13.12.20
Vacina
12.12.20
Diretivas
7.12.20
Impermanência
Quando tudo parece desabar,
Dias pesados de atitudes frias,
Um pesadelo que se recusa a acordar,
Dias difíceis: chuva, ventania,
Parece que está tudo fora do lugar,
Expectativas secas e sombrias,
A impressão é de que pouca coisa vai sobrar,
Mas eis que a vida, com sua impermanência,
Aproxima-se, terá sido coincidencia?,
E me abraça, procurando me acalmar,
E me convence: tudo é passageiro,
A liberdade, o algoz e o cativeiro,
Respira fundo e acredite: vai passar...
28.11.20
O poema novo
Mas sem motivo nenhum para escrever,
17.11.20
Gigantes
4.11.20
Obrigado
1.11.20
O remédio
27.10.20
Oração
19.10.20
A dor
13.10.20
A poesia
É como um copo d'água no calor,
Um pão com queijo pra barriga vazia,
É como um machado pro lenhador,
Um pires de leite pro gato que mia,
Uma pista para o cão farejador,
É como o burrinho que levava José e Maria
Sem perceber que também levava o Salvador...
É hora estelar. Não se atrasa. Não se adia.
E quando você menos desconfia,
Ela se mostra com seu dom confortador.
E até a noite escura, com poesia,
É a nossa chance de escutar o criador...
Farmácia de poesia
_Bom dia Doutor
_Bom dia, como passou a semana?
_Estou melhor, sim senhor,
Depois de Mário Quintana,
Estou triste,
As vezes penso besteira
Eu não queria me sentir assim dessa maneira...
_Vou te passar um Thiago de Melo,
E antes de dormir, um Bandeira.
_Como vai?
_Melhor.
_ Maravilha.
_Pois é. Só notícia boa.
Não tem como ser diferente
Depois de Fernando Pessoa...
_Passou o enjoo?
_Mas claro, Doutor
Já estou bom.
Estou me sentindo mais leve
Depois de Carlos Drummond.
_Muito obrigado, Doutor,
Não uso mais fluoxetina,
Troquei aquelas caixinhas
Pela Cora Coralina.
_E Cecilia, tem usado
Pra aquela angústia que você sentia?
_Diariamente, Doutor,
Fiquei bom com poesia.
Vinicius me fez mais leve,
Manoel de Barros
Me devolveu a razão,
Mas foi com Augusto dos Anjos
Que eu consegui consertar meu coração...
Farmácia de poesia,
Todo dia
Poesia deixa a gente se curar.
Porque o verso, “caindo na alma,
É germe que faz a palma
É gota que faz o mar”
10.10.20
Um bebê que se vai
9.10.20
Tradução
4.10.20
Waze (meu coração)
Por onde eu devo seguir?
Por quais esquinas eu não posso cruzar?
De que rotatórias é necessário fugir?
Em que momentos eu preciso acelerar?
Em que momentos eu preciso reduzir?
Como ter certeza de que eu não vou me atrasar
Ou chegar antes do portão abrir?
Como saber se alguém vai me esperar?
Como pedir se alguém pode me ensinar
A perder o medo de não conseguir?
E se eu decidir parar prá descansar?
E se a bateria acabar?
E se no meio do caminho eu desistir?
A esperança
E quase sempre volta logo em seguida,
Cutuca o coração da gente toda hora,
Acompanha a gente durante toda a vida,
Fica escondida quando a gente chora,
Mas, fingindo-se de desentendida,
Espera a gente do lado de fora,
E não desiste da gente, decidida,
A esperança, como um sobrenome,
Indisfarçável sempre, como a fome,
Como um documento de identidade,
Insubstituível, a esperança,
A gente se cansa, mas ela não se cansa,
E segue com a gente para além da eternidade...
3.10.20
O ruído desnecessário
O tom de voz desmedido da pessoa,
O volume desrespeitoso da risada,
A palavra. sem sentido e dita à toa,
A cuba sobre a incubadora, quase nada
Além do som excessivo que ressoa,
A pequena bebê, dessaturada,
Não tendo como lutar, então perdoa...
Desnecessário,
Mais que excessivo, cruel e solitário,
O ruído, castigo análogo à tortura...
_Silencio!! Cantam os anjos e os poemas,
Silencio, apenas,
E, de algum modo, é por ai a cura...
2.10.20
A esperança
Vamos plantar esperança,
A esperança é toda feita
De pedacinhos de amor,
Sem esperança
O coração se cansa,
E o coração, cansado,
Sente dor...
