13.12.20

Vacina

Assim que chegar a vacina há tanto tempo esperada 
Vou procurar uma fila pra poder me vacinar,
Passar o dia inteiro em pezinho, sem sair dela pra nada,
Nem beber água ou comer um sanduíche e voltar,

Vou sair de casa cedo, vou chegar de madrugada,
Levar um pão com salame e um chiclete pra mascar,
Um livro de Mário Quintana pra dar uma aliviada,
Um Chico Buarque de Holanda pra ver a banda passar,

E assim que essa boa notícia for finalmente anunciada 
Eu falto o plantão, deixo a conta do condomínio atrasada,
Eu só não saio da fila, que é prá poder me curar 

Da pandemia, do medo, dessa rotina assustada,
Quero sorrir novamente com risada vacinada,
E só então nesse dia vou poder comemorar...

12.12.20

Diretivas

Eu na verdade, preferia não morrer,
Mas já que tenho que morrer, eu gostaria
De não sofrer, mas se eu tiver de sofrer,
Que eu sofra em paz, como sofre quem confia...

E entre escolher ser reanimado ou escolher
Não deixar interferir no coração em assistolia,
Eu escolho deixar o médico livre para fazer
O que estiver ao seu alcance nesse dia...

Porque eu já passei a vida inteira fazendo escolhas,
A maioria delas delas sob óticas caolhas,
Para tempos depois, desescolher, arrependido...

Então, pelo menos para morrer, não escolho nada,
Já ganhei a vida de mão beijada,
Por conta disso, um ultimo adeus agradecido...

7.12.20

Impermanência

Dias difíceis. Tristes esses dias,
Quando tudo parece desabar,
Dias pesados de atitudes frias,
Um pesadelo que se recusa a acordar,

Dias difíceis: chuva, ventania,
Parece que está tudo fora do lugar,
Expectativas secas e sombrias,
A impressão é de que pouca coisa vai sobrar,

Mas eis que a vida, com sua impermanência,
Aproxima-se, terá sido coincidencia?,
E me abraça, procurando me acalmar,

E me convence: tudo é passageiro,
A liberdade, o algoz e o cativeiro,
Respira fundo e acredite: vai passar...

28.11.20

O poema novo

Eu, desejando escrever uma poesia,
Mas sem motivo nenhum para escrever,
Tendo um computador por companhia,
E ao lado uns livros que comprei pra ler,

Tentei um verso, vi que cabia
No poema novo que eu desejava fazer,
E, ao trazer o verso do mundo da fantasia
Para o poema foi que eu pude ver

Que a poesia é ela mesma que se escreve,
Sempre na hora que ela acha que deve,
E não depende de ninguém querer,

Porque um poema novo, quando brota,
É como a agua da chuva que se solta
Das nuvens sem a gente perceber...


17.11.20

Gigantes

Aos bebês prematuros do mundo inteiro neste dia 17 de novembro, dia mundial da prematuridade 

Gigantes de poucos centímetros de comprimento,
De peso quase nenhum, e ainda assim gigantes,
Almas que enfrentam grandes desafios,
Vencendo tempos sombrios,
Vivendo histórias impressionantes...

Gigantes que deixam transparecer fragilidade, 
Que dependem de cuidado redobrado,
Mas com uma garra de sobrevivência que impressiona,
E comove, e inspira, e transforma, e emociona,
Mesmo o profissional mais experimentado...

Gigantes que precisam cercar-se de assistência,
Que muitas vezes respiram com dificuldade,
Mas que possuem poderes incríveis, 
E, acreditem, quase imbatíveis,
Disfarçados sob sua prematuridade...

Gigantes que desafiam a ciência,
Que movimentam profissionais mundo inteiro:
Estudos, cuidados, tecnologia,
Protocolos, dissertações e alguma poesia 
Para acalentar o coração desse  guerreiro...

Gigantes, mas não precisa chamá-los assim,
Pode chamá-los de heróis da resistência...
E por conta disso nunca desistam, mesmo nas horas mais pesadas,
Dessas pequeninas almas apressadas,
Que desafiam as letras da ciência...

Gigantes, porque é o que são desde que nascem,
Gigantes porque é o que nunca deixarão de ser,
Por isso essa homenagem nesse dia 
17 de novembro, com alegria,
Pelo que cada um deles nos diz, sem perceber...

4.11.20

Obrigado

Obrigado 
Por terem permanecido do meu lado,
Por não terem deixado eu me apavorar,
Pelas visitas,
Pelas mensagens,
Pelas chamadas de vídeo,
Pelas orações, pelos livros, obrigado,
Porque isso foi quase melhor que respirar,
Foi o que me manteve acordado 
Quando o corpo pedia pra desligar,
Bilhetes,
Até mesmo um pedaço de pizza com refrigerante gelado,
Um brownie,
Coisas diárias que eu nunca poderia imaginar 
O significado,
Porque a gente chega assustado,
Intimidado,
O virus faz questão de mostrar o seu lugar:
Ataca o pulmão,
Deixa o pulmão inflamado,
A vida dói,
Você não consegue evitar,
E sente medo, 
Um medo com o qual você não está acostumado,
Um medo de quem chega e não sabe se vai voltar:
Antibióticos, 
Tromboliticos,
Diuréticos,
Anti-inflamatórios,
Tudo em dose absurdamente cavalar...
O corpo cede:
Acessos venosos,
Exames seriados,
A ciência tentando tudo pra se safar,
Mas no meio  disso tudo,
Articulando calado
O tempo acabou se revelando meu principal aliado,
Desafiando aquilo que mais ninguém 
Teve capacidade de desafiar,
E a partir dai, a inflamação,
E a trombogenicidade,
E a febre,
E o medo,
E a falta de ar,
Sob a ação do tempo foram cedendo,
E perdendo sua capacidade de estragar 
A fisiologia,
O ânimo, 
A esperança,
E a vida foi retomando seu lugar, 
A dor foi se dirigindo pro passado, 
Da mesma forma que a dificuldade de respirar,
A inflamação,
O corpo cansado,
As coisas comuns que insistiam em incomodar,
Por isso é necessário deixar aqui registrado 
Meu muito obrigado,
Porque sozinho 
Eu não teria como lutar,
Vencer com o coração algemado,
Amordaçado seria impossível gritar,
Olhar pro alto com os olhos vendados,
Pedir ajuda sem ter com quem falar,
Então,
Cada carinho enviado 
Foi uma boia de não me deixar afundar,
Foi como uma ordem judicial: liberado,
Foi como um par de asas pra quem precisava voar,
O que passei vai permanecer arquivado,
São marcas que ninguém conseguirá apagar,
Mas cada vez que o coração 
Viver seu muito obrigado, 
A alma ficará mais leve
E seguirá pronta 
Pra recomeçar...

1.11.20

O remédio

O remédio 

Às vezes o nome dele é carinho,
Carinho que muita gente chama de atenção,
Outras vezes o remédio é um bilhetinho,
De vez em quando, uma ligação,

Quase sempre muito mais do que um sorinho,
O verdadeiro remédio é uma oração,
Que chega, gota a gota, de mansinho,
Numa outra espécie de bomba de infusão,

Por isso o remédio, muito mais que a cura,
É o alimento invisível que segura 
O pensamento, mais que a saturação... 

O remédio, que é para além dos prontuários,
Cujo significado escapa aos dicionários,
E faz morada no coração...

27.10.20

Oração

Papai do céu 

Livrai-nos das futilidades terapêuticas,
Dos tratamentos sem nenhuma serventia,
Das decisões protocolares e antiéticas,
Da negligência, da descortesia, 

Das técnicas desnecessárias e antipáticas,
Da comunicação vazia e fria, 
Que engessa e banaliza as nossas práticas,
E torna turvos nosso dia a dia... 

Protegei nosso bom senso da imprudência,
Nosso coração, da falta de paciência,
Livrai-nos do medo de aprender a amar, 

Cuidai dos nossos dias e dos dias
Daqueles que nos estendem as mãos vazias
Como um abraço, quando já não podem dar...

19.10.20

A dor

A dor. E seus vários significados. 
Da dor neurológica à dor social, 
A dor dos muitos sitios machucados,
O sofrimento, que é sempre individual.

Analgésicos, para corações despedaçados,
Não são o ponto final, 
Corações dolorosos precisam ser cuidados, 
Porque o cuidado é o que modifica todo o mal.

A dor e seus tentáculos perigosos,
Precisa de cuidados amorosos 
Para perder seu poder de maltratar,

E, no momento em que a dor tenta e não maltrata,
Ela evanesce, torna-se abstrata,
E segue, mas não consegue mais causar...

13.10.20

A poesia

É como um cobertor na noite fria,
É como um copo d'água no calor,
Um pão com queijo pra barriga vazia,
É como um machado pro lenhador,

Um pires de leite pro gato que mia,
Uma pista para o cão farejador,
É como o burrinho que levava José e Maria
Sem perceber que também levava o Salvador...

É hora estelar. Não se atrasa. Não se adia.
E quando você menos desconfia,
Ela se mostra com seu dom confortador.

Com poesia, o bom dia é mais bom dia,
E até a noite escura, com poesia,
É a nossa chance de escutar o criador...

Farmácia de poesia

Para a Casa do Cuidar

_Bom dia Doutor
_Bom dia, como passou a semana?
_Estou melhor, sim senhor,
Depois de Mário Quintana,

_Doutor, me ajuda,
Estou triste,
As vezes penso besteira
Eu não queria me sentir assim dessa maneira...
_Vou te passar um Thiago de Melo,
E antes de dormir, um Bandeira.

