31.12.22

Último dia

O último dia do ano. O último dia.
Já não dá tempo de fazer mais nada.
Mas ainda há tempo de uma última poesia, 
Discreta, comedida, simplificada,

Porque a poesia nunca se esvazia,
Acaba o ano e ela permanece intocada,
Como se guardasse em si uma magia
Que o ano não guarda, mas que a poesia guarda.

Então poesia para esse dia derradeiro,
Mas poesia pra durar o ano inteiro, 
Porque poesia para nunca se acabar,

Poesia, como um amor verdadeiro,
Poesia livre, como um veleiro, 
Que brinca de escrever versos no mar...

30.12.22

Pelé

O menino, uma bola e um gramado,
O menino, mas que parecia um gigante,
Que deixou o mundo inteiro impressionado
Com seu jeito de jogar desconcertante,

Falava com a bola o menino, esse encantado,
E a bola respondia, confiante,
E o menino matava a bola no peito, e, com gingado,
Mandava a bola pra rede, radiante,

Uma, dez, cem, mais de mil vezes assim,
O menino e a bola, talvez pra mim
A mais linda parceria de toda a história,

O menino camisa dez e a sua bola,
Um amor que ganhou o mundo e fez escola,
E viverá para sempre na memória...

26.12.22

A última semana

Essa semana podia passar em um dia,
E esse dia podia logo acabar,
Daí esse governo atual se escafedia,
E dava lugar pro outro que vai entrar, 

Porque foram quatro anos de grosseria
Que a gente precisou aguentar,
Mas nada é para sempre. Nem a tirana. 
E tudo tem o seu tempo de passar. 

Então passou. Mas o tempo não termina. 
Um dia. Depois outro dia. A vida ensina. 
Então é preciso saber onde pisar,

Porque a sombra que aparentemente foi embora,
Fica na espreita, aguardando a melhor hora
De um dia ser sua hora de voltar...

Canção de quase ano novo

O fim de um ano que nem deveria ter existido, 
Mas que se existiu, trouxe lições de se tirar,
Que serão importantes termos aprendido,
Pra não repetirmos o que pode nos machucar,

Um ano que acaba, outro que chega bem vestido,
Mas cheio de marcas que ele não pode apagar,
E apesar dessas marcas, não chega desmilinguido,
Chega arretado, prontinho para enfrentar, 

E pra cansar, e também pra dar canseira, 
E pra se repartir em 52 segundas feiras,
Todo adubado em sonhos por acontecer,

Um ano novo revigorado,
Que vai aproveitar as lições do ano passado,
Um ano novo que vai valer a pena viver...

13.12.22

Maus perdedores

Maus perdedores em desalinho, 
Levando caos e desordem por onde vão,
Deixando um rastro de ódio pelo caminho,
E um cheiro azedo de devastação, 

Maus perdedores, de coração mesquinho,
Alguns, eu arriscaria, até sem coração,
Sem lenço, sem documento, sem vizinho,
Sem nada mesmo que defina um cidadão,

Maus perdedores, gente ruim,
Gente de um tempo que já chegou ao fim,
E que fazem questão de não aceitar,

Mas hão de aceitar, certamente, ainda, um dia,
Porque ninguém sobrevive à própria asfixia,
Nem os maus perdedores, pode acreditar...

27.11.22

Apelo à Excelentíssima Juíza

Excelentissima Juíza, faça-me o favor:
Respeite a Música Popular Brasileira,
Roda Viva é um clássico. E tem autor:
Chico Buarque de Hollanda. Para de brincadeira.

Dê a sentença do jeito que for,
Mas não duvide de uma verdade verdadeira:
Chico Buarque é o seu compositor,
Vai no Google e confere. É a melhor maneira.

Ninguém pode duvidar da autoria
De uma música escrita com tanta poesia
Que poucos poetas no mundo tem capacidade de oferecer,

E Chico Buarque um deles, Excelentissima Juíza,
Não sabe quem é o autor de Roda Viva? Nem precisa.
Porque ninguém além de Chico seria capaz de escrever...

