13.11.06

A Feira de Livros de Porto Alegre

A Poesia passeando pela Feira,
Lendo poemas, por distração,
Colhendo um livro na prateleira,
Folheando um outro, sobre o balcão...

Suavemente passeadeira
A Poesia, pelo Calçadão,
Como se fosse um verso de Bandeira
Ou Vinicius dedilhando um violão...

A Feira de Livros de Porto Alegre
Desatenta, não percebe
A Poesia visitando a Exposição...

A delicada Poesia que passeia
Maravilhosa, como a Lua Cheia,
Vertendo versos do coração...

3.11.06

Imortalidade

Os que partiram desta vida e, com saudade,
Deixaram os seus queridos nesta vida,
E caminharam para a eternidade
Apos essa aparente despedida,

E assim seguindo para outra realidade,
Transformando-se em recordacao querida,
Ao experimentarem a imortalidade
Nessa jornada sem volta e sem saida

Vivem agora alem do pensamento
E seguem, caminhando vida adentro,
Filhos da Grande Lei que nos governa...

E permanecem, para alem, vivendo,
E de algum modo compreendem que morrendo
E que se vive para a vida eterna...

31.10.06

Soneto para Mariana

Ela é Mariana, a que não é Marina,
(Quem confundiu Marina com Mariana?)
Tão bela assim, quem ve logo imagina
Que ela é carioca... Mas é paulistana...

Ela é Mariana. Vive Medicina.
Nem sabe mais o que é fim de semana.
Sorriso calmo, aparencia fina,
E quase loura... Mas isso é filigrana...

Mariana, a que parece uma menina,
O mesmo nome ela tem da minha prima,
A mesma delicadeza da minha mana...

Ela é Mariana, a transbordar rima
Com a sutileza da ocitocina
E a perfeição dos versos de Quintana...

17.10.06

O menino
(Para Alberto Santos Dumont)

_O homem voa?
_Voa...
_Voa nada...
O homem foi feito pra caminhada,
Pisar a terra,
Passear no chão.
Voar é próprio pra passarada,
Voar é coisa pro gavião...
Dizer que o homem voa é coisa errada,
Coisa completamente sem noção.

_O homem voa?
_Voa...
_Que tolice...
Quem foi que disse
Que o homem é de voar?
Se não tem asas, mas pés de andar na terra,
Como é que poderia, ele, alcançar
As nuvens distraídas sobre a serra
E os pássaros que passeiam sobre o mar?
Por não ter duas asas
Mas duas pernas,
Tudo que o homem sabe
E pode é andar.

_ O homem voa?
_Voa..
_Voa não....
Só nas histórias da imaginação,
Só nos delírios da fantasia,
Porque sem asas, com que condição?
Porque sem elas, como poderia?
Voar é coisa de contos de ficção,
Palavra criada pra escrever poesia,
Por isso quem tentou, tentou em vão
Por isso é que ninguém conseguiria...

_ O homem voa?
_Voa...
E o menino não percebia,
Mas enquanto ele respondia, decolava,
Possivelmente porque enquanto respondia
Trazia um coração que volitava
Levando o menino, que por isso já sabia
Desde quando ninguém ainda sonhava....
O coração do menino era o seu guia
E o menino ia para onde o coração levava..
“O homem voa?” E o menino respondia
“Voa” à pergunta que o professor perguntava.
Não era ali o menino o que aprendia
Posto que era o menino o que ensinava.

_O homem voa?
_Voa
Naquela hora
Daquele dia
Já desde ali o homem então voava...
Irresistivel
(Para minha amiga Val)

Ah,
Eu seria capaz,
Como seria,
De fazer versos sem rima
Tentando fazer poesia,
De ir a China
Atrás de uma guria,
De assoviar
E ao mesmo tempo
Chupar cana,
Mas acredite:
Absolutamente incapaz
De resistir
A um verso de Quintana...
Seria capaz de cantar
Musica chilena,
Musica gauchesca,
Mil balalaikas,
Musica cubana...
De ir acampar no Alasca,
De passar o mes sem grana,
Seria capaz,
Eu juro
De beber chimarrão puro
(ai que drama)
Mas
Jamais
De resistir
A um verso de Quintana...
Seria sim
Capaz
De falar de amamentação
E me esquecer
De como é
Que um bebe mama...
Seria capaz
De dar plantão
Em fim de semana,
De matar aula
E achar isso bacana,
De beber uma Skol
E achar que bebi uma Brahma...
Mas quem te disse
Que eu resisto
A um verso
De Quintana?