Por isso, espalhar esperança
E dividir esperança,
Porque a esperança espalhada
Frutifica,
A esperança
É uma bem-aventurança,
E não custa nada a esperança,
Fica a dica...
O tempo é hoje,
Vamos cuidar da esperança,
Vamos tratar a esperança,
Como se fosse um poema autografado
De Chico Buarque,
De Carlos Drummond,
De Cecília,
De Mário,
De Vinicius,
De Adélia Prado,
Vamos seguir a esperança,
Compartilhar a esperança,
A esperança é assim:
Nunca se gasta,
Você entrega, ela sobra,
Você oferece, ela volta,
Como um perfume que é bom
Quando se alastra,
Vamos olhar com esperança,
Vamos viver com esperança,
Qualquer semelhança com a luz
É a pura realidade,
Não há nada mais doce
Em toda vizinhança,
A esperança é o que existe de melhor
Na humanidade...
24.9.20
Paliativas
17.9.20
As aulas da Ana
8.9.20
A compaixão
Do que se pode fazer,
Do que se tenta,
E do que a gente tenta conseguir,
Não tem limites, a compaixão,
É sempre atenta,
Ela é caminho mais certo pra seguir,
Às vezes a gente é fraco,
Quase não aguenta,
E nessas horas ela vem nos acudir,
Cuidando de quem cuida
De quem está mergulhado na tormenta,
A compaixão dá conta,
Sem desistir.
A compaixão dá conta de tudo,
Até da lágrima,
Da saudade,
E do cair,
Mesmo da morte a compaixão dá conta,
Receita pronta:
Compaixão.
Não tem melhor remédio pra dormir.
O mapa do caminho
Receita para quem pensa que não gosta de poesia
6.9.20
22265 dias
5.9.20
Preciso do seu voto
1.9.20
A caminhada
29.8.20
O Rio de Janeiro
26.8.20
Espero
24.8.20
Desafinado
Tentando o acompanhamento da canção...
A vida, com seus acordes dissonantes,
Percebe minhas cordas discordantes,
E às vezes me chama atenção:
_Acerta a sexta corda, a quinta, a quarta!
_Um pouco mais de sol! _Não, assim não!
E eu sigo, distraído, procurando
Seguir as pistas que a vida vai me dando,
Sem pressa, como quem dita a lição,
E tento um dó menor, quase consigo,
Não fosse essa terrível desconcentração,
Aperto as cordas, afrouxo, desafino,
E sigo tentando assim, desde menino,
Sem desistência e sem reclamação,
Meu coração, desafinado, leve,
Tentando um samba, como o de João,
Segue apertando e afrouxando, corda a corda,
Às vezes dorme, outras vezes acorda,
E só poucas vezes consegue, rara inspiração,
Meu coração, esse violão desafinado,
Já sabe o ritmo, o toque, a marcação,
Mas se distrai quando não deveria...
Ainda bem que existe a poesia...
Ainda bem que existe o perdão...
22.8.20
Poesia
16.8.20
Escrevo
Como um recurso contra a depressão,
Como um motivo que não precisa de motivo,
Como quem erra e não precisa de perdão,
Como quem sonha com a página de um livro,
Como quem pula da página pra canção,
Como quem depois do fim, segue o caminho, vivo,
Depois da festa, cadeado no portão,
Como quem olha, como quem espera,
Como quem nega, como quem pondera,
Como quem não sabe como continuar
O verso que acabou de ser escrito,
Como quem voa do zero ao infinito
Sem precisar sair do seu lugar...
8.8.20
Cem mil mortos
4.8.20
Almas humanas
31.7.20
A fotografia
30.7.20
Música cuida do coração da gente
29.7.20
Noventa mil mortos
Noventa mil que não mais irão voltar,
Um silêncio que é cada vez mais difícil
De imaginar, de entender, de acreditar...
Noventa mil, descaso e sacrifício,
Noventa mil, porque não aguentaram esperar,
Noventa mil condenados ao suplício,
Que não aprenderam como escapar...
Noventa mil mortos. E muitos nem perceberam
Ou como se tornaram parte dessa conta:
Noventa mil mortos. E ainda não terminamos...
Como chegamos até aqui onde chegamos?
Por que esse futuro nos amedronta?
