Pensamento
De poema em poema
É que a vida
Vale a pena...
27.2.02
26.2.02
O Coração
Poema virtual em quatro partes
1. Do Nome do Nick.
Eu não me lembro: era Rosa...
Ou Azulzinha... ou Grená...
Ou Caladinha... ou Dengosa...
M a fim de namorar...
Era Diabinha? Era Santa?
Pecadora? Bruxa? Má?
Era Só Minha? Só Sua?
Ou era Estrela do Mar?
Talvez fosse Namorada...
Moça querendo casar...
Moreninha... Apaixonada...
Como é que eu vou me lembrar?
Polyana? Ju? Marina?
Dany? Camila? Pilar?
Cíntia? Flávia? Carolina?
Paty? Paula? Norimar?
Forrozeira? Patricinha?
Fazendeira? Professora?
Saideira? Saidinha?
Saradinha? Salvadora?
Eu não me lembro direito
Do nick que o nome usava,
Do nick que o nome tinha,
De como se apresentava...
Sei que era maior que o nome
Que no nick se ocultava:
O nome sentia a fome
E o nick se alimentava,
O nome queria ver
Mas era o nick que olhava,
O nick sentia o cheiro
Sempre que o nome cheirava,
Porque o nome adormecia
Sempre que o nick acordava,
Como quando nasce o dia
Assim que a noite se acaba.
O nome que usava o nick
Por certo se aproveitava
De tudo que o nick era,
Das coisas que o nick usava,
O nome que usava o nick
No nick se transformava.
Agora o nome era o nome
Do nick que o nome usava.
2. Das coisas que o nick dizia
Enquanto teclava
Contava:
Era loura, era alta, era posuda,
Sozinha por opção,
Tinha uma boca carnuda,
E uns olhos claros,
Tinha cabelos longos e cacheados,
E alguns desenhos estranhos pintados
Nas unhas da mão...
Ou talvez tenha dito:
Morena,
Com quase um metro e oitenta,
Dançarina,
Extrovertida...
Cabelos longos e lisos,
Namoradeira demais,
Levada feito pimenta,
Moleca feito menina,
E outras vezes atrevida,
Muitas vezes sem juizo,
Mas sempre com muito gás...
Tinha vinte ou qualquer coisa parecida,
Fazia curso pré-vestibular,
Planejou cursar biologia,
Namorou a engenharia,
Ela só não pensava em se casar...
Falava inglês,
Algumas coisas em russo,
Outras tantas palavras em alemão...
Conheceu a Patagônia,
Já fez planos de viajar pra Cisjordania,
Conhecer a Amazônia,
E dançar reggae ao sol do Maranhão...
Ou talvez tenha dito: quase trinta...
Ou mesmo quase quarenta?
Pantera sedutora que se pinta...
Loba devoradora piruenta...
Extravagante
Muito caprichosa
Sofisticada
Farta de perfumes
E ouros espalhados pela mão...
Exuberante
Ar de poderosa
E desejada
Por nicks e nomes
De homens...
Ela era assim: total satisfação...
E enquanto teclava,
Contava:
Dinheiro tinha, mas nem precisava...
Amores muitos, mas não se detinha...
Fazia só as coisas que gostava...
E tudo quanto ela queria, tinha...
Maliciosa sempre que teclava,
Era desajuizada, irreverente...
Às vezes não dizia... insinuava...
E sempre assim... convidativamente...
E me dizia
Que não gostava de poesia
Não escutava samba e nem pagode,
Preferia os homens altos, tipos Lord...
E quase se derretia
Por outros fortes, louros, de bigode...
Era capaz de fazer quase tudo
Mesmo que fosse só por quase nada...
Entrava nos canais mais absurdos...
Adorava teclar de madrugada...
Usava sempre o mesmo sexy nick,
Mas muitas vezes criava algum na hora...
Mantinha sempre a coerência e o pique...
Não conhecia a hora de ir embora...
Carla? Cristal? Cristininha?
Carismática? Coroa?
Popozuda? Tchutchuquinha?
Delicinha de Pessoa?
Delicada? Sapequinha?
Moça linda e muito boa ?
Era Soraya? Sereia?
Era Serena? Era Liz?
Deusa Maia? Lua Cheia?
Escorpiana feliz?
Era Sagitariana?
Virginiana indecisa?
Aline? Lana? Luana?
Fogo? Brasa? Vento? Brisa?
Era Loura gostosinha?
Toda pura? Toda boa?
Toda sua? To facinha?
To sozinha? To à toa?
Pepita? Dita? Paquita?
Nikita? Rabo de Saia?
Silvana? Sarita? Rita?
Catita? Rata de Praia?
Psicóloga? Miudinha?
Fisiogatinha? Pantera?
Encantada? Malukinha?
Megera? A Bela da Fera?
O nick dela qual era?
Gostava de praia.
De vodcka.
De misturar champagne com coca-cola...
Ela era pura ousadia...
E enquanto ela teclava me dizia:
Fumava muito...
(Ou detestava o cheiro do cigarro?)
As vezes me dava assunto...
Outras vezes só queria tirar sarro...
Dizia, quase abusada,
Que era atrevida, atirada,
Desaforada, sacana...
Às vezes escancarada...
As vezes muito mais do que escrachada...
Outras, a Gata Dengosa da semana...
Não se apegava aos gatos que atraia...
Gostava de seduzir, e se gabava
De conquistar os homens que queria
E de curtir quando ela os desprezava...
Não se envolvia jamais quando teclava.
Jurava que ali no chat não mentia.
Mas ela também não acreditava
Em nenhuma palavra do que lia.
E o que dizia, enquanto chatiava,
Era somente a coisa que sentia.
Não percebia e nem se incomodava
Quando ela magoava ou ofendia.
Quando ela seduzia e desprezava,
Quando ela machucava. E garantia
Que nem ligava
Se alguém sofria
Com a displicência com que ela magoava...
E enquanto, distraída, ela teclava,
Ela dizia
Que ela era assim:
Absoluta,
Única,
Exuberante,
Quase encantadora,
Incompreensível,
Misteriosa,
Bela,
O equilíbrio entre a boa
E a pecadora...
Pantera,
Fera,
Mulher sedutora,
Cheia de dengo e malicia e muita manha...
Potranca,
Lânguida,
Avassaladora,
E a voz feito a de um aço quando arranha...
E enquanto teclava,
Contava...
E enquanto contava
Jurava que não mentia...
Pena que ela não gostava
De poesia...
3. Das coisas que o nick era
I
Era silencio. As luzes apagadas.
Somente a tela do PC acesa...
Um gosto de sereno nas calçadas...
Biscoito e café frio sobre a mesa.
Ana Maria, só, ali, teclava...
Reinventava os tristes dias seus...
Fugia da vidinha que levava...
Brincava, na telinha, que era Deus...
Faria dezessete em fevereiro...
Ela trazia desde o nascimento
Alguma coisa ruim que ela escondia...
Brincava de estar bem o tempo inteiro.
Fazendo desfazer seu sofrimento
E a dor que devorava Ana Maria...
II
Faria dezessete em fevereiro...
Trazia um coração descompensado...
Que quase era maior que o peito inteiro...
Seu caso era bastante complicado.
Fariam dezessete essa menina
E a bala de oxigênio do seu lado...
E os comprimidos de Digoxina...
E o coração tão grande e delicado...
E a longa espera, quase que absurda,
Da cura que não vinha, e tão sonhada,
Da dor que parecia não ter fim...
E a longa espera, silenciosa e muda,
E a longa espera, tímida e calada
É que fazia Ana Maria assim:
III
Brincando de inventar felicidades...
Criando as suas próprias fantasias...
Podendo refazer facilidades
Que a vida seqüestrava dos seus dias...
Fugindo de encarar realidades...
Tentando a contramão das corredeiras...
Tomando um banho de banalidades...
E se fartando em suas brincadeiras...
Ana Maria, lúcida, lutava,
Sobrevivia a si, quando teclava,
E assim dessa maneira, resistia...
Ana Maria, em sua dor imensa,
Seguia, leve, em meio à noite densa,
Sem perceber a dor que a consumia...
4. Do nick que o nome usava...
Não era Carol, Carina,
Carolina, Cora, Cris,
Nem Kalu, nem Kelly, Keila,
Nem Luisa, nem Lais,
Nem Boazuda, Boazinha,
Mariinha, Marilu,
Nem era Kátia, nem Candy,
Nem Corina, nem Caru,
Não era Mara, Mariana,
Nem Camila, nem Cassinha,
Eu quase posso lembrar-me do nome que o nick tinha...
Era pequeno,
Suave,
Era feito assoviar uma canção,
Tinha um brilho delicado,
Um bom-bocado
Todo feito de pedaços variados de emoção...
Era todo suavezinho,
Feito o voz de passarinho...
Feito rastros de paixão...
Era silencio,
Barulho,
Pecado,
Absolvição...
O nome que o nick usava
(Porque o nick precisava
De um nome enquanto teclava)
Era apenas
Nada mais que
Coração...
Poema virtual em quatro partes
1. Do Nome do Nick.
Eu não me lembro: era Rosa...
Ou Azulzinha... ou Grená...
Ou Caladinha... ou Dengosa...
M a fim de namorar...
Era Diabinha? Era Santa?
Pecadora? Bruxa? Má?
Era Só Minha? Só Sua?
Ou era Estrela do Mar?
Talvez fosse Namorada...
Moça querendo casar...
Moreninha... Apaixonada...
Como é que eu vou me lembrar?
Polyana? Ju? Marina?
Dany? Camila? Pilar?
Cíntia? Flávia? Carolina?
Paty? Paula? Norimar?
Forrozeira? Patricinha?
Fazendeira? Professora?
Saideira? Saidinha?
Saradinha? Salvadora?
Eu não me lembro direito
Do nick que o nome usava,
Do nick que o nome tinha,
De como se apresentava...
Sei que era maior que o nome
Que no nick se ocultava:
O nome sentia a fome
E o nick se alimentava,
O nome queria ver
Mas era o nick que olhava,
O nick sentia o cheiro
Sempre que o nome cheirava,
Porque o nome adormecia
Sempre que o nick acordava,
Como quando nasce o dia
Assim que a noite se acaba.
O nome que usava o nick
Por certo se aproveitava
De tudo que o nick era,
Das coisas que o nick usava,
O nome que usava o nick
No nick se transformava.
Agora o nome era o nome
Do nick que o nome usava.
2. Das coisas que o nick dizia
Enquanto teclava
Contava:
Era loura, era alta, era posuda,
Sozinha por opção,
Tinha uma boca carnuda,
E uns olhos claros,
Tinha cabelos longos e cacheados,
E alguns desenhos estranhos pintados
Nas unhas da mão...
Ou talvez tenha dito:
Morena,
Com quase um metro e oitenta,
Dançarina,
Extrovertida...
