25.12.21

A esperança

E enquanto tudo não estiver consumado,
E o esperado não tiver acontecido,
O fio de esperança, ainda guardado,
Vai iluminar o coração enfraquecido,

Mudando o rumo do que tiver programado,
Trazendo vida ao coração adormecido, 
Jorrando luz no coração quase apagado,
E esperança no coração distraído, 

Enquanto tudo não estiver  findado,
Como a assinatura final num atestado, 
Como o cumprimento do ato prometido,

A esperança, como um cajado,
Como um lampejo mudando o resultado, 
Como o alívio para o coração ferido...

2.12.21

Homenagem

Ao Professor Hector Gomez Martinez

Mas era preciso seguir pela eternidade,
Era preciso tornar-se inspiração,
Habitar o coração da humanidade,
Modificando assim seu coração,

Era preciso testemunhar outra verdade
E entregar-se a ela sem contestação,
Partir, mas sem perder a integridade,
E ir-se, mas permanecendo, como não?

E sendo assim, seguiu o professor,
Deixando inconfundíveis rastros de amor,
Que para sempre serão aqueles seus

Rastros de amor, o Professor, que desde então
Segue nos conduzindo por sua mão
Abençoada pelas mãos de Deus...

13.10.21

A poesia

Às vezes a poesia me alimenta
Mais do que o arroz com feijão, sem perceber, 
E, me alimentando, me reinventa,
E me reinventando, me faz sobreviver,

A poesia, a que às vezes me sustenta,
Quando tudo em volta parece ceder,
Ela não cede, não me solta, e me aguenta,
E a sua força me faz permanecer,

Porque a poesia não são só rimas entrelaçadas,
São muito mais que palavras combinadas,
A poesia para mim é como uma embarcação

Que me salva no instante exato do naufrágio,
E que cuida de mim e do meu pensamento frágil,
E toma conta do meu coração.

7.10.21

Pra vida toda valer a pena viver

Tem livro novo da Ana anunciado.
Tem coisa nova pra gente conhecer.
Ainda nem li, mas já estou impressionado:
Onde Ana arruma tempo pra escrever?

Tempo? Acho que no seu coração exagerado,
Que por amar demais, possui esse poder:
Multiplica o tempo, e o tempo multiplicado
Faz Ana nunca parar de acontecer.

Tem livro novo da Ana, como um presente,
Que vai fazer emocionar a gente,
E provocar na gente mais vontade de aprender...

Um livro novo da Ana. Como poesia.
Como um roteiro. Um caminho. Como um guia.
Pra vida toda valer a pena viver. 

4.10.21

O dia do poeta

Dia do poeta? Mas o poeta tem dia?
E o que o poeta tem de especial? 
A estranha propriedade de escrever poesia?
Mas pro poeta isso é coisa tão normal...

Dia do poeta? Eu não sabia 
Que o poeta tinha um dia oficial...
O poeta, o fingidor, quanta ironia,
Ganhou um dia, coisa mais formal...

E enquanto isso, passa os outros dias
Preenchendo páginas vazias,
Porque com elas ele pode conversar...

Felizes dias, poetas do mundo inteiro,
Que de Jerusalém ao Rio de Janeiro, 
Emprestam asas de fazer o coração voar

2.10.21

Preferimos feijão

Preferimos feijão a fuzil. Preferimos vacina
A medicamentos que só causam enganação.
Acreditamos na ciência. E usamos a cloroquina 
Nos casos em que ela tem adequada indicação.

Mas prefirimos feijão. Fuzil não elimina
A fome que devora grande parte da nação. 
Feijão, ciência, democracia, e fluoxetina
Para tentar não entrar em depressão... 

Um dia a história retoma seus caminhos,
Afinal não estamos sozinhos,
Somos milhões de brasileiros pensando assim:

Preferimos feijão. E mais que comida, 
Preferimos distribuir amor à vida 
Para que esse imenso amor não tenha fim...

6.9.21

Sessenta e dois

Sessenta e dois anos em boa companhia: 
Família, alguns poucos amigos, boas canções,
Filmes que encantam, e sempre a poesia, 
Sessenta e dois anos muito bons,

Nem sempre sorrindo, nem sempre em agonia,
Até aqui foi uma canção em muitos tons,
Mas que aprendi a dedilhar em harmonia,
Misturando as primas e os bordões... 

E a partir de agora é seguir daqui pra diante,
A estrada é um chamariz pro caminhante,
Não importa quanto tempo a caminhada vai durar,

Sigamos. O que passou fica guardado na memória. 
O hoje é o ano zero de uma nova história 
Que só o tempo conhece onde vai dar...