_Como vai?
_Melhor.
_ Maravilha.
_Pois é. Só notícia boa.
Não tem como ser diferente
Depois de Fernando Pessoa...

_Passou o enjoo?
_Mas claro, Doutor
Já estou bom.
Estou me sentindo mais leve
Depois de Carlos Drummond.

_Muito obrigado, Doutor,
Não uso mais fluoxetina,
Troquei aquelas caixinhas
Pela Cora Coralina.

_E Cecilia, tem usado
Pra aquela angústia que você sentia?
_Diariamente, Doutor,
Fiquei bom com poesia.

Vinicius me fez mais leve,
Manoel de Barros
Me devolveu a razão,
Mas foi com Augusto dos Anjos
Que eu consegui consertar meu coração...

Farmácia de poesia,
Todo dia
Poesia deixa a gente se curar.
Porque o verso, “caindo na alma,
É germe que faz a palma
É gota que faz o mar”

10.10.20

Um bebê que se vai

Um bebê que se vai é o amor de alguém, 
De uma mãe, de um irmão, de um avô, de um pai,
Não torna-se depois que se vai, um nada, um sem,
Segue como o amor de alguém, um bebê que se vai,

Um bebê, um amor, não importa de quem,
Que não se perde depois que a vida se desvai,
Nem se desfaz, de tanto amor que tem,
E de tanta vida que tem, não se desfaz,

É isso que as estatísticas não entendem, 
Os significados que transcendem
A esse amor que sobrevive às despedidas,

Um bebê, um amor, a eternidade, 
Essa outra face da maternidade
Ressignificando as nossas vidas...

9.10.20

Tradução

E não se engane: a vida vale à pena, 
E nem engane ninguém. Desnecessário. 
A vida é um grande e íntimo poema 
Da primeira à última página do nosso diário. 

Por isso não se engane,  adote o lema:
Viver sem necessitar de dicionário,
Porque o amor entende tudo, sem problema,
E não duvide, porque isso é extraordinário. 

E nem engane ninguém. Desenganado
É quem não precisa mais ser enganado, 
É quem aprendeu a mágica da vida, 

E a grande recompensa da procura 
É o outro significado que há na cura,
E a vida pode então ser traduzida.

4.10.20

Waze (meu coração)

Aonde eu quero chegar?
Por onde eu devo seguir?
Por quais esquinas eu não posso cruzar?
De que rotatórias é necessário fugir?

Em que momentos eu preciso acelerar?
Em que momentos eu preciso reduzir?
Como ter certeza de que eu não vou me atrasar
Ou chegar antes do portão abrir?

Como saber se alguém vai me esperar?
Como pedir se alguém pode me ensinar
A perder o medo de não conseguir?

E se eu decidir parar prá descansar?
E se a bateria acabar?
E se no meio do caminho eu desistir?

A esperança

A esperança é a última que vai embora,
E quase sempre volta logo em seguida,
Cutuca o coração da gente toda hora,
Acompanha a gente durante toda a vida,

Fica escondida quando a gente chora,
Mas, fingindo-se de desentendida,
Espera a gente do lado de fora,
E não desiste da gente, decidida,

A esperança, como um sobrenome,
Indisfarçável sempre, como a fome,
Como um documento de identidade, 

Insubstituível, a esperança,
A gente se cansa, mas ela não se cansa,
E segue com a gente para além da eternidade...

3.10.20

O ruído desnecessário

A portinhola fechada de forma descuidada,
O tom de voz desmedido da pessoa,
O volume desrespeitoso da risada,
A palavra. sem sentido e dita à toa,

A cuba sobre a incubadora, quase nada
Além do som excessivo que ressoa,
A pequena bebê, dessaturada,
Não tendo como lutar, então perdoa...

Desnecessário,
Mais que excessivo, cruel e solitário,
O ruído, castigo análogo à tortura...

_Silencio!! Cantam os anjos e os poemas,
Silencio, apenas,
E, de algum modo, é por ai a cura...

2.10.20

A esperança


Vamos falar de esperança,
Vamos plantar esperança,
A esperança é toda feita
De pedacinhos de amor,
Sem esperança
O coração se cansa,
E o coração, cansado,
Sente dor...
Por isso, espalhar esperança
E dividir esperança,
Porque a esperança espalhada
Frutifica,
A esperança
É uma bem-aventurança,
E não custa nada a esperança,
Fica a dica...
O tempo é hoje,
Vamos cuidar da esperança,
Vamos tratar a esperança,
Como se fosse um poema autografado
De Chico Buarque,
De Carlos Drummond,
De Cecília,
De Mário,
De Vinicius,
De Adélia Prado,
Vamos seguir a esperança,
Compartilhar a esperança,
A esperança é assim:
Nunca se gasta,
Você entrega, ela sobra,
Você oferece, ela volta,
Como um perfume que é bom
Quando se alastra,
Vamos olhar com esperança,
Vamos viver com esperança,
Qualquer semelhança com a luz
É a pura realidade,
Não há nada mais doce
Em toda vizinhança,
A esperança é o que existe de melhor
Na humanidade...

24.9.20

Paliativas

Ana Michelle,
Mas não precisa chamá-la assim, 
Pode chamá-la de amor, se desejar, 
Amor que não se esgota, amor sem fim,
Amor como é o amor que sabe amar, 

E porque para ela não existe tempo ruim,
Espalha luz dizendo: "enquanto eu respirar"...
Ana Michelle, mas que se parece um Querubim
Desses com que Deus costuma nos presentear.

Ana Michelle, que é como um passarinho 
Sobrevoando as pedras do caminho 
Como se fosse o próprio poema de Quintana, 

Ana Michelle, e já não preciso de mais nada,
Inspiradora sua caminhada, 
Ah, como é grande o amor que habita em Ana.

17.9.20

As aulas da Ana

Parece uma melodia buarquiana,
Uma letra de Vinicius, de Gullar, 
Jobim passeando por Copacabana,
É quase como o Baden a dedilhar, 

É bom, como um poema de Quintana,
Alegre omo uma cantata de Bach,
É leve como é leve a voz da Nana, 
É livre, como um pássaro a voar,

E desafiador, como uma esfinge, 
Que lança, atiça, acende, mas não finge,
É como um rio que mais parece um mar, 

É como um veredito, é como um grito, 
É como o silêncio diante de um mito,
Ouvir Ana Cláudia falar...

8.9.20

A compaixão

A compaixão dá conta de tudo:
Do que se pode fazer, 
Do que se tenta,
E do que a gente tenta conseguir,
Não tem limites, a compaixão,
É sempre atenta,
Ela é caminho mais certo pra seguir,  
Às vezes a gente é fraco,
Quase não aguenta,
E nessas horas ela vem nos acudir,
Cuidando de quem cuida
De quem está mergulhado na tormenta,
A compaixão dá conta,
Sem desistir.
A compaixão dá conta de tudo, 
Até da lágrima,
Da saudade,
E do cair,
Mesmo da morte a compaixão dá conta,
Receita pronta:
Compaixão.
Não tem melhor remédio pra dormir.

O mapa do caminho

Para Rafaella Aquino 

Será como encontrar o mapa do caminho,
E o melhor jeito de caminhar,
Às vezes mais depressa, às vezes devagarinho, 
Às vezes parando um pouco pra descansar, 

Algumas vezes será preciso descobrir sozinho, 
Outras, haverá pessoas para ajudar, 
Muitas vezes um atalho, ali pertinho, 
Outras vezes, inalcançavel, feito o mar...

O mapa, mesmo escondido, disfarçado, 
Traz um tesouro guardado, 
E é por isso que nem todo mundo pode ver, 

Mas lembra que a compaixão dá conta de tudo?
E de repente, o mapa, o conteúdo, 
Na hora em que você menos perceber..

Receita para quem pensa que não gosta de poesia

Para Sandra Soler

Experimente um Castro Alves, da Bahia,
Tome um golinho de Mário Quintana,
Um Mário de Andrade, depois do meio dia,
Um Augusto dos Anjos, no fim de semana,

Ou um Ferreira Gullar, quando estiver com taquicardia, 
Um Drummond, sempre que ouvir dizerbque a terra é plana,
Sempre Cecília, durante a chuva fria,
Adélia Prado, misture com um pouco de doce de banana... 

Experimente poesia, devagarinho, 
A poesia, acredite, é como um novelinho
Que faz um ninho no seu coração, 

E vai retirando as pedras do caminho,
Até que um dia você se sente um passarinho, 
E, depois desse dia, os atravancos passarão...

6.9.20

22265 dias

Foi há 22265 dias,
Faz tanto tempo que eu nem me lembro, 
Era 1959, e entre boas energias,
Eu cheguei ao mundo, num dia 6 de setembro,

Trazendo comigo centenas de poesias 
Que eu transcreveria com o passar do tempo, 
E um coração que me conduziria
Até aqui, de alguma forma, atento...

E foram dias de grandes aprendizados,
Muitos eu trago comigo guardados,
Alguns outros, a vida às vezes vem me relembrar,

E o maior resultado disso é a consciência 
Desse tempo nosso como a grande experiência 
Que a gente precisa saber aproveitar.

5.9.20

Preciso do seu voto

Precisa do meu voto pra continuar lutando,
Mas o meu voto você não vai levar,
Espere sentado, continue esperando,
Porque em pé você pode se cansar,

Precisa do meu voto. A eleição ta chegando. 
Capaz até de você me telefonar, 
Me prometendo, me bajulando, 
Será que está querendo me comprar?