Cabelos longos e lisos,
Namoradeira demais,
Levada feito pimenta,
Moleca feito menina,
E outras vezes atrevida,
Muitas vezes sem juizo,
Mas sempre com muito gás...
Tinha vinte ou qualquer coisa parecida,
Fazia curso pré-vestibular,
Planejou cursar biologia,
Namorou a engenharia,
Ela só não pensava em se casar...
Falava inglês,
Algumas coisas em russo,
Outras tantas palavras em alemão...
Conheceu a Patagônia,
Já fez planos de viajar pra Cisjordania,
Conhecer a Amazônia,
E dançar reggae ao sol do Maranhão...
Ou talvez tenha dito: quase trinta...
Ou mesmo quase quarenta?
Pantera sedutora que se pinta...
Loba devoradora piruenta...
Extravagante
Muito caprichosa
Sofisticada
Farta de perfumes
E ouros espalhados pela mão...
Exuberante
Ar de poderosa
E desejada
Por nicks e nomes
De homens...
Ela era assim: total satisfação...
E enquanto teclava,
Contava:
Dinheiro tinha, mas nem precisava...
Amores muitos, mas não se detinha...
Fazia só as coisas que gostava...
E tudo quanto ela queria, tinha...
Maliciosa sempre que teclava,
Era desajuizada, irreverente...
Às vezes não dizia... insinuava...
E sempre assim... convidativamente...
E me dizia
Que não gostava de poesia
Não escutava samba e nem pagode,
Preferia os homens altos, tipos Lord...
E quase se derretia
Por outros fortes, louros, de bigode...
Era capaz de fazer quase tudo
Mesmo que fosse só por quase nada...
Entrava nos canais mais absurdos...
Adorava teclar de madrugada...
Usava sempre o mesmo sexy nick,
Mas muitas vezes criava algum na hora...
Mantinha sempre a coerência e o pique...
Não conhecia a hora de ir embora...
Carla? Cristal? Cristininha?
Carismática? Coroa?
Popozuda? Tchutchuquinha?
Delicinha de Pessoa?
Delicada? Sapequinha?
Moça linda e muito boa ?
Era Soraya? Sereia?
Era Serena? Era Liz?
Deusa Maia? Lua Cheia?
Escorpiana feliz?
Era Sagitariana?
Virginiana indecisa?
Aline? Lana? Luana?
Fogo? Brasa? Vento? Brisa?
Era Loura gostosinha?
Toda pura? Toda boa?
Toda sua? To facinha?
To sozinha? To à toa?
Pepita? Dita? Paquita?
Nikita? Rabo de Saia?
Silvana? Sarita? Rita?
Catita? Rata de Praia?
Psicóloga? Miudinha?
Fisiogatinha? Pantera?
Encantada? Malukinha?
Megera? A Bela da Fera?
O nick dela qual era?
Gostava de praia.
De vodcka.
De misturar champagne com coca-cola...
Ela era pura ousadia...
E enquanto ela teclava me dizia:
Fumava muito...
(Ou detestava o cheiro do cigarro?)
As vezes me dava assunto...
Outras vezes só queria tirar sarro...
Dizia, quase abusada,
Que era atrevida, atirada,
Desaforada, sacana...
Às vezes escancarada...
As vezes muito mais do que escrachada...
Outras, a Gata Dengosa da semana...
Não se apegava aos gatos que atraia...
Gostava de seduzir, e se gabava
De conquistar os homens que queria
E de curtir quando ela os desprezava...
Não se envolvia jamais quando teclava.
Jurava que ali no chat não mentia.
Mas ela também não acreditava
Em nenhuma palavra do que lia.
E o que dizia, enquanto chatiava,
Era somente a coisa que sentia.
Não percebia e nem se incomodava
Quando ela magoava ou ofendia.
Quando ela seduzia e desprezava,
Quando ela machucava. E garantia
Que nem ligava
Se alguém sofria
Com a displicência com que ela magoava...
E enquanto, distraída, ela teclava,
Ela dizia
Que ela era assim:
Absoluta,
Única,
Exuberante,
Quase encantadora,
Incompreensível,
Misteriosa,
Bela,
O equilíbrio entre a boa
E a pecadora...
Pantera,
Fera,
Mulher sedutora,
Cheia de dengo e malicia e muita manha...
Potranca,
Lânguida,
Avassaladora,
E a voz feito a de um aço quando arranha...
E enquanto teclava,
Contava...
E enquanto contava
Jurava que não mentia...
Pena que ela não gostava
De poesia...
3. Das coisas que o nick era
I
Era silencio. As luzes apagadas.
Somente a tela do PC acesa...
Um gosto de sereno nas calçadas...
Biscoito e café frio sobre a mesa.
Ana Maria, só, ali, teclava...
Reinventava os tristes dias seus...
Fugia da vidinha que levava...
Brincava, na telinha, que era Deus...
Faria dezessete em fevereiro...
Ela trazia desde o nascimento
Alguma coisa ruim que ela escondia...
Brincava de estar bem o tempo inteiro.
Fazendo desfazer seu sofrimento
E a dor que devorava Ana Maria...
II
Faria dezessete em fevereiro...
Trazia um coração descompensado...
Que quase era maior que o peito inteiro...
Seu caso era bastante complicado.
Fariam dezessete essa menina
E a bala de oxigênio do seu lado...
E os comprimidos de Digoxina...
E o coração tão grande e delicado...
E a longa espera, quase que absurda,
Da cura que não vinha, e tão sonhada,
Da dor que parecia não ter fim...
E a longa espera, silenciosa e muda,
E a longa espera, tímida e calada
É que fazia Ana Maria assim:
III
Brincando de inventar felicidades...
Criando as suas próprias fantasias...
Podendo refazer facilidades
Que a vida seqüestrava dos seus dias...
Fugindo de encarar realidades...
Tentando a contramão das corredeiras...
Tomando um banho de banalidades...
E se fartando em suas brincadeiras...
Ana Maria, lúcida, lutava,
Sobrevivia a si, quando teclava,
E assim dessa maneira, resistia...
Ana Maria, em sua dor imensa,
Seguia, leve, em meio à noite densa,
Sem perceber a dor que a consumia...
4. Do nick que o nome usava...
Não era Carol, Carina,
Carolina, Cora, Cris,
Nem Kalu, nem Kelly, Keila,
Nem Luisa, nem Lais,
Nem Boazuda, Boazinha,
Mariinha, Marilu,
Nem era Kátia, nem Candy,
Nem Corina, nem Caru,
Não era Mara, Mariana,
Nem Camila, nem Cassinha,
Eu quase posso lembrar-me do nome que o nick tinha...
Era pequeno,
Suave,
Era feito assoviar uma canção,
Tinha um brilho delicado,
Um bom-bocado
Todo feito de pedaços variados de emoção...
Era todo suavezinho,
Feito o voz de passarinho...
Feito rastros de paixão...
Era silencio,
Barulho,
Pecado,
Absolvição...
O nome que o nick usava
(Porque o nick precisava
De um nome enquanto teclava)
Era apenas
Nada mais que
Coração...
Amigos
Amigos:
Há os que chegam
Enquanto outros se vão.
Há os que sim, porque sempre...
E há os que às vezes não...
Amigos que permanecem
E outros, feito apagão,
Que as vezes desaparecem
Sem razão...
Amigos que ficam junto...
Amigos que vão embora...
Amigos que falam muito...
Amigos por quem se chora...
Amigos que a gente espera...
Amigos com quem se conta...
Amigos que até parecem de outra esfera...
Amigos de faz-de-conta...
Amigos pra todo dia...
Amigos pra toda vez...
Amigos por mais perfeita companhia...
Alguns que valem por três...
Amigos que morrem cedo...
Amigos que nunca vem...
Amigos que não tem medo...
Amigos que não tem bem...
Amigos de toda hora...
Amigos de qualquer jeito...
Amigos que a gente adora...
Amigos que a gente traz dentro do peito...
Alguns que a gente pensa que conhece...
Outros que a gente nem tanto...
Amigos de quem a gente até se esquece
Vez em quando...
Amigos que a gente lembra todo dia...
Alguns feito pedrinhas no sapato...
Alguns total harmonia...
Outros feito cão e gato...
Amigos que a gente cria com vontade
E mantém sempre do lado...
Alguns outros granjeados com a iniqüidade
E com o pecado...
Amigos de toda sorte...
Amigos de toda dor...
Amigos de todo porte
E toda cor...
Amigos contaminados...
Amigos com depressão...
Amigos abandonados...
Amigos sem coração...
Alguns amigos sem nome...
Alguns amigos sem lar...
Alguns amigos com fome
Outros a se empanturrar...
Amigos...
Há os de quase todo dia...
Há os amigos só de vez em quando...
Há os que são gostosa companhia...
Há os que vivem chorando...
Há os que não trazem nada...
Há os que fazem demais...
Há os que vivem seus Contos de Fada...
Há os que nunca tem paz...
Amigos...
Às vezes é impossível compreende-los...
E outras, impossível viver sem...
Não há uma receita de obte-los...
Por que os amamos? Não se sabe bem...
Às vezes começamos a perde-los
De um jeito complicado de explicar
Como se fosse a queda dos cabelos
Que a gente não consegue controlar...
Às vezes somos nós que os dispensamos
Como quem olha e finge não olhar,
E um dia, quando já nos afastamos,
Tentamos recuperar...
Amigos...
Único junto, mesmo quando só...
Único vôo, mesmo quando chão...
Único enorme, mesmo quando pó...
Único sim, ainda quando não...
O único que fica quando acaba...
O único que vai sem ir embora...
O único que cai e não desaba...
O único que dói quando ele chora...
O único que rima com carinhos...
O único que espanta a solidão...
Caminho que são todos os caminhos...
Única contra-mão que é sempre mão...
Ao mesmo tempo pai e mãe e filho,
Mulher, artista preferido, luz,
Poema, musica, desejo, brilho,
Canto suave, bossa nove, blues...
Estrada, oásis, alicerce, trilho,
Dedicação, passada de avestruz,
Repetitivo, feito um estribilho,
Maravilhoso, feito olhos azuis,
Contagiante, feito catapora,
Que salta aos olhos, feito ver o mar,
Absoluto, feito a onda sonora,
E tão incompreensível quanto amar...
Amigos...
A minha pílula de alma lavada...
Com quem sempre contei na minha dor...
Varinha de condão da minha fada...
A quem sempre confio o meu amor...
Por quem me descontrolo quando a vida
Afasta-os, vez em quando, dos meus dias.
Como se fosse um beco sem saída...
Como um poeta sem fazer poesias...
Amigos...
De quem eu recebi tanto carinho...
Por quem eu derramei tanto suor...
A quem me entrego sempre e de mansinho...
Pra quem eu fiz canções em tom maior...
Com quem caminho sempre quando ando...
Com quem divido sempre a minha cruz...
De quem sinto saudades, vez em quando...