24.11.22

Copa do Mundo

Hoje tem jogo da seleção, 
Hoje o Brasil inteiro vai parar,
Como diz o Galvão: haja coração!
Seremos hoje todos o Neymar, 

Porque hoje tem jogo da seleção, 
E por isso o coração vai disparar,
A pátria de chuteiras, uma só nação, 
Estamos todos hoje no Qatar, 

Porque hoje tem jogo da seleção, 
Todo mundo diante da televisão, 
A Copa do Mundo vai começar, 

Porque hoje tem jogo da seleção, 
Uma pausa prum Brasil sem divisão, 
Coisa que só o futebol pode explicar.

15.11.22

Poesia

Poesia, boa pra cuidar do sofrimento,
Poesia, boa pra tombar o ditador,
Pra estancar a mágoa, pra cuidar do ferimento, 
Poesia, boa pra passar a dor,

Pra cuidar do coração em desalento, 
Pra cuidar do coração em desamor, 
Poesia, boa pra passar o tempo,
Poesia, boa pros tempos de horror, 

Pra guardar no coração, poesia boa,
Pra espalhar-se por aí feito garoa,
Poesia boa, sem explicação, 

Poesia boa, que nasce não sei onde,
Que cresce na palavra e então se esconde 
Silenciosa, no coração...

7.11.22

Imbrochavel

Imbrochavel, Imbrochavel, Imbrochavel,
Bastou uma ventania, e o imbrochavel brochou, 
O que parecia inacreditável 
Aconteceu, e viralizou,

Passou vergonha em público. Imperdoável. 
Perdeu, imbrochavel. Reconhece: vacilou,
E o pior é quando não se assume. Lamentável. 
Deve ter sido por conta do susto que tomou. 

Falou demais. Falou antes da hora. 
Na hora H acabou levando um fora 
Morreu do próprio veneno que exalou.

Imbrochavel, Imbrochavel, Imbrochavel, 
Melhor sorte da próxima, miserável, 
Vai colher o fruto azedo que plantou...

31.10.22

Logo assim que saíram os resultados

E o presidente, acovardado, foi dormir,
Dissimulado, não quis se pronunciar, 
Voltou mais cedo pra casa, triste Jair, 
Disse que ia dormir, e foi chorar...

Desligou o celular, não quis ouvir
As notícias que acabavam de chegar:
Lula venceu, você acaba de cair,
E o presidente, desorientado, foi deitar.

Mas o que é que tem um derrotazinha?
Metade de uma nação inteirinha
Está chamando você pra tentar outro lugar pra trabalhar,

Mas o presidente foi dormir, muito soninho,
E quando acordar e ver que está sozinho,
A choradeira não vai passar...

30 de outubro

E as coisas vão se acalmando, lentamente, 
Cada coisa caminhando pro seu lugar:
Luis Inácio novamente presidente, 
Jair Bolsonaro saindo de cena sem falar,

Porque a história atropela, indiferente, 
Todo aquele que acha que pode negar
Seu carro alegre, cheio de gente contente,
É a roda da vida que não para de rodar, 

E dessa forma, desde essa data em diante, 
O futuro já não se chama mais beligerante,
Nem negacionista, nem homofobia,  

Estamos de volta aos trilhos novamente,
Agora precisamos em paz seguir pra frente,
Porque hoje é o amanhã do lindo dia...

29.10.22

Esperança

Foi esperança esse tempo inteiro,
Nenhuma certeza de conseguir chegar,
Foi só o coração, como o de um estrangeiro, 
Buscando forças para navegar,

Foi esperança, como um marinheiro,
Que não tem medo de enfrentar o mar,
O coração, sempre verdadeiro, 
Foi esperança, do verbo esperançar 

E a esperança foi sempre esse alimento 
Desse tempo tão barulhento 
Que a gente não sabe ao certo onde vai dar,

E ainda assim a esperança segue viva,
Como uma força definitiva 
Que insiste em nos renovar...

24.10.22

Não passarão

Não passarão o medo, a intolerância, 
A homofobia, a discriminação, 
A agressividade deslavada, a ignorância, 
Os novos bárbaros não passarão,

A fome, o caos, o atraso, a prepotência, 
O negacionismo, a radicalização,
O retrocesso, a beligerância,
A volta do regime de opressão, 

Não passarão, porque não há de haver espaço 
Para o pais continuar nesse descompasso, 
A treva bruta precisa dissipar,

Não passarão, ao nascer do novo dia,
As pedras no meio do caminho da poesia,
Porque há um povo feliz que quer passar...

