18.12.24

A casa

Era uma casa muito arrumada,
Acolhedora e bem preparada, 
E não havia nela solidão,
Porque alguém sempre estendia a mão,
Ninguém se sentia nela abandonado,
Porque ali era sempre abraçado, 
E nem podia se sentir sozinho, 
Porque a casa era só carinho,
Era uma casa quase encantada,
De tão acolhedora e preparada,
Mas era feita com muito esmero,
A melhor do mundo, pra ser sincero.

Livre adaptação do poema de Vinicius de Moraes, A casa.
A Casa Nicola Albano 

17.12.24

A infecção urinária

O rim de novo, esse órgão persistente,
E uma infecção que insiste em retornar,
Mesmo depois de examinado de trás pra frente, 
Volta mais uma vez para assustar,

Vinte e oito dias em casa, felizmente, 
Mas não foi uma decisão simples de tomar:
Será que isso dá certo? Será imprudente?
Aí um anjinho de Deus soprou: vamos tentar...

E aqui estou. Em casa. Me recuperando. 
Em casa? Quem disse? Já tô trabalhando. 
Mas de um modo calmo, que me permita me cuidar.

Eu sei que daqui pra frente é complicado,
Mas saber disso já me deixa preparado,
Porque o bom marujo não tem medo de mar.

7.12.24

A poesia

Depois de ler o último poema de Rafaella Aquino em @entrelacandovidas

A poesia como corredeira,
A poesia como confissão,
Palavra que escapole do pensamento,
Palavra sem filtro, que vem de dentro
Da fonte que alimenta o coração,

A poesia como testemunho,
A poesia como fatia da vida,
Que se mistura aos acontecimentos,
Como se fosse um dos quatro elementos
A poesia, força destemida...

A poesia como necessidade, 
A poesia como assinatura, 
A poesia como um documentário,
Que mexe com o imaginário,
E que de todas as formas, sem perder a ternura...

1.12.24

Poesia

Para Rafaella Aquino

Eu gosto quando vejo poesia se espalhando,
Porque poesia espalhada faz pensar,
A gente lê poesia, fica imaginando,
Tentando entender o que o poeta quis contar,

E quanto mais a gente vai lendo,  mais vai gostando,
Poesia é assim: adora provocar,
O pensamento não para, vive se agitando,
As rimas tem poder, pode apostar,

Então eu gosto quando poemas vão chegando
As suas letras vão conquistando,
Uma conquista que adora libertar,

Benditos os corações que vão rimando,
E através das suas rimas seguem contando
Histórias de amor que fazem a gente vibrar.





Dezembro

Talvez porque seja dezembro, o pensamento...
Talvez porque seja  dezembro, a compaixão...
Talvez porque seja dezembro, um sentimento 
Que faz bater diferente o coração...

Talvez porque seja dezembro, por um momento, 
Uma saudade que chega meio sem razão, 
Uma fotografia, ou apenas um alimento, 
Uma poesia, ou um pedido de perdão, 

Talvez porque seja dezembro, e só por isso,
É como se soprasse um compromisso 
De olhar em volta, de inspirar repartição, 

Talvez porque seja dezembro, só talvez, 
Apenas porque estamos neste mês,
A gente não segura essa emoção...

13.11.24

A primeira manhã

A primeira manhã sem dosar a glicemia,
Sem medir a temperatura e a pressão, 
É como tirar o gesso e ir pra folia,
Nem sei como descrever essa sensação.

É a primeira manhã, por isso tem poesia, 
Poesia é bom antes do café com pão,
Desperta o coração, e alivia,
Pra mim é meu jeito de meditação.

Eu sei que não é. Mas eu disfarço 
Eu acabo indo pra longe quando eu faço 
Rimar palavras até sem perceber,

Como essas pra primeira manhã livre do soro,
E eu me sentindo forte como um touro,
Feliz por ver o dia amanhecer...

Bom dia

O Doutor Fabiano

O doutor Fabiano pensou direitinho,
E decidiu que eu podia ser liberado:
O antibiótico já estava no finzinho,
E eu sem febre, e bem mais animado.

Vou te dar alta hoje, Luisinho,
Sua casa vai ser melhor pro seu estado.
Vai voltar ao trabalho devagarinho, 
E assim ficar completamente recuperado.

E o doutor Fabiano me liberou, 
A família toda comemorou,
E os amigos também comemoraram,

Finalmente em casa. Que coisa boa.
A casa é como o coração da pessoa. 
E dessa forma esses sonetinhos se encerraram.

Sétimo dia (12 de novembro)

Sétimo dia. Seguro a ansiedade. 
Na vida tudo passa. Nada é permanente. 
Uma semana internado. E a vontade 
De estar em minha casa novamente.

A alta pra hoje é só uma possibilidade. 
Não existe uma decisão exatamente:
Melhor ir pra casa livre da enfermidade 
Que ter de ser internado novamente.

Sétimo dia. Tudo quase pronto. 
Se eu tiver alta eu volto aqui e conto,
Se for só amanhã também tá bom.

Eu vou me divertindo com poesias,
A melhor forma de passar meus dias:
Mario, Bandeira, Vinícius e Drummond...

11.11.24

Sexto dia (11 de novembro)

Sexto dia. Véspera de ir embora. 
Nesses seis dias, como tive que aprender:
A aceitação fazendo parte da melhora,
O coração ficando em paz pra não sofrer.

Sexto dia. Tudo parece bem agora.
O pior já passou. É o que dá pra entender. 
O tempo com dor parece que demora, 
E a ansiedade faz a dor permanecer.

Felizmente amanheceu o sexto dia,
A alta próxima já provoca a poesia 
Pedindo pra sua rima cantarolar,

E a rima, cantarolando, porque a alta está pedindo, 
Sorri, como quem já está se despedindo,
E não faz planos ainda pra voltar...

Quinto dia (10 de novembro)

Pela janela do quarto do hospital 
Dá pra notar o quinto dia começando, 
Em pouco tempo vida normal,
Estou a cada dia melhorando: 

Urina normal, hemograma normal,
O pensamento normal, a fome retornando, 
Acho que só a bactéria é que tá passando mal:
Quis me prejudicar e acabou se prejudicando.

Quinto dia de pausa compulsória, 
Uma experiência que vai ficar pra história:
O cuidador aprendendo a ser cuidado,

Com disciplina, sem reclamar de nada, 
Reconhecendo que não fosse cada furada
Eu certamente não teria melhorado.