14.10.06

O poema que havia aqui...

Quando um poema é mal dedicado
E o seu destinatário o desmerece inteiro,
E o que era doce torna-se salgado
E o que era aromático, sem cheiro,

E se o que foi carinhosamente preparado
Como se fosse um exótico tempero
Torna-se azedo, destemperado
E de aspecto ruim, feito um atoleiro,

Então é necessário ao poema errado
Mais que imediatamente ser trocado
Como quem troca de cela um prisioneiro,

E enquanto um novo poema é rabiscado,
Verso nenhum é melhor que um mal versado
Até que um verso novo e um novo herdeiro...

13.10.06

A Minha Amiga Perfeita
(Para Carla Brasil)

Perfeita minha amiga
Que me encanta.
Cada vez que penso nela
É como se ela estivesse do meu lado.
Perfeita minha amiga
Que amo muito
E por quem estarei
Sempre encantado.

20.9.06

A técnica e a técnica
Durante as 1001 atracoes do IX ENAM tive o prazer inominado de conhecer e conversar com Fernanda Sa, Enfermeira e Fotografa do Aleitamento que tem a capacidade impar de colher emocoes em sua maquina.Fiquei de escrever um poema para algumas de suas fotos, mas de forma diferente do que mira e clica, o que pensa e escreve acaba frente a frente com um texto que nao planejara...Esta e uma homenagem a Fernanda Sa, tecnica, e a sua tecnica fotografica e a seu poder de nos encantar...:)

A perfeição da técnica fotográfica
Sob a visão da técnica obstétrica.
A Enfermeira por trás da maquina,
A sensibilidade muito mais que a técnica...

A técnica apurada como tática,
Como se a foto tivesse rima e métrica,
E a Enfermeira, cuja foto matemática
Revela-se belíssima e poética...

A Enfermeira e a fotografia,
Ciência amamentada com poesia
Materializando técnica e paixão...

A técnica fotográfica apurada,
A Enfermeira, técnica iluminada,
E esse soneto por contemplação...

14.8.06

O médico em Pessoa

O médico é um escritor:
Escreve tão diariamente
Que chega a sentir-se autor
Da história de seu cliente...
O tempo

Deixa que o tempo resolve tudo,
Qualquer dilema, qualquer equação...
O tempo, é sempre ele o grande escudo
A grande arma do coração...

10.8.06

As mãos abertas
Para os amigos Gabriela e Mário...

Mãos que atravessam a vida se entregando,
E se doando, E se oferecendo,
Sem se importar com o como, o onde, o quando,
Ou se o que entregam é o que vão perdendo...

Mãos sempre abertas, nunca se fechando,
E assim, abertas, sempre crescendo,
E quanto maiores, mais vão se dando,
Alheias ao que alguns outros vão dizendo...

Mãos sempre abertas porque não tem medo
De darem-se inteiramente e desde cedo,
Por não saberem outra felicidade...

Que Deus as permaneça sempre assim
Nessa semeadura que é sem fim
E as abençoe por toda a eternidade...

21.7.06

A Generosa Mãe

A rima rica, ostentadora rima,
É como a rima pobre e maltrapilha
Tem do poeta a mesma grande estima
Assim como é o amor de pai pra filha.

E, sendo assim, tanto faz clima com lima,
Ou, de outra forma, Emilia com matilha,
A rima é sempre superior, pra cima,
E imprevisivel, como uma armadilha...

E tanto faz se ela é rica, ostentadora,
Ou pobre a rima, moça sonhadora,
Nascida nas elites ou no gueto,

A rima é feito o fio da meada,
É o que da vida à palavra dada,
Mãe generosa pra qualquer soneto...
Orkutiana

Eu sempre adiciono quem conheço
Quem não conheço, também, de vez em quando
E embora tudo na vida tenha um preço
Não cobro nada para ir adicionando...

E assim eu adiciono. É um bom começo
O resto é só depois que vai brotando.
É como a vida: começa pelo berço
E o tempo ensina a seguir engatinhando.