27.7.20
A compaixão dá conta de tudo
A compaixão dá conta de tudo:
Do que não tem remédio nem descanso,
Da morte, do desespero, da solidão,
Das noite sem esperanças e desses dias
Contaminados por notícias frias,
Não importa, dá conta de tudo a compaixão...
A compaixão dá conta de tudo:
Do que não tem conserto nem saída,
Da pena eterna, para a qual não tem perdão,
A compaixão dá conta do aconchego
Para o coração sem norte e sem sossego,
Porque dá conta de tudo a compaixão...
A compaixão dá conta de tudo:
Do medo, da saudade, da descrença,
Da crueldade, da ingratidão,
Da dor do corte, do sangramento,
E, mais do que da dor, do sofrimento,
Ela dá conta de tudo, a compaixão...
A compaixão dá conta de tudo,
Cuidando da dor que há por trás de toda dor,
E mesmo quando não se encontra explicação,
Como se fosse um manto, mais que a cura,
É como se fosse a mão firme que segura
O coração que sofre, a compaixão
26.7.20
O tempo lá fora
23.7.20
Autobiografia
Mas com o coração está nascendo agora...
Foi preciso durar uma vida quase inteira
Para finalmente ver chegada a hora
De ver a vida de uma outra maneira,
(Durar uma vida inteira, quanta demora)
Mas quando uma percepção é verdadeira,
A caminhada do tempo só melhora,
E nunca é tarde demais quando acontece,
Pois muitas vezes o atraso que parece
Uma falha, é como o pequeno grão e a plantação:
O tempo que passa inaparente e escondido
É o tempo necessário para o grão, amadurecido,
Brotar em folha, flor e fruto desde o chão...
19.7.20
As imprescindíveis
16.7.20
O Prefeito
13.7.20
Mudança de planos
Porque na verdade não temos, apenas usamos,
Até um dia, quando devolvemos
O que não era nosso, o que emprestamos...
Difícil, mas lá no fundo percebemos,
Ou fácil, mas geralmente complicamos,
Trazemos nada, um dia, de onde viemos,
E na despedida, outro dia, nada levamos,
E tudo que cerca esse pedaço de tempo que vivemos,
Diferentemente do modo como aprendemos,
Não nos pertence... Essa é a tralha que arrastamos,
A vida melhora, então, quando aprendemos
Que podemos ser bem mais, tendo bem menos,
E assim, mais leves, mudamos nossos planos...
Conversando sobre a vida em tempos de pandemia
11.7.20
Gotas que importam
10.7.20
Soneto pra minha cidade
5.7.20
Minha cidade
29.6.20
O currículo
21.6.20
Cincoenta mil mortos
A prorrogação dos mandatos
Mais dois e vai estar tudo acabado,
Um município completamente falido
Por um governo completamente abestado,
Seis anos de mandato. Isso não faz sentido.
Esse corona deixou o mundo aloprado.
É tempo demais prum governo tão descomprometido,
Tempo demais prum governo tão mal intencionado,
São mais dois anos de um mandato fouxo,
Sao mais dois anos de um mandato mocho,
Um povo triste, sem rumo e maltratado,
Se essa regra passar vai ser o fim da picada.
Os abutres famintos não vão deixar sobrar nada.
É o fim dos tempos, fato consumado.
Feliz aniversário
Francisco soberano, artista brasileiro,
Hoje é seu dia, hoje você é quem manda,
Chico Buarque do Rio de Janeiro,
A sua poesia, desde lá de A Banda
Ganhou o coração do mundo inteiro,
Por conta disso é que a minha gente hoje anda
Cantando suas canções, meu poeta primeiro,
Pra escapar do mal tempo e do nevoeiro,
Pra viajar no samba verdadeiro,
E pra ver a banda passar
Falando de amor e esbanjando poesia...
Feliz aniversário poeta, hoje é seu dia,
Por isso a barra do dia pedindo pra gente cantar...
Sumiço
19.6.20
Chico Buarque de Hollanda faz 76
Francisco soberano, artista brasileiro,
Hoje é seu dia, hoje você é quem manda,
Chico Buarque do Rio de Janeiro,
A sua poesia, desde lá de A Banda
Ganhou o coração do mundo inteiro,
Por conta disso é que a minha gente hoje anda
Cantando suas canções, meu poeta primeiro,
Pra escapar do mal tempo e do nevoeiro,
Pra viajar no samba verdadeiro,
E pra ver a banda passar
Falando de amor e derramando poesia...
Feliz aniversário poeta, hoje é seu dia,
Por isso a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar...