17.10.22

No dia em que eu me for

Pra mim bastava alguma poesia, 
Alguns amigos, uma oração, 
Uns recordando coisas que eu dizia,
Algumas rimas de recordação,

Não muito mais do que isso nesse dia,
Uma despedida sem ostentação, 
Partir em paz, era só o que eu queria, 
Levando paz no meu coração,

E a música que cada um sentisse
Enquanto em silêncio eu me despedisse,
Que fosse uma melodia interior

Feita de aceitação e de saudade,
Era só isso que eu queria de verdade 
No dia em que eu me for...

14.10.22

O livro novo de poesia da Ana

Para Ana Claudia Quintana Arantes 

Um livro novo de poesia da Ana,
Um livro novo de poesia pra alegrar
O dia inteiro, o fim de semana, 
O ano todo, o tempo que durar, 

Um livro novo de poesia sobre-humana, 
Palavra escrita pra nos inspirar,
Um livro novo de poesia da Ana,
Porque a moça da poesia quer falar, 

E quando a moça da poesia fala,
A gente se senta no cantinho da sala 
E faz silêncio só pra escutar 

A poesia, o livro novo, a letra,
O voo livre dessa borboleta 
Que vive por aí a se espalhar...

2.10.22

Dois de outubro

Foi tempo demais, porém chegou o dia,
E a gente sabia que esse dia ia chegar,
Depois de um tempo de horror e grosseria,
Chegou o dia bom pra esperançar.

Bom pra plantar sementes de alegria
Que as sombras fizeram questão de desplantar,
Deixando nossa alma mais triste e mais vazia,
Como se de tristeza fossemos nos acabar

Mas nada é permanente. E de repente,
Porque nessa vida nada é permanente,
A gente tem finalmente a chance de mudar,

E mandar de volta pro pântano o inominado,
De uma forma que ele nunca mais seja lembrado,
E nunca mais nos de motivos pra chorar...

11.9.22

A Rainha omissa

Assistiu em silêncio o arruinamento
Daqueles a quem chamou de suditos, a tirana,
Viveu sem culpa e sem arrependimento,
Por quase um século, sempre soberana,

Viu dor e morte em seu reinado sangrento,
Enriqueceu às custas da miséria humana,
Trocou a família por um trono modorrento
Onde não há lugar para quem ama,

Até que um dia morreu e tornou-se venerada,
Teve a chance de fazer tanto e não fez nada
Além de cumprir o regulamento...

Que história triste, que legado sombrio,
Um reinado tão longo e tão vazio,
Construido à base de tanto sofrimento





8.9.22

Poeminha cheio de otimismo

Para Paulo Feijó 

Quando tudo parece complicado,
E sobretudo o céu parece desabar,
E surge daí um nó tão apertado 
Que pouca gente sabe desatar,

É nessa hora de tudo tão pesado,
É justamente aí nesse lugar,
Que a vida que seguia um rumo errado,
Começa finalmente a se acertar,

E então os dados clínicos e as ressonâncias,
E as coronárias, só por implicância, 
Retomam seu caminho original.

Milagre! Dirão os idiotas da objetividade, 
Mas no fundo, no fundo, a gente sabe
Que Deus não faz todo dia tudo igual.

7.9.22

O imbrochavel

O que se autodenomina o imbrochavel,
O que não se percebe um desprezível,
Um imbrochavel, mas um insuportável,
E bem que podia se tornar um inelegível,

Porque um imbrochavel intragável,
Não perde uma oportunidade pra baixar o nível,
Um imbrochavel totalmente descartável,
Um lixo absolutamente previsível,

Um imbrochavel e seus apoiadores,
Um imbrochavel e seus adoradores,
Levando o país a andar pra trás,

Um imbrochavel até chegar o dia
Do imbrochavel tomar umbanho de água fria
Pra depois desse dia nunca mais...

5.9.22

Para Flávio e Luís

O tempo passa. A idade avança.
A idade passa. O afeto não. 
Tem sido assim desde os tempos de criança: 
O tempo não passa para o coração.

E no entanto o calendário não descansa,
Insiste anualmente em sua repetição, 
A gente finge que não dá importância, 
Mas o importante é não perder a direção.

