhece a impossibilidade...
Daquela Estrela jorrava mel...
Brotava mel de dentro do chão...
E das paredes das casas e dos rios
E dos espaços vazios e das ruas
O mel suava, jorrava
E escorria...
Era a Estrela que se aproximava...
Era a Estrela que permitia
A toda gente, naquele instante,
Uma aproximação impressionante
Como uma Boa Nova que chegava,
Como se fosse um banho de alegria...
E toda gente
Sedenta, lúcida, leve e em paz radiante,
Tocou a Estrela imensa feito o Céu...
Bebeu da Estrela a doçura do mel...
Se lambuzou de mel...
E se fartou de mel...
E, pelo que se soube,
Até onde se diz,
A gente brasileira
Pela primeira vez e derradeira
Pegou na mão, tomou a sua Estrela,
E desse dia em diante
Foi feliz...

1.10.02

Caminho curlo...
Após escutar o novo CD do Paralamas...

Eu vou morar em Milton Nascimento
Mas uma vez por semana
Eu vou brincar em Herbert Vianna...

24.9.02

Por Amor

Por amor eu deixei minha vida de lado,
Fui julgado e acabei condenado no fim.
Por amor me entreguei e fui abandonado.
Por amor eu cheguei até o fundo de mim.
Por amor eu errei onde não poderia.
Escrevi poesias sem nenhum valor.
E por noites a fio bebi chuva fria
E o que não deveria, isso eu fiz por amor.
E nos dias cinzentos, por horas a fio,
Cantarolei canções dissonantes demais.
Eu vazei minha vida. Vivi meu vazio.
Por amor fiz o que nunca e nem ninguém faz.
Por amor transformei água em pão, pão em vinho,
E os olhos de Medusa tornei mãos de Midas.
Por amor eu vivi muitas vezes sozinho
Outras vezes eu multipliquei minhas vidas.
Por amor rabisquei rimas muito idiotas...
Frases que certamente jamais foram lidas...
Fiz um sambinha feito com todas as notas
Que um dia eu cantei, mas não foram ouvidas.
Sufoquei, por amor, minhas próprias revoltas,
Escondi meus segredos no fundo do Mar...
Eu dei voltas e voltas e voltas e voltas
E acabei quase sempre no mesmo lugar.
Esperei por respostas que nunca chegaram.
Fui atrás de razões que fugiram de mim.
Não cansei quando todos em volta cansaram.
Continuei quando todos diziam: “É o fim”.
Por amor viajei por lugares distantes.
Eu neguei os meus medos. Matei minha dor.
Destruí, por amor, coisas interessantes.
Eu troquei minha vida e vivi por amor.
Desprezei aventuras e dias mesquinhos.
E carinhos idiotas. E beijos levianos.
Eu lutei com ternura por novos caminhos.
E dos planos que eu tinha eu tracei novos planos.
Eu mudei as palavras que o verso pedia.
Eu planejei Cidades de ninguém morar...
Tentei poesia. Escrevi poesia.
E tudo que eu fiz eu só fiz por amar:
Poemas, projetos, e-mails, cantigas,
Viagens, estórias, segredos, palpites,
Segredos, presságios, delírios, intrigas,
E as festas, e as fotos, e os loucos convites,
Palavras, pretextos, desculpas, acenos,
Discursos, desenhos, sonetos de dor,
E as coisas enormes, e os gestos pequenos,
E todas as coisas eu fiz por amor...
Criei e vivi novecentas estórias...
Tratei inocências com penas perpétuas.
Neguei as medalhas. Recusei as glórias.
Fiquei com as letras e as formas discretas.
Segui por riachos distantes dos rios,
Quebradas e atalhos além das estradas,
Passei por lugares desertos, vazios,
Recantos sombrios e águas paradas,
E assim, por amor, sem cansar, fui seguindo
Caminhos sem ver onde é que iam dar...
Por amor, como as águas de um rio fluindo...
Por amor, como um rio a caminho do mar...
Por amor eu sonhei e morei nos meus sonhos.
Segui por caminhos da imaginação.
Eu me apavorei... Pesadelos medonhos...
E acabei me escondendo no meu coração.
Por amor eu neguei as três vezes que pude.
Perdoei sete vezes setenta e bem mais.
Eu fui fraco. Fui seco. Fui grosso. Fui rude.
Eu crucifiquei Jesus e soltei Barrabás.
Por amor muitas vezes fui tolo. Outras, bravo.
Outras triste demais. Outras mais que feliz.
Muitas vezes Senhor. Outras vezes escravo.
Outras, ao mesmo tempo Doutor e aprendiz.
Muitas vezes estúpido. Frio. Mesquinho.
Fui, por vezes, carinho, outras vezes rancor.
Tantas vezes fui junto. Fui tantas sozinho.
Fui do Céu ao Inferno e fugi por amor.
Percebi filigranas. Ignorei cordilheiras.
Muitas vezes não soube dizer Sim ou Não.
Cometi, por amor, as mais tolas besteiras
E gestos mais cheios de erudição.
Desvendei os caminhos por dentro das matas
E os ventos eu soube dizer de onde vinham.
E as contas confusas tratei como exatas.
E os enigmas imensos eu vi o que continham.
Por amor eu deixei meus pudores de lado.
E as dores que eu tinha eu tratei, por amor.
Por amor eu pequei. Abusei do pecado.
Completamente errado. Infeliz pecador.
Eu gritei por socorro como um afogado.
Supliquei por clemência na condenação.
Eu clamei por perdão quando fui condenado.
Fiz das mortes que eu tive a minha absolvição.
Por amor eu cantei canções que eu nunca havia...
Eu varei por caminhos que nunca pensei...
Experimentei gostos que eu não sabia...
Disse muitas palavras que nunca escutei...
Eu pensei que eram noites coisas que eram dias
Coisas muito terríveis percebi tão belas...
E as quase completas julguei tão vazias
E as cores azuis tomei como amarelas...
As coisas distantes eu vi tão de perto,
As muito difíceis eu facilitei...
E da mesma maneira que faz o Arquiteto
Criei ruas sem fim onde nunca pisei...
Eu suei minha própria camisa pisando
As uvas que um dia transformei em vinho.
E fui pouco a pouco me embriagando
E assim desenhando meu próprio caminho,
Traçando meu carma, bebendo meu copo,
Dizendo meu nome, criando meu eu.
Meu jeito de ser que eu não mudo, não troco.
Meu modo de dar luz ao meu próprio breu.
Nunca tive razão. Nunca quis. Nunca pude.
Cada coisa que eu fiz foi só pela emoção.
Nunca soube se era defeito ou virtude...
Era a voz que gritava no meu coração...
Ofereci meu nome pra morrer primeiro
E segui caminhando na linha de tiro.
Eu fiz do silencio meu bom companheiro
Recusei respirar o ultimo suspiro.
E por isso, assim como os Rabinos e os Magos,
E os Navegadores de tempos atrás,
E os Padres e os Monges e os Abençoados,
E assim como as Mães que não cansam jamais,
E assim como os Náufragos desesperados,
E os Abandonados que não tem ninguém,
E bem como a determinação dos Soldados
Que lutam sem saber por que nem com quem,
E assim como a garra dos Sobreviventes,
E a força invisível que há nos Prematuros,
E assim como a aura que envolve os Videntes
E o arrependimento dos atos impuros,
E assim como a força que move os suicidas
E a fé dos Romeiros, dos Crentes em Deus,
E as Mães das crianças desaparecidas
Que esperam pela volta dos filhos seus,
E a sede da Moça que espera no Porto
O retorno do amado que sumiu no Mar,
E assim como o filho perante o Pai morto,
E a dor da Viúva, em silencio, a chorar,
Eu guardei em mim, sem que eu compreendesse,
Sem que eu pelo menos soubesse explicar,
Sem que eu controlasse, sem que eu escolhesse,
Em mim sem que eu fosse capaz de notar,
Tomei como se não houvesse mentira,
Ou como se eu não soubesse negar,
Do modo que é o ar quando a gente respira,
Do jeito que é o rio correndo pro mar,
Guardei, como se fosse um rio correndo,
Guardei sem que eu fosse capaz de evitar,
Ainda que às vezes não compreendendo,
Ainda que às vezes tentando ocultar,
Mais certo que o Rio que passa correndo,
Mais forte que o vento, mais farto que o ar,
Mais vivo que a vida que foi me vivendo,
Mais definitivo que a morte ao chegar,
Conservei comigo, carreguei comigo,
Tal como se fosse a minha confissão,
E, mesmo sabendo que corri perigo,
E, mesmo sabendo não haver perdão,
Eu tomei pra mim como fosse meu marco,
Eu tomei pra mim como fosse o meu lar,
Eu tomei pra mim como fosse meu barco,
E como se houvesse mais nada a tomar,
Tomei o amor como meu companheiro,
Tomei o amor como único par,
Tomei como se eu fosse o seu passageiro,
Tomei como se fosse o meu despertar,
O Amor, esse às vezes tão mau conselheiro,
O Amor, esse às vezes tão cheio de dor,
O Amor, esse às vezes que é tão sorrateiro,
O Amor, que por vezes nem parece Amor.
E assim eu vivi os meus dias inteiros,
As minhas viagens, as minhas paixões,
E assim foi que eu descobri meus paradeiros,
E assim foi que eu criei as minhas canções...
E nunca nem coisa nenhuma nem nada,
Nem pedra, nem chuva, nem desilusão,
Nem Contos de medo, nem Contos de Fada,
Nem Contos de Sonhos, de Imaginação,
Nem nada me fez separar dessa força
Que eu trouxe em segredo no meu coração
E como se fosse uma peça de louça,
E como se fosse um desenho num grão,
Guardei essa força comigo em segredo,
Guardei em silencio aqui dentro de mim,
Como uma criança carrega um brinquedo
Ou como um segredo carrega o seu fim,
O Amor, absoluto, e sempre primeiro,
O Amor, verdadeiro, e sempre estrondoso,
O Amor, poderoso, e sempre por inteiro,
O Amor, companheiro, e sempre carinhoso.
Por amor eu larguei minha vida de lado,
Fui julgado e cheguei bem no fundo de mim.
Por amor eu fui Rei. Eu vivi meu Reinado.
Por amor eu tentei escapar do meu fim...
Por amor, como as cartas de amor do passado...
Por amor, como o beijo da moça que vai...
Por amor, como um verso de amor delicado...
Por amor, como era o amor do meu Pai...