Precisa do meu voto? Tas brincando...
Meu voto você não leva nem sonhando:
Eu sou capaz de acordar pra não votar...

A última coisa que a cidade ta precisando
É ver você se recandidatando...
Devia ter vergonha de tentar...

1.9.20

A caminhada

Por onde eu devo ir? Para que lado?
Depende. Aonde você quer chegar?
Ainda não sei
Então não se preocupe. Qualquer caminho que você pegue leva você para esse lugar
Mas devo ir devagar ou apressado?
Depende. Quando você quer chegar?
Ainda não sei.
Ah, se é desse jeito pode ir do jeito e na velocidade que você imaginar. Todo tempo é qualquer tempo se a gente não sabe contar. 
Mas devo ir só ou melhor acompanhado?
Depende. Você já sabe com quem você pretende se encontrar?
Não sei ainda.
Então vá despreocupado. Você vai descobrir ao caminhar. Nada melhor do que seguir o caminho. E isso livro nenhum vai revelar. 
Mas parto agora? Já estou preparado?
Depende. Você vai querer voltar?
Não sei ainda.
Entao fique tranquilo. Esse é o melhor jeito de não sair do lugar.
Nenhum caminho é tão complicado 
Se você sabe os atalhos a tomar,
Se sabe onde quer ir,
Como quer ir,
Se sabe a hora de retornar,
Se sabe quem você leva do seu lado,
Se sabe o tempo que você pode levar,
Se o seu relógio não está atrasado 
Nem adiantado,
Não se preocupe, 
Pode começar,
Dificilmente você vai dar no tempo errado,
Dificilmente você vai se desgovernar,
Se essa luz que você traz em você for o seu cajado,
E se você aprendeu a respirar, 
Seu coração sabe indicar o traçado,
Embora a caminhada você terá de traçar,
E ai o frio, a chuvarada, a terra encharcada,
A pedra no meio do caminho, nada 
Conseguirá ser mais forte que a sua decisão:
Chegar. Essa palavra encantada.
Chegar. Mas se quiser pode chamar de vocação. 
Então você quer ir?
Sabe pra onde?
Já tem ideia do que você pode encontrar?
Do tempo que leva?
Do tamanho da estrada?
Do que você vai dizer quando você chegar?
Então não se preocupe: 
Não será fácil, mas certamente você vai suportar.
Não será longe, porque até hoje ninguém foi capaz de medir. 
Vai ter atalhos, mas você vai saber decidir quando tomar.
Por isso é que ir mais depressa ou devagar,
Você só vai perceber ao caminhar, 
E nesse dia,
Não se preocupe em voltar:
Seu lugar passará a ser qualquer lugar,
E por onde você for
Você  há de encontrar 
A coisa certa a fazer, 
O tempo certo a usar,
As rotas a percorrer,
As sandálias pra gastar, 
E desse dia em diante,
Você viverá histórias interessantes 
Como as de Ana,
Como as de Safi,
E como as de Alexandre,
E, porque um anjo,
Você terá histórias de anjos pra contar...

29.8.20

O Rio de Janeiro

E a cada dia novos denunciados 
Garantem inocência, sem pestanejar,
Milhares de dólares em desvios sem culpados,
Sou inocente, meu advogado vai provar,

Não vi o processo, dizem os advogados,
Formação de quadrilha, diz o delegado titular,
Enquanto isso, cofres esvaziados
E hospitais de campanha feitos pra não funcionar...

Esquema de lavagem de dinheiro
Pela primeira dama do governo do Rio de Janeiro?
Meu Deus!!! Em quem a gente pode confiar?

No próximo? No depois do próximo? No terceiro?
Quem dará jeito nesse pardieiro?
Nacional Kid, onde é que você tá?

26.8.20

Espero

Espero que tudo caminhe bem,
Que tudo dê certo quando chegar ao fim,
Que esse ano não se repita ano que vem,
Nem passe o tempo todo ecoando em mim,

Espero que haja esperança para além,
Como se fosse um pó de pirlimpimpim,
A esperança é o maior bem que a gente tem,
A principal nota do boletim,

E um dia, quando o dia de hoje for passado, 
Que a gente possa seguir contaminado,
Mas dessa vez por outra pandemia,

Que será feita de retalhos de esperança,
Formando uma nova aliança,
Onde o medo cede espaço pra alegria...

24.8.20

Desafinado

Meu coração, violão desafinado,
Tentando o acompanhamento da canção...
A vida, com seus acordes dissonantes,
Percebe minhas cordas discordantes,
E às vezes me chama atenção:

_Acerta a sexta corda, a quinta, a quarta!
_Um pouco mais de sol! _Não, assim não!
E eu sigo, distraído, procurando
Seguir as pistas que a vida vai me dando, 
Sem pressa, como quem dita a lição,

E tento um dó menor, quase consigo,
Não fosse essa terrível desconcentração, 
Aperto as cordas, afrouxo, desafino,
E sigo tentando assim, desde menino,
Sem desistência e sem reclamação,

Meu coração, desafinado, leve,
Tentando um samba, como o de João,
Segue apertando e afrouxando, corda a corda,
Às vezes dorme, outras vezes acorda,
E só poucas vezes consegue, rara inspiração,

Meu coração, esse violão desafinado,
Já sabe o ritmo, o toque, a marcação,
Mas se distrai quando não deveria...
Ainda bem que existe a poesia...
Ainda bem que existe o perdão...

22.8.20

Poesia

Folheie Drummond,
Decore Bandeira,
Escolha um verso de Mário Quintana,
Estrela da vida,
Poesia inteira,
Inunde de poesia seu fim de semana,
Castro Alves,
Cecília,
Vinicius, 
Ferreira,
Cora Coralina,
É bom pra quem ama,
Disfarça e recorda algum Augusto dos Anjos,
Declame poesia,
É quase um Nirvana,
Olavo Bilac,
Manoel de Barros,
Augusto e Haroldo de Campos 
E tem mais:
Catulo,
Pessoa,
Conhece o Cornélio?
Antero,
E esses poetas atuais,
Invente poesia,
Misture poesia,
Na sua salada,
No seu sakê,
Na hora de dormir,
Depois do banho, 
Durante as baboseiras da TV,
Faz bem pro fígado, 
Pras mitocondrias,
O seu Complexo de Golgi vai agradecer,
Capturar poesia,
Metabolizar poesia,
Fazer poesia enternecer...

16.8.20

Escrevo

Como um medicamento anti-hipertensivo,
Como um recurso contra a depressão,
Como um motivo que não precisa de motivo,
Como quem erra e não precisa de perdão,

Como quem sonha com a página de um livro,
Como quem pula da página pra canção,
Como quem depois do fim, segue o caminho, vivo,
Depois da festa, cadeado no portão,

Como quem olha, como quem espera,
Como quem nega, como quem pondera,
Como quem não sabe como continuar

O verso que acabou de ser escrito,
Como quem voa do zero ao infinito
Sem precisar sair do seu lugar...

8.8.20

Cem mil mortos

Somos cem mil a menos. E os que sobramos
Não fazemos ideia de quantos vamos restar,
Muitos se foram, alguns com bem poucos anos,
E muitos outros com tanto para ensinar,  

Cem mil que se despediram de seus planos 
Sem despedidas, como seria correto imaginar,
Cem mil, um número em que às vezes nem acreditamos,
E ainda nem terminamos de contar,

Uma nação, como uma árvore desfolhada,
Ou como uma flor, pétala por pétala arrancada, 
Mas de raiz incansável, que resiste

Atordoada, e mesmo assim não se entrega,
Uma nação que agoniza, mas não quebra, 
E nem perde a esperança, ainda que triste.

4.8.20

Almas humanas

Almas humanas sendo apenas almas humanas 
Ao tocarem outras almas humanas, nada mais, 
Livres das suas vaidades levianas, 
Almas humanas, almas iguais,

Almas humanas, como Deuses à paisana,
Reconhecendo-se mortais entre os mortais, 
Suaves, como os poemas de Quintana, 
Gigantes, como as rolinhas e os pardais...

Almas humanas apenas, e mais nada,
As mesmas almas, a mesma caminhada, 
As mesmas criaturas, o mesmo fim,

Almas humanas, então tudo faz sentido
Quando esse toque assim é permitido, 
Apenas almas humanas, sendo assim...

31.7.20

A fotografia

O amor gosta de ser fotografado,
O amor combina com fotografias,
Porque só o amor torna leve o que é pesado,
E como precisamos de leveza nesses dias,

Somente o amor dá outro significado 
Aos dias tristes, às noites frias,
E é capaz de moldar um sorriso iluminado 
Ressignificando nossas alegrias...

Fotografar o amor que a gente sente 
Faz bem demais pro coração da gente 
E torna eternos os momentos delicados,

Fotografias do amor, multiplicadas,
Tornam mais leves nossas caminhadas,
Fotografias do amor não tem pecados...

30.7.20

Música cuida do coração da gente

Música cuida do coração da gente,
Musica diverte nossa alegria, 
Música empurra a gente sempre pra frente,
Música é quase sempre a melhor companhia,

Música barulhenta, feito uma enchente, 
Música leve, feito ler poesia, 
Desesperada, feito um sol quente, 
Descontraída, feito chuva fria,

Musica que quando acaba continua,
Música que quando não diz insinua,
Música que ensina como se pode voar,

Música melhor que a psiquiatria,
Música que nunca se copia,
Música que não tem hora nem lugar...

