14.2.02

Quem é que são?

_Você é diferente!
(eu escutei)
_Diferente demais!
Então, depois dali, me perguntei:
_Quem é que são os iguais?


Quem são as criaturas diferentes?
Onde é que estão os iguais?
Perguntas que eu me faço diariamente...
Respostas que eu procuro e nada traz...
Respostas que não chegam, simplesmente...
Perguntas que não cessam nunca mais...
Eu olho pros casais impacientes
E pros cabelos verdes do rapaz...
E a moça de olhos claros que usa lentes...
E os homens bêbados, e os marginais...
Quem são as criaturas diferentes?
Quem são os homens iguais?

As moças com decotes indecentes
E os moços com desejos tão banais...
E as moças com segredos salientes...
E os moços com palpites geniais...
E os velhos, nos asilos, como doentes...
E as filhas separadas dos seus pais...
E os seres solitários, e os carentes...
E os auto-suficientes, e os normais...
E aqueles que assassinam brutalmente...
E os homens maus... E as mulheres más...
Quem são as criaturas diferentes?
Quem é que são os iguais?

E os viciados... E os delinqüentes...
E os que se tornam policiais...
E os namorados incoerentes...
E as amantes entre os casais...
E os solitários... E os descontentes...
E os com vocações sacerdotais...
E os que nunca batem de frente...
E os tanto fez como tanto faz...
E os moços com a voz malemolente...
E as moças com trejeitos de rapaz...
Quem são as criaturas diferentes?
E as criaturas iguais?

E a Guerra Santa, de ódio latente,
Matando, à sangue frio, a Santa Paz...
E aqueles que condenam inocentes...
E aqueles que escolheram Barrabás...
E os esotéricos... E os clarividentes...
E as prostitutas da beira do cais...
E os estressados... E os impacientes...
E os que se acham intelectuais...
E os que morrem de fome diariamente...
E os que se consideram imortais...
Quem são as criaturas diferentes?
Onde é que estão os iguais?

Eu olhei a fé cristã dos homens crentes
E os que se entregam a estranhos rituais...
E os homens simples, e os inteligentes,
E as mulheres em busca de cartaz...
Abortos realizados diariamente
Por quem às vezes nem sabe o que faz...
Homens que bebem freqüentemente...
Mulheres com problemas sexuais...
E as moças que se dão completamente
Para homens que parecem canibais...
Quem são as criaturas diferentes?
Para onde vão os iguais?

Olhei para os poetas e os videntes
E os cientistas espaciais...
E os pecadores, e os inocentes,
E os operários, e os marginais...
E os violeiros e seus repentes...
Os rapers e seus raps geniais...
Os que morreram, os sobreviventes,
E os que mataram por seus ideais...
E os que se entregam completamente...
E os que são como pedras glaciais...
Quem são as criaturas diferentes?
De onde é que vem os iguais?

E os velhos seduzindo adolescentes...
E os moços que dão tiros nos pardais...
E os Delegados onipotentes...
E os doentes mentais...
E os covardes... E os imprudentes...
E os promíscuos... E os profissionais...
E os que mentem descaradamente...
E os que passam os outros pra trás...
E os subversivos... E os dissidentes...
E os moços que cultuam Satanás...
Quem são as criaturas diferentes?
A quem elas são iguais?

E os que abusam dos entorpecentes...
E os que só usam produtos naturais...
E os Homeopatas... E seus pacientes...
E os que se curam pelos cristais...
E os conformados... E os contundentes...
E os elementos das gangs rivais...
Os psicógrafos e os médiuns videntes...
E os cirurgiões espirituais...
E os traficantes... E os dependentes...
E os que se acabam nos carnavais...
Quem são as criaturas diferentes?
Por que é que não são iguais?

Eu busco entre os iguais os diferentes...
Encontro a diferença entre os iguais...
Prossigo a minha busca lentamente...
Quem faz meu verso? A minha voz, quem faz?
E minha assinatura? Alguém que tente?
E os olhos? E as impressões digitais?
Eu busco, entre os iguais, os diferentes,
E encontro diferenças tão iguais...

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