17.9.02

A Tempestade
(Na madrugada de 7 de setembro, do apartamento na Praia do Flamengo, eu pude observar o Rio amanhecendo sob forte temporal...)

Da janela do apartamento,
Protegido,
Eu pude observar o temporal.
Eram rajadas de um vento
Ensandecido...
A Natureza em seu Carnaval:
Raios cruzando o céu a todo instante,
A chuva em sua força impressionante,
Os estrondos do trovão...
O apartamento me protegia
E, enquanto eu observava a ventania,
Quem protegia o meu coração
Da chuva forte da indiferença,
Da trovoada da intolerancia,
Da ventania da solidão?
De tantos raios da inimizade,
E dos destroços da iniqüidade,
Das tempestades de Não?
Da janela, protegido, eu vi o tempo
Como se fosse um tormento...
Como se fosse um tufão...
Talvez, por me encontrar tão protegido,
Por isso é que eu nem tenha percebido
O coração assustado e contraido
Clamando por proteção..

13.9.02

O lugar bom de viver

Segue o poeta, rabiscando linhas,
Cecilizando idéias indiscretas,
Gullarizando frases Manoelinas
Do modo como fazem os poetas...
Vai revolvendo novos sentidos,
Reinventando as coisas corriqueiras,
Teando ritimos parecidos
Como se as rimas fossem parceiras.
E vai, tendencia Marioandradina,
Criando seu estilo pessoal...
Redescobrindo a forma Guilhermina
Na perfeição do verso Buarquial...
Vai traduzindo a rima Caetana
Que se escondeu nos versos de Drummond,
Se misturou na letra Catulana,
E evaporou na música de Tom...
E, costurando sua Bandeira
Como fez Castro Alves nos seus dias,
Segue, como quem tece a sua esteira
Ou como quem protege as próprias crias...
Segue o poeta, imaginando frases...
Pescando idéias que não tem som...
Como quem sai em busca de um Oásis
Onde viver é bom...
O Mel e a Espada

O Mel adquirido pela Espada
Não serve como alimento...
Quando muito, como água envenenada...
Quando muito, como excremento...

O Mel adquirido pela Espada
E pelo signo do constrangimento
É feito a imponencia da fachada
Minutos antes do desabamento...

Como se fosse a morte anunciada,
O Mel adquirido pela Espada
É a condenação de quem o toma...

É como a pele suave e bronzeada
Que não percebe o detalhe da chegada
Do carcinoma...

4.9.02

Desabafo...

Eu me recuso a viver num mundo onde o meu sorriso seja feito da desconfiança do sorriso do meu vizinho...
Eu me recuso a viver num mundo onde eu não possa acreditar nas pessoas...
Em que eu precise desconfiar das pessoas...
Num mundo em que quem crê é um idiota...
Onde quem confia é um tolo...
A mentira não pode ser a regra e a verdade um crime...
A falsidade não pode ser o lema
E a decencia uma estupidez...
Eu me recuso a viver num mundo onde quem confia é portanto um delinquente e quem mente apenas se protege...
Eu não condeno Forrest Gump...
Eu acredito na água cristalina...
Eu quero o sol e me recuso a acreditar na sombra, na noite, no frio...
Até que
Quando um dia
Finalmente
Ciencia
Leis
Tratados
Fórmulas
Sabios
Entendedores
Antropólogos
Filósofos e
Bispos
Me convencerem
Do contrario
Entao
Nesse dia
Exatamente nesse dia
Certamente
Eu ainda assim
Definitivamente me recusarei
A acreditar na farsa como verdade
No erro como principio
No mal como fundamento
Porque dentro de mim
Acreditar
Será sempre
Ver a verdade
Onde ela deveria estar
Antes de ter sido
Violada...

26.8.02

Aonde eu vou morar

Eu vou morar em Milton Nascimento,
Na voz que vem de Milton Nascimento.
Gira, girar em Milton Nascimento,
E adormecer em Milton Nascimento.
Eu quero um pé de sonho prá plantar.
(Quem planta sonho colhe cantar)
Quero viver sossegado
Mas pra ficar sossegado
Eu não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal.
Uma nascente. Um olho dágua.
Ouvindo Canção do Sal.
Brincar nos bailes da vida
Cantando Canção Amiga.
Quero ficar à vontade.
Do coração doer de tanta felicidade.
Quero tocar minha mão no Cálix Bento.
Eu, Cavaleiro Solitário, ao vento,
De vez, morar em Milton Nascimento,
Em comunhão com Milton Nascimento,
E me perder em Milton Nascimento,
E me encontrar em Milton Nascimento.
No seu sorriso
Que é qualquer coisa a haver com o paraiso.
Certas canções de modo tão perfeito:
Amigo é coisa pra se guardar
Do lado esquerdo do peito.
Por isso, quando eu me encontrar sozinho,
Vou viajar no som do cuitelinho,
E se eu tiver algum mercecimento
Eu vou morar em Milton Nascimento,
Beber da vida em Milton Nascimento.
Nenhuma dor em Milton Nascimento.
E ser feliz em Milton Nascimento.
O Amor Insensato
A todos os amores que não trazem paz

Se o amor que tu amas é proibido
E amar assim te mata de vergonha,
E se é imenso o amor, mas escondido,
E é dentro do escondido que ele sonha,

E se o Padre não o abençoa,
E se o Pastor não o bendiz,
E se o Rabino não o tem por coisa boa
E apesar disso esse amor te faz feliz,

Vive esse amor insensato até o fim
Como se nada nele houvesse de ruim
E ali estivesse a tua felicidade.

Quem sabe um dia, desse amor cansada,
Por tanto amares sejas libertada
E, uma vez livre, tu ames de verdade.

Quem sabe um dia o coração sofrido
Por tanto amor, enfim, seja absolvido
E possa então amar com dignidade.

20.8.02

Não contem comigo
Argumento final

Este texto compõe o argumento final da ação que movi junto às minhas entidades de classe contra o autoritarismo e a truculencia das ações de que fui vitima no ultimo dia 13 e cujo relato fiz em outra mensagem para esse blog...

Amigos,
Antes que perguntem, saibam...
Antes que se enganem comigo, conheçam...
Antes que se iludam com meu modo se ser, tomem fé:
Não contem comigo
Quando for para o susto calar a nossa voz,
Quando for para a covardia e o medo determinarem nosso silencio
Ou nos intimidarem diante do nefasto
E nos curvarem diante do erro...
Não contem comigo.
Ahimsa, eu aprendi.
Preparem minha demissão imediata,
Transfiram-me,
Retirem meu nome,
Cassem meus direitos...
Mas não me peçam para ficar calado diante do abuso...
Não me implorem para mudar uma letra sequer da minha palavra...
Não esperem de mim o medo de quem nem é Deus...
Esqueçam...
Não contem comigo...
Antes não tivessem me permitido conhecer Milton, Chico, Gullar, Brecht, Maiakovsky, Castro Alves...
Porque não me deixaram só com Rapunzel, O Gato de Botas, A Bela Adormecida?
Talvez assim eu tivesse mais medo da palavra que se acompanha da bala...
Talvez assim eu me curvasse mais rapidamente diante da estupidez e da força...
Mas alguma coisa deu errado comigo...
Vi, li, aprendi, vivi dias intensos que me impedem hoje de ceder quando ceder é mais fácil...
Ou de morrer de medo do que não tem remédio nem nunca terá...
Amigos...
Não me chamem para acordos com o abuso...
Não me mostrem os conchavos com o medo...
Não me falem sobre segredinhos com a força armada...
Não me digam para temer a lei que não se sustenta em si mesma...
Trago em mim a grande culpa de ser como sou...
Não me peçam para ser de outro modo. Desistam.
Não contem comigo.