Aonde eu guardo e bebo a minha luz...
Amigos...
Se é impossível compreende-los, ame-os...
Quer evitar perde-los? Deixa-os ir...
É tão difícil esquece-los? Chame-os...
Se é bom tê-los por perto, deixa-os vir:
Bonitos, feios, magros, altos, mancos,
Ripongas, mauricinhos, dançarinos,
Mulatos, negros, amarelos, brancos,
E as meninas, e os meninos,
Amigos de Arraial, de Conceição,
Itaperuna, Manhuaçu, Linhares,
Peró, Sossego, Barra de São João,
E de Ipatinga, e de Valadares...
E tricolores, e Vascaínos,
Botafoguenses e flamenguistas,
Eu só não tenho amigos argentinos
E nem amigos nazistas...
Eu sempre precisei dos meus amigos
Do modo, exatamente, como são...
Azedos, incoerentes, agressivos...
Às vezes inconvenientes, outras não...
Às vezes descuidados, esquecidos,
Por vezes abusivos, abusados...
Às vezes silenciosos, retraídos,
Por vezes atrevidos, muito ousados...
Às vezes cheios de não me toques...
Às vezes cheios de disse-me-disse...
Às vezes permanentes como inox...
Às vezes passageiros como giz...
Às vezes como as frases de Quintana,
A musica do Chico, a mão do Tom,
Amigos como o mar, Copacabana,
Domingo à tarde, praia do Leblon...
Amigos...
Razão maior da minha vida inteira...
Verso que mais me agrada de escrever...
Letra que eu vou cantando de primeira...
Única dor que eu sofro sem sofrer...
Única cor que são todas as cores...
Único som que são todos num só...
Amor acima desses quaseamores...
O único menor que é bem maior...
A única coisa que fica
Depois que a festa se acaba...
O que não se justifica
Nem se explica...
Programa que nunca trava...
Amigos...
Tive, tenho, terei, procuro, quero,
Gosto, faço por ter, preciso, tento,
Divido, evito perder, por isso espero,
E é bom cada vez que eu experimento...
Amigos...
Milhares, mas que nunca se copiam...
Delicias, cada um com seu sabor...
Completos, mas mesmo quando esvaziam
Não perdem seu perfume ou sua cor...
Por isso
Os meus amigos
São mais parte de mim do que sou eu
Porque sem eles sou pela metade...
A Roma que não tem seu Coliseu,
Igreja da Matriz que não tem padre...
Hidrante seco, caneta sem tinta,
Verso sem rima, ritmo sem som,
Garrincha driblando sem finta,
A Broadway sem letreiros de néon...
Amigos...
Que me perdoem os auto-suficientes
E os que não precisam de ninguém,
E os que se amam demais, não são carentes,
E os que se tratam sempre muito bem,
Que me perdoem os mais coerentes
Mas a felicidade que eu procuro
Além do muro enorme que me cerca,
Minha felicidade de além-muro
Está no outro que me completa:
E cada amigo é a pessoa certa
De que eu preciso pra ser feliz...
Que me perdoem os bem resolvidos
E os que só vivem pros seus umbigos:
Eu gosto mesmo é dos meus Amigos...
Amigos:
Há os que chegam
Enquanto outros se vão.
Há os que sim, porque sempre...
E há os que às vezes não...
Amigos que permanecem
E outros, feito apagão,
Que as vezes desaparecem
Sem razão...
Amigos que ficam junto...
Amigos que vão embora...
Amigos que falam muito...
Amigos por quem se chora...
Amigos que a gente espera...
Amigos com quem se conta...
Amigos que até parecem de outra esfera...
Amigos de faz-de-conta...
Amigos pra todo dia...
Amigos pra toda vez...
Amigos por mais perfeita companhia...
Alguns que valem por três...
Amigos que morrem cedo...
Amigos que nunca vem...
Amigos que não tem medo...
Amigos que não tem bem...
Amigos de toda hora...
Amigos de qualquer jeito...
Amigos que a gente adora...
Amigos que a gente traz dentro do peito...
Alguns que a gente pensa que conhece...
Outros que a gente nem tanto...
Amigos de quem a gente até se esquece
Vez em quando...
Amigos que a gente lembra todo dia...
Alguns feito pedrinhas no sapato...
Alguns total harmonia...
Outros feito cão e gato...
Amigos que a gente cria com vontade
E mantém sempre do lado...
Alguns outros granjeados com a iniqüidade
E com o pecado...
Amigos de toda sorte...
Amigos de toda dor...
Amigos de todo porte
E toda cor...
Amigos contaminados...
Amigos com depressão...
Amigos abandonados...
Amigos sem coração...
Alguns amigos sem nome...
Alguns amigos sem lar...
Alguns amigos com fome
Outros a se empanturrar...
Amigos...
Há os de quase todo dia...
Há os amigos só de vez em quando...
Há os que são gostosa companhia...
Há os que vivem chorando...
Há os que não trazem nada...
Há os que fazem demais...
Há os que vivem seus Contos de Fada...
Há os que nunca tem paz...
Amigos...
Às vezes é impossível compreende-los...
E outras, impossível viver sem...
Não há uma receita de obte-los...
Por que os amamos? Não se sabe bem...
Às vezes começamos a perde-los
De um jeito complicado de explicar
Como se fosse a queda dos cabelos
Que a gente não consegue controlar...
Às vezes somos nós que os dispensamos
Como quem olha e finge não olhar,
E um dia, quando já nos afastamos,
Tentamos recuperar...
Amigos...
Único junto, mesmo quando só...
Único vôo, mesmo quando chão...
Único enorme, mesmo quando pó...
Único sim, ainda quando não...
O único que fica quando acaba...
O único que vai sem ir embora...
O único que cai e não desaba...
O único que dói quando ele chora...
O único que rima com carinhos...
O único que espanta a solidão...
Caminho que são todos os caminhos...
Única contra-mão que é sempre mão...
Ao mesmo tempo pai e mãe e filho,
Mulher, artista preferido, luz,
Poema, musica, desejo, brilho,
Canto suave, bossa nove, blues...
Estrada, oásis, alicerce, trilho,
Dedicação, passada de avestruz,
Repetitivo, feito um estribilho,
Maravilhoso, feito olhos azuis,
Contagiante, feito catapora,
Que salta aos olhos, feito ver o mar,
Absoluto, feito a onda sonora,
E tão incompreensível quanto amar...
Amigos...
A minha pílula de alma lavada...
Com quem sempre contei na minha dor...
Varinha de condão da minha fada...
A quem sempre confio o meu amor...
Por quem me descontrolo quando a vida
Afasta-os, vez em quando, dos meus dias.
Como se fosse um beco sem saída...
Como um poeta sem fazer poesias...
Amigos...
De quem eu recebi tanto carinho...
Por quem eu derramei tanto suor...
A quem me entrego sempre e de mansinho...
Pra quem eu fiz canções em tom maior...
Com quem caminho sempre quando ando...
Com quem divido sempre a minha cruz...
De quem sinto saudades, vez em quando...
Aonde eu guardo e bebo a minha luz...
Amigos...
Se é impossível compreende-los, ame-os...
Quer evitar perde-los? Deixa-os ir...
É tão difícil esquece-los? Chame-os...
Se é bom tê-los por perto, deixa-os vir:
Bonitos, feios, magros, altos, mancos,
Ripongas, mauricinhos, dançarinos,
Mulatos, negros, amarelos, brancos,
E as meninas, e os meninos,
Amigos de Arraial, de Conceição,
Itaperuna, Manhuaçu, Linhares,
Peró, Sossego, Barra de São João,
E de Ipatinga, e de Valadares...
E tricolores, e Vascaínos,
Botafoguenses e flamenguistas,
Eu só não tenho amigos argentinos
E nem amigos nazistas...
Eu sempre precisei dos meus amigos
Do modo, exatamente, como são...
Azedos, incoerentes, agressivos...
Às vezes inconvenientes, outras não...
Às vezes descuidados, esquecidos,
Por vezes abusivos, abusados...
Às vezes silenciosos, retraídos,
Por vezes atrevidos, muito ousados...
Às vezes cheios de não me toques...
Às vezes cheios de disse-me-disse...
Às vezes permanentes como inox...
Às vezes passageiros como giz...
Às vezes como as frases de Quintana,
A musica do Chico, a mão do Tom,
Amigos como o mar, Copacabana,
Domingo à tarde, praia do Leblon...
Amigos...
Razão maior da minha vida inteira...
Verso que mais me agrada de escrever...
Letra que eu vou cantando de primeira...
Única dor que eu sofro sem sofrer...
Única cor que são todas as cores...
Único som que são todos num só...
Amor acima desses quaseamores...
O único menor que é bem maior...
A única coisa que fica
Depois que a festa se acaba...
O que não se justifica
Nem se explica...
Programa que nunca trava...
Amigos...
Tive, tenho, terei, procuro, quero,
Gosto, faço por ter, preciso, tento,
Divido, evito perder, por isso espero,
E é bom cada vez que eu experimento...
Amigos...
Milhares, mas que nunca se copiam...
Delicias, cada um com seu sabor...
Completos, mas mesmo quando esvaziam
Não perdem seu perfume ou sua cor...
Por isso
Os meus amigos
São mais parte de mim do que sou eu
Porque sem eles sou pela metade...
A Roma que não tem seu Coliseu,
Igreja da Matriz que não tem padre...
Hidrante seco, caneta sem tinta,
Verso sem rima, ritmo sem som,
Garrincha driblando sem finta,
A Broadway sem letreiros de néon...
Amigos...
Que me perdoem os auto-suficientes
E os que não precisam de ninguém,
E os que se amam demais, não são carentes,
E os que se tratam sempre muito bem,
Que me perdoem os mais coerentes
Mas a felicidade que eu procuro
Além do muro enorme que me cerca,
Minha felicidade de além-muro
Está no outro que me completa:
E cada amigo é a pessoa certa
De que eu preciso pra ser feliz...
Que me perdoem os bem resolvidos
E os que só vivem pros seus umbigos:
Eu gosto mesmo é dos meus Amigos...
As Fomes
Ele tinha fome de boca, fome de mão...
Ela, só fome de coração...
Ele tinha fome de pele, de caricia...
Ela, de ser tratada com delicia...
Ele, de perna, joelho, tornozelo...
Ela, de ser cuidada com desvelo...
Ele era a fome da voz a sussurrar...
Ela, a da delicadeza de um olhar...
Ele era a fome de um lençol de linho...
Ela, a de ser tratada com carinho...
Mas, como suas fomes muito diferentes,
Parecessem, porque fomes, muito iguais,
Eles se deram, com fome, um ao outro,
E se entregaram,
Como se dão, uns aos outros, os casais...
E enquanto ele se contentava
Ela tentava...
Ele gostava, sorria...
Ela arriscava ver se descobria...
Ele se deliciava, se fartava de euforia,
Ela buscava obter o que queria...