Então, ao perceber o tempo passando, 
E esse afeto permanecendo,
Nada mais justo que comemorar:

Feliz aniversário! E vamos brindando,
Porque parece que estamos crescendo, 
Mas estamos mesmo é aprendendo a nos respeitar.

Em 05 e 06 de setembro de 2022

14.8.22

As poesias de Rodrigo Ladeira.

Eu adoraria escrever como o Rodrigo,  
Mas o máximo que eu consigo 
É rabiscar algumas rimas previsíveis, 
Como se a poesia precisasse de rimas
Da mesma forma que a digestão precisa de enzimas...
As poesias de Rodrigo são incríveis... 

Eu adoraria escrever desse jeitinho:
Um poema que faz sentido de mansinho,
E aos poucos toma todo o coração,
Como uma chuva quando desce a ladeira,
E vai aos poucos, em sua corredeira,
Transformando tudo numa inundação...

Eu queria, um dia, escrever também assim,
Ter a poesia dentro de mim,
De vez em quando, poesia extravasar
Como Rodrigo faz, mas enquanto isso,
Eu vou brincando de fazer meu verso quebradiço,
Que faz questão de me acompanhar.. 

12.8.22

11 de agosto

Grita o Brasil pela democracia,
Grita o Brasil seu grito mais verdadeiro,
Um grito único, como há muito não se ouvia,
Capaz de se fazer escutado pelo mundo inteiro, 

Grita o Brasil, e era uma voz a que se fazia,
Como se nós fossemos todos um único brasileiro 
Gritando: aqui sobre nós nunca mais tirania,
A ditadura aqui sobre nós não faz mais paradeiro, 

11 de agosto, e o Brasil inteiro lia
Uma carta, que era como mais uma de alforria,
E que bradava: Ditadura nunca mais...

11 de agosto, e ali eu percebia
Que a sombra, pelo menos naquela hora, se recolhia
E voltava assustada pros umbrais...

14.7.22

A poesia e a dor

A dor, quando acompanhada da poesia, 
Não faz doer menos o coração, 
A poesia não estanca uma sangria,
A poesia mal cura um arranhão, 

Por isso a dor, em sua companhia, 
Continua doendo, como uma inflamação 
Que faz parecer que a alma se esvazia,
E o mundo inteiro vai perdendo o chão 

Mas a poesia quando abraça a dor
É como um sopro que disfarça a cor
Dos dias mais cinzentos e sombrios

A poesia é como um caldo quente
Da palavra que nos quer sobreviventes 
Principalmente nesses dias frios

11.7.22

Poesia pra depois de um plantão

Depois de um plantão, uma leitura,
Alguma poesia pra relaxar,
A rima descontrai a musculatura.
Melhor remédio. Pode tentar.

E nem precisa de ter grande cultura,
Academia nessas horas pode até atrapalhar. 
É melhor aquela poesia pura
Que desde criança você aprendeu a gostar.

Então depois de um plantão uma rima
É mais eficiente que a penicilina,
É mais curativa que um emplastro,

E mesmo que seja poesia improvisada,
Você sente sua alma medicada,
E livre pra voar em campo vasto.

A palavra

Quando a palavra se transforma em poesia,
Ela se veste da capacidade de encantar,
É como o sol quando chega o meio dia,
É como o raio prateado do luar,

Porque a palavra poematizada se recria,
Criando uma nova palavra em seu lugar, 
Que nasce livre como a vida que a espia
Através dos significados que ela usar,

Então a palavra, quando transformada
Em poesia, é alma reencarnada,
A mesma palavra morando em outra vida,

Por isso não tente traduzir poesia, 
Palavra escrita em outra sintonia,
Tentando a própria porta de saída.

19.6.22

Setenta e oito anos

Setenta e oito anos de poesia,
De acordes dissonantes, encadeados, 
Setenta e oito anos de harmonia,
Como se o tempo não tivesse passado,

E segue intacta e perfeita a melodia,
Setenta e oito anos afinados 
Com a mais humana das ideologias,
Com o mais perfeito verbo conjugado,

Chico Buarque de Hollanda, brasileiro, 
Sua poesia germinou no mundo inteiro,
É irreversível, por isso, a revolução,

Porque revolução escrita com poesia, 
Transforma até o inferno na Utopia,
E também por isso o poeta não tem perdão.