14.8.02

A Injustiça Cega
Ontem durante meu plantão médico recebi a visita de duas Assistentes Sociais que me traziam quatro crianças sem queixas para receberem um Atestado Médico de liberação para creche. Tentei sem sucesso explicar que aquele Hospital se destinava ao atendimento de urgencias. Encaminhei as crianças ao atendimento em outra unidade. Duas horas depois uma oficial de justiça acompanhada de tres policiais armados me entregou um documento assinado por um juiz ordenando o atendimento das crianças ou a prisão. Sob ameaça da força, constrangido pelo abuso do poder, atendi as crianças, que não apresentavam problemas.

Não há mérito algum na força armada,
Na coação, no constrangimento.
O mel, quando obtido pela espada
Não presta como alimento.

Não há vitória nem merecimento
Na arma apontada para o coração.
A estupidez é o único argumento
De quem perdeu-se e perdeu a razão.

Por isso não há luz quando a vitória
Inclui a estupidez na sua estória.
A força é o selo da mediocridade.

É o vinho acre que cheira a azedume.
É a natureza morta e sem perfume.
É o elogio à imbecilidade.

13.8.02

O Desafio Poético

O desafio
Da poesia
Não é escreve-la
Com magistreza
Ou com maestria...
Mas é, ao lê-la,
Compreende-la
Em sua multiplicidade
E em sua magia...
A Muralha

I
Era uma construção rochosa, fria,
Um obstáculo à luz do dia.
Inalcançável. Imensa. Inatingível.
Era de uma grandeza incomparável
E de uma complexidade incompreensível.
Era uma construção rochosa, imensa,
Escura, impressionante, enorme, densa,
Assustadora construção rochosa,
Estupida, complexa, pavorosa,
Incompreensivel em sua soberania...
Um obstáculo à luz do dia...

II
A força bruta esmerou-se em derrubá-la
A golpes de ferro, impactos de bala,
A violentos tiros de canhão...
Tentou, a força bruta, sem perdão,
Sem culpa, a força bruta, sem sossêgo,
Sem falha, sem porém, sem dó, sem medo...
A força bruta esmerou-se, sem sucesso...
A imensidão sombria não se abala...
E toda força bruta do Universo
Não foi capaz de vencer A Muralha...

III
E os Poderosos, e os Prepotentes,
E os Chanceleres, e os Presidentes,
E os Principes, e os Reis e os Marechais,
E os Arcebispos, e os Almirantes,
E os Sheiks, e os Xás, e os Comandantes,
E os Prefeitos, e os Generais,
E os Imortais, e os representantes
Dos militares da Alta Patente
Uniram-se em Tribunas Permanentes
E após as preleções mais estridentes
Mostraram-se improváveis, impotentes...
Nenhum poder no mundo foi capaz
De destruir A Muralha. Impressionante.
Um obstáculo à Luz. Desconcertante.
Um obstáculo à Paz.

IV
Nem toda pedra. Todo brilhante,
Toda fortuna, toda riqueza,
Toda Esmeralda, todo Diamante,
Todo dinheiro da natureza,

Tampouco toda gema do garimpo
Ou todo Ouro de Midas,
Ou nem toda riqueza que há no Olimpo
Ou jóias que há nas Arcas escondidas,

Nenhum anel de brilhante...
Nenhum valor mostrou-se suficiente
Para vencer A Muralha

Absoluta, desconcertante,
Permanecia completamente
Intacta, compacta e sem falha...

V
Passava noite,
Passava dia
E A Muralha permanecia...
A Luz do Sol não passava...
O amanhecer não nascia...
Passava noite cinzenta,
Passava nuvem sombria,
E A Muralha,
Feito uma praga quando se espalha,
Sobrevivia...

VI
Foi quando o Amor tocou, suavemente,
A Muralha imponente
De grandiosidade impressionante...
Nesse instante,
Subitamente,
A Muralha cedeu completamente,
E como quem se acaba simplesmente
Ou como quem se vai e vai distante
A Muralha gigante
Estúpida, complexa, impressionante
Quedou-se ao toque suave e transparente
Do amor silente...
E feito um Novo Tempo quando se inicia,
Daquele instante em diante não havia
Obstáculo nenhum à Luz do Dia...




3.8.02

As Fomes
Revisado

Ele tinha fome de boca, fome de mão...
Ela, só fome de coração...
Ele tinha fome de pele, de caricia...
Ela, de ser tratada com delicia...
Ele, de perna, joelho, tornozelo...
Ela, de ser cuidada com desvelo...
Ele era a fome da voz a sussurrar...
Ela, a da delicadeza de um olhar...
Ele era a fome de um lençol de linho...
Ela, a de ser tratada com carinho...
Mas, como suas fomes muito diferentes,
Parecessem, porque fomes, muito iguais,
Eles se deram, com fome, um ao outro,
E se entregaram,
Como se dão, uns aos outros, os casais...
E enquanto ele se contentava
Ela tentava...
Ele gostava, sorria...
Ela arriscava ver se descobria...
Ele se deliciava, se fartava de euforia,
Ela buscava obter o que queria...
Às vezes ela até acreditava...
Às vezes ele quase convencia...
E enquanto ela procurava,
Se dava, se oferecia,
Ele, sozinho, se alimentava
Da fome que ela sentia...
Ate que um dia
As suas fomes mostraram-se evidentes:
A dele, fome de dentes,
A dela, fome de sentir saudades...
A dele, fome de beijos ardentes,
A dela fome de infantilidades...
A dele, a fome do corpo quente,
A dela, a fome de companhia...
A dele, a fome aguardente...
A dela, fome poesia...
Eram fomes diferentes:
Céu e chão,
Pecadores e inocentes,
Sim e não,
Meia noite,
Meio dia,
Quando então,
Eles se compreenderam desiguais...
E desde aí, nunca mais
Quando ele pele, ela vida,
Ele mordida, ela olhar.
Ele querendo comida...
Ela querendo sonhar...
Ele a paixão desmedida...
Ela a vontade de amar...
Ele a voz quase gemida...
Ela a voz quase a cantar...
Nunca mais ele a mordida
Nos sonhos dela sonhar...
Ele era fora, ela, dentro...
Ele o momento, ela mais...
Ela, como o pensamento...
Ele, como os animais...
Ele era o gás, ela a luz,
E desde então, nunca mais...
Porque ela era a fome que o verso não traduz
E ele era a fome fugaz...
E ela pode então viver em paz...
Senha
Revisado

A poesia por companhia...
Musica boa por testemunha...
Ser poeta é meu brinquedo e minha fantasia
E minha alcunha...

A poesia por teimosia...
Musica boa por manha...
Escrever é minha crença, minha cura, minha cria
E única façanha...

A poesia por estrela guia...
Musica boa, de onde quer que venha...
Ser assim é minha sabedoria
E minha senha...

1.8.02

Poema diastólico

E como quem aguarda uma visita
E arruma a casa, e prepara a mesa,
E escolhe o vinho, e recheia o pão,
E escolhe a musica mais bonita,
Também a dástole, com sutileza,
Prepara a espera do coração...
Se eu faço poesia...
Revisado

Se eu faço poesia, penso em nada...
É como escorregar num tobogã...
Então, quando eu percebo, é madrugada...
Eu continuo. É quase de manhã...
Eu trago a poesia bem guardada
Como quem traz guardado um talismã...


Se eu faço poesia eu perco o rumo...
Eu sigo por atalhos e quebradas...
Eu perco a coerencia, esqueço o prumo,
Eu piso firme sem deixar pegadas,
E nesse desacerto é que eu me arrumo
E assim eu passo as minhas madrugadas...

Se eu faço poesia ritimada
E rimo por questão de opinião,
É como olhar a lua prateada
E, olhando, assoviar uma canção...
É como se a palavra preparada
Saisse pronta do coração...

Se eu faço poesia, penso mudo...
É como a fantasia improvisada...
Às vezes o poema é meu escudo...
Às vezes o poema é minha estrada...
Meu cálice de vinho... Meu veludo...
Meu tudo... Meu porque... Meu não... Meu nada...

Por isso é que se eu faço poesia
Diária, intuitiva, ritimada,
É como quem descobre o fio guia,
A senha, a chave, o mote, o abracadabra...
E encontra a própria carta de alforria
E a trilha da caverna abandonada...

29.7.02

Auto-retrato

Passarinho de alma cigarreira,
É feito só de canto o meu caminho...
A minha solidão é passageira...
Meu modo de escrever é passarinho

De alma cigarrinha. E vou cantando.
A vida que há em mim vai me vivendo,
O som da vida me dedilhando,
Enquanto a poesia me escrevendo...

Passarinho de alma cantadeira
Que canta poesia a vida inteira,
Não há nenhuma outra vida em mim...

Passarinho de alma cancioneira...
Meu estaleiro e ninho e minha esteira
Enquanto eu canto, ao vento, Borzeguim...

26.7.02

As dores piores
..."sinto ter ferido teu coração. Mas sei, pelo que ferem o meu, que a dor
passa... e que existem dores muito piores"... (de um mail recebido)


A pior dor é a dor que tu provocas...
O pecado mais forte é o que cometes...
O mais torto dos rumos é o que entortas...
A pior agressão é a que fizeste...