Às vezes ela até acreditava...
Às vezes ele quase convencia...
E enquanto ela procurava,
Se dava, se oferecia,
Ele, sozinho, se alimentava
Da fome que ela sentia...
Ate que um dia
As suas fomes mostraram-se evidentes:
A dele, fome de dentes,
A dela, fome de sentir saudades...
A dele, fome de beijos ardentes,
A dela fome de infantilidades...
A dele, a fome do corpo quente,
A dela, a fome de companhia...
A dele, a fome de um aguardente...
A dela, fome de poesia...
Eram fomes diferentes:
Céu e chão,
Pecadores e inocentes,
Sim e não,
Meia noite,
Meio dia,
Até que um dia, desses tao normais,
Eles se compreenderam desiguais...
E desde então, nunca mais
Quando ele pele, ela vida,
Ele mordida, ela olhar.
Ele era fora, ela, dentro...
Ele o momento, ela mais...
Ele era o gás, ela a luz,
Porque ele era a fome fugaz,
E ela, a fome que o verso não traduz...
Ele tinha fome de boca, fome de mão...
Ela, só fome de coração...
Ele tinha fome de pele, de caricia...
Ela, de ser tratada com delicia...
Ele, de perna, joelho, tornozelo...
Ela, de ser cuidada com desvelo...
Ele era a fome da voz a sussurrar...
Ela, a da delicadeza de um olhar...
Ele era a fome de um lençol de linho...
Ela, a de ser tratada com carinho...
Mas, como suas fomes muito diferentes,
Parecessem, porque fomes, muito iguais,
Eles se deram, com fome, um ao outro,
E se entregaram,
Como se dão, uns aos outros, os casais...
E enquanto ele se contentava
Ela tentava...
Ele gostava, sorria...
Ela arriscava ver se descobria...
Ele se deliciava, se fartava de euforia,
Ela buscava obter o que queria...
Às vezes ela até acreditava...
Às vezes ele quase convencia...
E enquanto ela procurava,
Se dava, se oferecia,
Ele, sozinho, se alimentava
Da fome que ela sentia...
Ate que um dia
As suas fomes mostraram-se evidentes:
A dele, fome de dentes,
A dela, fome de sentir saudades...
A dele, fome de beijos ardentes,
A dela fome de infantilidades...
A dele, a fome do corpo quente,
A dela, a fome de companhia...
A dele, a fome de um aguardente...
A dela, fome de poesia...
Eram fomes diferentes:
Céu e chão,
Pecadores e inocentes,
Sim e não,
Meia noite,
Meio dia,
Até que um dia, desses tao normais,
Eles se compreenderam desiguais...
E desde então, nunca mais
Quando ele pele, ela vida,
Ele mordida, ela olhar.
Ele era fora, ela, dentro...
Ele o momento, ela mais...
Ele era o gás, ela a luz,
Porque ele era a fome fugaz,
E ela, a fome que o verso não traduz...
O Nome do Anjo
O nome do Anjo é Anjo...
Parece imaginação...
Às vezes se chama sonho...
Outras vezes ilusão...
O nome do Anjo é doce
É feito beijo na mão...
Suave feito sereno...
Macio feito algodão...
Às vezes se chama Alberto...
Outras vezes Sebastião...
Às vezes é bem discreto
Não se chama nada não...
As vezes tem nome leve
De gente que já partiu...
Meu avo (quanta saudade),
Meu irmão, meu pai, meu tio...
Tem vezes que é Severino...
Outras vezes que é Maria...
Umas é só um menino...
Outras é só poesia...
Às vezes protege o sono
Nas noites de trovoada...
O nome do Anjo é como
O colo da Mãe amada...
Ja foi a voz delicada,
De me tratar com ternura...
Tua face , iluminada...
Uma doce criatura...
Já foi um verso que eu disse...
Alguma canção que eu fiz...
O nome já foi Alice...
Já deve ter sido Elis ...
Às vezes é pequenino
Mas lindo...Feito uma idéia ...
E traz o sabor do néctar
Do doce da geléia...
Às vezes surge do nada
Fazendo o tempo virar:
Alto mar em terra firme
Da gente não se afogar...
O nome do Anjo é lindo...
Às vezes vira canção...
Às vezes vira poema...
Só não vira solidão...
O nome do anjo é doce...
O doce do Anjo é mel...
O mel é como se fosse
Fabricado lá no céu...
O nome do Anjo é Anjo...
É tão bom quando ele vem...
Felizes os que tem Anjos...
Porque é dos Anjos que vem
O doce que causa o doce,
A cor que dá cor à vida
E o bem que só causa o bem...
O nome do Anjo é Anjo...
Parece imaginação...
Às vezes se chama sonho...
Outras vezes ilusão...
O nome do Anjo é doce
É feito beijo na mão...
Suave feito sereno...
Macio feito algodão...
Às vezes se chama Alberto...
Outras vezes Sebastião...
Às vezes é bem discreto
Não se chama nada não...
As vezes tem nome leve
De gente que já partiu...
Meu avo (quanta saudade),
Meu irmão, meu pai, meu tio...
Tem vezes que é Severino...
Outras vezes que é Maria...
Umas é só um menino...
Outras é só poesia...
Às vezes protege o sono
Nas noites de trovoada...
O nome do Anjo é como
O colo da Mãe amada...
Ja foi a voz delicada,
De me tratar com ternura...
Tua face , iluminada...
Uma doce criatura...
Já foi um verso que eu disse...
Alguma canção que eu fiz...
O nome já foi Alice...
Já deve ter sido Elis ...
Às vezes é pequenino
Mas lindo...Feito uma idéia ...
E traz o sabor do néctar
Do doce da geléia...
Às vezes surge do nada
Fazendo o tempo virar:
Alto mar em terra firme
Da gente não se afogar...
O nome do Anjo é lindo...
Às vezes vira canção...
Às vezes vira poema...
Só não vira solidão...
O nome do anjo é doce...
O doce do Anjo é mel...
O mel é como se fosse
Fabricado lá no céu...
O nome do Anjo é Anjo...
É tão bom quando ele vem...
Felizes os que tem Anjos...
Porque é dos Anjos que vem
O doce que causa o doce,
A cor que dá cor à vida
E o bem que só causa o bem...
23.2.02
Semelhanças
Escrevo como quem canta...
Eu canto como quem ora...
Eu oro como quem sonha...
Eu sonho como quem chora...
Eu choro como quem pensa...
Eu penso como quem doa...
Eu dôo como quem beija...
Eu beijo como quem voa...
Eu vôo como quem sente...
Eu sinto como quem chama...
Eu chamo como quem mente...
Eu minto como quem ama...
Eu amo como quem tarda...
Eu tardo como quem cala...
Eu calo como quem guarda...
Eu guardo como quem fala...
Eu falo como quem canta...
Eu canto como quem diz...
Eu digo como quem vive...
E eu vivo, assim, mais feliz...
Escrevo como quem canta...
Eu canto como quem ora...
Eu oro como quem sonha...
Eu sonho como quem chora...
Eu choro como quem pensa...
Eu penso como quem doa...
Eu dôo como quem beija...
Eu beijo como quem voa...
Eu vôo como quem sente...
Eu sinto como quem chama...
Eu chamo como quem mente...
Eu minto como quem ama...
Eu amo como quem tarda...
Eu tardo como quem cala...
Eu calo como quem guarda...
Eu guardo como quem fala...
Eu falo como quem canta...
Eu canto como quem diz...
Eu digo como quem vive...
E eu vivo, assim, mais feliz...
18.2.02
Trocando a letra
Após escutar “Até o fim” de Chico Buarque
Quando eu nasci veio um anjo esforçado,
Aprendiz de Querubim,
E me entregou um verso mal rabiscado
Que ele escreveu pra mim...
E desde então a minha vida mudou...
Por isso eu sou assim...
Ainda me lembro do Anjo, coitado,
(Parecia um Serafim)
E do seu verso, num papel amassado,
Que ele entregou pra mim...
E foi assim que tudo em mim começou...
E eu vou até o fim...
Após escutar “Até o fim” de Chico Buarque
Quando eu nasci veio um anjo esforçado,
Aprendiz de Querubim,
E me entregou um verso mal rabiscado
Que ele escreveu pra mim...
E desde então a minha vida mudou...
Por isso eu sou assim...
Ainda me lembro do Anjo, coitado,
(Parecia um Serafim)
E do seu verso, num papel amassado,
Que ele entregou pra mim...
E foi assim que tudo em mim começou...
E eu vou até o fim...
Minha amiga Lauren enfeita meus poemas em seus mails...
Oi minha amiga delicada e absoluta
Obrigado por ser tão gentil com a frase bruta...
Voce gasta seu tempo
E pensamento
Fantasiando a fantasia...
Poemando a poesia...
Alegrando a alegoria...
Formatando o clima
E Ritimando a rima...
Bendita Sejas
Santificando as igrejas
Que frequentas...
Pelas coisas deliciosas que tu inventas...
Bendita sempre e delicada sejas
Pela poesia que despejas
Quando ris...
Teus mails
São cheios
Dessas coisinhas de fazer feliz...
Beijo beijo beijo beijo e beijo e bis...
Luis.
Oi minha amiga delicada e absoluta
Obrigado por ser tão gentil com a frase bruta...
Voce gasta seu tempo
E pensamento
Fantasiando a fantasia...
Poemando a poesia...
Alegrando a alegoria...
Formatando o clima
E Ritimando a rima...
Bendita Sejas
Santificando as igrejas
Que frequentas...
Pelas coisas deliciosas que tu inventas...
Bendita sempre e delicada sejas
Pela poesia que despejas
Quando ris...
Teus mails
São cheios
Dessas coisinhas de fazer feliz...
Beijo beijo beijo beijo e beijo e bis...
Luis.
O Poema...
Quando estou triste o poema me alimenta...
Desesperado, o poema me contém...
Se estou carente, o poema me sustenta...
Quando estou mal o poema me faz bem...
Se o dia é feio, o poema o reinventa...
Se falta todo mundo, o verso vem...
A minha garrafinha de agua benta...
Meu lugarzinho no trem...
Quando estou triste o poema me alimenta...
Desesperado, o poema me contém...
Se estou carente, o poema me sustenta...
Quando estou mal o poema me faz bem...
Se o dia é feio, o poema o reinventa...
Se falta todo mundo, o verso vem...
A minha garrafinha de agua benta...
Meu lugarzinho no trem...
17.2.02
A palavra
Eu procurava a palavra
Pra te dizer um poema...
Que fosse sinceridade,
Que fosse toda verdade,
E que dissesse toda forma de beleza:
Surpresa...
Que fosse alicerce e sonho,
Realidade e delírio,
Fragilidade e firmeza,
Navalha cheia de delicadeza,
Fortaleza e mansidão...
Ao mesmo tempo toque e alumbramento,
Como se fosse tudo ao mesmo tempo...