Por isso mesmo eu sempre adiciono
Quem não quer ser maior nem mais nem dono
Quem fala a língua da simplicidade.

Eu sempre adiciono assim, então:
Sinceridade, a única condição.
Eu planto aqui sementes de amizade

20.7.06

Amigo

Amigo. Sempre bom te-lo por perto,
Como uma escora, como uma canoa,
Como uma concha dágua no deserto,
Como um pedaço bom da fruta boa,

Amigo. Sempre um reforço certo
Nunca é qualquer coisinha ou coisa à toa...
Suavidade feita de concreto,
É um bem estar pra qualquer pessoa...

Amigo. É sempre bom traze-lo junto
De cada dia, foto, verso, mail, assunto,
De cada hora ruim de despedida...

Amigo. A endorfina para a dor do corte,
A vida que resiste além da morte,
Delicadeza para toda vida...

14.7.06

Cantando...

Eu já não tenho mais meu coração,
Perdi-o para sempre para a eternidade.
No lugar dele, um corte, um arranhão,
E alguns sinais profundos de amizade...

Ja tive um dia. Tenho mais não.
No lugar dele, a saudade,
As marcas de gratidão e ingratidão,
E uns restos de boa e má vontade...

Já tive um dia. Perdi. Não tenho mais.
Meu coração preferiu deixar-me em paz
E o que guardei pra mim já não doi tanto...

Hoje, em silencio, da minha escotilha,
Caminho pelos versos de Cecilia:
Não sou alegre. Não sou triste. Sou poeta. Eu canto.

5.7.06

A felicidade

A felicidade
É um bem interessante...
Não custa nada,
Custa chegar,
E quando chega,
Rio transbordante,
É como um rio
Que parece
Um mar...

16.6.06

Minha melhor amiga
(para Carla Cristina Bauermann Brasil)

Minha melhor amiga
É como um pássaro...
Escapa da montanhas
Do caminho
Voando um voo alto
E delicado
Como se fosse um anjo...
Um passarinho...

7.6.06

A Madrugada

Naco do tempo onde tudo é pertmitido,
Sentença onde qualquer delito é perdoado,
Alivio pra todo amor desiludido,
Descanso pra todo mal inconformado,

Peça de pano pra qualquer vestido,
Tecido próprio pra qualquer bordado,
Lápis de cor pra qualquer colorido,
Agua de rio pra qualquer pescado,

A madrugada. Mãe de toda tribo.
Negociação sem recibo.
A indulgencia pra todo pecado.

A madrugada. Teor não traduzido
Onde todo significado faz sentido,
Onde qualquer sentido é relevado...
Maus lençóis

A poesia às vezes sai de perto
Tornando-se inalcançável, a poesia...
Como uma gota d' água no deserto,
Como uma serpentina na folia...

Afasta-se sem dar obediencia
E some como num passe de magia
Deixando um vazio, uma ausencia,
Uma palavra em que ninguém confia...

E assim comporta-se a poesia, às vezes...
E esse sumiço pode durar meses
Ou alguns dias ou toda a eternidade...

A poesia às vezes evapora
Como um brilhante jogado fora
Deixando o poeta em dificuldade...

1.6.06

A morte

Às vezes cruel como o corte de uma espada,
Às vezes lenta, feito uma goteira,
Às vezes matematicamente calculada,
Às vezes subita, como a ratoeira,

Às vezes como coisa inadequada,
Às vezes como a carta derradeira,
Às vezes como a dor da punhalada,
Às vezes como a graça da roseira,

A morte... Quase sempre inesperada,
Como um buraco na estrada,
A polpa podre no melhor da pera...

A morte. Sempre a unica culpada...
Visita assustadora e indesejada...
Mas não podia ser de outra maneira...
A porta

Por esta, frio, insegurança, medo,
Por esta outra, flagelação...
Passando aquela, um ingreme rochedo
Como a gritar-me um estrondoso não...

Aquela ali, facil como um brinquedo...
Aquela outra, como um arranhão...
Por uma, angustia, solidão, degredo,
Por outra, noite, cor de carvão...

A porta. Às vezes escancarada.
A porta. Às vezes muito bem trancada
Limitando os espaços da minha vida...

