29.4.23

Feriadão

Bom dia de começo de feriadão,
Tempo de olhar com calma as coisas pra fazer,
E de sentir as batidas do coração,
E de entender o que elas querem nos dizer:

Vai por ali, não vai por ali não, 
Olha bem por onde você está querendo se meter, 
Silencioso, mas cheio de atenção,
É o coração o tempo inteiro a nos dizer:

Cuidado, avança, recua, ataca, estica,
Por aí de novo não, não se complica, 
O coração, supremo e sábio conselheiro, 

Então é justo que nesse feriado 
A gente possa ter um tempinho lado a lado, 
Mas sempre deixando o coração falar primeiro.

28.4.23

O caminho

Era um caminho que eu não sabia que existia 
Mas que agora não sei mais como escapar 
Tanta coisa mudou e eu não sabia
Como era possível tanta coisa mudar

Conceitos, práticas, e quanto mais eu lia
Mais coisa aparecia pra me mostrar 
Como era grande o mundo e como cabia
Mais coisa do que eu podia imaginar 

Eu hoje sigo aprendendo dia a dia
E cada vez em melhor companhia 
Já sei que não consigo mais voltar 

Navegar é preciso, já dizia 
O poeta em sua justa poesia 
Que nunca para de navegar

22.4.23

Feliz aniversário Juliana

Hoje tem aniversário de Juliana,
Motivo de festa pro nosso coração,
Inaugurando o fim de semana 
Com idade nova. Que presentão.

Eu vi nascer. Como um anjo a paisana.
Cresceu. Ganhou a força de um vulcão. 
Mas leva a poesia de Quintana
Enquanto apronta a revolução. 

É festa no céu. É festa na família. 
Boa menina. Boa mãe e boa filha.
Tem um coração acolhedor essa menina,

Que hoje faz aniversário e comemora.
É festa. E se tem festa ela adora.
Esses anjo bom que é pura adrenalina.

21.4.23

O violão e o cavaquinho

São dois: um violão e um cavaquinho,
Uma duplinha na mesma fina afinação,
Um é grandão, o outro é pequenininho,
Mas é impressionante como se dão,

O som de um é sempre mais fininho, 
O do outro às vezes esbarra num bordão, 
E vão desfilando de um Brasileirinho
A um samba de roda, brincando de samba canção, 

São dois irmãos, quase inseparáveis,
De sonoridades inimitáveis,
Que vivem por aí colorindo as batucadas,

Violão e cavaquinho, companheiros,
Alegrias dos ritmos brasileiros,
A melhor companhia para as nossas madrugadas...

15.4.23

O legado

Para Ana Michelle

Suave e lentamente preparado,
E docemente nos oferecido,
Para ser para o resto das nossas vidas aproveitado, 
Foi desse jeito o legado recebido,

E antes que a dor o tivesse silenciado, 
E a exaustão o tivesse consumido,
Ele foi até o fim, e, após finalizado, 
Chegou a nós sem alarde e sem ruído,

Um legado recebido assim dessa maneira, 
Guarda o sabor de uma vida inteira,
E muda o sentido da vida como a conhecemos,

Porque tem a vida eterna em suas letras,
E agora mora em todos os planetas,
E foi entregue a nós. Aproveitemos.

Sábado de sobreaviso

Sábado. Como se fosse um dia de descanso,
Mas é pra mim um dia como outro qualquer:
Levantar cedo. Ficar preparado.
Um bebê nasce quase sempre sem mandar recado.
Sábado é um dia pro que der e vier.

Pode passar inteirinho como um feriado,
Ou movimentado, como um dia de carnaval:
Cesariana, parto normal, parto humanizado,
Parto prematuro, bebê reanimado,
Parto que evolui bem, parto que evolui mal.

Sábado. E quem diria. Um dia tão discreto, 
Ser capaz de ser um dia intenso assim,
Que vai de zero a cem em dez segundos,
Como se guardasse dentro de si dois mundos,
E não fizesse questão de esconder isso de mim.