Ao mesmo tempo corpo e coração...
E fosse assim: comum e raridade:
Verdade...
Que fosse rica de aromas,
Fosse pródiga de cores,
Que suportasse os olhares,
Os mal-dizeres, e as dores,
Que superasse todas as distancias,
Que desprezasse toda incoerência,
Ignorasse arrogancias,
Pairasse acima da maledicência:
Inocência...
Que se cantasse em silencio
Como canção de ninar,
Que encantasse a quem ouvisse,
E que ela fosse
Delicada de cantar...
Completamente envolvente e imprecisa,
Como uma ponta de brisa,
Como quem pisa uma nuvem de levinho,
Como se fosse escrita de mansinho:
Carinho...
E quando a voz, num suave movimento,
Resolvesse, de repente, pronuncia-la,
Não conseguisse dize-la,
Emudecesse a sua fala,
E só ousasse, então, nesse momento,
Quando a voz quase se cala,
Sussurra-la em pensamento:
Sentimento...
Que fosse coisa miudinha,
Pedra rara de encontrar,
E ao mesmo tempo
Gigantesca como o mar...
Muito simples de entender
Mas quase sempre
Impossível de ensinar:
Amar...
E procurando a palavra, que eu buscasse
Em toda parte que eu imaginasse:
Que eu vasculhasse os desertos,
Enfrentasse as tempestades,
E fosse ao sol mais longe e ao chão mais perto,
Aos estreitos estranhos e às ruínas,
E aos parques mais distantes da cidade,
E me metesse em cascatas e colinas,
Que eu madrugasse em neblinas,
Contra-luzes, contra-mão,
Ignorasse buzinas,
E que ao cruzar as esquinas
Não percebesse a canção...
Como quem sente uma sede nordestina,
Como quem sonha com a fonte cristalina,
Como quem quer liberdade na prisão:
Coração...
Eu procurava a palavra
Toda feita da surpresa que desperta...
Derramando inocência e poesia...
Resumindo a verdade mais completa...
Transbordando carinho a cada dia...
Quase que só sentimento...
Quase feita só de amar...
Que fosse só coração essa palavra
Que eu estava a procurar...
Eu procurava a palavra
Perfeita pro teu poema
Quando encontrei o teu nome.
Silencio.
Fala baixinho.
Soletra devagarinho.
Parece quase que nada.
Escuta
Como quem ouve
Sozinho
Os ventos da madrugada...
Silencio.
Não diz mais nada.
Só cale.
Mas não arrisque qualquer coisa que atrapalhe...
E sonha feito um menino...
Porque o teu nome tem a força de um destino...
Eu procurava a palavra
Pra te fazer um poema
E sem saber das coisas que eu diria...
Uma palavra que fosse uma poesia...
Desses poemas de fazer sonhar...
E desses sonhos de fazer sorrir...
Eu procurava a palavra
Que era a palavra de eu te oferecer...
E era a palavra só de te agradar...
Qual nada...
Já não procuro a palavra...
Porque a palavra incomum que eu procurava
Chegou ate a mim sem eu sentir...
Eu procurava e ela me observava...
Hoje a poesia passeia aliviada
Falando somente em ti...
Eu procurava a palavra
Pra te dizer um poema...
Que fosse sinceridade,
Que fosse toda verdade,
E que dissesse toda forma de beleza:
Surpresa...
Que fosse alicerce e sonho,
Realidade e delírio,
Fragilidade e firmeza,
Navalha cheia de delicadeza,
Fortaleza e mansidão...
Ao mesmo tempo toque e alumbramento,
Como se fosse tudo ao mesmo tempo...
Ao mesmo tempo corpo e coração...
E fosse assim: comum e raridade:
Verdade...
Que fosse rica de aromas,
Fosse pródiga de cores,
Que suportasse os olhares,
Os mal-dizeres, e as dores,
Que superasse todas as distancias,
Que desprezasse toda incoerência,
Ignorasse arrogancias,
Pairasse acima da maledicência:
Inocência...
Que se cantasse em silencio
Como canção de ninar,
Que encantasse a quem ouvisse,
E que ela fosse
Delicada de cantar...
Completamente envolvente e imprecisa,
Como uma ponta de brisa,
Como quem pisa uma nuvem de levinho,
Como se fosse escrita de mansinho:
Carinho...
E quando a voz, num suave movimento,
Resolvesse, de repente, pronuncia-la,
Não conseguisse dize-la,
Emudecesse a sua fala,
E só ousasse, então, nesse momento,
Quando a voz quase se cala,
Sussurra-la em pensamento:
Sentimento...
Que fosse coisa miudinha,
Pedra rara de encontrar,
E ao mesmo tempo
Gigantesca como o mar...
Muito simples de entender
Mas quase sempre
Impossível de ensinar:
Amar...
E procurando a palavra, que eu buscasse
Em toda parte que eu imaginasse:
Que eu vasculhasse os desertos,
Enfrentasse as tempestades,
E fosse ao sol mais longe e ao chão mais perto,
Aos estreitos estranhos e às ruínas,
E aos parques mais distantes da cidade,
E me metesse em cascatas e colinas,
Que eu madrugasse em neblinas,
Contra-luzes, contra-mão,
Ignorasse buzinas,
E que ao cruzar as esquinas
Não percebesse a canção...
Como quem sente uma sede nordestina,
Como quem sonha com a fonte cristalina,
Como quem quer liberdade na prisão:
Coração...
Eu procurava a palavra
Toda feita da surpresa que desperta...
Derramando inocência e poesia...
Resumindo a verdade mais completa...
Transbordando carinho a cada dia...
Quase que só sentimento...
Quase feita só de amar...
Que fosse só coração essa palavra
Que eu estava a procurar...
Eu procurava a palavra
Perfeita pro teu poema
Quando encontrei o teu nome.
Silencio.
Fala baixinho.
Soletra devagarinho.
Parece quase que nada.
Escuta
Como quem ouve
Sozinho
Os ventos da madrugada...
Silencio.
Não diz mais nada.
Só cale.
Mas não arrisque qualquer coisa que atrapalhe...
E sonha feito um menino...
Porque o teu nome tem a força de um destino...
Eu procurava a palavra
Pra te fazer um poema
E sem saber das coisas que eu diria...
Uma palavra que fosse uma poesia...
Desses poemas de fazer sonhar...
E desses sonhos de fazer sorrir...
Eu procurava a palavra
Que era a palavra de eu te oferecer...
E era a palavra só de te agradar...
Qual nada...
Já não procuro a palavra...
Porque a palavra incomum que eu procurava
Chegou ate a mim sem eu sentir...
Eu procurava e ela me observava...
Hoje a poesia passeia aliviada
Falando somente em ti...
15.2.02
Eu só queria inventar uma poesia...
Há alguns dias fui apresentado à poesia de Manoel de Barros pela minha irmã, o meu amor...
Pouco tempo depois encontrei em uma livraria um volume seu:
“Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo”.
Há nele um poema chamado “Infantil”
E no poema um menino que diz:
“Eu só queria inventar uma poesia”
Bom dia, Manoel, bom dia...
Conheci há pouco tempo
A tua palavra na tua poesia...
E fui tomado de um encantamento
E de uma certa dosagem de euforia...
Ínfimo
Em seu ritmo,
Teu verso é como uma canção antiga...
Máximo
Em sentido,
É todo feito de matéria viva...
Talvez
Por eu também olhar as pequenices
Das coisas que outros chamam de bobices,
Ou por tratar miudezas e detalhes
Como se fossem os quartos de Versalhes,
Como se fossem, pra mim, o oxigênio,
É que eu gostei do teu poema ameno...
E dei de ficar com ele, coisa minha...
Vivi estórias da Carochinha
Enquanto lia
A tua palavra, sã sabedoria...
Bom dia, Manoel, bom dia...
Faz tão bem pouco tempo, e nem parece
Que a gente nem se conhece...
Desculpa-me o abuso e a ousadia...
“Eu só queria inventar uma poesia...”.
Há alguns dias fui apresentado à poesia de Manoel de Barros pela minha irmã, o meu amor...
Pouco tempo depois encontrei em uma livraria um volume seu:
“Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo”.
Há nele um poema chamado “Infantil”
E no poema um menino que diz:
“Eu só queria inventar uma poesia”
Bom dia, Manoel, bom dia...
Conheci há pouco tempo
A tua palavra na tua poesia...
E fui tomado de um encantamento
E de uma certa dosagem de euforia...
Ínfimo
Em seu ritmo,
Teu verso é como uma canção antiga...
Máximo
Em sentido,
É todo feito de matéria viva...
Talvez
Por eu também olhar as pequenices
Das coisas que outros chamam de bobices,
Ou por tratar miudezas e detalhes
Como se fossem os quartos de Versalhes,
Como se fossem, pra mim, o oxigênio,
É que eu gostei do teu poema ameno...
E dei de ficar com ele, coisa minha...
Vivi estórias da Carochinha
Enquanto lia
A tua palavra, sã sabedoria...
Bom dia, Manoel, bom dia...
Faz tão bem pouco tempo, e nem parece
Que a gente nem se conhece...
Desculpa-me o abuso e a ousadia...
“Eu só queria inventar uma poesia...”.
14.2.02
Quem é que são?
_Você é diferente!
(eu escutei)
_Diferente demais!
Então, depois dali, me perguntei:
_Quem é que são os iguais?
Quem são as criaturas diferentes?
Onde é que estão os iguais?
Perguntas que eu me faço diariamente...
Respostas que eu procuro e nada traz...
Respostas que não chegam, simplesmente...
Perguntas que não cessam nunca mais...
Eu olho pros casais impacientes
E pros cabelos verdes do rapaz...
E a moça de olhos claros que usa lentes...
E os homens bêbados, e os marginais...
Quem são as criaturas diferentes?
Quem são os homens iguais?
As moças com decotes indecentes
E os moços com desejos tão banais...
E as moças com segredos salientes...
E os moços com palpites geniais...
E os velhos, nos asilos, como doentes...
E as filhas separadas dos seus pais...
E os seres solitários, e os carentes...
E os auto-suficientes, e os normais...
E aqueles que assassinam brutalmente...
E os homens maus... E as mulheres más...
Quem são as criaturas diferentes?
Quem é que são os iguais?
E os viciados... E os delinqüentes...
E os que se tornam policiais...
E os namorados incoerentes...
E as amantes entre os casais...
E os solitários... E os descontentes...
E os com vocações sacerdotais...
E os que nunca batem de frente...
E os tanto fez como tanto faz...
E os moços com a voz malemolente...
E as moças com trejeitos de rapaz...
Quem são as criaturas diferentes?
E as criaturas iguais?
E a Guerra Santa, de ódio latente,
Matando, à sangue frio, a Santa Paz...
E aqueles que condenam inocentes...
E aqueles que escolheram Barrabás...
E os esotéricos... E os clarividentes...
E as prostitutas da beira do cais...