17.6.20
A poesia, como a madrugada
15.6.20
Vidas importam
13.6.20
Teremos
Teremos de volta nossa felicidade.
Vamos voltar a produzir ocitocina,
Esquecer esse tempo de obscuridade.
Teremos a vida de volta. E a vida ensina
Que a noite nunca vence a claridade.
Será como achar o mapa da mina
A vida livre de brutalidade.
Teremos poesia. Música. Mesa posta.
É disso que a gente gosta.
É disso que tá todo mundo precisando.
Teremos pão e circo. E consciência.
O tempo da delicadeza e da decência.
É isso que a gente anda tramando...
Mortos
Vamos passear no shopping?
Vamos perder a vergonha e a proteção?
Vamos desobedecer aquele aviso
Que dizia "fique em casa"? Partiu aglomeração?
Vamos passear no paraíso?
Vamos comprar a morte no cartão?
Vamos? Ou tem alguém que ainda tá indeciso?
Isolamento? Já deu. Não dá mais não.
Enquanto passeamos, nas UTIs lotadas,
Entre famílias inteiras, desesperadas,
O número de mortes não para de aumentar...
Vamos perder a vergonha? Quem se importa?
A era do bom senso já está morta.
O último a sair encoste a porta. Vamos passear.
10.6.20
A casa do meu pai
8.6.20
O contracheque
3.6.20
Soneto completamente amedrontado
26.5.20
Alguma poesia
25.5.20
Soneto para Clarissa
23.5.20
A lição
21.5.20
A hora mais escura
É isolada a sua ultima jornada.
Uma oração é a possibilidade permitida,
E pensamentos, mais nada.
E essa hora, a mais escura que há da vida,
Precisa ser desacompanhada.
O funeral, como uma prática escondida,
Somente silêncio nessa ultima caminhada.
O derradeiro adeus. Tampa lacrada.
Como se a última cena precisasse ser cortada.
A hora mais cruel. A solidão.
E no silêncio dessa hora mais escura,
O corpo desce, em silêncio, à sepultura,
Como o ponto final da narração.
17.5.20
Vê se eu entendi direito
Você é de direita não faz isolamento,
Será que a ivermectina
É pra você que é do centro?
Porque há um tempo atrás quem fazia medicina
É quem conhecia diagnóstico e tratamento,
Mas hoje em dia em qualquer esquina
Tem um especialista. Nem sei se comento...
A direita. A esquerda. E no meio o corona.
E por trás do corona, uma nação na lona.
E no fundo ninguém sabe o que fazer.
Dá cloroquina ou põe blitz nas ruas?
É uma coisa ou outra? Ou pode ser as duas?
Quem tem coragem de pagar pra ver?
16.5.20
Lockdown
Mesmo distantes
Dois corpos podem ocupar
O mesmo pedaço do coração,
Não deixa o tempo passar, porque ele foge,
Aproveita o tempo, porque o tempo urge,
De ficar com medo do bicho papão.
15.5.20
O Ministério da Saúde (versão pandemia)
Mas o egoismo mata mais que a septicemia,
A antipatia causa mais dano que a infecção,
A empáfia não tem transplante,
A prepotência é altamente contagiosa,
E já está provado que é bastante perigosa,
Não sai com água e sabão.
O Ministério da Saúde não proclama,
Mas quem não ama
Não cria anticorpos contra a solidão,
Amar funciona como uma vacina
Quando o coração cansado desanima,
Quando se tem amor desistir deixa de ser uma opção.
E pena que o Ministério da Saúde não assina
A distribuição gratuita de ocitocina,
E não adota, em grande escala, a produção
De máscaras de proteção contra o egoismo,
De face shieds contra a agressividade sem sentido,
E de ternura em gel, pra sempre que a maldade
Tentar tocar, em sua imbecilidade,
O coração mal intencionado, ou distraído,
Essa ternura deixar o coração mais protegido,
Nem determine o uso de capotes contra esmorecimento,
Filtros contendo solidariedade dentro,
Protocolos prevenindo a intolerância,
Lives patrocinadas por complacência,
Atos institucionais contra a imprudência,
Um lockdown contra a depressão,
Unidades de saúde distribuindo abraços,
Daqueles que não necessitam usar braços,
Mas nem por isso menos eficientes em criar laços,
Essenciais, como a respiração.