A porta. A carta certa embaralhada,
Como uma senha codificada...
Apenas uma porta de saida.

21.5.06

A rima

A rima é o piercing no umbiguinho na palavra,
É o brinco de ouro na orelhinha da Princesa,
É a outra voz dentro da mesma oitava,
Não é o Pato com laranja. É a sobremesa.

É a ponte entre Itaipu e Itaipava,
É o que dá vida ao verso, e ligeireza,
E outra profundidade à poça rasa,
E empresta à podridão delicadeza...

A rima é a gota exata do tempero,
É o Redentor pro Rio de Janeiro,
É Dorival Caymmi pra Bahia...

É como o drible de Garrincha, a rima,
Não é o Mapa do Tesouro. É a Mina...
A rima é a sístole da poesia.

19.5.06

Requiém para Izabel

Adeus, amiga minha,
Passarinha...
És livre agora...
Nada te prende...
Saudade muita...
E se há também tristeza
É porque há coisas que o coração
Não compreende...

17.5.06

Minha amiga Izabel foi morar com Deus

De pele clara como um nevoeiro,
De voz suave como uma balada,
De pensamento ligeiro
E deliciosa risada,

Tijucana do Rio de Janeiro
Sempre discreta, lucida e delicada,
Parecia pertencer ao mundo inteiro
Aquela minha amiga mais amada...

Um dia a minha amiga, pele clara,
Discreta, delicada, suave, rara,
Seguiu viagem... Foi morar no Céu...

"Eu te amo para sempre", amiga pura,
Mistura de saudade com ternura...
Fica com Deus, Izabel...
A Companheira

Às vezes a poesia, companheira,
Permanece em silencio do meu lado
Como se fosse, umas vezes, minha esteira,
Como se fosse, outras vezes, meu estrado.

Calada e ao mesmo tempo faladeira,
Fonte sem fim do meu palavreado,
A poesia, incansável conselheira,
Minha Arca do Tesouro sem cadeado...

Que outro amigo ama assim dessa maneira,
O tempo inteiro, pela vida inteira,
Integralmente e o tempo inteiro dado?

A poesia, amiga verdadeira
Como uma Guarda Costeira
Por quem eu vou, pra sempre, acompanhado...

11.5.06

A poesia

A poesia volta, vez em quando,
Discretamente, a me provocar,
Como um zumbido, um pingo de chuva,
Uma goteira a pingar,

Discretamente, vez em quando, volta,
Como quem sente medo de acabar,
E faz um verso desses, sem motivo,
E em tudo ve um motivo de rimar...

E volta sempre, a mesma poesia
Como a manhã que volta a cada dia,
Como um pedaço de cachoeira.

Que volte sempre então. Que sempre venha
Imponderável, como é a ordenha,
Eterna, ainda que apenas passageira...

9.5.06

Batucadeira

Às vezes a poesia, brincalhona,
Brincando de fazer versos sem sentido,
Busca palavras como prednisolona
Só para agradar nosso ouvido,

E rima Chico Buarque com Madonna,
Ou, sem razão, rajada com rugido...
E ri, como quem curte da poltrona
Da sala o seu seriado preferido...

Esmera-se, essas vezes, em ser nada
Similando o ziriguidum da batucada
Que agrada mas não tem significação...

A poesia por pura brincadeira,
Batucada de ritmos passageira
Sem dolo, sem disfarce e sem perdão...

8.5.06

A poesia errada...

Às vezes a poesia, estabanada,
E absolutamente sem cuidado,
Desenha a rima errada, a letra errada,
O verso errado, o soneto errado...

Talvez por se sentir imunizada,
Rima sem dolo, ritmo sem pecado,
Palavra livre, forma liberada,
Sem culpa por seu verso mais ousado...

A poesia, às vezes, sem limites,
Como quem não precisa de convites,
Diz o que quer, sem perceber se agrada...

E segue, imune, a poesia, a tudo,
Usando o proprio verso como escudo,
E a rima como marca imaculada...

3.5.06

A disfarçada

Às vezes a poesia, disfarçada,
Dissimulada, vem me visitar...
E vem assim, como uma convidada
Que não precisa de convite para entrar...

E sem convite, a poesia, dada,
Como se fosse a dona do lugar,
Segura a minha mão encabulada
Fazendo o verso da mão escorregar...