22.5.22

Poema noturno

E eu aqui. Imaginando uma poesia 
Que faça meu coração adormecer 
Que o deixe descansar na noite fria 
Que o sono chegue sem ele perceber 

Uma poesia que tenha essa magia 
Que algumas delas conseguem ter
Banhar, como se fosse anestesia,
O coração cansado de sofrer 

Então a poesia disfarçada
De anestesia, aos poucos gotejada, 
Vai mergulhando o coração no esquecimento 

Um esquecimento que se chama sono, e assim
A dor do dia vai chegando ao fim, 
Ainda que por um lapso de tempo

16.5.22

Segunda-feira

Respira um pouco. Hoje é segunda feira. 
Cansado? Usa um pouquinho sua respiração,  
E tenta descansar dessa maneira:
Respira e pensa. E usa seu pulmão. 

E bota um pouco de água na chaleira.
E passa manteiga no pão. 
Respira. Vai transformando essa canseira 
Em energia para movimentação.

E assim, descobrindo novos ares,
E tantos, que se somarem chegam aos milhares, 
E que bastavam apenas serem descobertos...

Numa segunda-feira respirável,
Esse tempo eternamente retornável,
Tempo através do qual somos libertos...

12.5.22

A emergência

A emergência e o corredor lotado,
O município inteiro resolveu se resfriar,
E vir ao mesmo tempo, e assustado, 
Tentando se consultar,

E aí é criança pra todo lado,
E criança que não para de chegar,
E criança que já tinha melhorado 
E volta porque começou a vomitar, 

A emergência e o corredor abarrotado 
De criança no colo de mãe de olhar cansado,
E você olha isso tudo e não pode se cansar,

A emergência e o corredor sobrecarregado, 
A emergência e esse sonetinho assustado 
Que vai lá fora tomar um ar..

28.4.22

Um poeminha

Um poeminha antes de dormir,
Um poeminha pra deixar sonhar,
Depois de um dia de quase desistir,
Um poeminha para descansar,

Feito de rimas para distrair
O coração até o sono chegar,
E ver o dia assim se despedir,
E ver a noite em versos me chamar,

Um poeminha sem querer ser nada 
Além de um bilhetinho de entrada
Pra noite que dessa forma se anuncia, 

Um poeminha feito um bilhetinho 
Pra receber o sono de mansinho 
E misturar o sonho com poesia.

25.4.22

Cuidando de quem cuida

Cuidando de quem cuida, e cuidando com cuidado,
Porque quem cuida merece ser cuidado com atenção, 
Não custa nada oferecer carinho redobrado
Porque carinho é coisa que não desgasta o cidadão, 

Então, cuidando de quem cuida é um delicado 
Trabalho de cuidar do próprio coração,
Não deixar o coração bater descompassado,
Nem peder o rumo em plena contramão.

Cuidando de quem cuida é a única saída 
Pra quem cuida da vida e tem amor à vida
E sabe que o amor é um grande aprendizado. 

Cuidando de quem cuida é o único caminho,
É o segredo de nunca se sentir sozinho 
E o elixir de você nunca se sentir desanimado.

16.4.22

Plantão de sobreaviso

Um sábado inteirinho pra pensar,
E enquanto não tem criança pra nascer,
Invento um poeminha para rimar 
No instante em que o sábado já começa a entardecer.

O frio hoje veio me visitar,
O sábado esfriou, e eu pude reler
Alguns versos antigos de Ferreira Gullar
Que o frio de sábado me deixou viver,

E assim, como se fosse um feriado, 
Mesmo não sendo, fui sendo levado
Pela poesia de um sábado frio,

E enquanto a sala de parto não me chama 
Eu me mudo para a poesia de Quintana 
De onde o mundo nunca está vazio...

13.4.22

Os novos médicos

Aos acadêmicos da Universidade Redentor 

Os novos médicos que estão chegando
Cheios de sonhos no coração, 
Depois de longos anos se preparando,
Esse é o início de uma nova construção, 

São os novos médicos se formando,
Cheios de novas ideias, cheios de opção,
São a mudança de um mundo que está mudando,
E mal dá tempo de parar para reflexão,

Novos médicos que amanhã serão os gestores
De um mundo em que os alunos viram professores 
Que continuam o aprendizado dia a dia...