21.8.21

A alma humana

Eu li vários livros, não encontrei nada
Do que eu encontrei no seu coração,
Tem mais significado a sua risada,
Tem mais sentido o aperto da sua mão,

Fui pra biblioteca, dei uma pesquisada,
Sai dali todo indefinição, 
Palavra querendo ser mais que outra palavra,
Perdi meu tempo buscando explicação,

Mas quando percebi o seu sorriso, 
Descobri que a pergunta que eu preciso 
Fazer, não devo fazer aos manuais da academia,

A alma humana responde, em suas linhas, 
Das perguntas mais complexas às mais mesquinhas,
A alma humana, como a poesia...

5.8.21

Minha mãe faz aniversário dia 5 de agosto

Eu nunca soube ao certo a sua idade,
O ano exato do seu nascimento,
Sempre me bastou saber o dia daquela felicidade,
O ano? Esse era só um fragmento...

Mas mesmo não sabendo ao certo a sua idade,
Eu pude ver como era a luz que havia dentro 
Daquele coração que cabia a humanidade, 
E do amor que escapava do seu pensamento...

Eu nunca soube exatamente a sua idade,
Mas nunca tive nenhuma dificuldade 
De entender a voz do seu coração,

E de compreender os sinais da sua vida,
Por isso a sua idade me passou despercebida,
Mas só a sua idade, a sua vida não...

15.7.21

Vida própria

Às vezes a poesia desaparece,
E eu fico com a impressão de que ela não vai voltar,
Parece pra mim, daqui, que ela adormece,
Ou que se cansa às vezes de conversar,

Então é assim: a poesia como uma espécie
De pensamento que não pensa em retornar,
Desaparece. De vez em quando acontece.
E quando acontece, não adianta forçar.

A poesia tem seu próprio roteiro.
Tem dias que quer falar o dia inteiro.
Tem vezes que passa o ano inteiro sem falar.

A poesia, eu desconfio, tem vida própria.
E uma única vida. Não tem cópia.
Eu desconfio. Mas não tenho como provar.

16.6.21

Eu precisava dizer eu te amo

Para ACQA após escutar sua apresentação no TEDX

Eu precisava dizer "eu te amo", eu já sabia,
Mas era preciso não desistir,
Bastava dizer, mas era grande a teimosia,
Mostrando outros caminhos a seguir,

Era absolutamente necessário, eu entendia,
Só não sabia como escapulir 
Das garras da ignorância, que me diminuia,
E do medo, que tentava me destruir...

Até o dia em que dizer "eu te amo" foi libertador, 
Capaz de caber nele tanto amor,
E amor de seguir durando a vida inteira ,

E libertar corações escravizados,
Que ao dizer que amam, se descobrem amados,
Porque não haveria como ser de outra maneira...

12.6.21

Não tire a máscara

Não tire a máscara. Tire o genocida.
Tire o desassossego da nação.
Tire. Porque não adianta germicida.
Mas não tire com ódio. Tire com eleição.

E não tire a máscara. Você não é suicida.
Nem imbecil. Não faça esse papelão.
Tire o capitão. É a única saida.
Mas não tire a máscara. Tire o bufão.

Proteja-se. Proteja a vida.
Nenhuma outra coisa precisa ser mais protegida
A vida. Sem ela de que vale tudo mais?

A máscara fica. O capitão sai fora.
Uma dia a gente ainda comemora,
E nesse dia a gente dorme em paz.


5.6.21

Comunhão

Depois de 72 horas de plantão,
Aqui estou de volta ao meu cantinho,
72 horas parecia um turbilhão,
Mas era só o começo do caminho,

Respira, atende o próximo: _Pois não...
Febre alta, vomito, começou ontem todo vermelhinho,
Pausa prum café. Tem bolo e pão.
Meia hora de sono. _Doutor, tem um bebezinho.

72 horas. O tempo vai passando,
E enquanto eu vejo dores desfilando,
Eu me aproximo da dor, eu toco a dor com a mão

72 horas. E eu vejo como dói a vida.
E o analgésico sabe que não tem saída:
A dor só se dissolve em comunhão...






1.6.21

A morte não tem a última palavra

A morte não tem a última palavra, 
E por mais impressionante que possa parecer, 
Tanta coisa continua quando a vida acaba,
Que fica difícil definir o que é morrer, 

É que para além do pulmão que respirava,
E do coração que já não consegue mais bater,
Uma outra semente de vida germinava
Ainda que quase ninguém conseguisse perceber,

Porque as pessoas, mesmo após as despedidas,
Continuam a fazer parte das nossas vidas,
Por isso a morte definitivamente não é o fim,

Ou se é o fim, é um fim que não termina, 
Como o manuscrito de uma obra prima,
Eu penso às vezes na morte assim...