O Ministério da Saúde não admite:
Mas o mau humor é mais contagioso que a meningite,
A negligência, mais inoperável que o tumor,
A displicência deixa mais sequelas que o derrame,
A tsunami é menos perigosa que o cinismo,
O alpinismo é menos arriscado que que a mentira,
A ira é a felicidade com defeito,
Bebê contente mama mais peito,
A ingratidão invariavelmente vira dor...
O Ministério da Saúde não divulga,
Mas passar o tempo todo reclamando causa ruga,
E o consumismo, está provado, é uma fuga,
O auto vitimismo, um mal sem solução,
O pessimismo causa grande sofrimento,
A impaciência necessita tratamento,
Antibiótico não cura um coração rabugento,
E morrer não machuca, quando existe gratidão.
O Ministério da Saúde adianta:
Ninguém colhe o que não planta,
Ninguém planta o que não traz no coração...
O Ministério da Saúde não discute:
O bom humor é mais delicioso que o iogurte,
O amor é a tábua da salvação...
9.5.20
Quarentena
Dead people
3.5.20
Calma
A calma faz a gente não travar.
É longo o dia. Longa a caminhada.
Calma. Nada deixa de passar:
A chuva, o vento, o raio, a trovoada,
A ansiedade de querer ver tudo acabar.
Nada é pra sempre. Cada página virada
É só o prenúncio para a próxima virar.
Então mantenha-se calmo. A vida é assim.
Somente o universo é que é sem fim.
As coisas vem e vão, até que vão embora.
Mantenha-se confiante. A tempestade
Não dura mais do que uma eternidade.
Resumo: muita calma nessa hora.
29.4.20
A era do cuidado
23.4.20
Os dois lados
Você pode escolher o lado dos que ajudam,
Você pode escolher o lado dos que pedem ajuda,
E você pode escolher o lado dos que precisam
Como também escolher o lado dos que doam,
Mas acredite, você perde tempo quando escolhe ficar
Ao lado daqueles outros que só fazem reclamar,
Tornar-se vítima das suas dores íntimas
Porque você pode escolher o lado dos que apoiam,
Ou escolher o lado dos que pedem apoio,
O único lado que você não pode escolher
É o lado dos que nem vive nem deixam ninguém viver.
Escolhe o lado dos que preparam a sopa,
Escolhe o lado dos que seguram o prato,
Foge do lado dos que só se doem,
Foge do lado dos que só se destroem,
Escolhe o lado dos que escrevem oesia,
Escolhe o lado dos que aprendem a escrever,
Mas deixa de lado os que não procuram ensinar,
E dos que não tentam, por outro lado, aprender,
Fica do lado dos que procuram fazer,
Ou dos que pedem ajuda se não conseguem acertar,
Mas toma cuidado com os que não tentam crescer,
Toma cuidado com os que não saem do lugar,
Porque você pode escolher o lado dos que dão força,
Ou ficar do lado dos que precisam de força pra lutar,
Mas quando escolher o seu lado, toma cuidado:
Basta um furinho no barco pro barco inteiro afundar
19.4.20
Antes que chegue ao fim a pandemia
Eu precisava dizer aqui que eu não sabia
Que um dia o dia de hoje chegaria,
E a gente ia precisar tanto um do outro
Pra contar coisas que nunca contaria,
Pra ficar da janela escutando cantoria,
Pra sentir saudade de quem nunca sentiria,
E que esse tempo seria assim tão duradouro...
Porque antes que chegue ao fim a pandemia,
E volte a ter fila na padaria,
E ambulatórios de pediatria,
E gente a balde circulando por ai,
Foi necessário esse tempo, quem diria,
Que desarrumasse a nossa economia,
E deixasse a piscina do prédio mais vazia,
E o mundo inteiro tentando descobrir
Um tratamento que termine essa agonia
De dor, e morte, e caos, e hipoxemia,
Porque ninguém no mundo sabia que cabia
Tanto medo e tristeza na televisão,
Tanta perda sem nenhuma garantia,
Tanta força junta contra a ventania,
Tanta necessidade de alegria,
Tanta necessidade de uma solução,
Por isso, antes que chegue ao fim a pandemia,
Que está durando mais do que deveria,
Matando mais do que a previsão mais sombria,
Como se estivesse tentando provocar
Mudanças que a gente nunca mudaria,
Sentimentos que a gente nunca sentiria,
Dores que a gente nem sabia o quanto doiam,
E músicas que a gente nem sabia mais cantar,
Por isso mesmo, antes que chegue ao fim a pandemia,
Antes que a gente volte pra churrascaria,
Ou pro plantão cansativo que a gente torcia
Pra dar logo oito horas e acabar,
Por isso, antes que chegue ao fim, uma poesia,
Que não é uma face shield, mas com sabedoria,
Se bem usada, ela bem que serviria
Pra ajudar o coração da gente se acalmar...