E os estressados... E os impacientes...
E os que se acham intelectuais...
E os que morrem de fome diariamente...
E os que se consideram imortais...
Quem são as criaturas diferentes?
Onde é que estão os iguais?
Eu olhei a fé cristã dos homens crentes
E os que se entregam a estranhos rituais...
E os homens simples, e os inteligentes,
E as mulheres em busca de cartaz...
Abortos realizados diariamente
Por quem às vezes nem sabe o que faz...
Homens que bebem freqüentemente...
Mulheres com problemas sexuais...
E as moças que se dão completamente
Para homens que parecem canibais...
Quem são as criaturas diferentes?
Para onde vão os iguais?
Olhei para os poetas e os videntes
E os cientistas espaciais...
E os pecadores, e os inocentes,
E os operários, e os marginais...
E os violeiros e seus repentes...
Os rapers e seus raps geniais...
Os que morreram, os sobreviventes,
E os que mataram por seus ideais...
E os que se entregam completamente...
E os que são como pedras glaciais...
Quem são as criaturas diferentes?
De onde é que vem os iguais?
E os velhos seduzindo adolescentes...
E os moços que dão tiros nos pardais...
E os Delegados onipotentes...
E os doentes mentais...
E os covardes... E os imprudentes...
E os promíscuos... E os profissionais...
E os que mentem descaradamente...
E os que passam os outros pra trás...
E os subversivos... E os dissidentes...
E os moços que cultuam Satanás...
Quem são as criaturas diferentes?
A quem elas são iguais?
E os que abusam dos entorpecentes...
E os que só usam produtos naturais...
E os Homeopatas... E seus pacientes...
E os que se curam pelos cristais...
E os conformados... E os contundentes...
E os elementos das gangs rivais...
Os psicógrafos e os médiuns videntes...
E os cirurgiões espirituais...
E os traficantes... E os dependentes...
E os que se acabam nos carnavais...
Quem são as criaturas diferentes?
Por que é que não são iguais?
Eu busco entre os iguais os diferentes...
Encontro a diferença entre os iguais...
Prossigo a minha busca lentamente...
Quem faz meu verso? A minha voz, quem faz?
E minha assinatura? Alguém que tente?
E os olhos? E as impressões digitais?
Eu busco, entre os iguais, os diferentes,
E encontro diferenças tão iguais...
_Você é diferente!
(eu escutei)
_Diferente demais!
Então, depois dali, me perguntei:
_Quem é que são os iguais?
Quem são as criaturas diferentes?
Onde é que estão os iguais?
Perguntas que eu me faço diariamente...
Respostas que eu procuro e nada traz...
Respostas que não chegam, simplesmente...
Perguntas que não cessam nunca mais...
Eu olho pros casais impacientes
E pros cabelos verdes do rapaz...
E a moça de olhos claros que usa lentes...
E os homens bêbados, e os marginais...
Quem são as criaturas diferentes?
Quem são os homens iguais?
As moças com decotes indecentes
E os moços com desejos tão banais...
E as moças com segredos salientes...
E os moços com palpites geniais...
E os velhos, nos asilos, como doentes...
E as filhas separadas dos seus pais...
E os seres solitários, e os carentes...
E os auto-suficientes, e os normais...
E aqueles que assassinam brutalmente...
E os homens maus... E as mulheres más...
Quem são as criaturas diferentes?
Quem é que são os iguais?
E os viciados... E os delinqüentes...
E os que se tornam policiais...
E os namorados incoerentes...
E as amantes entre os casais...
E os solitários... E os descontentes...
E os com vocações sacerdotais...
E os que nunca batem de frente...
E os tanto fez como tanto faz...
E os moços com a voz malemolente...
E as moças com trejeitos de rapaz...
Quem são as criaturas diferentes?
E as criaturas iguais?
E a Guerra Santa, de ódio latente,
Matando, à sangue frio, a Santa Paz...
E aqueles que condenam inocentes...
E aqueles que escolheram Barrabás...
E os esotéricos... E os clarividentes...
E as prostitutas da beira do cais...
E os estressados... E os impacientes...
E os que se acham intelectuais...
E os que morrem de fome diariamente...
E os que se consideram imortais...
Quem são as criaturas diferentes?
Onde é que estão os iguais?
Eu olhei a fé cristã dos homens crentes
E os que se entregam a estranhos rituais...
E os homens simples, e os inteligentes,
E as mulheres em busca de cartaz...
Abortos realizados diariamente
Por quem às vezes nem sabe o que faz...
Homens que bebem freqüentemente...
Mulheres com problemas sexuais...
E as moças que se dão completamente
Para homens que parecem canibais...
Quem são as criaturas diferentes?
Para onde vão os iguais?
Olhei para os poetas e os videntes
E os cientistas espaciais...
E os pecadores, e os inocentes,
E os operários, e os marginais...
E os violeiros e seus repentes...
Os rapers e seus raps geniais...
Os que morreram, os sobreviventes,
E os que mataram por seus ideais...
E os que se entregam completamente...
E os que são como pedras glaciais...
Quem são as criaturas diferentes?
De onde é que vem os iguais?
E os velhos seduzindo adolescentes...
E os moços que dão tiros nos pardais...
E os Delegados onipotentes...
E os doentes mentais...
E os covardes... E os imprudentes...
E os promíscuos... E os profissionais...
E os que mentem descaradamente...
E os que passam os outros pra trás...
E os subversivos... E os dissidentes...
E os moços que cultuam Satanás...
Quem são as criaturas diferentes?
A quem elas são iguais?
E os que abusam dos entorpecentes...
E os que só usam produtos naturais...
E os Homeopatas... E seus pacientes...
E os que se curam pelos cristais...
E os conformados... E os contundentes...
E os elementos das gangs rivais...
Os psicógrafos e os médiuns videntes...
E os cirurgiões espirituais...
E os traficantes... E os dependentes...
E os que se acabam nos carnavais...
Quem são as criaturas diferentes?
Por que é que não são iguais?
Eu busco entre os iguais os diferentes...
Encontro a diferença entre os iguais...
Prossigo a minha busca lentamente...
Quem faz meu verso? A minha voz, quem faz?
E minha assinatura? Alguém que tente?
E os olhos? E as impressões digitais?
Eu busco, entre os iguais, os diferentes,
E encontro diferenças tão iguais...
11.2.02
Água na boca...
Delicia que um dia eu queria provar...
Refresco que um dia eu queria beber...
Presente que um dia eu queria ganhar...
Tarefa que um dia eu queria fazer...
Pousada onde um dia eu queria acordar...
Repouso onde um dia eu queria poder
Deitar, e dormir, e mil sonhos sonhar...
Cartilha onde eu queria aprender a ler...
Brinquedo onde um dia eu queria brincar...
Chuvisco que um dia eu queria comer...
Melado de cana prá eu me lambuzar...
Loucura que um dia eu queria fazer...
Poema que um dia eu queria rimar...
Palavra que um dia eu queria escrever...
Floresta que um dia eu queria explorar...
Mistérios que um dia eu queria saber...
Escola onde um dia eu queria sambar...
Sorvete que um dia eu queria sorver...
Condutas que eu queria desrespeitar...
Regras que eu queria desobedecer...
E não adianta eu tentar me enganar...
E não adianta eu querer esconder...
Pois como por fim aos barulhos do mar?
Pois como falar e tentar não dizer?
Delicia que um dia eu queria provar...
Refresco que um dia eu queria beber...
Presente que um dia eu queria ganhar...
Tarefa que um dia eu queria fazer...
Pousada onde um dia eu queria acordar...
Repouso onde um dia eu queria poder
Deitar, e dormir, e mil sonhos sonhar...
Cartilha onde eu queria aprender a ler...
Brinquedo onde um dia eu queria brincar...
Chuvisco que um dia eu queria comer...
Melado de cana prá eu me lambuzar...
Loucura que um dia eu queria fazer...
Poema que um dia eu queria rimar...
Palavra que um dia eu queria escrever...
Floresta que um dia eu queria explorar...
Mistérios que um dia eu queria saber...
Escola onde um dia eu queria sambar...
Sorvete que um dia eu queria sorver...
Condutas que eu queria desrespeitar...
Regras que eu queria desobedecer...
E não adianta eu tentar me enganar...
E não adianta eu querer esconder...
Pois como por fim aos barulhos do mar?
Pois como falar e tentar não dizer?
Um poeta, Manoel de Barros...
Carnaval no Brasil...
Escondido num apartamento na Praia do Flamengo eu descobri o mundo.
Minha irmã, meu amor, me mandou há alguns dias uma página de Manoel de Barros.
Manoel de Barros...
Aprendi poesias com meu pai...
Li Castro Alves...
Casemiro...
Li Vinicius...
Li Gullar...
Cecília...
Augusto dos Anjos...
Drummond...
Bandeira...
Eu me perdi na métrica confusa e salvadora de Mário de Andrade...
Torquato Neto...
Conheci os jaguadartes Augusto e Haroldo de Campos...
E a poesia imensa de Chico Buarque...
Mas Manoel de Barros eu não o conhecia...
E de modo algum isso me deixou triste ou impaciente...
Quisera descobrir de tempos em tempos Manoeis de Barros que a vida não me apresentara quando eu presumo que deveria ter apresentado...
Aqui no Rio, sábado de carnaval, os Shoppings ainda abertos...
Numa livraria, descansando e iluminando a prateleira, um volume:
Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo...
Autor?
Manoel de Barros...
E a delicadeza de suas palavras trazem o peso de uma verdade infinita...
A poesia de Manoel não foi feita para ler...
Mas para respirar...
Passar na pele...
Dormir...
Sonhar...
É carnaval no Brasil...
Manoel de Barros foi aqui a minha fantasia preferida...
A Disfunção
Manoel de Barros
Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso a menos
Sendo que o mais justo seria o de ter um parafuso trocado do que a menos.
A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa disfunção lírica.
Nomearei abaixo 7 sintomas dessa disfunção lírica.
1. Aceitação da inércia para dar movimento às palavras.
2. Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3. Percepção de contigüidades anômalas entre verbos e substantivos.
4. Gostar de fazer casamentos incestuosos entre palavras.
5. Amor por seres desimportantes como pelas coisas desimportantes.
6. Mania de dar formato de canto às asperezas de uma pedra.
7. Mania de comparecer aos próprios desencontros.
Essas disfunções líricas acabam por dar mais importância aos passarinhos que aos senadores.
A Pedra
Manoel de Barros
Pedra sendo
Eu tenho gosto de jazer no chão.
Só privo com lagarto e borboletas.
Certas conchas se abrigam em mim.
Dos meus interstícios crescem musgos.
Passarinhos me usam para afiar seus bicos.
Às vezes uma garça me ocupa de dia.
Fico louvoso.