Sábado de sobreaviso. Alerta ligado.
Banho tomado. Pronto pro serviço. 
Nunca é igual o mesmo nascimento. 
Cada chamado possui seu encantamento. 
Plantão de sobreaviso é sobre isso.

14.4.23

Coragem

Coragem. É o que a vida quer da gente,
Mesmo que o medo aperte o coração. 
Coragem. Porque é preciso seguir em frente. 
É o que a vida quer da gente. O resto não. 

E mesmo que a ameaça seja evidente,
E o risco seja a única opção,  
Coragem, como se fossemos o Príncipe Valente 
Numa aventura da nossa imaginação,

Vencendo medos, enfrentando espinhos,
Fugindo dos perigos dos caminhos, 
Como quem ignora as tempestades,

Coragem, como a última força que nos sustenta, 
É o modo como a vida nos alimenta 
E como disfarçamos nossas fragilidades.

Treze de Abril

Há 39 anos, na data de hoje,  meu pai partia desta morada para outras esferas
Com o coração cheio de incertezas e inseguranças demorei a entender os limites da vida
Dedico hoje no aniversário de sua partida esse poema

Treze de abril. A hora mais temida.
A despedida. O tempo da saudade. 
Evapora-se a respiração, sopro da vida, 
Ilumina-se a nova condição para a eternidade.

Treze de abril. A vida interrompida,
Como se ainda faltasse mais do que a metade.
_” Que juiz interfere assim numa partida”?
_” Por que se vão tão cedo os homens de boa vontade”?

E, no entanto, a Lei de Deus, absoluta, 
Silenciosamente, em sua escuta,
Foi acalmando meu coração,

Que compreendeu, chamada impermanência, 
Essa lei inquebrantável da ciência,
E desde aquele dia, nunca mais inquietação...

4.4.23

Poesia

Era pra ser só mais uma poesia,
Mas eu não sei no que isso vai se transformar,
A palavra tem vida própria, e não se guia
Pelos caminhos que eu pedir pra ela pousar,

Por isso não sei o final do que eu sabia
Ser um soneto sem destino ao começar,
Palavra tem vida própria e sempre se recria,
Fazendo o soneto sozinho continuar...

E o soneto continua, é terça feira, 
Um belo dia para um soneto, de primeira,
Como num improviso, vir me visitar,

E a mim, que nunca achei que merecia, 
Só me resta conviver com essa alegria:
A de ter um soneto que surge pra me alegrar...

3.4.23

Súplica ao dia

Inunde-se de esperança esse meu dia,
De uma esperança maior do que o desamor,
Capaz de fazer brotar em mim alguma poesia 
Sem medo, sem maldade, sem rancor, 

Então inunde-se de coragem esse meu dia,
Para que eu enfrente meu fantasma interior, 
Que me perturba o tempo inteiro, e me desvia
Com seu poder quase intimidador,

Cerca-me então de boa companhia,
Para me afastar da condição sombria,
Que é para onde seguem os que caminham sós,

Inunde-se meu dia com um amor sem pedir nada,
Como é o perdão, para que a alma toda errada 
Retorne um dia perdoada ao pó.

2.4.23

Suplica ao poema

Afasta-me, poesia, da maldade,
Da que me cerca e da que habita em mim,
Da falta de paciencia e de verdade,
Da mão danosa e má, do tempo ruim,

Do mal-me-quer desata-me, poesia,
Das grandes unhas da solidão,
Das vozes do ócio, da má companhia,
E dessa dor que arranha o coração,

E da mediocridade, e do desprezo,
Afasta-me, poesia, desse peso,
Afasta-me, poesia, dessa treva,

E, para que eu não fique mais sozinho,
Transforma-te, poesia, em meu caminho,
Como se fosses um rio que me leva...