A doença mais grave é a que transmites...
O castigo mais cruel é o que castigas...
A mentira mais falsa é a que mentistes...
E a em que te envolves é a pior das brigas...

Portanto, entre o mal que tu aplicas
E o outro mal, o mal que tu recebes,
E o mal que por ai tantos semeiam,

O mais danoso sempre é o mal que causas
Poi não há dor maior que a dor que geras
E o mal que lanças aos que te rodeiam...

24.7.02

A outra forma de amar

Amor que não vira beijo vira brisa
Amor que não vira toque vira olhar
Amor que não vira mão que toca e alisa
Vira uma outra forma além do amar...

Amor que não vira boca vira rima
Amor que não vira lingua vira vento
Amor que não vira corpo contamina
A natureza do pensamento...

Amar amor que não vira
Mordida fixação calor desejo
Carinho pele caricia beijo mão

É feito um amar de amor que não se expira
Porque não contem segredo nem mentira
Porque é matéria do coração...

16.7.02

Sobre a Dor
Carta a uma amiga

Dor...
Poetas e cientistas tentam decifrar-lhe a causa, descobrir-lhe a cura...
Pastores e padres tentam aliviar-lhe o peso...
Deus, em sua magnitude, ainda permite a sua existencia sem deixar com isso
de expressar o seu amor infinito aos homens...
Mas ei-la...
A dor...
Pedaço de quase tudo que a gente vive...
Caminho de quase tudo que a gente anda...
Tonalidade de quase tudo que a gente olha...
Recordo-me da palavra santa do grande Gilberto Gil quando, um ano
após perder o filho num acidente estupido...
Foi num programa de Silvio Santos...
O Silvio perguntou a ele sobre a impressão que ele tinha naquele momento,
uma ano depois, sobre a perda do filho...
Gil, manso e delicado, permitiu-se dizer que compreendia que não havia sido
escolhido por Deus para sofrer...
Que o sofrimento por que ele passou era também o sofrimento de muitos outros
que no Brasil e no mundo vivem a mesma estória da mesma perda...
E essa mesma estória o irmanava...
E de alguma forma, ao coração do poeta, suavizava a sua dor...
Aprendi, naquele momento, aquela lição...
A de não termos sido especialmente escolhidos por Deus para viver esta ou
aquela dor...
A lição de nos irmanarmos na dor...
Nos unirmos na dor...
Como diz o poema de Mário de Andrasde: " nem me sinto mais só, dissolvido
nos homens..."
Que a dor nos dissolva em meio à humanidade...
Como médico vivo a dor diariamente...
Como homem do mesmo modo eu a sinto e luto contra ela entre uma e outra vez
que à ela me entrego...
Aprendi que a dor mais importante é a que nos aflige...
Não há, para mim, dores menos ou mais importantes...
A pior dor é aquela que nos toma...
E é essa a que devemos eliminar ou aceitar, conforme a sua natureza...
Aceitar dores elimináveis é uma entrega suicida...
Lutar contra dores inevitáveis é um martírio sem fim...
Há dores, portanto, que resolvi considerar amigas...
Dores que por sua natureza são indissoluveis...
Como a que senti e sinto quando falo do meu pai que já partiu...
E há as outras, contra as quais luto e lutamos todos diariamente...
A sabedoria esta em saber discernir uma da outra...
Quero, em Deus, estar ao seu lado para te prestar todo o apoio de que
necessitas para que passe do melhor modo possivel por este momento de dor
que te irmana hoje com a humanidade inteira que de algum modo sofre...
Dor que em nenhum momento configura a falta do amor infinito de Deus por nós...
Dor que venceremos de um modo ou de outro...
Leva de recordação um poema que escrevi enquanto algo doía em mim...
Oro por voce...
Pelos que moram no seu coração...
Pelo carinho dos que te querem bem...
Que tanta energia a teu favor te torne forte...
Se for inconsistente para te trazer a força, que te traga a resistencia da
serenidade...
Esperaremos dias tranquilos...
Um beijo de quem muito te quer bem.
Luis.


A Dor Amiga

Chamei a dor Minha Amiga...
Convidei-a para entrar...
Fiz pra ela uma cantiga
Tirei ela pra dançar...
Cuei um café quentinho...
Pus a mesa de jantar...
Sentei dela bem juntinho...
Até a dor se alegrar...
Eu dei à dor o carinho
Que a gente costuma dar
À um parente, a um vizinho,
A alguém do nosso lar...
Hoje a dor é minha amiga,
Já não me causa matar...
Não maltrata, não castiga,
Não tenta me machucar...
A dor, que mora comigo,
Não pode me abandonar.
Por isso já não consigo
Sorrir sem também chorar.
Porque se a dor não me mata
Nem me faz desesperar,
Nem me fere, nem maltrata,
Nem tenta me asfixiar,
Também não me deixa livre,
Não se despede de mim...
Ficou em mim e hoje vive
No meu coração, assim:
Não me fere nem me cura,
Não me seca nem sacia,
Não me atira em noite escura,
Não me larga à luz do dia...
Chamei a dor Minha Amiga...
Eu disse à dor: Pode entrar...
Eu dei à dor minha vida
E pude então descansar...

15.7.02

Súplica ao Poema

Livrai-me, Poesia, da maldade.
Da que me cerca e da que habita em mim...
Da falta de paciencia e de verdade...
Da voz danosa e má, do tempo ruim...

Do mal-me-quer livrai-me, Poesia...
Das grandes unhas da solidão...
Livrai-me do ócio, da má companhia
E dessa dor que arranha o coração...

E da mediocridade, e do desprezo
Livrai-me, poesia, desse peso...
Livrai-me, poesia, dessa treva...

E, para que eu não fique mais sozinho,
Transforma-te, Poesia, em meu caminho
Como se fosse um rio que me leva...

9.7.02

Soneto para Anna Clara
Anna Clara nasceu em 22 de março de 2001 em morte aparente pesando 1100 gramas. Após 40 dias teve alta da Santa Casa de Misericórdia de Campos mamando exclusivamente ao seio até os 4 meses de idade. (Anna foi um bebe-canguru). Hoje, com mais de um ano, Anna é um milagre vivo do amor de Deus...

Pula da cama, fala , corre, grita,
Levada, deita e rola... ela não para...
E bate e mama e chuta, e foge e brinca...
De onde é que vem o pique de Anna Clara?

De qual estrela iluminada e santa?
De qual palavra? De que pensamento?
Como se fosse luz que não se espanta...
Como se fosse só contentamento...

Apresentada, é sempre soberana...
Miudinha? Ai é que você se engana...
É toda pura e linda... Jóia rara...

De onde é que vem tão doce e deliciosa?
Tão pequenina...tão poderosa?
De onde é que vem a força de Anna Clara?

2.7.02

Eu vi um anjo
Versos para um anjo chamado Francisco Candido Xavier

Eu vi um Anjo de perto...
Eu vi um Anjo de Luz...
Vestido da roupa feita
Do mesmo pano
Que vestiu Jesus...
Eu vi um Anjo,
Uma cândida criatura
De gesto franciscano em seu olhar...
Como se fosse uma prece...
Clara...
Pura...
Como se fosse uma canção de Bach...
Eu vi um anjo de perto em minha vida.
Toquei sua mão.
Eu vi a sua cor.
Ouvi a sua voz.
Eu sei seu nome.
Provei o seu sorriso e o seu amor...
Eu vi um Anjo...
Um gigante...
Senti quando me tocou...
O Anjo falou meu nome bem baixinho...
Eu cheguei perto do seu carinho...
Bebi da gratidão que ele ofertou...
Eu vi um Anjo como São Francisco,
Um Anjo que que era como meu irmão ...
Eu vi um Anjo. Seu nome?
Simplicidade?
Leveza?
Candura?
Abnegação?
Delicadeza?
Doçura?
Amor?
Determinação?
Eu vi um Anjo
Sem asas,
Sem trombetas,
Sem brasão,
Sem templos,
Sem honrarias,
Sem suditos,
Sem bastão,
Sem títulos,
Sem diplomas,
Eu vi um Anjo sem nada...
Eu vi um Anjo de alma iluminada...
Eu vi um Anjo de luz no coração...
Eu vi um Anjo sorrindo,
Trazendo a boa nova aos filhos seus...
E de tão doce esse Anjo,
E de tão lindo,
Eu vi um Anjo
E imaginei ter visto Deus...

22.6.02

Voce tem fome de que?
* Porque alguns relacionamentos dão certo outros não?
* Escutando os Titãs, atentei: voce tem fome de que?
* Nem nome, telefone, idade, gosto,
Mania, opinião, sexo, lazer,
Altura, profissão, cabelo, rosto,
Cidade, tendencia politica, prazer,
Nem time, religião, desodorante,
Familia, condição, jeito de ser...
Somente uma pergunta é importante:
Voce tem fome de que?