29.7.20

Noventa mil mortos

Somos noventa mil mortos desde o inicio,
Noventa mil que não mais irão voltar,
Um silêncio que é cada vez mais difícil
De imaginar, de entender, de acreditar...

Noventa mil, descaso e sacrifício,
Noventa mil, porque não aguentaram esperar,
Noventa mil condenados ao suplício,
Que não aprenderam como escapar...

Noventa mil mortos. E muitos nem perceberam 
A forma como se contaminaram e morreram,
Ou como se tornaram parte dessa conta:

Noventa mil mortos. E ainda não terminamos...
Como chegamos até aqui onde chegamos?
Por que esse futuro nos amedronta?

27.7.20

A compaixão dá conta de tudo

Ao professor José Carlos Safi


A compaixão dá conta de tudo:
Do que não tem remédio nem descanso,
Da morte, do desespero, da solidão,
Das noite sem esperanças e desses dias
Contaminados por notícias frias,
Não importa, dá conta de tudo a compaixão...

A compaixão dá conta de tudo:
Do que não tem conserto nem saída,
Da pena eterna, para a qual não tem perdão,
A compaixão dá conta do aconchego
Para o coração sem norte e sem sossego,
Porque dá conta de tudo a compaixão...

A compaixão dá conta de tudo:
Do medo, da saudade, da descrença,
Da crueldade, da ingratidão,
Da dor do corte, do sangramento,
E, mais do que da dor, do sofrimento,
Ela dá conta de tudo, a compaixão...

A compaixão dá conta de tudo,
Cuidando da dor que há por trás de toda dor,
E mesmo quando não se encontra explicação,
Como se fosse um manto, mais que a cura,
É como se fosse a mão firme que segura
O coração que sofre, a compaixão 

26.7.20

O tempo lá fora

Nada mais nesse mundo me apavora,
O ser humano perdeu o seu sentido,
E a cada dia que passa só piora,
Definitivamente, o bom senso anda esquecido,

Se havia algum pudor, jogou-se fora,
Um novo normal já está estabelecido,
Alguém abriu a Caixa de Pandora,
Não tem mais jeito, o mundo está perdido,

E ai de quem contestar os novos dias:
Vai ser massacrado por teorias 
Que não aceitam contestação...

É desse jeito. Ponto. E está acabado. 
Novos conceitos de certo e errado 
Vida que segue. Não tem solução.

23.7.20

Autobiografia

Um pediatra em fim de carreira,
Mas com o coração está nascendo agora...
Foi preciso durar uma vida quase inteira
Para finalmente ver chegada a hora

De ver a vida de uma outra maneira,
(Durar uma vida inteira, quanta demora)
Mas quando uma percepção é verdadeira,
A caminhada do tempo só melhora,

E nunca é tarde demais quando acontece,
Pois muitas vezes o atraso que parece
Uma falha, é como o pequeno grão e a plantação:

O tempo que passa inaparente e escondido
É o tempo necessário para o grão, amadurecido,
Brotar em folha, flor e fruto desde o chão...

19.7.20

As imprescindíveis

Inspirado num pensamento de Brecht 

Há mães que lutam por seus filhos um dia,
E estas são mães suficientemente boas, 
Há outras que lutam um ano por seus filhos, 
E são melhores, 
Há as que lutam muitos anos por seus filhos 
E são mães muito boas, 
Mas há aquelas lutam por eles durante toda a sua vida, 
E estas são as mães imprescindíveis.

16.7.20

O Prefeito

Era pra ser o melhor. Não conseguiu. 
Eleito prá governar, não governou.
O que era pra ter consertado, destruiu,
O que era pra ter arrumado, bagunçou.

Se recebeu bom conselho, não seguiu,
Ficou desorientado quando entrou,
Se era bem intencionado, desistiu, 
Achou muito complicado, se entregou,

Suas promessas de campanha, ele traiu,
Vovô fez praça. O que ele fez? Ninguém viu.
Em quatro anos o município afundou...

Se foi piada, uma pena, ninguém riu,
Só pode ter sido um primeiro de abril 
Que essa tal de fatalidade nos pregou.

13.7.20

Mudança de planos

Não possuímos nada que dizemos que temos,
Porque na verdade não temos, apenas usamos,
Até um dia, quando devolvemos
O que não era nosso, o que emprestamos...

Difícil, mas lá no fundo percebemos,
Ou fácil, mas geralmente complicamos,
Trazemos nada, um dia, de onde viemos,
E na despedida, outro dia, nada levamos,

E tudo que cerca esse pedaço de tempo que vivemos,
Diferentemente do modo como aprendemos,
Não nos pertence... Essa é a tralha que arrastamos,

A vida melhora, então, quando aprendemos
Que podemos ser bem mais, tendo bem menos,
E assim, mais leves, mudamos nossos planos...

Conversando sobre a vida em tempos de pandemia

Conversando sobre vida em tempos de pandemia 
Com ex-alunas da Casa do Cuidar,
Ciência temperada com poesia,
Porque a vida precisa continuar,

Então, conversar sobre a vida, que nos espia,
Compreendendo a vida sob um novo olhar,
Sob um olhar de quem cuida como quem cria
Uma nova história que a vida precisa contar...

Clarissa, Franciele, Milena e Rita,
Uma conversa com vocês possibilita 
A vida ser vista na sua versão mais inteira,

Em tempos de pandemia, ganha a vida
A chance de ser falada e compreendida
Na sua significação mais verdadeira...

11.7.20

Gotas que importam

(Ao leite materno)


Gotas que importam. Por vezes, em enxurradas,
Outras vezes, complicadas, que teimam em não descer,
Gotas que escapam de mães esgotadas,
Gotas que jorram sem ninguém perceber,

Gotas que importam. Por vezes, apressadas,
Outras vezes, gotas que custam a aparecer,
Nascendo de mães que precisam ser cuidadas,
Mães que merecem compreender o seu poder,

Gotas que importam. Para as mamães, para os pais,
Para os bebês, para os profissionais,
E para a humanidade, que sobrevive, assim, às intempéries,

Gotas que importam, porque salvam vidas,
Vidas que importam, e seguem, engrandecidas
Por gotas que brotam do amor dessas mulheres...

10.7.20

Soneto pra minha cidade

Pensa num governo sem competência,
Multiplica isso por falta de qualidade,
Adiciona intolerância, prepotência,
E soma desprezo pela nossa cidade,

Cerca esse governo de gente sem experiência,
Escolhida por coleguismo e amizade, 
Cobre o mandato com falta de transparência 
E ausência de lisura e de verdade,

Pensa num governo em decadência,
Um governo mergulhado em inadimplência,
Um governo com gostinho de já vai tarde,

Que trata o servidor com displicência, 
Depois me conta se é penitência, 
Se é coincidência ou se é fatalidade. 

5.7.20

Minha cidade

Fim de um governo que nem devia ter começado,  
Fim de um governo que acabou antes do fim,
Governo fraco e mal intencionado, 
E inexperiente, e insensato e ruim,

Venceu com apoio de um servidor enganado, 
Que não fazia ideia que seria assim,
Acabou mal, sozinho e mal amado, 
Governo fraco, completamente chinfrim, 

E mesmo ainda falando quase nada,
Continua, essa administração atrapalhada,
A se perder em atos sem lisura. 

Vai morrer sem velório, esse governo, 
Sem alma, abandonado, frio, ermo,
Sem flores, sem pesar, sem sepultura...

29.6.20

O currículo

Um currículo mal elaborado 
Não diz quem você realmente é:
Se é graduado, se é pós graduado, 
Se só deu o primeiro pontapé, 

Porque um currículo precisa ser provado,
Não é sair dizendo o que quiser,
Senão o samba sai desafinado 
E isso acaba com o arrasta-pé...

Então tome cuidado com seu Lattes,
Não chame carambolas de abacates,
Se quis fazer mas não fez, conte a verdade,

Porque um dia, quando você virar Ministro,
Vão descobrir que você não tem registro,
Ou, bem pior, que lhe falta honestidade.

21.6.20

Cincoenta mil mortos

Cincoenta mil mortos. Difícil imaginar
Meio Maracanã hoje sem vida.
Cincoenta mil que não irão mais acordar.
Cincoenta mil mortos. Que nação sofrida.

Cincoenta mil. A gente custa a acreditar 
Na profundeza do corte dessa ferida. 
Uma ferida que não para de sangrar,
Uma nação que cai, subtraída.

Cincoenta mil mortos. Quem ousaria supor
O tamanho e a agressividade dessa dor,
Que às vezes se assemelha à indignidade.

Cincoenta mil. E virão muitos mil mais. 
Cincoenta mil mortos. Descansem em paz. 
E assim caminha, desfalcada, a humanidade...

A prorrogação dos mandatos

Se em quatro anos quase foi tudo destruido,
Mais dois e vai estar tudo acabado,
Um município completamente falido
Por um governo completamente abestado,

Seis anos de mandato. Isso não faz sentido.
Esse corona deixou o mundo aloprado.
É tempo demais prum governo tão descomprometido, 
Tempo demais prum governo tão mal intencionado,

São mais dois anos de um mandato fouxo,
Sao mais dois anos de um mandato mocho,
Um povo triste, sem rumo e maltratado, 

Se essa regra passar vai ser o fim da picada.
Os abutres famintos não vão deixar sobrar nada.
É o fim dos tempos, fato consumado. 