Quarto dia (9 de novembro)

Quarto dia. Segue o tratamento. 
Do lado de cá o tempo custa a passar.
O tempo não se atrasa no seu tempo,  
A gente é que costuma se apressar.

Mas é melhor seguir o regulamento:
Cada coisa em sua hora, cada hora em seu lugar. 
Eu tô melhor. Me falta agradecimento 
Pra tanta gente torcendo pra eu melhorar.

Paciência é uma tática soberana:
Corpore sano, mens sana,
Tá tudo bem como era mesmo pra estar,

Obrigado a todos pela torcida, 
Pela melhora, pela alta, pela vida,
Era só um tempinho pra eu poder parar...

Terceiro dia (8 de novembro)

Sai meropenem, entra rocefin, terceiro dia,
E as bactérias vão ficando apavoradas,
Foram mexer logo com quem não devia,
Por isso estão morrendo despedaçadas,

Rocefin na veia, medida da glicemia,
Temperatura, pressão, não precisa de mais nada,
E tem a dieta. Mesmo que chegue fria.
Nada como uma refeição bem preparada.

E assim os dias vão se seguindo, 
As bactérias pouco a pouco vão sumindo, 
E a infecção vai desaparecendo,

Viva os antibióticos e a medicina, 
Capazes de tratar a infecção de urina 
E fazer a gente novamente ir renascendo.

Segundo dia (7 de novembro)

Segundo dia. Sigo internado. 
Ontem uma febrinha apareceu,
Mas nada demais. Não vou ficar chateado.
A doença faz o dela, eu faço o meu.

Até acordei mais animado. 
Comi uma banana que a acompanhante não comeu.
Já caminhei. Agora estou deitado.
Segundo dia. Pena que Trump venceu. 

Mas não há de ser nada. Americanos 
Não podem atrapalhar os nossos planos 
De amor, acolhimento e compaixão.

Sigamos então o que temos planejado:
Um mundo mais gentil e civilizado. 
Ninguém é mais forte que uma multidão.


Bom dia 
🌹

Primeiro dia (6 de novembro)

Primeira manhã da segunda internação,
Já me sentindo mais fortalecido,
É muita gente me dando a mão, 
Tô me sentindo muito agradecido.

Já acordei querendo café com pão, 
Essa era a fome que eu tinha perdido,
Pode chamar de fome de leão,
Juro que não vou ficar aborrecido.

Primeira manhã, e eu já fazendo poesia,
Não sei de onde eu peguei essa mania,
Só sei que é bom sinal, dá pra sentir,

Amanhecer mais forte e mais confiante
É o melhor passo pra seguir adiante,
É a melhor forma de não desistir.

1.11.24

Sexta-feira

Manhã de sexta-feira. Alvissareira. 
Véspera de coisa boa, geralmente. 
A gente espera pela sexta a semana inteira,
Sexta-feira chega, e a gente fica contente. 

Às vezes sem motivo nenhum. Às vezes por besteira. 
Sexta-feira feira causa felicidade na gente. 
Deus pode ter criado o sábado pra descansar, mas sexta-feira 
Deus criou porque era preciso criar um dia diferente, 

Pra quem tá cansado, sexta é como um mergulho,
Pena que não dá pra levar sexta num embrulho,
Nem dentro da maleta indo pro plantão, 

Sexta é pra respirar, feito a alegria, 
Sexta é uma carga extra de energia, 
Sexta é matéria do coração.

31.10.24

Cautela e cuidado

Já em casa. Feliz. Mas cheio de cuidados.
Nada de errado pode acontecer. 
Foram quase dez dias. Bem pesados.
A ordem do dia hoje é: reestabelecer. 

Alimentação e medicamentos, bons aliados.
Alertas ligados. Chega de sofrer. 
Bastante líquido. Alertas ligados. 
Cair também é uma forma de aprender. 

Já em casa. Feliz. E tem até poesia.
Não vai ser qualquer uma septicemia
Que vai me dar um susto e me tombar.

Não vai ser qualquer sepsis. Mas poderia,
Então cautela e cuidado como companhia,
São o elixir mais gostoso de tomar.

30.10.24

A poesia, sempre a poesia...

Aprisionado num leito hospitalar
Pelas amarras de uma internação,
Fico pensando estratégias de escapar,
E todas elas me respondem: não.

Inconformado, volto a tentar,
Quem sabe na próxima, coração?
Talvez na próxima, pois vale a pena arriscar,
Não nasci para viver numa prisão. 

E eis que a poesia, esse pássaro indomado,
Vem visitar meu pensamento aprisionado, 
E se oferece como opção,

E desde então, escrevendo poesia, 
Eu me concedo a minha própria carta de alforria,
E saio a passear pela amplidão.

A poesia, escrita libertária,
Me empresta sua liberdade imaginária,
A poesia, minha libertação.

29.10.24

Agradecimento a Equipe da UTI Geral da Unimed Campos

O caso é grave. Precisa ficar internado. 
Sepsis de origem renal. Eu me lembro ter ouvido. 
Cheguei aqui na UTI bastante debilitado,
Se não fossem vocês eu não teria conseguido. 

38.000 leucócitos. Que leucograma abusado.
E febre. E diarreia. E fraqueza. Eu estava quase perdido. 
Mas desde os seus iniciais gestos de cuidado 
Eu fui me sentindo novamente fortalecido.

Foi quando as bactérias foram desistindo, 
Os leucócitos foram, pouco a pouco, diminuindo, 
E eu fui me recuperando, graças a vocês,

A melhor Equipe de Saúde que já conheci na minha vida,
Equipe que encontrei numa hora tão estremecida,
E agora mora no meu coração de vez. 