Às vezes a poesia, de mansinho,
Como quem faz um carinho,
Enrosca-se na folha de papel

E deita, e dorme a poesia, assim,
Que disfarçada, às vezes chega a mim
Como uma gota de mel...
A Governanta...

Às vezes a poesia me alimenta
Como se fosse fonte de energia...
Palavra integra que me sustenta
E me faz companhia...

E me resguarda do mal que tenta
Asfixiar-me em espasmos de agonia...
Às vezes a poesia me orienta
Imunizando-me dessa asfixia...

Às vezes a poesia, barulhenta,
Incomodada, não se contenta
Em ser somente letra muda e fria...

Escapa da palavra e me acalenta
E cuida, como governanta atenta,
Da minha vida inteira, a poesia...

2.5.06

Lucidez

Às vezes a poesia, letra lúcida,
Vem de onde eu não sei onde me acudir.
Conhece o que eu não ousaria perceber
Percebe o que eu não imaginaria pressentir

E as coisas todas que eu jamais diria
Nem arriscaria assumir
Pegam carona na poesia e saem
Espalhando coerências por ai...

Às vezes a poesia, letra lírica,
Banha em seu éter a palavra histérica
Tornando doce toda amargura...

A poesia, lúcida e precisa,
Segue alinhando tufão e brisa
E rascunhando a morte com doçura...

24.4.06

Sonetos completamente sem maldade e outros poemas
(título de meu próximo livro)

Sonetos completamente sem maldade,
Palavras absolutamente distraídas,
Frases inteiras sem leviandade
Que quase se dissolvem quando lidas...

Versos de rimas sem complexidade
Matematicamente distribuídas
Como se fossem rios, sem alarde,
Irrigando e mantendo nossas vidas...

Sonetos feito quase de ternuras,
Olhos abertos, mãos puras,
Palavras puras, puro coração...

E outros poemas, igualmente ingênuos,
Às vezes até demais, outras bem menos,
Letras escritas quase nunca em vão...

29.3.06

O verdadeiro bem

De que adianta ao homem ter dinheiro,
Falar dificil, vestir-se bem,
Andar de carro importado o ano inteiro,
Ter sempre mais que o seu vizinho tem,

De que adianta ao homem Faculdade,
Falar Ingles, ir conhecer a Espanha,
Viver a vida sem dificuldade,
Ganhar bem mais que o seu vizinho ganha,

De que adianta colecionar tanto
E um belo dia, pra seu espanto,
Sentir-se mergulhado em solidão?

De que adianta tanto ouro e linho
E um belo dia acordar sozinho
E perceber tão pobre o coração?

24.3.06

O Amor...

Não precisa de olhos pra ver...
Nem usar palavras pra falar...
Nem som nenhum, nem voz para dizer...
Motivo algum para amar...
O Amor...
Porque as vezes, mesmo sem saber,
Sem pretender, mesmo sem planejar,
Ele aparece, pra nos surpreender
Mostrando-nos lições de superar...
O Amor...

6.2.06

Ocaso (II)

Faz tempo a poesia foi-se embora
Deixando sozinho meu coração...
Levou suas rimas, aquela senhora,
A poesia, sem compaixão...

E foi-se como quem não se demora,
Como quem vai ali comprar um pão,
E quando alcança o mundo que há la fora
Segue adiante, quer voltar mais não...

Faz tempo a poesia bateu asas
Tornando meus rios poços de águas rasas,
Tornando quase tudo solidão...

Hoje eu espero um sinal, que ela apareça
Numa tarde qualquer de alguma terça,
Como um adubo alimentando o chão...

22.1.06

Ocaso

Faz algum tempo que eu não faço um verso,
Que eu não escrevo alguma poesia...
Se meu nome fosse sangue, por certo
Eu me chamaria anemia...

Porque faz tempo que eu não consigo
Fazer como até um tempo atrás eu ainda fazia:
Um verso pra cada motivo,
Um motivo qualquer pra cada dia...

Faz tempo que eu já não escrevo nada,
Faz tempo que a poesia vai, calada,
Silenciando meu coração...

Por isso essa palavra improvisada,
Resto de letra, eu creio, inconformada
Por tanto tempo sob essa condição...