Feliz aniversário

Para Chico Buarque pelo seu aniversário (19 de junho)

Feliz aniversário, Chico Buarque de Hollanda,
Francisco soberano, artista brasileiro,
Hoje é seu dia, hoje você é quem manda,
Chico Buarque do Rio de Janeiro,

A sua poesia, desde lá de A Banda
Ganhou o coração do mundo inteiro,
Por conta disso é que a minha gente hoje anda
Cantando suas canções, meu poeta primeiro,

Pra escapar do mal tempo e do nevoeiro,
Pra viajar no samba verdadeiro,
E pra ver a banda passar

Falando de amor e esbanjando poesia...
Feliz aniversário poeta, hoje é seu dia,
Por isso a barra do dia pedindo pra gente cantar...

Sumiço

Para meu grupo de poesia que anda meio silencioso 

Saudades das poesias que brincavam aqui...
Será que elas desistiram brincar?
Poesias, eu sei, gostam de escapulir, 
Por conta disso, me perdoem confessar,

Mas sinto falta de poesias pra sentir, 
Ainda mais nesses tempos de falta de ar,
Poesias de respirar e abstrair 
O coração, mesmo o que não parece se cansar...

Saudade das poesias. Eu gostava de vir 
E ler, e descobrir, e traduzir,
E às vezes, muitas, me impressionar,

Com aquelas poesias, que hoje andam distantes,
Mas que se comportam, às vezes, como amantes 
Que não conseguem por muito tempo se afastar...

19.6.20

Chico Buarque de Hollanda faz 76

Feliz aniversário, Chico Buarque de Hollanda,
Francisco soberano, artista brasileiro,
Hoje é seu dia, hoje você é quem manda,
Chico Buarque do Rio de Janeiro,

A sua poesia, desde lá de A Banda
Ganhou o coração do mundo inteiro,
Por conta disso é que a minha gente hoje anda
Cantando suas canções, meu poeta primeiro,

Pra escapar do mal tempo e do nevoeiro,
Pra viajar no samba verdadeiro,
E pra ver a banda passar

Falando de amor e derramando poesia...
Feliz aniversário poeta, hoje é seu dia,
Por isso a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar...

17.6.20

A poesia, como a madrugada

Se um dia você acordar de madrugada 
E perceber que não tem nada pra fazer:
Casa arrumada, gaveta arrumada, 
Na geladeira, nada pra beber,

No celular, nenhuma alma acordada,
Nenhuma live pra você ver,
Se acontecer de não estar acontecendo nada 
Que você esperava que fosse acontecer, 

Tente uma poesia, pode ser usada,
Uma daqueles livros de página amarelada,
Porque o poema não costuma envelhecer,

E leia, depois releia. E olha que ue coisa engraçada:
A poesia, como a madrugada, 
Acontecem sem a gente perceber...

15.6.20

Vidas importam

Nem pretos. Nem brancos. Dividos,
Somos menores do que podemos ser:
Humanos. O resto são vestidos. 
É a embalagem que temos pra viver. 

Judeus. Cristãos. Hindus. Somos parecidos:
Nascemos. Vivemos. Vamos morrer. 
Temos fome. Ficamos aborrecidos. 
Gastamos das coisas que nos dão prazer. 

Vidas importam. Brancas. Pretas. Amarelas.
Não faz sentido dividir em aquarelas
As coisas que pertencem ao coração.

Vidas importam. O resto não interessa. 
Somos todos iguais, pra começo de conversa. 
O resto é o banho de cal no paredão.

13.6.20

Teremos

Teremos impeachment. Teremos vacina.
Teremos de volta nossa felicidade.
Vamos voltar a produzir ocitocina,
Esquecer esse tempo de obscuridade.

Teremos a vida de volta. E a vida ensina
Que a noite nunca vence a claridade.
Será como achar o mapa da mina
A vida livre de brutalidade.

Teremos poesia. Música. Mesa posta.
É disso que a gente gosta.
É disso que tá todo mundo precisando.

Teremos pão e circo. E consciência.
O tempo da delicadeza e da decência.
É isso que a gente anda tramando...

Mortos

Meus mortos versus seus mortos.
Tantos mortos. De quem são?
Depende de quanto pagam:
Duzentos mil? Um milhão?

Meus mortos versus seus mortos.
Quem se importa aonde estão?
Depende de quanto custam 
Nesse ano de eleição. 

Milhares. Não conseguiram,
Lutaram, até que cairam,
Tornando-se projeção,

Estatísticas e curvas,
Deixando as águas mais turvas...
Quem vai lhes pedir perdão?

Vamos passear no shopping?

Vamos passear no shopping? Sem juízo?
Vamos perder a vergonha e a proteção?
Vamos desobedecer aquele aviso
Que dizia "fique em casa"? Partiu aglomeração?

Vamos passear no paraíso?
Vamos comprar a morte no cartão?
Vamos? Ou tem alguém que ainda tá indeciso?
Isolamento? Já deu. Não dá mais não.

Enquanto passeamos, nas UTIs lotadas,
Entre famílias inteiras, desesperadas,
O número de mortes não para de aumentar...

Vamos perder a vergonha? Quem se importa?
A era do bom senso já está morta.
O último a sair encoste a porta. Vamos passear. 

10.6.20

A casa do meu pai

As pessoas tem andado muito chatas,
Exigindo muitas coisas que nem são,
Apostando na lisura que nem tem,
Não confiando em ninguém,
E sem distribuir seu coração.

Talvez por isso, tem andado mal humoradas, 
Acusando o mundo inteiro, sem notar 
Que o mau humor que vivem espalhando 
Faz a vida ir aos poucos se azedando,
Até a hora que ninguém mais puder provar.

Se isso não bastasse, sem esperanças:
O mundo é hoje. Agora é o que interessa.
E perdem, assim, a chance da semente 
Que vive seu hoje enquanto olha pra frente,
Porque sabe que a felicidade não tem pressa.

E já não param pra escrever poesia, 
E já não gostam mais de olhar o mar,
E ja não tem tempo, porque gastam seu tempo
Nas coisas que asfixiam o pensamento,
E não deixam o pensamento respirar.

Mas não são todas assim. Ainda existem 
As pessoas que se importam, que se dão,
Que sofrem, e apesar disso, se superam,
Que tentam, e não desistem enquanto esperam,
Que vivem sempre em constante reinvenção.

E assim segue a vida, seus azares
E as suas causas. Vida que vai.
Na casa do meu pai há muitas moradas...
Sigamos, sabendo que todas as estradas 
No final vão nos levar para uma das casas do pai. 

8.6.20

O contracheque

O contracheque vale como recibo 
Do mes corretamente trabalhado.
É a prova do que não pode mais ser esquecido.
Não é o valor. É o trabalho registrado. 

É o registro impresso do dever cumprido. 
É a tradução do empenho demonstrado. 
Não é o valor do salário recebido,
Mas o sinal do compromisso honrado.

Mas quando o contracheque é omitido, 
É como se o trabalhador fosse ofendido,
E seu trabalho desprestigiado.

O contracheque não pode ser retido. 
Deixar de disponibilizá-lo não faz sentido, 
A não ser para o patrão mal intencionado.

3.6.20

Soneto completamente amedrontado


Inspirado no relato de um colega de plantão 




Será que o dia vai ser tumultuado?
Será que vai ter vaga se precisar internar?
Será que o paciente já chegou parado?
Será que adianta tentar reanimar?

Será que dessa vez eu fui contaminado?
Será que hoje vai ter máscara para usar?
Será que o plantão ainda vai estar desfalcado?
Será que a ambulância vai demorar pra voltar?

Será que ainda tem adrenalina?
Será que isso que eu faço é fazer medicina?
Isolamento? Será que tem?

Será que adianta usar capote reaproveitado?
Será que adianta eu dizer, amedrontado,
Que eu só quero que o plantão acabe bem?

26.5.20

Alguma poesia

Alguma poesia para adoçar o dia,
Mesmo que o dia seja ameaçador,
Porque é mais leve a dor sempre que alguma poesia 
Abraça a dor que aperta o sofredor,

A dor, sem nenhuma poesia, asfixia,
É como os céus arrancados ao condor,
O cobertor roubado à pele fria,
A palavra censurada ao cantador,

Então algum poema adocicado,
Como um pouquinho de açúcar colocado
No chá, qualquer que seja seu sabor,

Então alguma poesia, quase nada, 
Para que para sempre, quando essa dor for lembrada,
Haja alguma poesia amortecendo a dor.

25.5.20

Soneto para Clarissa

Clarissa, por onde andam seus poemas?
Adoeceram

Clarissa, a poesia não adoece,
Às vezes, sim, ela se afasta um pouco pra crescer, 
E é nesse tempo silencioso que ela cresce, 
E volta, toda querendo se escrever, 

A gente acha que ela desaparece
Todas as vezes que ela dá de se esconder,
Mas a poesia, Clarissa, é como a prece:
Não precisa usar palavras para ser...

Então espera, porque a poesia, 
Mesmo quando vai bem longe, nos espia,
E acompanha bem de perto o nosso coração,

Até que quando gente menos espera, chega um dia 
Que ela se escreve, leve de alegria, 
Como quem faz a revolução...

23.5.20

A lição

É  todo mundo com medo. É todo mundo assustado.
E lá no fundo, todo mundo tem razão.
Pandemia. E ninguém estava preparado. 
Pandemia. Ninguém trazia a solução.