20.10.24

O livro

O livro

O livro,
Como um roteiro,
Capaz de me fazer prender a respiração,
Cuidar até o fim,
Como trazer paz para a morte,
O livro como um oráculo,
O livro que se apresentou tão verdadeiro
Que acabou me parecendo uma revelação,
Cuja palavra foi me levando devagarinho
Para um lugar onde o medo habitava no meu coração,
O livro,
Como quem desvendava um segredo,
O livro,
Como quem ia me conduzindo pela mão,
E me fazendo perguntas,
E me oferecendo respostas,
E me mostrando muito além da simples explicação,
E bem mais que isso,
Confrontando meus pensamentos,
Desafiando minhas verdades,
Vasculhando minhas memórias,
E chamando por minha razão,
O livro,
Como um achado,
O livro como um chamado,
Como um degrau que eu ia subindo
Assustado, 
Mas definitivamente sem hesitação,
O livro,
Ressignificando meu passado,
E necessariamente o meu futuro,
Como se já estivesse estado sempre em minha mão,
O livro,
Que ao mesmo tempo ia me assustando, 
E me acalmando,
E abrindo os meus olhos,
E me fazendo pensar,
O livro bom que ia me desafiando,
Ao mesmo tempo que parecia me abraçar,
O livro, 
Como um presente precioso,
Como um perfume de essência rara de encontrar, 
O livro 
Que eu tenho agora junto comigo, 
Meu derradeiro guia de cuidar.

II

Cuidar até o fim. 
Não a palavra. Muito mais a ação. 
Como aquele que assume um compromisso:
Cuidar até o fim como única opção. 

Do nascimento à morte. 
E depois da morte, como se a morte não ocupasse a última posição, 
Cuidar até o fim. Cuidar a vida inteira. 
Fazendo desse cuidado uma missão. 

Cuidar da vida desde o primeiro dia,
A forma mais delicada de poesia, 
O jeito mais suave de dizer amar,

Cuidar da vida, como quem confia 
Na grande impermanência das coisas que nos guia,
Às vezes só é necessário esse cuidar...

12.10.24

A criança dentro de nós

Não fosse essa criança a gente não resistia, 
A gente não suportava com o que a gente se tornou, 
Nem ia aprender a sentir dor fazendo disso poesia,
Sem a criança que a gente sem perceber, continuou...

Se não fosse essa criança, quem a gente no dia a dia?
O adulto que tá cansado? O cansado que se estressou?
Será que sem essa criança a gente não desistia?
Será que tem sido isso que até aqui nos guardou?

Ah! Se não fosse ela, o que seria da gente?
Um bando de gente chata, sem poesia, descontente?
Um bando de gente precisando se tratar?

Por isso eu guardo comigo minha criança com carinho,  
E de mãos dadas com ela vou seguindo meu caminho, 
E é ela que me diz por onde eu devo passar. 

🌹

Dia da Criança

"Há um menino
Há um moleque 
Morando sempre no meu coração 
Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão"
Milton Nascimento

Feliz dia pra essa criança que tem na gente,
Que canta pra gente e faz a gente cantar,
Que não dá muita corda pra dor que a gente sente,
E que de vez em quando chama a gente pra brincar,

Feliz dia pra essa criança insistente 
Que por algum motivo resolveu nos acompanhar,
E toda vez que a chuva lá fora faz enchente 
Ela resolve brincar de querer nadar,

Nos dias de perigo vai na frente,
Se é pra falar a verdade ela não mente,
Se tá chorando, ela se esconde pra ninguém a encontrar...

Feliz dia de hoje pra essa criança presente,
Que deixa a nossa vida inteira diferente, 
De um jeito que a gente não ousaria imaginar.

10.10.24

Feliz

De um jeito ou de outro sigo feliz minha jornada,
A consciência tranquila, o dever cumprido, 
A poesia é minha companheira nessa caminhada, 
Onde na nossa conversa tudo é permitido, 

E sigo feliz, embora às vezes a alma cansada, 
Às vezes o corpo cansado, e faz sentido, 
Então nessas horas chega o tempo da parada,
Pra retornar reabastecido.

De um jeito ou de outro, na maior parte das vezes sozinho, 
Vou seguindo feliz o meu caminho, 
Talvez por estar aprendendo a respirar,

Respirar dividindo, respirar escutando, 
Por isso às vezes, sem querer, me pego cantando, 
Talvez por isso seja feliz meu caminhar...

8.10.24

As Bodas de Porcelana de Pedro e Juliana

As Bodas de Porcelana de Pedro e Juliana, 
São 20 anos de uma união fortalecida,
União delicada como a porcelana,
União surpreendente como a vida,

As Bodas de Porcelana de Pedro e Juliana,
São a história de um amor sendo cumprida, 
O amor maior que cabe na alma humana, 
O amor maior, sem medo, sem medida...

As Bodas de Porcelana de Juliana e Pedro,
Coroam um grande enredo 
De uma história de amor linda demais,

Porque afinal são Bodas de uma vida inteira, 
Em que eles se amam assim, de uma maneira,
Como era para se amarem todos os casais.

1.10.24

O voto

Aproxima-se o dia das eleições municipais,
Os candidatos, nesse momento, em polvorosa,
Tentando conquistar um votinho a mais,
Ai, que novelinha mais preguiçosa,

É a reta final, valendo todo gás,
E qualquer voto é uma disputa preciosa,
É o torneio eleitoral do quem dá mais 
Na busca da conquista milagrosa,

Aproxima-se o dia, os ânimos esquentam,
Pouquissimos tem chances, muitos tentam,
Todos acusam todos, e se enaltecem,

E o eleitor, com a mesma cara de palhaço, 
Dá vontade de mandar todo mundo pro espaço,
Que é a única coisa que afinal muitos merecem.

21.9.24

A primavera

A primavera silenciosamente se aproxima,
O inverno já fez o que veio pra fazer,
Chegou o tempo novo, o tempo da prima,
Alguma coisa por acontecer, 

Alvissareira, trazendo nova rima
Para o poema que já quer nascer, 
A primavera, como a luz que descortina 
Um novo e esperançoso amanhecer. 

Aproxima-se, sem volta, a primavera, 
A materialização de uma quimera,
Uma nova possibilidade para o coração, 

Aproxima-se a primavera delicadamente, 
Como quem traz um presente,
Como quem traz uma revelação...


17.9.24

O poema inacabado

Eu sempre quis fazer um poema inacabado,
Mas nunca soube por onde começar,
Por qual verso nunca dantes terminado,
Eu sempre quis escrever sem terminar,

Confesso que desde então tenho tentado,
Mas pobre de mim, porque não basta tentar,
É preciso escrever um verso desfalcado,
Um soneto impossível de se completar,

Mas a poesia nessas horas me ignora, 
Observa meu soneto lá de fora,
E vai me entregando palavras de improviso, 

E o poema inacabado que eu buscava,
Vai se escondendo, encabulado, na palavra,
Até ir-se embora, sem deixar aviso...