Há outros privilégios de ser pedra:
1. Eu irrito o silencio dos insetos.
2. Sou batido de luar nas solitudes.
3. Tomo banho de orvalho de manhã.
4. E o sol me cumprimenta por primeiro.
Carnaval no Brasil...
Escondido num apartamento na Praia do Flamengo eu descobri o mundo.
Minha irmã, meu amor, me mandou há alguns dias uma página de Manoel de Barros.
Manoel de Barros...
Aprendi poesias com meu pai...
Li Castro Alves...
Casemiro...
Li Vinicius...
Li Gullar...
Cecília...
Augusto dos Anjos...
Drummond...
Bandeira...
Eu me perdi na métrica confusa e salvadora de Mário de Andrade...
Torquato Neto...
Conheci os jaguadartes Augusto e Haroldo de Campos...
E a poesia imensa de Chico Buarque...
Mas Manoel de Barros eu não o conhecia...
E de modo algum isso me deixou triste ou impaciente...
Quisera descobrir de tempos em tempos Manoeis de Barros que a vida não me apresentara quando eu presumo que deveria ter apresentado...
Aqui no Rio, sábado de carnaval, os Shoppings ainda abertos...
Numa livraria, descansando e iluminando a prateleira, um volume:
Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo...
Autor?
Manoel de Barros...
E a delicadeza de suas palavras trazem o peso de uma verdade infinita...
A poesia de Manoel não foi feita para ler...
Mas para respirar...
Passar na pele...
Dormir...
Sonhar...
É carnaval no Brasil...
Manoel de Barros foi aqui a minha fantasia preferida...
A Disfunção
Manoel de Barros
Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso a menos
Sendo que o mais justo seria o de ter um parafuso trocado do que a menos.
A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa disfunção lírica.
Nomearei abaixo 7 sintomas dessa disfunção lírica.
1. Aceitação da inércia para dar movimento às palavras.
2. Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3. Percepção de contigüidades anômalas entre verbos e substantivos.
4. Gostar de fazer casamentos incestuosos entre palavras.
5. Amor por seres desimportantes como pelas coisas desimportantes.
6. Mania de dar formato de canto às asperezas de uma pedra.
7. Mania de comparecer aos próprios desencontros.
Essas disfunções líricas acabam por dar mais importância aos passarinhos que aos senadores.
A Pedra
Manoel de Barros
Pedra sendo
Eu tenho gosto de jazer no chão.
Só privo com lagarto e borboletas.
Certas conchas se abrigam em mim.
Dos meus interstícios crescem musgos.
Passarinhos me usam para afiar seus bicos.
Às vezes uma garça me ocupa de dia.
Fico louvoso.
Há outros privilégios de ser pedra:
1. Eu irrito o silencio dos insetos.
2. Sou batido de luar nas solitudes.
3. Tomo banho de orvalho de manhã.
4. E o sol me cumprimenta por primeiro.
5.2.02
O Amor nos tempos de Osama
Ninguem me ama. Se ama não diz.
Se diz que ama, não me convence.
Mas nem por isso eu sou um infeliz
Porque eu sou torcedor do Fluminense...
Ninguem me ama. Ninguem me chama
De Baudelaire, como diz Millor...
Eu? Triste? Porque ninguem me ama?
Mas isso nem me torna um pecador...
Ninguem me ama. Eu amo. Um bom começo.
Às vezes fico triste. Reconheço.
Mas nada que um poema não apague...
Ninguem me ama. Eu sigo meu caminho
Feliz, porque pior que estar sozinho
É esperar em vão por um milagre...
Ninguem me ama. Se ama não diz.
Se diz que ama, não me convence.
Mas nem por isso eu sou um infeliz
Porque eu sou torcedor do Fluminense...
Ninguem me ama. Ninguem me chama
De Baudelaire, como diz Millor...
Eu? Triste? Porque ninguem me ama?
Mas isso nem me torna um pecador...
Ninguem me ama. Eu amo. Um bom começo.
Às vezes fico triste. Reconheço.
Mas nada que um poema não apague...
Ninguem me ama. Eu sigo meu caminho
Feliz, porque pior que estar sozinho
É esperar em vão por um milagre...
4.2.02
3.2.02
O Coração
Poema virtual em quatro partes
1. Do Nome do Nick.
Eu não me lembro: era Rosa...
Ou Azulzinha... ou Grená...
Ou Caladinha... ou Dengosa...
M a fim de namorar...
Era Diabinha? Era Santa?
Pecadora? Bruxa? Má?
Era Só Minha? Só Sua?
Ou era Estrela do Mar?
Talvez fosse Namorada...
Moça querendo casar...
Moreninha... Apaixonada...
Como é que eu vou me lembrar?
Polyana? Ju? Marina?
Dany? Camila? Pilar?
Cíntia? Flávia? Carolina?
Paty? Paula? Norimar?
Forrozeira? Patricinha?
Fazendeira? Professora?
Saideira? Saidinha?
Saradinha? Salvadora?
Eu não me lembro direito
Do nick que o nome usava,
Do nick que o nome tinha,
De como se apresentava...
Sei que era maior que o nome
Que no nick se ocultava:
O nome sentia a fome
E o nick se alimentava,
O nome queria ver
Mas era o nick que olhava,
O nick sentia o cheiro
Sempre que o nome cheirava,
Porque o nome adormecia
Sempre que o nick acordava,
Como quando nasce o dia
Assim que a noite se acaba.
O nome que usava o nick
Por certo se aproveitava
De tudo que o nick era,
Das coisas que o nick usava,
O nome que usava o nick
No nick se transformava.
Agora o nome era o nome
Do nick que o nome usava.
2. Das coisas que o nick dizia
Enquanto teclava
Contava:
Era loura, era alta, era posuda,
Sozinha por opção,
Tinha uma boca carnuda,
E uns olhos claros,
Tinha cabelos longos e cacheados,
E alguns desenhos estranhos pintados
Nas unhas da mão...
Ou talvez tenha dito:
Morena,
Com quase um metro e oitenta,
Dançarina,
Extrovertida...
Cabelos longos e lisos,
Namoradeira demais,
Levada feito pimenta,
Moleca feito menina,
E outras vezes atrevida,
Muitas vezes sem juizo,
Mas sempre com muito gás...
Tinha vinte ou qualquer coisa parecida,
Fazia curso pré-vestibular,
Planejou cursar biologia,
Namorou a engenharia,
Ela só não pensava em se casar...
Falava inglês,
Algumas coisas em russo,
Outras tantas palavras em alemão...
Conheceu a Patagônia,
Já fez planos de viajar pra Cisjordania,
Conhecer a Amazônia,
E dançar reggae ao sol do Maranhão...
Ou talvez tenha dito: quase trinta...
Ou mesmo quase quarenta?
Pantera sedutora que se pinta...
Loba devoradora piruenta...
Extravagante
Muito caprichosa
Sofisticada
Farta de perfumes
E ouros espalhados pela mão...
Exuberante
Ar de poderosa
E desejada
Por nicks e nomes
De homens...
Ela era assim: total satisfação...
E enquanto teclava,
Contava:
Dinheiro tinha, mas nem precisava...
Amores muitos, mas não se detinha...
Fazia só as coisas que gostava...
E tudo quanto ela queria, tinha...
Maliciosa sempre que teclava,
Era desajuizada, irreverente...
Às vezes não dizia... insinuava...
E sempre assim... convidativamente...
E me dizia
Que não gostava de poesia
Não escutava samba e nem pagode,
Preferia os homens altos, tipos Lord...
E quase se derretia
Por outros fortes, louros, de bigode...
Era capaz de fazer quase tudo
Mesmo que fosse só por quase nada...
Entrava nos canais mais absurdos...
Adorava teclar de madrugada...
Usava sempre o mesmo sexy nick,
Mas muitas vezes criava algum na hora...
Mantinha sempre a coerência e o pique...
Não conhecia a hora de ir embora...
Carla? Cristal? Cristininha?
Carismática? Coroa?
Popozuda? Tchutchuquinha?
Delicinha de Pessoa?
Delicada? Sapequinha?
Moça linda e muito boa ?
Era Soraya? Sereia?
Era Serena? Era Liz?
Deusa Maia? Lua Cheia?
Escorpiana feliz?
Era Sagitariana?
Virginiana indecisa?
Aline? Lana? Luana?
Fogo? Brasa? Vento? Brisa?
Era Loura gostosinha?
Toda pura? Toda boa?
Toda sua? To facinha?
To sozinha? To à toa?
Pepita? Dita? Paquita?
Nikita? Rabo de Saia?
Silvana? Sarita? Rita?
Catita? Rata de Praia?
Psicóloga? Miudinha?
Fisiogatinha? Pantera?
Encantada? Malukinha?
Megera? A Bela da Fera?
O nick dela qual era?
Gostava de praia.
De vodcka.
De misturar champagne com coca-cola...
Ela era pura ousadia...
E enquanto ela teclava me dizia:
Fumava muito...
(Ou detestava o cheiro do cigarro?)
As vezes me dava assunto...
Outras vezes só queria tirar sarro...
Dizia, quase abusada,
Que era atrevida, atirada,
Desaforada, sacana...
Às vezes escancarada...
As vezes muito mais do que escrachada...
Outras, a Gata Dengosa da semana...
Não se apegava aos gatos que atraia...
Gostava de seduzir, e se gabava
De conquistar os homens que queria
E de curtir quando ela os desprezava...
Não se envolvia jamais quando teclava.
Jurava que ali no chat não mentia.
Mas ela também não acreditava
Em nenhuma palavra do que lia.
E o que dizia, enquanto chatiava,
Era somente a coisa que sentia.
Não percebia e nem se incomodava
Quando ela magoava ou ofendia.
Quando ela seduzia e desprezava,
Quando ela machucava. E garantia
Que nem ligava
Se alguém sofria
Com a displicência com que ela magoava...
E enquanto, distraída, ela teclava,
Ela dizia
Que ela era assim:
Absoluta,
Única,
Exuberante,
Quase encantadora,
Incompreensível,
Misteriosa,
Bela,
O equilíbrio entre a boa
E a pecadora...
Pantera,
Fera,
Mulher sedutora,
Cheia de dengo e malicia e muita manha...
Potranca,
Lânguida,
Avassaladora,
E a voz feito a de um aço quando arranha...
E enquanto teclava,
Contava...
E enquanto contava
Jurava que não mentia...
Pena que ela não gostava
De poesia...
3. Das coisas que o nick era
I
Era silencio. As luzes apagadas.
Somente a tela do PC acesa...
Um gosto de sereno nas calçadas...
Biscoito e café frio sobre a mesa.
Ana Maria, só, ali, teclava...
Reinventava os tristes dias seus...
Fugia da vidinha que levava...
Brincava, na telinha, que era Deus...
Faria dezessete em fevereiro...
Ela trazia desde o nascimento
Alguma coisa ruim que ela escondia...
Brincava de estar bem o tempo inteiro.
Fazendo desfazer seu sofrimento
E a dor que devorava Ana Maria...