Parece que está todo mundo deslocado,
Ninguém muito à vontade no plantão,
Todo mundo trabalhando desconfiado,
Todo mundo procurando proteção,

Um dia, quando essa dor tiver passado,
Quem não tiver desistido nem tombado 
Vai precisar aprender uma lição:

É todo mundo junto. Ninguém separado.
Porque se um dá errado todo mundo dá errado. 
Ninguém chega sozinho à salvação

21.5.20

A hora mais escura

O morto segue só. Sem despedida.
É isolada a sua ultima jornada.
Uma oração é a possibilidade permitida,
E pensamentos, mais nada.

E essa hora, a mais escura que há da vida,
Precisa ser desacompanhada.
O funeral, como uma prática escondida,
Somente silêncio nessa ultima caminhada.

O derradeiro adeus. Tampa lacrada.
Como se a última cena precisasse ser cortada.
A hora mais cruel. A solidão.

E no silêncio dessa hora mais escura,
O corpo desce, em silêncio, à sepultura,
Como o ponto final da narração.









17.5.20

Vê se eu entendi direito

Você é de esquerda, não usa cloroquina,
Você é de direita não faz isolamento,
Será que a ivermectina
É pra você que é do centro?

Porque há um tempo atrás quem fazia medicina
É quem conhecia diagnóstico e tratamento,
Mas hoje em dia em qualquer esquina
Tem um especialista. Nem sei se comento...

A direita. A esquerda. E no meio o corona.
E por trás do corona, uma nação na lona.
E no fundo ninguém sabe o que fazer.

Dá cloroquina ou põe blitz nas ruas?
É uma coisa ou outra? Ou pode ser as duas?
Quem tem coragem de pagar pra ver?

16.5.20

Lockdown


Comer biscoito pode,
Ver TV também pode,
Ler livro de mistério,
Aprender a fazer pão,
Mas fazer barba cabelo e bigode
Pode não,
Também não pode
Passear no calçadão,
Mas pode telefonar,
Sentir saudade,
Falar à vontade pode,
Já tomar um táxi,
Depende da sua intenção:
Se for pra ir ao médico pode,
Se for pra comprar um caderno, pode não,
Pra ir no supermercado comprar Toddy,
Pode,
Pra ir na academia?
Amigo, presta atenção:
A vida pode melhorar,
Ou pode ser
Que o caos avance
Como acontece numa inundação,
E pode ser que leve tempo
Pra que tudo se acomode,
Até chegar o tempo do que pode ser,
E daquilo que não pode,
E é isso que vai fazer
A gente sobreviver
Ou não.
Mas se ter bons amigos sempre pode,
Trocar ideias,
E marcar encontros pra depois do apagão,
Então pode viver,
Mesmo distantes
Dois corpos podem ocupar
O mesmo pedaço do coração,
O mundo muda,
A gente muda,
Façamos com que esse tempo seja então
Assim como uma mudança de estação,
Onde a ameaça que nos ameaça
Passa e cansa
E vai sumindo até virar fumaça,
E quem pode garantir, com precisão,
Qual é seu tempo de duração?
Então,
Enquanto o lockdown estiver valendo,
Vamos aprendendo o que interessa:
Esquece a pressa,
Acalma esse seu coração cheio de medo,
E faz dormir essa sua inquietação,
Aproveita o tempo crescendo,
A dica é essa,
Um dia essa ameaça cansa e passa
E depois do seu fim vem a nossa continuação,
E até lá,
Fazer planos pode,
Poesia pode,
Brincar com o filho,
Viver uma paixão,
Então
Não deixa o tempo passar, porque ele foge,
Aproveita o tempo, porque o tempo urge,
E sorrir pode,
E pode ser feliz,
O que não pode é ficar com medo
De ficar com medo do bicho papão.







15.5.20

O Ministério da Saúde (versão pandemia)

O Ministério da Saúde não denuncia,
Mas o egoismo mata mais que a septicemia,
A antipatia causa mais dano que a infecção,
A empáfia não tem transplante,
A prepotência é altamente contagiosa,
E já está provado que é bastante perigosa,
Assim como a arrogância que uma vez identificada
Não sai com água e sabão.
O Ministério da Saúde não proclama,
Mas quem não ama
Não cria anticorpos contra a solidão,
Amar funciona como uma vacina
Quando o coração cansado desanima,
Quando se tem amor desistir deixa de ser uma opção.
E pena que o Ministério da Saúde não assina
A distribuição gratuita de ocitocina,
E não adota, em grande escala, a produção
De máscaras de proteção contra o egoismo,
De face shieds contra a agressividade sem sentido,
E de ternura em gel, pra sempre que a maldade
Tentar tocar, em sua imbecilidade,
O coração mal intencionado, ou distraído,
Essa ternura deixar o coração mais protegido,
Nem determine o uso de capotes contra esmorecimento,
Filtros contendo solidariedade dentro,
Protocolos prevenindo a intolerância,
Lives patrocinadas por complacência,
Atos institucionais contra a imprudência,
Um lockdown contra a depressão,
Unidades de saúde distribuindo abraços,
Daqueles que não necessitam usar braços,
Mas nem por isso menos eficientes em criar laços,
Essenciais, como a respiração.
O Ministério da Saúde não admite:
Mas o mau humor é mais contagioso que a meningite,
A negligência, mais inoperável que o tumor,
A displicência deixa mais sequelas que o derrame,
A tsunami é menos perigosa que o cinismo,
O alpinismo é menos arriscado que que a mentira,
A ira é a felicidade com defeito,
Bebê contente mama mais peito,
A ingratidão invariavelmente vira dor...
O Ministério da Saúde não divulga,
Mas passar o tempo todo reclamando causa ruga,
E o consumismo, está provado, é uma fuga,
O auto vitimismo, um mal sem solução,
O pessimismo causa grande sofrimento,
A impaciência necessita tratamento,
Antibiótico não cura um coração rabugento,
E morrer não machuca, quando existe gratidão.
O Ministério da Saúde adianta:
Ninguém colhe o que não planta,
Ninguém planta o que não traz no coração...
O Ministério da Saúde não discute:
O bom humor é mais delicioso que o iogurte,
O amor é a tábua da salvação...

9.5.20

Quarentena

Eu vou de livros. Não tenho lareira.
Eu tenho poesia por luar.
Meu vinho é a "Estrela da vida inteira".
Minha cerveja artesanal é ouvir Chico cantar.

E assim, ao som de Manuel Bandeira,
Eu me sinto como se estivesse num pomar
Colhendo Drummond, de alma cantareira,
Ouvindo Vinicius e seus poemas de amar,

E desse jeito eu passo minha quarentena,
Ouvindo música, lendo poema,
E quando vejo, o dia já passou,

E a lareira do meu coração, se ardendo em rimas,
Espalha poesias pequeninas
Que eu colho e guardo por onde eu vou.

Dead people

Eu vejo ainda alguns. Mais inibidos.
Faz pouco tempo eram bem mais abusados,
Falavam mais alto, eram mais atrevidos,
Faziam gestos mais descomportados.

Eu os vejo ainda, mas andam meio sumidos, 
Parece que alguns estão envergonhados,
Ouvi, de alguns, que estão arrependidos,
E, muitos deles, desorientados...

Eu vejo ainda alguns, mas muito menos,
E já não fazem mais gestos obscenos,
Tentando, com isso, se regenerar,

Eu ainda vejo alguns. Os resistentes.
Mas hoje já não há mais inocentes, 
E nem é mais preciso se justificar.

3.5.20

Calma

Mantenha-se calmo. Antes de mais nada
A calma faz a gente não travar.
É longo o dia. Longa a caminhada.
Calma. Nada deixa de passar:

A chuva, o vento, o raio, a trovoada,
A ansiedade de querer ver tudo acabar.
Nada é pra sempre. Cada página virada
É só o prenúncio para a próxima virar.

Então mantenha-se calmo. A vida é assim.
Somente o universo é que é sem fim.
As coisas vem e vão, até que vão embora.

Mantenha-se confiante. A tempestade
Não dura mais do que uma eternidade.
Resumo: muita calma nessa hora. 

29.4.20

A era do cuidado

Estamos vivendo a era do cuidado,
Cuidado com a dose,
Cuidado com as mãos,
Cuidado com o bebê contaminado,
Com o antibiótico aplicado,
Com a técnica correta de intubação,
Cuidado com a admissão 
E com a alta,
Com os dados da anamnese,
Com o risco de infecção, 
E mesmo depois do plantão ter terminado, 
Ao sair à rua, cuidado, 
Ao abrir o portão, 
Ao beijar seu filho,
Ao deixar seu celular conectado,
Ao servir o leite, 
Ao pegar o pão, 
Ao tomar um táxi, 
E mesmo ao colocar uma máscara para a sua proteção, 
Cuidado, 
Nosso descuido fez com que o planeta fosse penalizado 
Por isso chegamos à era do cuidado, 
A era do cuidado de quem cuida,
E de quem recebe atenção,
Um pequeno tropeço, tudo errado,
Um deslise quase imperceptível, grande confusão, 
Uma era, essa era do cuidado,
Que será levada, já está provado, 
Para além da nossa próxima geração,
Quando o homem descuidado 
Terá aprendido 
A tomar cuidado,
E essa será a única condição 
Que guardará respeito com o passado construído,
E com o futuro, como maior construção,
Porque foi dolorido,
E com o coração apertado,
Que o mundo chegou a essa conclusão, 
A nossa dor foi ter desrespeitado 
Essa regra básica para qual não existe exceção: 
Cuidado com o que é dito,
Cuidado com o que é feito
E registrado,
Desde a avaliação dos resultados 
De um eletroencefalograma ampliado,
Aos primeiros passos do estímulo à amamentação,
E até o que não era questionado,
E mesmo o que não estava sendo percebido,
Não ficou de lado,
Porque tudo passou a ser tratado com cuidado,
E a vida do planeta passou a depender 
Dessa tomada de decisão. 
Estamos vivendo a era do cuidado,
Cuidado com o pensamento,
Cuidado com a palavra, 
Cuidado com a ação,
Construindo um planeta mais respeitador,
Mais respeitado,
Cuidando com cuidado
Pra que nunca mais o gesto descuidado,
E alimentado de desatenção, 
Possa tornar o futuro ameaçado,
Fazendo sangrar da vida o coração,
Então cuidado,
Redobrado, 
Não a palavra,
Mas o compromisso,
Não o assinado no papel,
Mas na convicção,
Para que esse cuidado possa ser multiplicado, 
E dessa forma, assim, disseminado,
Como se fosse a cura,
Ou como se fosse um pedido de perdão.