15.9.24

Meu violão

Meu violão, toda vez quando o silêncio 
Vem apertar o meu coração, 
Torna-se minha minha voz, 
Diz tudo que eu quero, 
Para isso basta eu dedilhar uma canção,

E toda raiva, todo medo, toda alegria,
Vai escorrendo através da minha mão,
Que toca as suas cordas, 
Que então vibram
Numa frequência sem tradução,

E o som que o bojo do violão ecoa,
É a minha voz em outra dimensão, 
Quem olha, pensa que eu estou tocando Chico, 
Quem olha, pensa que eu estou tocando João,

Mas meu violão, toda vez quando o silêncio 
Vem apertar o meu coração, 
Me empresta acordes,
E abraça meu silêncio, 
Fala por mim o meu violão...

14.9.24

O bebê canguru

A mãe e o filho. O colo. E então, o abraço.
O apego que acontece naturalmente.
O afeto vencendo os restos de cansaço.
O mundo inteiro ali, como um presente.

A mãe e o filho. Cada um no seu espaço,
E uma interação surpreendente.
A mãe e o filho. O amor. O vínculo. O laço.
O bom início que vai durar eternamente.

A mãe e o filho. Parece que se bastam.
Afastam-se do mundo, mas não se afastam.
Não existe melhor definição para intimidade.

A mãe e o filho. E o resto não tem importância.
O melhor início para a vida desde a infância.
A mãe e o filho para toda e eternidade. 

4.9.24

A poesia

A poesia como medicamento,
A poesia como consolação,
Pra qualquer hora, pra qualquer momento,
A poesia como oração, 

A poesia como um alento,
Que deixa a alma com a sensação 
De estar sendo banhada por um unguento, 
A poesia como proteção, 

Um sonetinho, uma quadra,  um verso livre,
A poesia é um amor que vive,
E faz brotar amor por onde passa,

A poesia como um amor, portanto, 
Que sai espalhando amor por todo canto, 
A poesia como um amor que nos abraça.

25.8.24

A palavra arredia

Eu ia escrever aqui um poeminha
Mas a palavra não quis participar,
Aproximou-se, mas ficou de picuinha,
Aí não tem realmente como rimar,

Porque quando eu estava pensando que ela vinha,
Ela simplesmente resolveu voltar, 
Deixando a poesia ali sozinha,
Sem ter como completar. 

Abandonei então o poema e fui-me embora. 
Estou escrevendo esse outrozinho agora 
Só pra não ficar assim sem dizer nada,

Mas não era bem esse o poeminha que eu queria, 
Era o outro, o da palavra arredia,
Que volta um dia, quem sabe, quando tiver bem humorada.

21.8.24

A cura

Escrevo pra deixar escapar pela palavra 
O que não quer ficar preso ao coração,
Escrevo como um medicamento que me salva 
Do erro meu, da minha própria imperfeição, 

É como se a cegueira que me trava
Vivesse através da palavra outra visão,
Escrevo pra escapar dessa minha raiva,
Escrevo pra escapar da minha destruição, 

Não busco nada com meu verso, apenas 
Recriar, em forma de arte, meus problemas,
E resolvê-los através de rimas improvisadas,

Não busco nada. Talvez a cura
Do frio do coração. Da noite escura. 
Escrevo pra inventar novas risadas.

13.8.24

Vinhedo

Era pra ser mais um voo, uma viagem, 
Passagem de ida, de volta,  despedida, 
Só mais um voo, com bagagem, sem bagagem,
Ou para muitos, o primeiro voo da vida,

Faltava pouco pra aterrissagem,
E, por alguma coisa ainda não esclarecida,
O que se sabe até agora é uma imagem 
Que toda gente acompanhou estarrecida... 

Ah, homens e mulheres, e crianças, 
Cheios de sonhos e planos e esperanças, 
Até que um dia a dor cruzou o seu caminho...

Era pra ser mais um voo, e de repente, 
A vida mais uma vez mostrando pra gente, 
O quanto a gente é pequenininho...

21.7.24

A palavra

Impressionante como a palavra pode ser usada
Pra traduzir tudo que o coração da gente quer dizer,
A palavra pode ser capaz de descansar a alma cansada 
E de fazer a alma atribulada adormecer,

Impressionante o poder que habita na palavra, 
E que às vezes a poesia consegue perceber, 
Como o de uma segunda voz, ou o de uma outra oitava,  
Impressionante como é imenso o seu poder,

Testemunhar o quanto é silencioso como ela age,
Basta ler, e é como se fosse mágica:
A vida inteira muda seu significado. 

Uma palavra apenas. E tudo em volta se transforma. 
Palavra é como o éter: não tem forma, 
Chave que abre qualquer cadeado.

13.7.24

Escrito logo pela manhã

Acabo de ganhar um dia inteiro de presente,
E vou poder gastar como preferir,
Um dia inteiro livre pela frente,
Ganhei assim, sem precisar pedir, 

Acordei e ganhei, veio de repente,
Abrir os olhos bastou pra ele existir:
Um dia inteiramente grátis, gente, 
Dá pra gastar todinho sem sentir,

Mas a medida em que o tempo vai passando, 
O mesmo dia vai se esgotando,
O tempo não tem como voltar atrás.

Não custa nada, porém custa caro,
É como um tesouro raro
Que a medida em que o tempo passa se desfaz.

11.7.24

Cerração

O dia hoje amanheceu nublado.
Mas só o dia. Meu coração não. 
Meu coração segue aparentemente compensado,
Fora uma ou outra desarrumação.

O dia hoje amanheceu carregado
De nuvens cinzas numa grande cerração.
Às vezes a vida é assim quando dá tudo errado:
Não se consegue ver um palmo além da mão.

Mas o dia que amanheceu acinzentado,
Ao dar de cara com o sol, encabulado, 
Desfaz o cinza e mostra a sua cor...

Da mesma forma que a gente entristecida,
Desfaz a tristeza e ri, cheia de vida,
Sempre que é transformada pelo amor...

10.7.24

Soneto de saudade para Tatiana

Foi tanto esforço pela caminhada,
Foi tanto passo a passo pra chegar,
Tanta conquista... E de repente... Nada...
A vida muda tudo de lugar...