Voce tem fome de que?
Voce tem fome de quem?
Voce tem fome de sentir prazer?
Voce tem fome de fazer o bem?
Voce tem fome de beijar na boca?
Voce tem fome de comer comida?
Voce tem fome de tirar a roupa?
Voce tem fome de pensar na vida?
Voce tem fome de queijo?
Voce tem fome de pão?
Voce tem fome de beijo?
Voce tem fome de passar a mão?
Voce tem fome de fazer poesia?
Voce tem fome toda noite a fora?
Voce tem fome de lamber a cria?
Voce tem fome de tudo agora?
Voce tem fome de bife?
Voce tem fome de bofe?
Voce tem fome de comer rosbife?
Voce tem fome de strogonoff?
Voce tem fome dificil?
Voce tem fome de fã?
Voce tem fome de engolir um edificio?
Voce tem fome só pela manhã?
Voce tem fome de Chico? De Caetano?
Voce tem fome de Elis?
Voce tem fome de um ritmo pernambucano?
Voce tem fome das luzes de Paris?
Voce tem fome de loura?
Voce tem fome de mel?
Voce tem fome devastadora?
Voce tem fome de ceu?
Voce tem fome de que? Fome de gente?
Voce tem fome de Carlos Drummond?
Voce tem fome de queijo quente?
Voce tem fome de fazer um som?
Voce tem fome de que? Ser desejado?
Voce tem fome de desejar?
Voce tem fome de ser vingado?
Voce tem fome de querer amar?
Voce tem fome de que? De uma aventura?
Voce tem fome de orgia?
Voce tem fome da noite escura?
Voce tem fome do dia?
Voce tem fome de ficar na sua?
Voce tem fome de cair no mundo?
Voce tem fome de sair na rua?
Voce tem fome de que, no fundo?
Voce tem fome do que alimenta...
Voce tem fome daquilo que faz bem...
Voce tem fome da coisa que sustenta...
Voce tem fome do que inda não tem...
Voce tem fome do que necessita...
Voce tem fome do que procura...
Voce tem fome daquilo que possibilita
A sua cura...
E essa fome que voce sente
É a que conduz seu pensamento. É o guia.
É essa fome que é o seu gerente
E é a foz da sua energia...
E é essa fome que é o seu caminho...
E é essa fome que é o seu senão...
É nela que convivem seu carinho
E o seu pecado e a sua absolvição...

12.6.02

Sonetos imperfeitos para passarinhas...

Primeiro Soneto
Pássara morena de alma açucareira,
De voo esguio, rumo decidido,
Voz delicada, palavra certeira,
Iluminada e cheia de sentido...

Pássara campesina e carioquesa...
Quando delicadeza, é distraida...
Quando desabalada, é sem surpresa...
E quando dor, é intima e contida...

Cariocana em sua natureza,
Não sabe o significado da incerteza
Nem gasta o tempo com lamentação...

Ah, leve e campesina passarinha
Que nunca foi nem deixou de ser minha
E nunca abandonou meu coração...

Segundo Soneto
Passarinha de alma fazendeira..
Cantadeira de alma improvisada...
Moça levada de boas maneiras,
De pele branca e voz metalizada...

Fazendeira de alma passarinha...
Por tão sozinha, tão agitada,
Tão dificultadeira, tão facinha,
Tão verdadeira, tão disfarçada...

Passageira de alma linharinha...
Por tão acompanhada, tão sozinha...
De onde é que vem tão leve, tão levada,

Tão delicada, tão delicinha?
Cidade grande de alma fazendinha...
Não cre no amor mas vive apaixonada...

Terceiro Soneto
Pássara branca de alma mineira...
Manhuaçúcar de voz dolente...
De alma com sabor e cor de pera
E um cheiro bom de pão de queijo quente...

Ah, mineirinha de alma impaciente,
Desabalada e contida...
Às vezes é cruel como a serpente...
Às vezes deliciosa como a vida...

Gole de mel de algum manhuaçúde...
Água da Fonte da Juventude...
Lua de ouro toda prateada...

E quando tudo que há em torno é rude
Ela disfarça e vence. É sua virtude.
Mineira branca de alma iluminada.

5.6.02

Sem Compromisso

Um poeminha de palavra leve.
Um meio termo entre o sim e o não.
Feito da letra que não se escreve
Formando frases sem pontuação...
Que nada signifique o poeminha
Feito de sons sem significação
Como os barulhos feitos na cozinha
Por notas que não eram prá canção...
Um poeminha de não dizer nada...
Cochilo. Insight. Recordação.
Como quem sonha de madrugada.
Como quem ama. Como paixão.
Um poeminha sem muita certeza.
Nem obedece nem manda.
Como se fosse o som da natureza
Que dá prá ouvir da varanda...
Um poeminha prá passar o tempo.
Um poeminha prá passar a dor.
Um poeminha prá passar o nome desse sofrimento
Que se chama amor.
Um poeminha prá perder o medo.
Um poeminha prá passar o feitiço.
Um poeminha de manhã bem cedo.
Um poeminha sem compromisso.

28.5.02

Bazar
Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
(A moça do sonho - Edu Lobo/Chico Buarque)


E tudo que eu tentei, tudo que eu quis,
Todas as tantas coisas que eu sonhei,
E as que eu nem consegui imaginar,
E as musicas de amor que eu quase fiz,
E as letras em que eu quase me arrisquei,
E as gentilezas que eu quase quis falar,
E as mentiras que um dia eu quis dizer
Mas quando foi a hora eu me enganei,
E as que eu nunca tentei nem quis tentar,
E as coisas que eu não vi acontecer,
E as que eu ia dizer, mas não lembrei,
E as outras que eu não consegui olhar,
E as tais castas de amor que eu nunca li,
E as tais cartas de amor que eu nunca ousei,
E as tais que eu nunca soube terminar,
E as tais cartas que eu quase que escrevi,
E as tais cartas de amor que eu nem tentei,
E as que eu nem tive alguém para mandar,
E as coisas que eu só fiz pela metade,
E as outras que eu não fui nem convidado,
E as coisas que eu não quis experimentar,
E as que eu queria, mas faltou vontade,
Outras que não, por ter encabulado,
Outras que eu nunca soube completar,
Deve haver um lugar, deve existir,
Por trás do sonho, após o pensamento,
Além da serra, bem depois do mar,
Antes do sol nascer, do céu abrir,
Entre a vontade e o sonho e o esquecimento,
Certamente há de existir algum lugar
Para onde vão desacontecimentos,
Coisas não ditas, fatos por um fio,
Promessas, sonhos, contas a pagar,
Letras não lidas, esquecimentos,
Desejos que ficaram no vazio,
Fatos que ninguém viu nem vai lembrar,
Deve haver um lugar chamado lenda,
Inspiração, arquétipo, delirio ,
Idéia, devaneio, divagar,
Um sitio, uma pousada, uma fazenda,
Maior que o mar, menor que um grão de milho,
Prá onde os sonhos extraviados vão parar.
E lá desembocando, os estravios
Irão formar novíssimas lagoas
Onde poetas bons vão mergulhar
E assim, novos delirios, desvarios,
Outras inteligencias e pessoas
Novos versos e rimas vão formar
Colhendo o que foi quase e de fininho,
Pescando o que era resto e desperdicio,
Bebendo o que não era, até formar
Um outro pensamento, outro caminho,
Como se o fim de tudo fosse o inicio
E tudo fosse um grande começar.
Um lugar deve existir, em qualquer tempo,
Ainda que só de anti-matéria crua,
Ainda que inadmissível de rimar.
Um lugar onde os sonhos extraviados
E os pensamentos nunca imaginados
Inapelavelmente vão parar...
Uma espécie buarquiana de bazar...

20.5.02

A Lágrima

A lágrima é a tristeza liquefeita
Quando ela mesma não se contém...
É a dor que tenta ser a dor desfeita
Porque é do mal das dores que ela vem...

É mista: cerebral e cardiológica...
Confusa: emocional e programada...
Às vezes natural. Outras ilógica.
Por vezes culpa de tudo. Outras de nada.

A lágrima é a tristeza em caldo...
É a fiadora da dor. E o seu respaldo.
É a vontade de mudar tudo...

A lágrima é a constatação do dano...
É farta e imensa assim como o oceano...
É a defesa da dor. E o seu escudo.

14.5.02

A Glória

A glória do astronauta é estar no espaço
E a do compositor, criar o tema...
A do vaqueiro é acertar o laço...
A do poeta é a rima e é o poema...

A do cirurgião é o ponto exato...
A do alpinista é atingir o topo...
A do fotografo, clicar o fato...
A do escultor, mimetizar o corpo...

Não é o aplauso nem a faixa a glória...
Lançar o nome nos anais da História...
A fama é o esquecimento travestido...

Não é o sucesso ou o reconhecimento
Mas a fração singela de um momento:
A glória e ter tentado e conseguido...

8.5.02

A Escrita

Repouso a mão na folha, levemente...
Suavemente a mão na folha cai...
A letra sai da mão. A mão não sente...
Sem que eu perceba uma outra letra sai...

E letra vai, então, seguindo letra...
Palavra após palavra... A frase inteira...
O pensamento jorra da caneta...
Manhã nublada. Chove. É quinta-feira...

Verso ritmado... Malpensado verso...
A mão fantasiada de funil...
De um lado a idéia, o vasto, o desconexo...
Do outro lado a letra... O verso vil...

De um lado a fonte que não se permite
Secar, mudar de rumo, esvaziar-se...
Do outro a ponta seca da grafite
Como se a fonte nela se espelhasse...