23.4.20

Os dois lados

Após escutar uma fala da Dra Ana Claudia Quintana Arantes


Você pode escolher o lado dos que ajudam,
Você pode escolher o lado dos que pedem ajuda,
Você só não pode escolher o lado dos que falham
Porque nem ajudam nem pedem ajuda, só atrapalham,

E você pode escolher o lado dos que precisam
Como também escolher o lado dos que doam,
Mas acredite, você perde tempo quando escolhe ficar 
Ao lado daqueles outros que só fazem reclamar, 

E ao invés de tentar socorrer  os que pedem socorro 
Ou de pedir socorro com medo de se afogar
Tornar-se vítima das suas dores íntimas 
E odiar o mundo ao se vitimizar,

Porque você pode escolher o lado dos que apoiam,
Ou escolher o lado dos que pedem apoio,
O único lado que você não pode escolher
É o lado dos que nem vive nem deixam ninguém viver.

Escolhe o lado dos que preparam a sopa,
Escolhe o lado dos que seguram o prato,
Foge do lado dos que só se doem,
Foge do lado dos que só se destroem,

Escolhe o lado dos que escrevem oesia,
Escolhe o lado dos que aprendem a escrever,
Mas deixa de lado os que não procuram ensinar,
E dos que não tentam, por outro lado, aprender,

Fica do lado dos que procuram fazer,
Ou dos que pedem ajuda se não conseguem acertar,
Mas toma cuidado com os que não tentam crescer,
Toma cuidado com os que não saem do lugar,

Porque você pode escolher o lado dos que dão força,
Ou ficar do lado dos que precisam de força pra lutar,
Mas quando escolher o seu lado, toma cuidado:
Basta um furinho no barco pro barco inteiro afundar 

19.4.20

Antes que chegue ao fim a pandemia

Antes que chegue ao fim a pandemia,
Eu precisava dizer aqui que eu não sabia
Que um dia o dia de hoje chegaria,
E a gente ia precisar tanto um do outro
Pra contar coisas que nunca contaria,
Pra ficar da janela escutando cantoria,
Pra sentir saudade de quem nunca sentiria,
E que esse tempo seria assim tão duradouro...

Porque antes que chegue ao fim a pandemia,
E volte a ter fila na padaria,
E ambulatórios de pediatria,
E gente a balde circulando por ai,
Foi necessário esse tempo, quem diria,
Que desarrumasse a nossa economia,
E deixasse a piscina do prédio mais vazia,
E o mundo inteiro tentando descobrir

Um tratamento que termine essa agonia
De dor, e morte, e caos, e hipoxemia,
Porque ninguém no mundo sabia que cabia
Tanto medo e tristeza na televisão,
Tanta perda sem nenhuma garantia,
Tanta força junta contra a ventania,
Tanta necessidade de alegria,
Tanta necessidade de uma solução,

Por isso, antes que chegue ao fim a pandemia,
Que está durando mais do que deveria,
Matando mais do que a previsão mais sombria,
Como se estivesse tentando provocar
Mudanças que a gente nunca mudaria,
Sentimentos que a gente nunca sentiria,
Dores que a gente nem sabia o quanto doiam,
E músicas que a gente nem sabia mais cantar,

Por isso mesmo, antes que chegue ao fim a pandemia,
Antes que a gente volte pra churrascaria,
Ou pro plantão cansativo que a gente torcia
Pra dar logo oito horas e acabar,
Por isso, antes que chegue ao fim, uma poesia,
Que não é uma face shield, mas com sabedoria,
Se bem usada, ela bem que serviria
Pra ajudar o coração da gente se acalmar...

7.4.20

As meninas

Para Yasmin e Moana, prematurinhas crescidas 

Eu vi miudinhas. Hoje já não estão. 
Eu vi quando não eram quase nada.
Eu vi as duas no começo da estrada.
Eu vi sua força e determinação.

Desde meninas. Uma luta danada.
Sonda. CPAP. Saturação. 
Cada graminha a mais valorizada 
Como um sinal de libertação.

Eu vi desde aqueles dias que choravam 
Quando sua mãe e seu pai não estavam 
E elas ficavam sem chão. 

Eu vi bebês ainda. E hoje, crescidas,
Tornam felizes demais as nossas vidas, 
E fazem mais forte nosso coração.

2.4.20

Vai passar

Para Ana Michelle Soares e Ana Claudia Quintana Arantes

Vai passar.
Não vai durar pra sempre,
É só um tempo,
Custa caro,
Dói,
E as vezes a gente sente até vontade de chorar,
Mas não é pra vida inteira, acredite:
Vai passar,
Às vezes o tempo
Dura muito tempo,
E muitas vezes esse tempo
É capaz de castigar,
Mas na medida em que o tempo passa,
O tempo mostra
Que a gente não deve se desesperar,
Porque mesmo que custe uma eternidade,
Vamos ter outra eternidade pra gente se encontrar,
O nome disso é saudade,
E pra sentir saudade
A gente precisa antes de tudo se gostar,
Então, por mais que a vida se apresente
Dessa forma ameaçadora, aparentemente,
Não tenha medo:
Mais dia menos dia
A tempestade vai se transformar em calmaria,
Por isso, se a calmaria um dia vai chegar,
Não gaste seu tempo durante a tempestade
Fazendo alarde,
Seja feliz com o que você pode aproveitar:
Escreva uma carta,
Envie uma foto,
Faça uma live falando dessa saudade,
Ou, ao invés disso, tente decorar
Uma poesia de Carlos Drummond de Andrade,
Ou de Manoel de Barros,
Sinceridade?
Definitivamente você vai gostar...
Assista um vídeo de Ana Claudia Quintana Arantes,
Descubra coisas emocionantes
Nas quais você nunca tinha parado pra pensar,
E lembre-se de levar no seu coração quem você ama,
Porque a gente só se afasta
De quem o coração da gente já  não quer mais carregar...
Porque  se “longe é um lugar que não existe”,
Se “é melhor ser alegre que ser triste”,
E se “todos os tristes querendo juntos, toda tristeza vai se acabar”,
Então prepare-se pros dias que virão
Depois dos raios,
Passado o trovão,
Pros dias do coração poder brincar
De dar abraços,
Retomar laços,
E de mandar a saudade ir passear,
Porque a única certeza que hoje temos
É a certeza de que esse tempo que vivemos,
E que uns acham que vai durar mais, outros que menos,
Mas pelo que lemos,
E pelo que vemos,
A única coisa certa que sabemos
É que esse dia
Um dia
Vai passar...

26.3.20

Morte e vida

Morrer ja era certo: mais dia, menos dia,
De alguma forma isso iria acontecer,
Mas viver? Isso nos pertencia,
E ia ser da gente até se desfazer...

A gente já nasceu sabendo que morreria,
Ouvindo estórias, tentando absorver, 
Mas nunca imaginou que viveria 
Como se estivesse deixando de viver:

Antes do coração entrar em assistolia,
Deixar esvaziar-se sua energia,
E ver a vida, ainda em vida, se perder...

Já era certo morrer, mas quem diria
Que chegaria um dia em que a poesia 
Perderia poesia sem perceber...

Atletas

Atletas não ficam gripados
Porque tem muitos anticorpos pra gastar,
Atletas são indivíduos preparados,
E são treinados diariamente pra ganhar,

Por serem atletas, estão imunizados,
Atletas não costumam se assustar,
Não passam o dia em casa, confinados,
Atletas precisam se exercitar:

Jogar bola, mergulhar, atirar dardos,
Surfar por mares nunca dantes navegados,
Procurar recordes pra quebrar,

Atletas jamais serão contaminados 
Porque são sempre muito bem cuidados...
Atletas só não deveriam governar.

24.3.20

Esperança

Não a palavra, mas seu significado,
Não o do dicionário, mas o do coração,
Não aquele  que mora no peito, trancado,
Mas o que se espalha livre, sem prisão,

Não a esperança presa ao passado,
Mas aquela outra: a que resiste ao não,
A que é da alma o maior legado,
A que é da vida a maior lição,

A que não precisa de provas e evidências,
A que desafia as hipóteses das ciências,
A que não necessita tradução,

Não a palavra, mas o alimento
Da poesia de que é feita o pensamento.
Não a palavra. A convicção. 

23.3.20

Poesia enquanto a peste...