Mulher guerreira, determinada, 
Cheia de luz e brilho em seu olhar...
Havia uma pedrinha bem no meio da estrada, 
Mas sempre um Deus ali para amparar...

E hoje, dali na imensidão da eternidade, 
Serena, já respirando liberdade,
Segue leve, sem descanso, ainda a cuidar

Dos seus, que sempre foram seu carinho,
O amor mais lindo que plantou em seu caminho, 
Amor de quem nunca vai se separar...

5.7.24

Escrever poesia

Minha distração é ler e rabiscar poesia,
É assim que meu coração sai do lugar,
Já nas primeiras rimas ele se distancia, 
Já nas primeiras rimas começa a me levar,

E eu vou bem em sua companhia, 
O tempo me ensinou a aceitar,
A poesia diz, o coração confia,
Confia e vai, sem pestanejar,

E tem sido assim desde nem sei que dia,
A palavra como carta de alforria
Quando nada em volta quer colaborar, 

A minha distração hoje é meu guia,
Que nem a solidão me silencia,
E que depois que eu me for não vai calar...

29.6.24

Meu violãozinho

Quando eu arranho meu violãozinho, distraído,
O mundo para, enquanto a música, assim:
Um sol sustenido não faz o mundo menos sofrido,
Mas faz sofrer no mundo ser menos ruim,

Por isso, quando eu arranho meu violãozinho, eu lido
Melhor com cada inferno que há em mim:
O meu, o que me cerca, e o travestido
Que tenta me seduzir, e quer meu fim.

Mas meu violãozinho, dissonante, 
Me desvia dos caminhos do inferno de Dante,
E me mostra por alguns instantes seu melhor...

E faz isso por mim desde a minha juventude,
Meu violãozinho, meus acordes, meu açude, 
Como é bom ser feliz em dó menor...

20.6.24

Tricolor de coração

O ano de 2024 está perdido,
A gente torce só com o coração na mão.
2023 foi esquecido,
Vamos ter que aprender de novo essa lição:

Jogar com garra, o time inteiro aguerrido,
Cada partida uma decisão,
O que seja lá que por ventura tenha acontecido,
Tomou o time inteiro, como uma infecção.

O ano de 2024 foi embora.
Tem que pensar numa saída agora,
A torcida merece essa revolução,

Porque pode chover raio e tempestade,
A gente segue firme e com vontade,
E com orgulho de ser tricolor de coração. 

19.6.24

Chico Buarque faz oitenta anos

Chico aos oitenta anos impressiona,
Pela poesia, pela grandeza da canção,
Pela palavra, pela rima soberana,
Chico aos oitenta é um pássaro n'amplidão,

É o mestre da música que nunca nos abandona,
Na hora certa ele nos estende a sua mão,
Poeta maior que passeia por Copacabana
Como se fosse um ou outro cidadão,

Chico aos oitenta se transformou num gigante,
A sua música faz a gente voar distante,
A sua letra desequilibra nosso coração,

É o Buarque de Holanda mais Brasil do mundo inteiro,
Mas precisava ter nascido no Rio de Janeiro,
E ser tricolor. Viva os oitenta do nosso campeão...

8.6.24

Sábado de frio

Sábado de frio. Sem chuva na cidade.
O tempo parece que tá começando a melhorar. 
A vida vive mudando, na verdade. 
A gente precisa aprender a se adaptar. 

Amanhece sábado. Nenhuma novidade. 
As redes sociais é que demoram prá acordar. 
Mas já vale um sonetinho sem maldade. 
O improviso não faz rima com esperar.

Sabadozinho. O que virá pela frente?
Gente. Gente. Gente. E onde existe gente 
O imprevisível inevitavelmente vai acontecer. 

Enquanto isso, eu penso em coisas boas.
Eu vejo poesias nas pessoas, 
Por isso essa necessidade de escrever.

1.6.24

As histórias não contadas das UTIs Neonatais

Para onde vão as histórias não contadas
De dor e solidão e sofrimento,
Resumidas em condutas informatizadas,
Rotinas, discussões, procedimentos,

Tratadas como experiências desperdiçadas,
Vivências atiradas ao relento,
Para onde vão, se não ficam guardadas,
Se são descartadas com tudo que tem dentro?

Histórias que não são aprendidas nem ensinadas,
Sequer nos prontuários são registradas,
Porque estes guardam outro argumento,

Histórias de famílias silenciadas,
Que a vida precisa conhecer recuperadas,
E recontadas sutil enquanto é tempo.

24.5.24

Poeminha da sexta-feira

E a sexta-feira novamente me chamando,
Achando que eu não tenho nada pra fazer, 
Pensa que eu vivo vagabundeando,
Oh, minha sexta, não é por falta de querer,

Mal amanhece o dia, você fica me atentando: 
Sextou, sextou, bebê, vamos beber,
E passa o dia todo me provocando, 
Todas as sextas, até me convencer, 

Mas eu trabalho, minha abençoada, 
E o trabalho é uma condição privilegiada,
Quem sabe um dia você possa me entender, 

Sextou, sextou, mas estou trabalhando, 
E como dizia o Chico, a gente vai levando, 
Feliz, e deixa a vida acontecer.

12.5.24

Irmãos do Sul


Irmãos do sul, vocês não estão sozinhos,

Embora a gente não esteja ai do seu lado,
A distância também pode ser medida pelo carinho,
É assim que um estado se torna irmão de um outro estado,

Irmãos, sabemos ser muito sofrido o seu caminho,
Mas muito grande também a sua força, está provado,
A vida com certeza vai voltar, devagarinho,
A ser do jeito como ela era no passado,

Irmãos do sul, coragem nessa hora,
Às vezes o mau tempo vem, às  vezes demora,
Mas nunca dura por toda uma eternidade,

Estaremos por perto, irmãos, prontos e ao seu lado,
Ninguém abandona ninguém até tudo ter passado,
Isso é amor, mas pode chamar de solidariedade.

Para as mães do mundo


Para as mães do mundo, meu coração,

Que vai aqui em forma de poesia,
Por tantas vezes que seu colo, que a sua mão,
Por tantas vezes que a sua companhia,

Para as mães do mundo, minha emoção,
Para as mães do mundo, minha alegria,
Por eu ter convivido com a sua compaixão,
E com a sua dor que, por maior que fosse, nunca as destruía,

Para mães do mundo, hoje de joelhos,
Para escutar seus alertas, seus conselhos,
Esses pedaços de sua sabedoria,

Para as mães do mundo, o melhor da minha vida,
Porque o amor de mãe é a única saída,
A luz capaz de sustentar a luz do dia...