De um lado o Universo, o Vasto, o Inteiro...
Rio Amazonas todo em pensamento...
Terra sem fim que ninguém viu primeiro...
Pote que ninguem sabe o que tem dentro...

Do outro o pescador e a sua linha
Tentando o que ele não conhece bem...
Palavra que se esforça pra, sozinha,
Dizer tudo que sabe e pode e tem...

Leio a palavra feita, a letra escrita...
Quem pode compreender a inspiração?
Se o verso é calmo e a alma é tão aflita
Como é que o verso vem do coração?

Imenso é escrever. Buscar, do nada,
A forma, o conteudo, a paz, o Deus...
Ler a palavra... A frase terminada...
Supor que os versos que escrevi são meus...

Repouso a mão na folha, abstraido,
E, sem que eu interfira, o verso acaba...
Quem há de compreender cada sentido
Que há na escrita crua da palavra?



5.5.02

A pena

Não há delito nenhum na pena,
Na piedade, na consternação...
Não há nenhum senão, nenhum problema...
Nada que indique reprovação...

A piedade nunca te condena...
Não é delito a comiseração...
Jesus se apiedou de Madalena
E Castro Alves da Escravidão...

A pena é a empatia ante a crueldade...
A indignação ante a indignidade...
A asfixia diante do enforcado...

A pena é o germen da solidariedade...
O amor contém pedaços de piedade...
Não é deslise a pena. Nem pecado...

22.4.02

A forma leve da solidão

Não há limites para a poesia.
Nenhuma absolvição para quem escreve.
Nem mérito nenhum. Nem companhia.
O poema é a solidão na forma leve.

Não há descuido nem desarmonia.
Nem diferenças entre o Sol e a Neve...
Não há fidelidade. Não há guia.
A letra nunca diz o que não deve.

Não há disfarce. Tudo é permitido.
O dar. A dor. A dança. O doido. O dia.
A voz escancarada e a voz discreta.

Na poesia tudo faz sentido.
Não há limites para a poesia
Nem há perdão nenhum para o poeta...
A Ingratidão

"O beijo, amigo, é a véspera do escarro...
A mão que afaga é a mesma que apedreja"...
Augusto dos Anjos


Não deixa a ingratidão, essa vadia,
Fazer morada no teu coração...
Contaminar a tua poesia...
Sair despedaçando a tua razão...

E mesmo quando, por hipocrisia,
O beijo de carinho for traição
E a mão gentil que afaga e acaricia
Apedrejar-te sem explicação,

Não deixa a ingratidão, coisa pequena,
Fazer morada no teu poema
Contaminando a tua emoção...

Supera a ingratidão. Não vale á pena.
A ingratidão é como uma gangrena...
Lança teu vôo e alcança a imensidão...

15.4.02

A lágrima

Não há vergonha alguma na tristeza
Nem desacerto, desmerecimento...
A lágrima é o balde da limpeza
Do coração lavando o pensamento...

A lágrima é, talvez, na Natureza,
A gota mais suave e mais ousada:
Faz parte do olhar triste da Princesa
E da feição da moça favelada...

Há os que são tristes por muito tempo...
Os que entristecem e depois melhoram...
E os que a tristeza ainda há de encontrar...

A lágrima é a voz do pensamento...
Não há tolice alguma nos que choram...
Nenhum motivo de se envergonhar...

8.4.02

A Gratidão

Não há demérito algum no agradecer,
Nem há vergonha na gentileza...
Nenhuma impropriedade em receber
Nem desacerto na delicadeza...

Não há nenhuma contra-indicação
No bem-estar do favorecimento...
Nem há sinal de inadequação
Na comoção do agradecimento...

Reconhecer o gesto de carinho,
Compreender o ato de favor,
Saber ficar feliz na boa ação,

Não é vergonha. Não é desalinho.
Não é humilhação. Não causa dor.
É a divida do amor. É a gratidão.

2.4.02

Estupidez

Não há delicadeza na agressão
Nem gentileza na palavra má...
Não há leveza na desatenção...
Nenhuma educação em maltratar...

E na palavra farta de mentira,
E na atitude desrespeitosa,
E no sarcasmo, e no rancor, na ira,
E na traição, na frase maliciosa,

Não há carinho. Só mediocridade.
Não há nenhuma forma de beleza.
Só dano, desacerto, insensatez...

Somente quase sempre impropriedade.
Palavra fluindo contra a correnteza.
Pecado sem perdão. Estupidez.

22.3.02

Conjuntura

Eu enchi a cidade de alegria
E alaguei minha rua com risada...
Agora, quando acordo, todo dia,
Chega pra mim uma enorme gargalhada...
Riso por riso, confesso, eu também ria...
Pena que a minha casa foi roubada...

19.3.02

Explicação

Eu necessito descansar se eu canso...
Ou escrever, se estou incomodado...
É no meu verso que o leão é manso...
No meu descanso é que o meu verso é bravo...

É no meu verso que o cansaço encontra
Repouso, proteção, refazimento...
O que era contra vira faz de conta...
O que era eterno acaba em pensamento...
Desperdicio

Poetar, poetei...
E dai?
Ela nem olhou pra mim...

6.3.02

Receita de Bem Estar


Para quando as coisas parecerem muito complicadas,
A simplicidade da Mulher...
Para quando as decisões parecerem muito difíceis,
A intuição da Mulher...
Para quando as coisas estiverem em completa desordem,
A organização da Mulher...
Para os momentos de aflição,
A paciência da Mulher...
Para quando a dor parecer insuportável,
A resistência da Mulher...
Para as c falta de perspectivas,
A criatividade da Mulher...
Para quando as coisas parecerem não ter mais jeito,
O jeitinho da Mulher...
Para quando as coisas apresentarem odor azedo,
O perfume da Mulher...
Para as horas de delicadeza,
A voz da Mulher...
Para os momentos de duvida,
A certeza da Mulher...
Para quando as coisas parecerem muito ásperas,
O rosto da Mulher...
Para quando as coisas parecerem confusas,
A clareza da Mulher...
Para quando as coisas parecerem sem rumo,
A decisão da Mulher...
Para as horas tristes de solidão,
A mão da Mulher...
Para a continuidade da Raça Humana,
A existência da Mulher...





Disfarça Bem...

Deus emprestou à Mulher, e somente à ela, seu atributo mais nobre: o da Criação.
A isso se deve a continuação da Raça Humana através dos séculos.
Embora possua esse atributo Divino, a Mulher disfarça bem...
A sua voz é delicada...
A sua pele é como a sua voz...
O rosto quase sempre é feito o de criança...
Chuta mais fraco, corre menos e as suas mãos não agüentam muito peso...
Disfarça bem...
Sua fragilidade aparente alimenta e sustenta a improvável força dos Homens...
Disputa, com a Lua, a letra dos poetas e a voz dos cantadores...
Gera, amamenta, educa e cria filhos...
Ensina amar...
E trabalha...
Em casa, no trabalho e novamente em casa...
Como um operário indispensável...
Quando Deus emprestou a Mulher seu atributo mais nobre, o de Criar, sabia bem o que estava fazendo...
Conhecia bem a quem estava emprestando...
A você, Mulher,
A nossa Homenagem...


8 de Março de 2002
Dia Internacional da Mulher

26.2.02

O Coração
Poema virtual em quatro partes



1. Do Nome do Nick.

Eu não me lembro: era Rosa...
Ou Azulzinha... ou Grená...
Ou Caladinha... ou Dengosa...
M a fim de namorar...
Era Diabinha? Era Santa?
Pecadora? Bruxa? Má?
Era Só Minha? Só Sua?
Ou era Estrela do Mar?
Talvez fosse Namorada...
Moça querendo casar...
Moreninha... Apaixonada...
Como é que eu vou me lembrar?
Polyana? Ju? Marina?
Dany? Camila? Pilar?
Cíntia? Flávia? Carolina?
Paty? Paula? Norimar?
Forrozeira? Patricinha?
Fazendeira? Professora?
Saideira? Saidinha?
Saradinha? Salvadora?
Eu não me lembro direito
Do nick que o nome usava,
Do nick que o nome tinha,
De como se apresentava...
Sei que era maior que o nome
Que no nick se ocultava:
O nome sentia a fome
E o nick se alimentava,
O nome queria ver
Mas era o nick que olhava,
O nick sentia o cheiro
Sempre que o nome cheirava,
Porque o nome adormecia
Sempre que o nick acordava,
Como quando nasce o dia
Assim que a noite se acaba.
O nome que usava o nick
Por certo se aproveitava
De tudo que o nick era,
Das coisas que o nick usava,
O nome que usava o nick
No nick se transformava.
Agora o nome era o nome
Do nick que o nome usava.