Poesia enquanto a peste 
Insiste e teima em chegar
Do norte, sul, leste, oeste,
Vinda de todo lugar,
Trazendo ansiedade, dor,
Dificuldade de respirar,
Mas lembrando que boa vontade 
Às vezes pode ajudar,
A peste, ninguém sabia,
Ninguém notou ela entrar,
Quando foi ver era tarde,
Não dava mais pra avisar,
Chegou fazendo miséria
E antes do mundo acordar
Muita gente foi embora 
Sem tempo de se arrumar,
Muita gente perdeu tempo
E não conseguiu viajar,
E muita gente viajou 
Pra nunca mais retornar,
Algumas seguem tentando 
Outras não podem tentar, 
Porque umas acreditando 
E outras sem acreditar, 
Mundo, mundo, vasto mundo, 
Parece Drummond a falar...
Poesia enquanto a peste
Não desiste de espalhar 
As novas regras pra vida
Que a gente deve acatar:
O tempo sem desperdício,
A importância do lar,
O cuidado como escudo,
E fé pra nunca faltar...

22.3.20

O dia

O dia vai começando. Deus permita
Que ele traga coisas boas pra contar:
Um homem bom, uma mulher bonita, 
Uma chuva que começa a dissipar,

Uma lembrança da música favorita, 
O cheiro de café ao acordar,
Uma verdade em que todo mundo acredita, 
Uma notícia dizendo que vai passar

O medo, a dor, o desespero, a febre,
E que esse dia traga uma criança alegre 
Pedindo colo, querendo brincar,

Um pouco de calma, outro pouco de poesia,
E, porque não, um milagre nesse dia
Pra gente ganhar forças pra continuar...

21.3.20

A casa

A casa, como descanso, proteção,
Como canteiro onde se planta vida,
Melhor lugar para guardar o coração,
Melhor lembrança para a memória adormecida,

A casa, identidade desde o portão 
Que é sempre mais entrada que saida,
Brinquedo, colo de mãe, gosto de pão,
Antídoto para toda despedida,

Fermento para conversas e poemas,
Tornando grandes as coisas mais pequenas:
Brincar, crescer, se proteger, amar...

A casa, nunca foi tão necessária,
Vacina insubstituível, de dose diaria,
Cuidado que a gente recebe sem notar...

Poema futuro

O povo quer saber se o presidente tá infectado 
O presidente diz que não é  uma gripezinha que vai atrapalhar 
O governador que não tem medo de ninguém tá assustado 
O médico não tem EPI pra se cuidar

O prefeito anuncia um plano equivocado 
Pensando nos votos que ele precisa pra continuar 
O cidadão que amanhece resfriado
Não sabe se fica em casa ou sai pra trabalhar 

A TV mostra números do estrago 
O Eduardo aponta o dedo pro culpado 
As farmácias não tem álcool em gel para entregar 

Um dia, quando o dia de hoje virar passado 
O mundo vai precisar ser reformatado
Pra quando a próxima peste for chegar

20.3.20

Corona

Pronto socorro. Quase nenhum atendimento 
O mundo inteiro com medo do corona 
Ninguém lá fora. Ninguém aqui dentro. 
Ninguém vomitando. Zero ondansetrona. 

Um dia calmo. Suave e lento. 
Mas basta ligar a TV e a gente se emociona.
O mundo morre. Muito sofrimento. 
Parece que nenhuma medida funciona 

Pronto socorro vazio. Ninguém veio. 
Porque  será que tem dias que é tão cheio
E em outros dias não tem ninguém?

Quem é que explica esses plantões assim?
Conta pra mim
Quem tá mais com medo de quem?

13.2.20

A gestão e o dinheiro

O que falta é gestão e não dinheiro,
Mas isso foi antes de ganhar a eleição,
Agora, pra sair desse lameiro,
O problema é ter dinheiro pra gestão.

Reclama do governo passado o tempo inteiro,
Parece um menino mimado e chorão,
Transformou a cidade num pardieiro
Mas a culpa é só dos outros. Dele não. 

Parece mentira que o seu mandato está acabando,
E a cidade continua respirando 
Apesar de tanta coisa fora do lugar,

Era uma vez um prefeito catapora
Que foi prefeito uma vez e foi embora,
Mas dessa vez pra nunca mais voltar.

O trio

Uma nunca prescreveu uma Dipirona,
Outra não faz ideia do que seja a ondansetrona,
E a outra nunca entrou numa emergência,

Uma nunca viu correr um plasma,
Outra, nunca tratou uma crise de asma,
E a outra nunca ouviu falar de multiresistencia,

Uma não sabe o que é penicilina,
Outra não conhece a dose da insulina,
E a outra nunca atendeu um infartado,

Uma não imagina onde fica a veia cava,
Outra nem sabia que existia essa palavra,
E a outra nao tem ideia de como tratar um resfriado,

Uma não sabe como age o antibiótico,
Outra nunca presenciou um surto psicótico,
E a outra nunca viu ninguém morrer,

Uma não sabe o que significa epilepsia,
Outra sequer ouviu falar de disfagia,
E a outra nunca viu um parto acontecer,

Uma nunca tratou de escabiose,
Outra não sabe explicar o que é cirrose,
E a outra nunca ouviu falar de dislalia,

Uma nunca viu uma mielomeningocele,
Outra nunca tratou nenhuma doença de pele,
E a outra não imagina o que seja uma artralgia,

Nenhuma das tres tem pratica ou vivência,
Foram nomeadas, sem nenhuma experiência, 
Para fazerem o que não sabem como fazer

Mas fazem. E, prepotentes, não pedem ajuda,
Por isso que a saúde está um Deus nos acuda.
Quem são elas? Alguém sabe responder?

28.1.20

A lista

São muitos nomes que vão aparecendo,
Que eu deveria, mas não sei quem são,
Que não vi nascerem, não vi crescendo,
Que não pularam carniça comigo também não,

São muitos nomes, e eu vou aprendendo
De quem são netos, sobrinhos ou irmãos,
São muitos nomes, e enquanto eu vou lendo,
Me passa um filme dentro do coração:

Um navio, um Líbano, um Rio de Janeiro,
Um 1920, um século inteiro,
E uma família, geração a geração

Seguindo, e, dessa forma, permanecendo
Família, que mesmo sem se conhecendo,
Segue, a seu modo, na mesma direção...

19.1.20

Conjugando o verbo ter medo

Eu tenho medo 
De ser relotado,
De perder o emprego,
De ficar sem receber,
De ser perseguido,
De ser processado,
De não saber como fazer se eu perder,
Tu tens medo 
Porque, como eu,
És concursado
E precisas do salário pra viver,
Porque uma coisa é escrever no Whatsapp 
Outra coisa é fazer greve:
Pode doer.
Ele tem medo
Porque é mimado,
Porque pensa que pode tudo 
E que a cidade vive conforme seu bel prazer,
Porque é prefeito
E quer ser reeleito,
E a gente pode fazer ele não ser.
Nós temos medo 
Porque somos humanos,
Temos família,
Mulher,
Marido,
Filhos a crescer,
E compromissos,
Contas a pagar,
E um juramento do qual não podemos nos esquecer.
Vós tem medo
Porque, como nós, sabeis 
Como é dificil o mundo das leis:
No pain, no gain,
E vós ireis sofrer,
Mas eles tem medo
Porque lá no fundo 
Sabem que querem, mas não são os donos do mundo,
E nossa verdade faz o coração deles tremer.
Eles têm medo porque são covardes 
E porque sabem que não vão vencer
Porque com "todos os tristes 
Querendo juntos,
toda tristeza vai desaparecer"

12.1.20

Afinação

Como eu posso discordar 
Do que quer essa mulher:
Se quer ir, se quer voltar,
Ou se não sabe o que quer,

Se é ela meu esteio,
Se mora em meu coração, 
Razão pra tudo que eu creio 
Se ela é minha inspiração?

Como eu posso me meter
Nas decisões que ela faz:
Quer vender? Não quer vender?
Queria, mas não quer mais?

Quer ou não quer ir a praia?
Quer coca ou quer guaraná?
Quer que sandália? Que saia?
Tão cedo e já quer voltar?

Que direitos eu teria
Se ela sempre me apoiou,
Cuidou da minha alegria,
Minha tristeza assustou, 

Me alimentou, me vestiu, 
Me divertiu, me ensinou, 
Nas crises, me distraiu,
Nas perdas me sustentou?

Como eu posso ir contra ela
Que nunca foi contra mim?
Como, se ela é tão bela?
Como, se eu sou tão ruim?

Como não estar do seu lado 
Seja de que lado for,
Seja um bife mal passado,
Seja um remédio pra dor,

Se não quer se vacinar,
Nem ir ao aniversário,
Se prefere se calar,
Se conta tudo ao contrário,

Não me importa, que assim seja
Quando ela diz, eu aceito, 
Ela é a luz da minha igreja,
Meu modelo mais perfeito,

To nem ai pro que pensam,
Pro que acham que ela é, 
Minha mãe é minha bênção,
Meu exemplo de mulher,

É #lulalivre? Perfeito. 
Apoio o que ela pedir.
A mãe que me deu o peito 
Que me deixou existir

É a mãe que me trouxe à vida 
Me mostrou a direção 
Enfrentou a dor comprida 
Nunca soltou minha mão 

Então ela que decida
E saibam vou concordar 
Não existe outra saída 
Não adianta tentar 

Se ela pede, não importa, 
Torno minha obrigação 
Minha viagem sem volta 
Minha mão sem contramão 

Não há como não fazer
Cada coisa que ela pede
Se ela sempre foi ceder
Carinho que não se mede

Sacrifício sem medida 
Sofrer que não faz sofrer 
Dor que é sempre convertida 
Em fé, como deve ser

Então como posso, diga,
Contestar se ela é diz não?
Se ela é dona da minha vida
E é dela meu coração?