10.5.24

Feliz aniversário, Isabel

Não é a toa que tem nome de princesinha,
Não é a toa que mora em meu coração,
Não é a toa que desde pequenininha
Já se mostrava um gigante em construção,

Ter ela sempre por perto: sorte minha,
Isabel sorrindo não tem explicação,
Coisa mais linda da vida, essa minha sobrinha,
E ainda por cima faz doces que ninguém mais faz não,

Deus quando criou Isabel pensou assim:
"Vai ser a flor mais linda do jardim"
Mas não precisava ser tanto, Isabelzinha:

Boa mãe, boa esposa, boa filha,
Até no sonetinho você é uma maravilha,
Feliz aniversário, curuminha.

4.5.24

Rio Grande do Sul

O Rio Grande parece tão pequeno,
Tão grande a dor e a tristeza que o consome,
Que tempo amargo. Que gosto de veneno.
Que sofrimento tanto que é sem nome,

Tanta gente perdendo tudo e se perdendo,
Passando solidão, passando fome,
Como se fosse um espetáculo obsceno,
A natureza apavorando o homem,

Levando vidas embora dessa vida,
Varrendo casas e ruas e avenidas,
Arruinando o gado e a plantação,

Que Deus permita que um dia o Rio Grande
Possa se reerguer como um gigante,
De tanto amor que traz no coração.

1.5.24

Primeiro de maio (edição revisada)

Trabalhador, o primeiro a ser chamado,

E, da mesma maneira, o primeiro a ser esquecido,

Sempre o primeiro a ser encaminhado,

E estranhamente o último a ser reconhecido,

Sempre o primeiro, quando tudo dá errado,

A ser culpado e o primeiro a ser punido,

E a ter seu salário, que deveria ser sagrado,

Bloqueado, congelado ou reduzido,

Ou a ter o dia do seu pagamento reprogramado,

Constantemente adiado,

Como se isso fosse permitido,

Trabalhador,

O primeiro a ser listado,

Mas o último da lista a ser ouvido,

Porque o último a ser valorizado,

Embora nenhum mais comprometido,

O primeiro, quando o patrão está ameaçado,

A ser ameaçado ou despedido,

O primeiro a ficar desesperado

Enquanto o patrão segue em frente, garantido,

Trabalhador,

O primeiro a ser enganado,

O primeiro na conta a ser subtraído,

Sempre o primeiro a ser sacrificado,

Sempre o primeiro a ser substituído,

Como se fosse um pacote de mercado,

Mais um contrato que não precisa ser cumprido,

E quando a empresa tem seu lucro multiplicado,

É o primeiro no papel do ilustre desconhecido.

Primeiro de maio. Trabalhador comemorado,

Mas a essa altura, quase nenhum iludido,

Porque o que o trabalhador precisa é ser honrado,

E pra isso, ser respeitado, e ser ouvido,

E não de flores para ser homenageado,

E nem de churrascos para assim ser iludido,

Precisa é de um ambiente de trabalho bem cuidado,

E de um plano de cargos e salários reconhecido,

De um calendário de pagamento anunciado,

Com reajuste real e merecido,

Trabalhador precisa ser bem tratado,

Não é só servir bem, precisa ser bem servido,

Porque seu coração já está esgotado,

E não aguenta mais no seu ouvido

Promessas de patrão mal-intencionado,

Papinhos de político fingido,

Projetos de um futuro do passado

Sobre coisas que já deveriam ter acontecido,

Porque nas horas em que o desafio é apresentado,

E nessas horas são preciso um esforço desmedido,

O trabalhador é o primeiro a ser chamado,

O primeiro a ser escolhido,

O primeiro imediatamente a ser escalado,

Mas o último a ser verdadeiramente reconhecido.

Trabalhador, trabalhador, muito obrigado,

Trabalhador valente e destemido,

A luta é ir em frente, mas a vitória é lado a lado,

E a consciência é a do dever cumprido.

Ainda que o coração siga apertado,

O peito avança, orgulhoso e envaidecido,

Por isso esse poema emocionado,

Por isso esse poema agradecido,

Só pra lembrar, em versos,

Que trabalhador unido, como está afirmado,

Jamais e em tempo nenhum será vencido.

22.4.24

Juliana

No seu aniversário 

Olha a minha menina,
Que eu vi pequenina,
Miudinha,
No colo,
A pedir proteção,
Cresceu,
Criou asas,
Virou um gigante,
Aprendeu coisa grande,
Ocupou posição,
Olha a minha menina,
Que eu vi pequenina,
Cresceu,
Mas ainda cabe no meu coração,
E vai morar dentro dele para sempre,
E vai caber para sempre 
Na palma da minha mão.

13.4.24

Histórias que Jesus contou


Ao meu pai, no dia dos 40 anos de sua partida

13 de abril de 1984
13 de abril de 2024

Ele dizia coisas como quem orava,
Porque ele falava coisas como quem sabia
Que Jesus estava com ele em cada palavra,
Por isso ele não brincava com as coisas que dizia,

E por isso, com as coisas que dizia, toda gente se encantava,
E pelo modo especial como ele as transmitia,
A alegria incomum e constante que ele usava
Contagiava a toda gente que o ouvia,

Até que a saudade, um dia, quando o coração mais apertava,
Foi preenchendo os lugares por onde ele passava,
Mostrando pra gente que a vida nunca se esvazia...

Ele dizia coisas e se transformava
No pai e no professor que nos lembrava
Das histórias que Jesus contou no dia a dia...

12.4.24

Maternidade

Para minha amiga, mãe do coração 

Deus abençoe a sua maternidade,
Tão generosa, tão delicada,
Trazendo dias de serenidade,
Para o seu colo de mãe realizada,

Um filho no lar, uma nova realidade,
O amor em sua versão mais ampliada,
Capaz de ser maior que a eternidade,
Por isso a palavra "mãe" é tão sagrada,

Que dias de luz se espalhem por seus dias,
Conduzindo esses dias por alegrias,
Transbordando seu amor, como uma enchente,

Abençoado seja por Deus seu coração,
E que vocês estejam sempre sob a Sua proteção:
Nada é mais forte do que Deus presente.