Novos médicos... Que coloram a humanidade 
Com mais compaixão e mais humanidade,
E mais ciência, e arte, e poesia...

9.4.22

A poesia

Nem todo mundo gosta de poesia,
Tem outros que preferem viajar,
Ou que preferem estudar cardiologia 
Ou ir a roça para descansar,

Mas mesmo assim tem gente que escreve poesia,
Mesmo sem saber pra quem mostrar, 
Se joga na gaveta, se mostra pra tia,
Ou se deixa preparada pra postar...

Mas se tem gente que não gosta de poesia,
Tem quem ache que sem ela a vida é tão vazia 
Que vale a pena arriscar,

Por isso, apesar dos que não gostam de poesia,
Eu brinco de escrever poesia quase todo dia,
Esse é o jeito que eu achei de me salvar.

4.4.22

Segunda-feira

Hoje é segunda-feira, e já cedinho 
Acordo animado pra trabalhar.
Viver merece ser tratado com carinho, 
Viver não pode esperar. 

Então, aproveito e rabisco um sonetinho,
Porque hoje a segunda está no ar,
Segunda, livre como um passarinho 
Que sabe voar e que gosta de cantar,

Segunda para começar a semana, 
Como um convite para a raça humana 
Saber que pode recomeçar...

Hoje é segunda, amanhã é terça,
Que a nossa capacidade de indignação não desapareça,
E a gente possa, assim, continuar...

12.3.22

Meu violão

Às vezes meu violão, sem perceber, 
É como uma espécie de anestesia, 
Capaz de fazer minha dor parar de doer
Sob o efeito de música e de poesia, 

E basta um dedilhado pra fazer
Minha solidão descobrir-se mais vazia, 
Suas cordas fazem meu coração bater,
Minha vida é mais feliz com melodia,

Às vezes meu violão, sem eu notar,
Não me deixa desistir nem reclamar, 
E nem me deixa eu me sentir sozinho, 

Às vezes meu violão, meu companheiro, 
Me faz viajar cantando o mundo inteiro 
Num acorde dissonante bem baixinho...

Maria Clara

Maria Clara já vai crescendo, 
Adolescendo pra vida,
O tempo passa e a gente não percebendo,
Mas Clara não passa a vida distraída,

Vai ensinando enquanto vai aprendendo 
Lições de uma vida comprometida:
Há um poema dentro dela florescendo,
De rima rica, de música embutida,

Dezessete anos de idade, quem diria,
Um bebezinho que se transformou em poesia, 
E uma poesia que quer se multiplicar

Em outros mil novos poemas delicados,
Que serão pelos seus gestos recitados, 
E que o seu coração há de espalhar...

A humanidade

E como se não bastasse o sofrimento diário
Que a humanidade não faz questão de disfarçar, 
A guerra e seu instinto sanguinário 
Surge de vez em quando pra lembrar 

Como é cruel esse mundo, e ordinário, 
Pouco a pouco nos especializamos em matar, 
Reviramos esse planeta ao contrario,
Correndo o risco de capotar...

Porque, como se não bastasse o sofrimento humano,
Fomos nos especializando em sofrimento desumano, 
Esse que somente um abraço é incapaz de confortar,

Como foi se tornando insensível a humanidade, 
Vítima da própria teia de rivalidades
Que ela já não consegue superar...

26.2.22

A guerra

Acordo cedo. Mais um bombardeio.
Os tanques não se cansam de atirar. 
O povo tenta fugir, mas eu não creio
Que o bombardeio vai ceder ou vai parar.

A estupidez humana não tem freio.
A barbaridade humana não tem par.
Não existe um meio termo nesse meio:
A guerra não conhece se poupar. 

Acordo cedo. E é só morte o que eu leio,
Dessa vez frente a frente, sem rodeios, 
Como se fosse pra me intimidar...

Acordo cedo. Outro bombardeio. 
Acho que o inferno anda bem cheio,
E o demônio veio nos visitar...

2.2.22

O candidato

Procura-se um candidato socialista
Disposto a governar essa nação,
Que tenha um coração idealista,
E muita força no seu coração,

Que saiba expor o seu ponto de vista,
Que saiba ouvir o outro lado da questão,
Que seja racional e progressista,
Um candidato, não um fanfarrão,

Procura-se um candidato com urgência,
Antes que o país abra falência,
Antes que não se saiba em quem confiar,

Um candidato socialista, de preferência,
E vacinado, pra ocupar a presidência,
Porque tá difícil de aguentar...