7.4.20
As meninas
2.4.20
Vai passar
Vai passar.
Não vai durar pra sempre,
É só um tempo,
Custa caro,
Dói,
E as vezes a gente sente até vontade de chorar,
Mas não é pra vida inteira, acredite:
Vai passar,
Às vezes o tempo
Dura muito tempo,
E muitas vezes esse tempo
É capaz de castigar,
Mas na medida em que o tempo passa,
O tempo mostra
Que a gente não deve se desesperar,
Porque mesmo que custe uma eternidade,
Vamos ter outra eternidade pra gente se encontrar,
O nome disso é saudade,
E pra sentir saudade
A gente precisa antes de tudo se gostar,
Então, por mais que a vida se apresente
Dessa forma ameaçadora, aparentemente,
Não tenha medo:
Mais dia menos dia
A tempestade vai se transformar em calmaria,
Por isso, se a calmaria um dia vai chegar,
Não gaste seu tempo durante a tempestade
Fazendo alarde,
Seja feliz com o que você pode aproveitar:
Escreva uma carta,
Envie uma foto,
Faça uma live falando dessa saudade,
Ou, ao invés disso, tente decorar
Uma poesia de Carlos Drummond de Andrade,
Ou de Manoel de Barros,
Sinceridade?
Definitivamente você vai gostar...
Assista um vídeo de Ana Claudia Quintana Arantes,
Descubra coisas emocionantes
Nas quais você nunca tinha parado pra pensar,
E lembre-se de levar no seu coração quem você ama,
Porque a gente só se afasta
De quem o coração da gente já não quer mais carregar...
Porque se “longe é um lugar que não existe”,
Se “é melhor ser alegre que ser triste”,
E se “todos os tristes querendo juntos, toda tristeza vai se acabar”,
Então prepare-se pros dias que virão
Depois dos raios,
Passado o trovão,
Pros dias do coração poder brincar
De dar abraços,
Retomar laços,
E de mandar a saudade ir passear,
Porque a única certeza que hoje temos
É a certeza de que esse tempo que vivemos,
E que uns acham que vai durar mais, outros que menos,
Mas pelo que lemos,
E pelo que vemos,
A única coisa certa que sabemos
É que esse dia
Um dia
Vai passar...
26.3.20
Morte e vida
Atletas
Porque tem muitos anticorpos pra gastar,
Atletas são indivíduos preparados,
E são treinados diariamente pra ganhar,
Por serem atletas, estão imunizados,
Atletas não costumam se assustar,
Não passam o dia em casa, confinados,
Atletas precisam se exercitar:
Jogar bola, mergulhar, atirar dardos,
Surfar por mares nunca dantes navegados,
Procurar recordes pra quebrar,
Atletas jamais serão contaminados
Porque são sempre muito bem cuidados...
Atletas só não deveriam governar.
24.3.20
Esperança
Não o do dicionário, mas o do coração,
Não aquele que mora no peito, trancado,
Mas o que se espalha livre, sem prisão,
Não a esperança presa ao passado,
Mas aquela outra: a que resiste ao não,
A que é da alma o maior legado,
A que é da vida a maior lição,
A que não precisa de provas e evidências,
A que desafia as hipóteses das ciências,
A que não necessita tradução,
Não a palavra, mas o alimento
Da poesia de que é feita o pensamento.
Não a palavra. A convicção.
23.3.20
Poesia enquanto a peste...
22.3.20
O dia
21.3.20
A casa
Poema futuro
20.3.20
Corona
13.2.20
A gestão e o dinheiro
O trio
28.1.20
A lista
Que eu deveria, mas não sei quem são,
Que não vi nascerem, não vi crescendo,
Que não pularam carniça comigo também não,
São muitos nomes, e eu vou aprendendo
De quem são netos, sobrinhos ou irmãos,
São muitos nomes, e enquanto eu vou lendo,
Me passa um filme dentro do coração:
Um navio, um Líbano, um Rio de Janeiro,
Um 1920, um século inteiro,
E uma família, geração a geração
Seguindo, e, dessa forma, permanecendo
Família, que mesmo sem se conhecendo,
Segue, a seu modo, na mesma direção...