23.3.24

Carta de Maria Luisa para Artur

Meu irmãozinho, você que já passou
Por dias de UTI, como eu estou passando, 
De ficar se perguntando: "aonde estou?"
"Eu fico aqui até quando?"

Agora eu entendo, e nas horas difíceis eu vou
Tentando me inspirar em você se superando, 
Vencendo o medo, e as marcas que o medo deixou, 
Pensando nos nossos pais, acreditando,

Porque eu ouvi dizer que vai ser longa a estrada, 
Mas, mais importante que o tamanho da jornada,
É estar lado a lado de quem deixa tudo pra seguir com a gente, 

Então a caminhada, por mais distante,
Cercada de amor, é sempre motivante, 
E o ponto de chegada fica logo ali na frente.

22.3.24

Notícias de Maria

Que bom saber notícias boas de Maria,
Elas aumentam a esperança de que tudo vai passar,
Um pedacinho melhor a cada dia,
A fé não costuma falhar,

Notícias que mostram o equilíbrio dessa guria,
Fazendo de tudo para não se entregar, 
Tirando forças de onde ninguém imaginaria
Que ela, tão pequenininha, fosse capaz de tirar,

Que bom saber notícias de Maria Luísa, 
Eu acho que a gente precisa 
Escrever um diário, ela iria adorar,

Contando para ela do amor desde a semente,
E que se tornou tão forte e tão potente,
Que fez todo mundo se apaixonar.

21.3.24

Maria Luisa

A menina de aparência tão pequena 
De pele fina, tão delicada, 
De respiração silenciosa feito um poema, 
A menina tão pequena, quase nada,

Nasceu com uma aparência tão serena, 
Nem parecia que precisaria ser intubada,
Chorou, mecheu os bracinhos, toda plena,
Era assim que Maria Luísa se anunciava,

Impressionando profissionais experientes, 
E apesar das fragilidades evidentes,
Foi caminhando devagarinho, 

Maria Luísa, do tamanho de um gigante, 
E dona de uma coragem contagiante, 
Já vai aos poucos traçando seu caminho...

19.3.24

As horas sombrias

Mesmo durante as horas mais pesadas,
Quando o coração parece apertar,
E as esperanças vão ficando cada vez mais espaçadas,
Tornando essas horas mais difíceis de passar,

Mesmo durante as horas mais nubladas,
A Lei de Deus não costuma desandar,
Nem esquecer suas criaturas abandonadas,
Ou longe do seu olhar,

A Lei de Deus não se adianta nem se atrasa,
Toma conta da nossa vida, da nossa casa,
Sabe das coisas do nosso coração,

Por isso nessas horas mais sombrias,
As nossas preces nunca estão vazias,
E Deus nunca nos solta da sua mão.


17.3.24

A minha irmã

Nasceu com poesia no coração, 
Aprendeu a arte de rabiscar carinhos,
Não deixou seus dias passarem em vão,
E nos presenteou com dois sobrinhos, 

Na matemática da vida nunca fez questão 
Da divisão das coisas por números mesquinhos,
Ela se sabe quem é. O resto é dispersão 
Querendo desviar nossos caminhos. 

Todas as pessoas deveriam ter uma irmã,
Dessas que Deus manda como anja guardiã,
Semeando serenidade por onde passa,

Se todas fossem iguais a você, Margarida,
Seria mais fácil viver a vida,
A sua alma é cheia de graça...

16.3.24

Amamentação

O coração materno, tranquilo e descansado,
Percebe o bebê sugando a mama, e então,
Vai fazendo com que o leite seja ejetado
E jorre da mama em deliciosa profusão,

É a descida do leite, e seu significado:
A mama em paz obedecendo a sucção,
E a mãe feliz, e o bebê bem alimentado,
E a natureza em sua repetição...

Somos mamíferos, como os dromedários,
Irmãos comuns de hábitos mamários,
Sobrevivemos assim desde lá de trás:

Mães relaxadas, leite jorrando,
Bebês tranquilamente amamentando,
Quando acontece assim é bom demais...

12.3.24

A Lady e a Sinhazinha

Quem é a Lady que de lady não tem nada,
Nem tem nenhuma história boa pra contar, 
E quando conta, conta uma história tão errada,
Que faz a gente se envergonhar? 

Quem é a Lady que parece escravizada 
Por uma Sinhazinha por quem ela foi se encantar?
Perdeu suas origens, ficou encantada
Pela loura que dela nunca vai gostar, 

Coitada da Lady. Queria ser amada. 
Só escolheu pra isso a pessoa errada. 
A Sinhazinha, Lady, só quer lhe usar. 

A Lady coitada, de lady tão vazia...
Um dia a casa cai, mas nesse dia,
Vai ser tarde demais para chorar

11.3.24

Maria Luisa

Maria Luísa se aproximando,
Já se cuidando para o dia de chegar,
Trazendo na memória o que ela vai escutando,
Percebendo o que faz seu coração acelerar:

A voz da mamãe, quando mamãe tá cantando,
A do papai, quando ele começa a falar,
O irmão, nas vezes em que ele está brincando,
Maria Luísa já sabe que tem um lar,

E sabe também que seu dia está chegando,
Feliz, dá pra sentir que está gostando
De estar aprendendo a respirar,

Maria Luísa, estamos lhe esperando,
Que Papai do Céu continue lhe abençoando,
Maria Luísa, feita de encantar...

9.3.24

O tempo

Pouca gente percebe as horas caminhando,
E o tempo parecendo se esgotar,
Mas ao mesmo tempo se renovando,
Como uma chance pra recomeçar,

Daí muita gente fica se estressando,
Reclamando do tempo sem razão pra reclamar,
E o tempo, em silêncio, recomeçando,
E essa gente sem saber aproveitar,

Então culpar o tempo é uma doença
De quem não sabe agir, de quem não pensa,
De quem não sabe ocupar o seu lugar,

Pouca gente reconhece a própria falha,
Gastando a vida sobre o fio da navalha,
E fica procurando a quem culpar...