2. Das coisas que o nick dizia


Enquanto teclava
Contava:
Era loura, era alta, era posuda,
Sozinha por opção,
Tinha uma boca carnuda,
E uns olhos claros,
Tinha cabelos longos e cacheados,
E alguns desenhos estranhos pintados
Nas unhas da mão...
Ou talvez tenha dito:
Morena,
Com quase um metro e oitenta,
Dançarina,
Extrovertida...
Cabelos longos e lisos,
Namoradeira demais,
Levada feito pimenta,
Moleca feito menina,
E outras vezes atrevida,
Muitas vezes sem juizo,
Mas sempre com muito gás...
Tinha vinte ou qualquer coisa parecida,
Fazia curso pré-vestibular,
Planejou cursar biologia,
Namorou a engenharia,
Ela só não pensava em se casar...
Falava inglês,
Algumas coisas em russo,
Outras tantas palavras em alemão...
Conheceu a Patagônia,
Já fez planos de viajar pra Cisjordania,
Conhecer a Amazônia,
E dançar reggae ao sol do Maranhão...
Ou talvez tenha dito: quase trinta...
Ou mesmo quase quarenta?
Pantera sedutora que se pinta...
Loba devoradora piruenta...
Extravagante
Muito caprichosa
Sofisticada
Farta de perfumes
E ouros espalhados pela mão...
Exuberante
Ar de poderosa
E desejada
Por nicks e nomes
De homens...
Ela era assim: total satisfação...
E enquanto teclava,
Contava:
Dinheiro tinha, mas nem precisava...
Amores muitos, mas não se detinha...
Fazia só as coisas que gostava...
E tudo quanto ela queria, tinha...
Maliciosa sempre que teclava,
Era desajuizada, irreverente...
Às vezes não dizia... insinuava...
E sempre assim... convidativamente...
E me dizia
Que não gostava de poesia
Não escutava samba e nem pagode,
Preferia os homens altos, tipos Lord...
E quase se derretia
Por outros fortes, louros, de bigode...
Era capaz de fazer quase tudo
Mesmo que fosse só por quase nada...
Entrava nos canais mais absurdos...
Adorava teclar de madrugada...
Usava sempre o mesmo sexy nick,
Mas muitas vezes criava algum na hora...
Mantinha sempre a coerência e o pique...
Não conhecia a hora de ir embora...
Carla? Cristal? Cristininha?
Carismática? Coroa?
Popozuda? Tchutchuquinha?
Delicinha de Pessoa?
Delicada? Sapequinha?
Moça linda e muito boa ?
Era Soraya? Sereia?
Era Serena? Era Liz?
Deusa Maia? Lua Cheia?
Escorpiana feliz?
Era Sagitariana?
Virginiana indecisa?
Aline? Lana? Luana?
Fogo? Brasa? Vento? Brisa?
Era Loura gostosinha?
Toda pura? Toda boa?
Toda sua? To facinha?
To sozinha? To à toa?
Pepita? Dita? Paquita?
Nikita? Rabo de Saia?
Silvana? Sarita? Rita?
Catita? Rata de Praia?
Psicóloga? Miudinha?
Fisiogatinha? Pantera?
Encantada? Malukinha?
Megera? A Bela da Fera?
O nick dela qual era?
Gostava de praia.
De vodcka.
De misturar champagne com coca-cola...
Ela era pura ousadia...
E enquanto ela teclava me dizia:
Fumava muito...
(Ou detestava o cheiro do cigarro?)
As vezes me dava assunto...
Outras vezes só queria tirar sarro...
Dizia, quase abusada,
Que era atrevida, atirada,
Desaforada, sacana...
Às vezes escancarada...
As vezes muito mais do que escrachada...
Outras, a Gata Dengosa da semana...
Não se apegava aos gatos que atraia...
Gostava de seduzir, e se gabava
De conquistar os homens que queria
E de curtir quando ela os desprezava...
Não se envolvia jamais quando teclava.
Jurava que ali no chat não mentia.
Mas ela também não acreditava
Em nenhuma palavra do que lia.
E o que dizia, enquanto chatiava,
Era somente a coisa que sentia.
Não percebia e nem se incomodava
Quando ela magoava ou ofendia.
Quando ela seduzia e desprezava,
Quando ela machucava. E garantia
Que nem ligava
Se alguém sofria
Com a displicência com que ela magoava...
E enquanto, distraída, ela teclava,
Ela dizia
Que ela era assim:
Absoluta,
Única,
Exuberante,
Quase encantadora,
Incompreensível,
Misteriosa,
Bela,
O equilíbrio entre a boa
E a pecadora...
Pantera,
Fera,
Mulher sedutora,
Cheia de dengo e malicia e muita manha...
Potranca,
Lânguida,
Avassaladora,
E a voz feito a de um aço quando arranha...
E enquanto teclava,
Contava...
E enquanto contava
Jurava que não mentia...
Pena que ela não gostava
De poesia...

3. Das coisas que o nick era

I
Era silencio. As luzes apagadas.
Somente a tela do PC acesa...
Um gosto de sereno nas calçadas...
Biscoito e café frio sobre a mesa.

Ana Maria, só, ali, teclava...
Reinventava os tristes dias seus...
Fugia da vidinha que levava...
Brincava, na telinha, que era Deus...

Faria dezessete em fevereiro...
Ela trazia desde o nascimento
Alguma coisa ruim que ela escondia...

Brincava de estar bem o tempo inteiro.
Fazendo desfazer seu sofrimento
E a dor que devorava Ana Maria...

II
Faria dezessete em fevereiro...
Trazia um coração descompensado...
Que quase era maior que o peito inteiro...
Seu caso era bastante complicado.

Fariam dezessete essa menina
E a bala de oxigênio do seu lado...
E os comprimidos de Digoxina...
E o coração tão grande e delicado...

E a longa espera, quase que absurda,
Da cura que não vinha, e tão sonhada,
Da dor que parecia não ter fim...

E a longa espera, silenciosa e muda,
E a longa espera, tímida e calada
É que fazia Ana Maria assim:

III
Brincando de inventar felicidades...
Criando as suas próprias fantasias...
Podendo refazer facilidades
Que a vida seqüestrava dos seus dias...

Fugindo de encarar realidades...
Tentando a contramão das corredeiras...
Tomando um banho de banalidades...
E se fartando em suas brincadeiras...

Ana Maria, lúcida, lutava,
Sobrevivia a si, quando teclava,
E assim dessa maneira, resistia...

Ana Maria, em sua dor imensa,
Seguia, leve, em meio à noite densa,
Sem perceber a dor que a consumia...

4. Do nick que o nome usava...

Não era Carol, Carina,
Carolina, Cora, Cris,
Nem Kalu, nem Kelly, Keila,
Nem Luisa, nem Lais,
Nem Boazuda, Boazinha,
Mariinha, Marilu,
Nem era Kátia, nem Candy,
Nem Corina, nem Caru,
Não era Mara, Mariana,
Nem Camila, nem Cassinha,
Eu quase posso lembrar-me do nome que o nick tinha...
Era pequeno,
Suave,
Era feito assoviar uma canção,
Tinha um brilho delicado,
Um bom-bocado
Todo feito de pedaços variados de emoção...
Era todo suavezinho,
Feito o voz de passarinho...
Feito rastros de paixão...
Era silencio,
Barulho,
Pecado,
Absolvição...
O nome que o nick usava
(Porque o nick precisava
De um nome enquanto teclava)
Era apenas
Nada mais que
Coração...
Amigos