31.1.22

A palavra

Eu só preciso de uma palavra emprestado
Para escrever um poema distraído,
Uma palavra qualquer, com qualquer significado,
Que qualquer um de nós tenha esquecido,

Qualquer palavra, como um número sorteado,
Quem sabe alguma que tenha se perdido,
Eu só preciso dessa palavra ao meu lado,
Eu já me sentiria agradecido,

E a poesia, porque nasce da palavra,
Tendo a palavra por perto, ela brotava
Em rima e ritmo e frases de improviso...

Uma palavra apenas, como um gen,
E depois dela, algumas mais além...
Uma palavra... Tudo que eu preciso...








27.1.22

Ninho

As vezes, quando eu me sinto sozinho,
Eu passo por aqui pra conversar,
Às vezes pra postar um sonetinho, 
Outras pra ler o que alguém veio postar, 

E aí, sem perceber, devagarinho, 
Eu me sinto melhor, e apesar
Da gente não morar no mesmo ninho,
Aqui é o melhor lugar para morar,

Porque as vezes, quando eu me sinto cansado, 
E parece que tá tudo em volta dando errado, 
Vocês são como um copo d'água de alegrias,

Que quando eu bebo, meus dias cinzentos 
Desaparecem, feito espumas aos ventos,
E dão lugar a rabiscos de poesias...

Pátria amada

Um governo completamente equivocado,
Extremamente mal conduzido,
Onde era pra avançar,  tem recuado,
Onde era pra crescer,  diminuído,

Um governo absolutamente desgovernado, 
Conduzido por políticos sem sentido,
Preocupado com o que não era para estar preocupado, 
Deixando livre o que era pra ser contido,

Ainda assim, um governo legitimado
Pelo voto escolhido e confirmado, 
Um governo que é, mas não era pra ter sido,

Um mau exemplo, como um fruto estragado, 
Que deveria ter sido descartado, 
Mas que foi exatamente o escolhido...

21.1.22

A poesia

Não se incomoda quando estou aborrecido,
E não se afasta quando estou incomodado,
Não se perde de mim quando sou vencido, 
Porque ainda assim permanece do meu lado,

E eu nem preciso pedir, vem sem pedido, 
E me perdoa, mesmo quando sou condenado, 
A poesia, não conheço nada parecido, 
Nada mais delicado, 

A poesia que me visita 
Sem se importar com a minha vida esquisita,
E o meu destino, sem se incomodar, 

A poesia, como quem perdoa, 
Planta em meu dia palavra boa,
Que eu não encontro aqui no meu pomar,

Sem se importar com meus gestos mesquinhos,
A poesia me enche de carinhos,
Que eu preciso aprender a espalhar...

9.1.22

Poema para Karina

Toda vez que o seu coração se sentir cansado,
E cansado, sentir vontade de chorar, 
Lembre-se de que estamos do seu lado,
Procure a gente pra conversar, 

E toda vez que o seu coração se sentir desanimado, 
E desanimado, perder a vontade de caminhar, 
Lembre-se que o coração é sempre sustentado
Pelos amigos, e isso é o que a gente chama lar,

Então, toda vez que seu coração se sentir sozinho, 
A gente vai estar pelo caminho, 
A gente espera, se você demorar, 

Cantando uma velha canção que já dizia 
Que "todos os tristes querendo juntos", quem diria, 
"Toda tristeza vai se acabar"...

5.1.22

O poema

Eu gosto de escrever poesia sem sentido,
E sem saber direito o que dizer,
Rimar sem perceber faz bem ao ouvido, 
Faz bem aos olhos o poema acontecer,

Eu gosto, e o poema, convencido, 
Percebo que também gosta de saber 
Que eu gosto de ver o verso bem vestido 
De rimas improvisadas sem querer.

E porque eu gosto, o poema distraído 
Vai se aproximando, aos poucos, e, sem ruído,
Verso por verso começa a se escrever, 

E de repente, antes que eu tenha percebido, 
O poema que não era para ter acontecido, 
Termina, enfim, por acontecer...