24.8.20

Desafinado

Meu coração, violão desafinado,
Tentando o acompanhamento da canção...
A vida, com seus acordes dissonantes,
Percebe minhas cordas discordantes,
E às vezes me chama atenção:

_Acerta a sexta corda, a quinta, a quarta!
_Um pouco mais de sol! _Não, assim não!
E eu sigo, distraído, procurando
Seguir as pistas que a vida vai me dando, 
Sem pressa, como quem dita a lição,

E tento um dó menor, quase consigo,
Não fosse essa terrível desconcentração, 
Aperto as cordas, afrouxo, desafino,
E sigo tentando assim, desde menino,
Sem desistência e sem reclamação,

Meu coração, desafinado, leve,
Tentando um samba, como o de João,
Segue apertando e afrouxando, corda a corda,
Às vezes dorme, outras vezes acorda,
E só poucas vezes consegue, rara inspiração,

Meu coração, esse violão desafinado,
Já sabe o ritmo, o toque, a marcação,
Mas se distrai quando não deveria...
Ainda bem que existe a poesia...
Ainda bem que existe o perdão...

Um comentário:

Diana Galvão disse...

Que lindo poema!