Amigos:
Há os que chegam
Enquanto outros se vão.
Há os que sim, porque sempre...
E há os que às vezes não...
Amigos que permanecem
E outros, feito apagão,
Que as vezes desaparecem
Sem razão...
Amigos que ficam junto...
Amigos que vão embora...
Amigos que falam muito...
Amigos por quem se chora...
Amigos que a gente espera...
Amigos com quem se conta...
Amigos que até parecem de outra esfera...
Amigos de faz-de-conta...
Amigos pra todo dia...
Amigos pra toda vez...
Amigos por mais perfeita companhia...
Alguns que valem por três...
Amigos que morrem cedo...
Amigos que nunca vem...
Amigos que não tem medo...
Amigos que não tem bem...
Amigos de toda hora...
Amigos de qualquer jeito...
Amigos que a gente adora...
Amigos que a gente traz dentro do peito...
Alguns que a gente pensa que conhece...
Outros que a gente nem tanto...
Amigos de quem a gente até se esquece
Vez em quando...
Amigos que a gente lembra todo dia...
Alguns feito pedrinhas no sapato...
Alguns total harmonia...
Outros feito cão e gato...
Amigos que a gente cria com vontade
E mantém sempre do lado...
Alguns outros granjeados com a iniqüidade
E com o pecado...
Amigos de toda sorte...
Amigos de toda dor...
Amigos de todo porte
E toda cor...
Amigos contaminados...
Amigos com depressão...
Amigos abandonados...
Amigos sem coração...
Alguns amigos sem nome...
Alguns amigos sem lar...
Alguns amigos com fome
Outros a se empanturrar...
Amigos...
Há os de quase todo dia...
Há os amigos só de vez em quando...
Há os que são gostosa companhia...
Há os que vivem chorando...
Há os que não trazem nada...
Há os que fazem demais...
Há os que vivem seus Contos de Fada...
Há os que nunca tem paz...
Amigos...
Às vezes é impossível compreende-los...
E outras, impossível viver sem...
Não há uma receita de obte-los...
Por que os amamos? Não se sabe bem...
Às vezes começamos a perde-los
De um jeito complicado de explicar
Como se fosse a queda dos cabelos
Que a gente não consegue controlar...
Às vezes somos nós que os dispensamos
Como quem olha e finge não olhar,
E um dia, quando já nos afastamos,
Tentamos recuperar...
Amigos...
Único junto, mesmo quando só...
Único vôo, mesmo quando chão...
Único enorme, mesmo quando pó...
Único sim, ainda quando não...
O único que fica quando acaba...
O único que vai sem ir embora...
O único que cai e não desaba...
O único que dói quando ele chora...
O único que rima com carinhos...
O único que espanta a solidão...
Caminho que são todos os caminhos...
Única contra-mão que é sempre mão...
Ao mesmo tempo pai e mãe e filho,
Mulher, artista preferido, luz,
Poema, musica, desejo, brilho,
Canto suave, bossa nove, blues...
Estrada, oásis, alicerce, trilho,
Dedicação, passada de avestruz,
Repetitivo, feito um estribilho,
Maravilhoso, feito olhos azuis,
Contagiante, feito catapora,
Que salta aos olhos, feito ver o mar,
Absoluto, feito a onda sonora,
E tão incompreensível quanto amar...
Amigos...
A minha pílula de alma lavada...
Com quem sempre contei na minha dor...
Varinha de condão da minha fada...
A quem sempre confio o meu amor...
Por quem me descontrolo quando a vida
Afasta-os, vez em quando, dos meus dias.
Como se fosse um beco sem saída...
Como um poeta sem fazer poesias...
Amigos...
De quem eu recebi tanto carinho...
Por quem eu derramei tanto suor...
A quem me entrego sempre e de mansinho...
Pra quem eu fiz canções em tom maior...
Com quem caminho sempre quando ando...
Com quem divido sempre a minha cruz...
De quem sinto saudades, vez em quando...
Aonde eu guardo e bebo a minha luz...
Amigos...
Se é impossível compreende-los, ame-os...
Quer evitar perde-los? Deixa-os ir...
É tão difícil esquece-los? Chame-os...
Se é bom tê-los por perto, deixa-os vir:
Bonitos, feios, magros, altos, mancos,
Ripongas, mauricinhos, dançarinos,
Mulatos, negros, amarelos, brancos,
E as meninas, e os meninos,
Amigos de Arraial, de Conceição,
Itaperuna, Manhuaçu, Linhares,
Peró, Sossego, Barra de São João,
E de Ipatinga, e de Valadares...
E tricolores, e Vascaínos,
Botafoguenses e flamenguistas,
Eu só não tenho amigos argentinos
E nem amigos nazistas...
Eu sempre precisei dos meus amigos
Do modo, exatamente, como são...
Azedos, incoerentes, agressivos...
Às vezes inconvenientes, outras não...
Às vezes descuidados, esquecidos,
Por vezes abusivos, abusados...
Às vezes silenciosos, retraídos,
Por vezes atrevidos, muito ousados...
Às vezes cheios de não me toques...
Às vezes cheios de disse-me-disse...
Às vezes permanentes como inox...
Às vezes passageiros como giz...
Às vezes como as frases de Quintana,
A musica do Chico, a mão do Tom,
Amigos como o mar, Copacabana,
Domingo à tarde, praia do Leblon...
Amigos...
Razão maior da minha vida inteira...
Verso que mais me agrada de escrever...
Letra que eu vou cantando de primeira...
Única dor que eu sofro sem sofrer...
Única cor que são todas as cores...
Único som que são todos num só...
Amor acima desses quaseamores...
O único menor que é bem maior...
A única coisa que fica
Depois que a festa se acaba...
O que não se justifica
Nem se explica...
Programa que nunca trava...
Amigos...
Tive, tenho, terei, procuro, quero,
Gosto, faço por ter, preciso, tento,
Divido, evito perder, por isso espero,
E é bom cada vez que eu experimento...
Amigos...
Milhares, mas que nunca se copiam...
Delicias, cada um com seu sabor...
Completos, mas mesmo quando esvaziam
Não perdem seu perfume ou sua cor...
Por isso
Os meus amigos
São mais parte de mim do que sou eu
Porque sem eles sou pela metade...
A Roma que não tem seu Coliseu,
Igreja da Matriz que não tem padre...
Hidrante seco, caneta sem tinta,
Verso sem rima, ritmo sem som,
Garrincha driblando sem finta,
A Broadway sem letreiros de néon...
Amigos...
Que me perdoem os auto-suficientes
E os que não precisam de ninguém,
E os que se amam demais, não são carentes,
E os que se tratam sempre muito bem,
Que me perdoem os mais coerentes
Mas a felicidade que eu procuro
Além do muro enorme que me cerca,
Minha felicidade de além-muro
Está no outro que me completa:
E cada amigo é a pessoa certa
De que eu preciso pra ser feliz...
Que me perdoem os bem resolvidos
E os que só vivem pros seus umbigos:
Eu gosto mesmo é dos meus Amigos...
As Fomes

Ele tinha fome de boca, fome de mão...
Ela, só fome de coração...
Ele tinha fome de pele, de caricia...
Ela, de ser tratada com delicia...
Ele, de perna, joelho, tornozelo...
Ela, de ser cuidada com desvelo...
Ele era a fome da voz a sussurrar...
Ela, a da delicadeza de um olhar...
Ele era a fome de um lençol de linho...
Ela, a de ser tratada com carinho...
Mas, como suas fomes muito diferentes,
Parecessem, porque fomes, muito iguais,
Eles se deram, com fome, um ao outro,
E se entregaram,
Como se dão, uns aos outros, os casais...
E enquanto ele se contentava
Ela tentava...
Ele gostava, sorria...
Ela arriscava ver se descobria...
Ele se deliciava, se fartava de euforia,
Ela buscava obter o que queria...
Às vezes ela até acreditava...
Às vezes ele quase convencia...
E enquanto ela procurava,
Se dava, se oferecia,
Ele, sozinho, se alimentava
Da fome que ela sentia...
Ate que um dia
As suas fomes mostraram-se evidentes:
A dele, fome de dentes,
A dela, fome de sentir saudades...
A dele, fome de beijos ardentes,
A dela fome de infantilidades...
A dele, a fome do corpo quente,
A dela, a fome de companhia...
A dele, a fome de um aguardente...
A dela, fome de poesia...
Eram fomes diferentes:
Céu e chão,
Pecadores e inocentes,
Sim e não,
Meia noite,
Meio dia,
Até que um dia, desses tao normais,
Eles se compreenderam desiguais...
E desde então, nunca mais
Quando ele pele, ela vida,
Ele mordida, ela olhar.
Ele era fora, ela, dentro...
Ele o momento, ela mais...
Ele era o gás, ela a luz,
Porque ele era a fome fugaz,
E ela, a fome que o verso não traduz...
O Nome do Anjo

O nome do Anjo é Anjo...
Parece imaginação...
Às vezes se chama sonho...
Outras vezes ilusão...
O nome do Anjo é doce
É feito beijo na mão...
Suave feito sereno...
Macio feito algodão...
Às vezes se chama Alberto...
Outras vezes Sebastião...
Às vezes é bem discreto
Não se chama nada não...
As vezes tem nome leve
De gente que já partiu...
Meu avo (quanta saudade),
Meu irmão, meu pai, meu tio...
Tem vezes que é Severino...
Outras vezes que é Maria...
Umas é só um menino...
Outras é só poesia...
Às vezes protege o sono
Nas noites de trovoada...
O nome do Anjo é como
O colo da Mãe amada...
Ja foi a voz delicada,
De me tratar com ternura...
Tua face , iluminada...
Uma doce criatura...
Já foi um verso que eu disse...
Alguma canção que eu fiz...
O nome já foi Alice...
Já deve ter sido Elis ...
Às vezes é pequenino
Mas lindo...Feito uma idéia ...
E traz o sabor do néctar
Do doce da geléia...
Às vezes surge do nada
Fazendo o tempo virar:
Alto mar em terra firme
Da gente não se afogar...
O nome do Anjo é lindo...
Às vezes vira canção...
Às vezes vira poema...
Só não vira solidão...
O nome do anjo é doce...
O doce do Anjo é mel...
O mel é como se fosse
Fabricado lá no céu...
O nome do Anjo é Anjo...
É tão bom quando ele vem...
Felizes os que tem Anjos...
Porque é dos Anjos que vem
O doce que causa o doce,
A cor que dá cor à vida
E o bem que só causa o bem...

23.2.02

Semelhanças

Escrevo como quem canta...
Eu canto como quem ora...
Eu oro como quem sonha...
Eu sonho como quem chora...
Eu choro como quem pensa...
Eu penso como quem doa...
Eu dôo como quem beija...
Eu beijo como quem voa...
Eu vôo como quem sente...
Eu sinto como quem chama...
Eu chamo como quem mente...
Eu minto como quem ama...
Eu amo como quem tarda...
Eu tardo como quem cala...
Eu calo como quem guarda...
Eu guardo como quem fala...
Eu falo como quem canta...
Eu canto como quem diz...
Eu digo como quem vive...
E eu vivo, assim, mais feliz...