II
Faria dezessete em fevereiro...
Trazia um coração descompensado...
Que quase era maior que o peito inteiro...
Seu caso era bastante complicado.
Fariam dezessete essa menina
E a bala de oxigênio do seu lado...
E os comprimidos de Digoxina...
E o coração tão grande e delicado...
E a longa espera, quase que absurda,
Da cura que não vinha, e tão sonhada,
Da dor que parecia não ter fim...
E a longa espera, silenciosa e muda,
E a longa espera, tímida e calada
É que fazia Ana Maria assim:
III
Brincando de inventar felicidades...
Criando as suas próprias fantasias...
Podendo refazer facilidades
Que a vida seqüestrava dos seus dias...
Fugindo de encarar realidades...
Tentando a contramão das corredeiras...
Tomando um banho de banalidades...
E se fartando em suas brincadeiras...
Ana Maria, lúcida, lutava,
Sobrevivia a si, quando teclava,
E assim dessa maneira, resistia...
Ana Maria, em sua dor imensa,
Seguia, leve, em meio à noite densa,
Sem perceber a dor que a consumia...
4. Do nick que o nome usava...
Não era Carol, Carina,
Carolina, Cora, Cris,
Nem Kalu, nem Kelly, Keila,
Nem Luisa, nem Lais,
Nem Boazuda, Boazinha,
Mariinha, Marilu,
Nem era Kátia, nem Candy,
Nem Corina, nem Caru,
Não era Mara, Mariana,
Nem Camila, nem Cassinha,
Eu quase posso lembrar-me do nome que o nick tinha...
Era pequeno,
Suave,
Era feito assoviar uma canção,
Tinha um brilho delicado,
Um bom-bocado
Todo feito de pedaços variados de emoção...
Era todo suavezinho,
Feito o voz de passarinho...
Feito rastros de paixão...
Era silencio,
Barulho,
Pecado,
Absolvição...
O nome que o nick usava
(Porque o nick precisava
De um nome enquanto teclava)
Era apenas
Nada mais que
Coração...
Poema virtual em quatro partes
1. Do Nome do Nick.
Eu não me lembro: era Rosa...
Ou Azulzinha... ou Grená...
Ou Caladinha... ou Dengosa...
M a fim de namorar...
Era Diabinha? Era Santa?
Pecadora? Bruxa? Má?
Era Só Minha? Só Sua?
Ou era Estrela do Mar?
Talvez fosse Namorada...
Moça querendo casar...
Moreninha... Apaixonada...
Como é que eu vou me lembrar?
Polyana? Ju? Marina?
Dany? Camila? Pilar?
Cíntia? Flávia? Carolina?
Paty? Paula? Norimar?
Forrozeira? Patricinha?
Fazendeira? Professora?
Saideira? Saidinha?
Saradinha? Salvadora?
Eu não me lembro direito
Do nick que o nome usava,
Do nick que o nome tinha,
De como se apresentava...
Sei que era maior que o nome
Que no nick se ocultava:
O nome sentia a fome
E o nick se alimentava,
O nome queria ver
Mas era o nick que olhava,
O nick sentia o cheiro
Sempre que o nome cheirava,
Porque o nome adormecia
Sempre que o nick acordava,
Como quando nasce o dia
Assim que a noite se acaba.
O nome que usava o nick
Por certo se aproveitava
De tudo que o nick era,
Das coisas que o nick usava,
O nome que usava o nick
No nick se transformava.
Agora o nome era o nome
Do nick que o nome usava.
2. Das coisas que o nick dizia
Enquanto teclava
Contava:
Era loura, era alta, era posuda,
Sozinha por opção,
Tinha uma boca carnuda,
E uns olhos claros,
Tinha cabelos longos e cacheados,
E alguns desenhos estranhos pintados
Nas unhas da mão...
Ou talvez tenha dito:
Morena,
Com quase um metro e oitenta,
Dançarina,
Extrovertida...
Cabelos longos e lisos,
Namoradeira demais,
Levada feito pimenta,
Moleca feito menina,
E outras vezes atrevida,
Muitas vezes sem juizo,
Mas sempre com muito gás...
Tinha vinte ou qualquer coisa parecida,
Fazia curso pré-vestibular,
Planejou cursar biologia,
Namorou a engenharia,
Ela só não pensava em se casar...
Falava inglês,
Algumas coisas em russo,
Outras tantas palavras em alemão...
Conheceu a Patagônia,
Já fez planos de viajar pra Cisjordania,
Conhecer a Amazônia,
E dançar reggae ao sol do Maranhão...
Ou talvez tenha dito: quase trinta...
Ou mesmo quase quarenta?
Pantera sedutora que se pinta...
Loba devoradora piruenta...
Extravagante
Muito caprichosa
Sofisticada
Farta de perfumes
E ouros espalhados pela mão...
Exuberante
Ar de poderosa
E desejada
Por nicks e nomes
De homens...
Ela era assim: total satisfação...
E enquanto teclava,
Contava:
Dinheiro tinha, mas nem precisava...
Amores muitos, mas não se detinha...
Fazia só as coisas que gostava...
E tudo quanto ela queria, tinha...
Maliciosa sempre que teclava,
Era desajuizada, irreverente...
Às vezes não dizia... insinuava...
E sempre assim... convidativamente...
E me dizia
Que não gostava de poesia
Não escutava samba e nem pagode,
Preferia os homens altos, tipos Lord...
E quase se derretia
Por outros fortes, louros, de bigode...
Era capaz de fazer quase tudo
Mesmo que fosse só por quase nada...
Entrava nos canais mais absurdos...
Adorava teclar de madrugada...
Usava sempre o mesmo sexy nick,
Mas muitas vezes criava algum na hora...
Mantinha sempre a coerência e o pique...
Não conhecia a hora de ir embora...
Carla? Cristal? Cristininha?
Carismática? Coroa?
Popozuda? Tchutchuquinha?
Delicinha de Pessoa?
Delicada? Sapequinha?
Moça linda e muito boa ?
Era Soraya? Sereia?
Era Serena? Era Liz?
Deusa Maia? Lua Cheia?
Escorpiana feliz?
Era Sagitariana?
Virginiana indecisa?
Aline? Lana? Luana?
Fogo? Brasa? Vento? Brisa?
Era Loura gostosinha?
Toda pura? Toda boa?
Toda sua? To facinha?
To sozinha? To à toa?
Pepita? Dita? Paquita?
Nikita? Rabo de Saia?
Silvana? Sarita? Rita?
Catita? Rata de Praia?
Psicóloga? Miudinha?
Fisiogatinha? Pantera?
Encantada? Malukinha?
Megera? A Bela da Fera?
O nick dela qual era?
Gostava de praia.
De vodcka.
De misturar champagne com coca-cola...
Ela era pura ousadia...
E enquanto ela teclava me dizia:
Fumava muito...
(Ou detestava o cheiro do cigarro?)
As vezes me dava assunto...
Outras vezes só queria tirar sarro...
Dizia, quase abusada,
Que era atrevida, atirada,
Desaforada, sacana...
Às vezes escancarada...
As vezes muito mais do que escrachada...
Outras, a Gata Dengosa da semana...
Não se apegava aos gatos que atraia...
Gostava de seduzir, e se gabava
De conquistar os homens que queria
E de curtir quando ela os desprezava...
Não se envolvia jamais quando teclava.
Jurava que ali no chat não mentia.
Mas ela também não acreditava
Em nenhuma palavra do que lia.
E o que dizia, enquanto chatiava,
Era somente a coisa que sentia.
Não percebia e nem se incomodava
Quando ela magoava ou ofendia.
Quando ela seduzia e desprezava,
Quando ela machucava. E garantia
Que nem ligava
Se alguém sofria
Com a displicência com que ela magoava...
E enquanto, distraída, ela teclava,
Ela dizia
Que ela era assim:
Absoluta,
Única,
Exuberante,
Quase encantadora,
Incompreensível,
Misteriosa,
Bela,
O equilíbrio entre a boa
E a pecadora...
Pantera,
Fera,
Mulher sedutora,
Cheia de dengo e malicia e muita manha...
Potranca,
Lânguida,
Avassaladora,
E a voz feito a de um aço quando arranha...
E enquanto teclava,
Contava...
E enquanto contava
Jurava que não mentia...
Pena que ela não gostava
De poesia...
3. Das coisas que o nick era
I
Era silencio. As luzes apagadas.
Somente a tela do PC acesa...
Um gosto de sereno nas calçadas...
Biscoito e café frio sobre a mesa.
Ana Maria, só, ali, teclava...
Reinventava os tristes dias seus...
Fugia da vidinha que levava...
Brincava, na telinha, que era Deus...
Faria dezessete em fevereiro...
Ela trazia desde o nascimento
Alguma coisa ruim que ela escondia...
Brincava de estar bem o tempo inteiro.
Fazendo desfazer seu sofrimento
E a dor que devorava Ana Maria...
II
Faria dezessete em fevereiro...
Trazia um coração descompensado...
Que quase era maior que o peito inteiro...
Seu caso era bastante complicado.
Fariam dezessete essa menina
E a bala de oxigênio do seu lado...
E os comprimidos de Digoxina...
E o coração tão grande e delicado...
E a longa espera, quase que absurda,
Da cura que não vinha, e tão sonhada,
Da dor que parecia não ter fim...
E a longa espera, silenciosa e muda,
E a longa espera, tímida e calada
É que fazia Ana Maria assim:
III
Brincando de inventar felicidades...
Criando as suas próprias fantasias...
Podendo refazer facilidades
Que a vida seqüestrava dos seus dias...
Fugindo de encarar realidades...
Tentando a contramão das corredeiras...
Tomando um banho de banalidades...
E se fartando em suas brincadeiras...
Ana Maria, lúcida, lutava,
Sobrevivia a si, quando teclava,
E assim dessa maneira, resistia...
Ana Maria, em sua dor imensa,
Seguia, leve, em meio à noite densa,
Sem perceber a dor que a consumia...
4. Do nick que o nome usava...
Não era Carol, Carina,
Carolina, Cora, Cris,
Nem Kalu, nem Kelly, Keila,
Nem Luisa, nem Lais,
Nem Boazuda, Boazinha,
Mariinha, Marilu,
Nem era Kátia, nem Candy,
Nem Corina, nem Caru,
Não era Mara, Mariana,
Nem Camila, nem Cassinha,
Eu quase posso lembrar-me do nome que o nick tinha...
Era pequeno,
Suave,
Era feito assoviar uma canção,
Tinha um brilho delicado,
Um bom-bocado
Todo feito de pedaços variados de emoção...
Era todo suavezinho,
Feito o voz de passarinho...
Feito rastros de paixão...
Era silencio,
Barulho,
Pecado,
Absolvição...
O nome que o nick usava
(Porque o nick precisava
De um nome enquanto teclava)
Era apenas
Nada mais que
Coração...
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