1.3.24

John Arias


John Arias batendo pênalti é uma pintura

Difícil de traduzir em poesia,
Uma paradinha de forma tão segura,
E o chute certeiro que ele já sabia

Que chute assim goleiro não segura,
E aí John Arias, gênio, desafia:
Um simples pênalti vira uma escultura,
Um gol vira uma crônica, quem diria,

E o time inteiro reconhece isso:
John Arias, um colosso, não brinca em serviço,
Faz a bola a seus pés parecer um brinquedo,

Obrigado, John Arias, pela sua habilidade, 
És o melhor do melhor time da cidade,
Ainda vais virar um samba enredo.

Fluminense


Não é simplesmente ganhar a partida,

Levantar a taça de vencedor, 
O melhor é a jogada, a dividida,
A cabeçada, o choro do torcedor,

Ganhar é bom, mas o melhor da vida
É ver o time jogar como quer o treinador,
Passada rápida, deixando o adversário sem saída,
Ganhar é o de menos pra quem é tricolor,

Porque o jogo encanta, absorve, prende,
Ver o Fluminense jogar acende
O coração da gente de alguma maneira,

Não é simplesmente o placar quando o jogo termina,
É a adrenalina, é a adrenalina
Que dura a partida inteira.

27.1.24

Poema para Davi

Eu sou homem, o menino falava,
Eu sou homem, o menino repetia,
E cada vez que o menino gritava
Eu entendia o que o menino dizia,

O significado que havia na palavra:
O menino só queria dizer que não mentia,
Eu sou homem, o menino reafirmava,
Mas pouca gente entendia,

Porque o que ele dizia ninguém escutava,
Talvez por conta das palavras que ele usava,
O fato é que ele falava, ninguém ouvia,

Eu sou homem, o menino continuava,
Por isso ele se fortalecia, e não se curvava,
Eu sou homem, era um menino bom, e Deus sabia...

Notícias de jornal

Tanta notícia me embaralhando
Que eu nem sei por onde começar,
Às vezes acho que o mundo está acabando, 
Às vezes tento não desanimar, 

E mais notícias. Governos se odiando.
Gente se odiando, sem pensar
Que o ódio não faz sentido desde quando 
Não leva ninguém a nenhum bom lugar.

E as notícias não param. O mundo não para.
A felicidade anda cada dia mais rara,
Mesmo que cada vez mais simples de encontrar.

Mas as notícias só falam de sofrimento,
Como se o mundo não tivesse mais nada dentro. 
Mas eu vi um menino feliz. E sou capaz de jurar.

Plantão de sobreaviso

Sábado chuvoso. Eu de plantão. 
É sobreaviso. Mas é plantão mesmo assim. 
Se nasce bebê, recebo uma ligação. 
Enquanto não nasce, escuto Tom Jobim. 

Sábado chuvoso. Ligo a televisão. 
Desligo logo. Programação ruim. 
Prefiro dedilhar um violão
Deixando o celular perto de mim.

O nome é sobreaviso. É uma prisão. 
Uma carta de alforria sem aprovação. 
Mas confesso que eu já estou acostumado. 

São 24 horas de uma espera
Por um cronômetro que parece que não zera
Mas que a gente cumpre sempre de bom grado.

21.1.24

Poesia

Eu gosto de gastar meu tempo com poesia,
E mais de poesia que de bar,
A poesia me faz sempre companhia,
Ela aparece. Eu não preciso convidar. 

Às vezes antes de raiar o dia
Eu já encontro a poesia a me esperar,
Mesmo indo embora ela não me esvazia,
Deixa um pouquinho pra eu poder guardar.

Eu gosto de gastar meu tempo rascunhando
Poemas que meu coração vai imaginando, 
E acabam fazendo eu me sentir bem,

Por isso sempre quando estou sozinho 
Acabo rascunhando um sonetinho, 
Ainda que não mostre pra ninguém.

20.1.24

Vinte de Janeiro

Vinte de janeiro, nascia Sebastião,
Filho de Elisabeth e Vicente. Quem ousaria Imaginar a história daquele varão 
Que Vicente e Elisabeth anunciaram ao mundo aquele dia,

O tempo passou, nasceram outros irmãos, 
E o pequeno Clóvis, o Bastião, rapidamente crescia,
Por dentro e por fora, como um grande guardião 
Da palavra de Deus, que ele aos poucos aprendia,

Tornando-se um homem cheio de coragem,
E cheio de amor no coração, e Clóvis seguiu viagem, 
Repartindo todo amor que recebeu da vida

Sem perguntar nada, sem pedir nada,
Sebastião Clóvis, o amor e a sua caminhada,
Como uma missão dada, como uma missão cumprida...

19.1.24

Vanessa Lopes

Apenas uma menina muito assustada,
E seus quarenta milhões de seguidores,
Desprotegida, uma menina apavorada,
Apenas uma menina e seus temores,

Quem olhasse para ela não notava nada 
Além das suas danças, sorrisos e suas cores, 
Mas era uma menina ainda, disfarçada
Por trás de sentimentos arrasadores,

Até que um dia aquela menina que nos  encantava,
Foi percebendo que aquela dor que a sufocava,
Foi também se tornando maior que a sua vida,

Era apenas uma menina assustada e dolorida,
Pedindo socorro, tentando uma saída,
Apenas uma menina que dançava, distraída...

7.1.24

Domingo

Domingo. Um belo dia pra pensar na vida
E não chegar a nenhuma conclusão,
A vida é quase sempre bem corrida,
Isso atrapalha toda decisão,

Mas é domingo, vale uma uma investida,
Uma tentativa a mais nunca é em vão, 
Derrota é não tentar, não ver saída
Antes de dar a largada. Pode não. 

Então é domingo. Dia de planos.
Contabilizar perdas e danos
E olhar pra frente, e ver um novo dia

Onde nada aconteceu ainda, e tudo pode,
E aí é domingo e o coração explode,
E o coração, em domingo, tudo cria...

6.1.24

Um indicio

O ano vai seguindo com seus dias,
O novo parece o mesmo que acabou:
As mesmas pessoas frias, pelas ruas frias, 
Mudou o ano, nada mais mudou,

Mudaram as rimas, mudaram as poesias,
Ainda bem que o poema ainda ficou,
Viver depende de boas companhias, 
E aí eu acho que foi pouco o que restou, 

Mas quem precisa de tanto pra um soneto?
Com pouca coisa, dois quartetos, dois tercetos,
E um sonetinho novo vai nascendo,

Pode não ser grande coisa, mas é um início, 
Pode não ser a luz, mas é um indício 
De que há poesia ainda nos movendo...