22.5.21

As manhãs de sábado

As manhãs de sábado de pandemia 
São manhãs propicias para, ao acordar,
Escutar poesia, ler poesia, escrever poesia,
Pois nesses dias só a poesia pode nos salvar

Do desespero e da melancolia,
E da ausência de um motivo pra perseverar,
Uma unica rima pode salvar seu dia,
Sonetos não deixam você se afogar, 

Então, passar um Drummondzinho na chaleira,
Um Castro Alves pulando da torradeira, 
E o dia pode finalmente começar...

É pandemia, mas eu conto com Quintana,
E uma dose de Vinicius por semana,
O mau humor não consegue nem me olhar...

16.5.21

A sua voz


Para Ana Claudia Quintana Arantes 

A sua voz fala ao coração da gente, 
E diz o que o coração da gente quer escutar,
Parece que sabe o que o coração da gente sente,
Parece que grita quando era mais fácil se calar,

Porque a sua voz nunca é a voz indiferente 
Diante da dor que insiste em se espalhar,
Sua voz é como o manto protetor urgente,
Porque o sofrimento machuca e não pode esperar.

Por isso a sua voz será sempre a nossa voz,
Sua indignação, a indignação de todos nós,
Sua luta, nossa luta, estamos do mesmo lado,

Por isso a sua voz nunca será silenciada,
Já somos muitos seguindo a mesma estrada
Por onde a sua voz nos tem guiado...

12.5.21

A psicologia

Os psicólogos, em sua caminhada,
Espalham claridade por onde vão,
Iluminando, dessa forma, a estrada
Como um farol cortando a escuridão,

E há tanta gente desconsolada,
Tanta gente precisando de uma mão,
Há tanta gente quase afogada,
À espera de uma tábua de salvação,

E estamos quase todos precisados,
Filhos frágeis precisando ser ajudados,
Bendita seja a psicologia

Sempre que funciona como a mão que adormece 
A dor do coração de quem padece,
E isso às vezes me faz lembrar poesia...

11.5.21

Histórias lindas de morrer

Para Ana Claudia 
Com carinho. 

Lindas histórias, mas histórias de morrer,
Porém histórias de morrer encantadoras,
Dessas que raramente costumam acontecer, 
Mas que quando acontecem, são  avassaladoras,

Histórias lindas de ler e de reler,
Histórias de mortes, mas não histórias sofredoras,
Porque se a morte é um dia que vale a pena viver,
Morrer pode ser uma oportunidade benfeitora...

Histórias lindas para se guardar na memória,
Para perceber quanta luz em cada história,
Para sentir o coração quase parar de respirar,

Histórias lindas de morrer... Sorria, 
Quem sabe a gente morre assim um dia,
E pode ter então muitas histórias pra contar...

9.5.21

A música de Guinga


Pra onde você vai quando a gente via que você ia 

E você acaba seguindo pra outro lado?
De onde esse acorde que transforma essa harmonia
De um modo completamente inesperado?

A mesma canção que segue por uma via,
Pra de repente fingir que escolhe o caminho errado,
Alguns minutos depois retoma sua melodia,
Criando um acorde novo, nunca dantes dedilhado...

Guinga completamente extraordinário,
Não existe tradução no dicionário,
Mas se existisse, ele certamente o reinventaria,

Porque Guinga é o espírito da música encarnado,
O violão de João reinventado,
A única música capaz de declamar poesia...

5.5.21

Saudades


Uma cidade chamada Saudades,
Uma dor de nunca mais a gente se esquecer,
Sangue inocente jorrando, mãos covardes,
Uma cidade inteira sem entender,

Três pequeninos sem culpas, sem maldades,
Duas professoras tentando proteger,
Um dia para ficar na eternidade,
Um dia que era para nunca acontecer,

Chora Saudades sua dor dilacerada,
Chora Saudades e não quer ser consolada,
Chora Saudades sua dor que não tem paz,

Chora Saudades seus mortos sem pecados,
Chora Saudades seus filhos assassinados,
Chora seus olhos para nunca mais...

Paulo Gustavo


Terá, no fim de tudo algum significado
Partir do mundo assim, banhado em dor?
Esperança... E no fim: a morte! Que pecado!
É sem sentido. É cruel. Devastador.

Tanta oração a Deus sem resultado.
Tanta suplica empenhada com fervor.
A cura! A cura! E no fim tudo é negado.
Tudo. Menos o seu ultimo estertor... 

Mas, uma voz da luz dos grandes mundos,
Em conceitos sublimes e profundos,
Respondeu-me em acentos colossais:

— “Verme que volves dos esterquilínios,
Cessa a miséria de teus raciocínios,
Não insultes as leis universais.”

Os dos tercetos finais do soneto são do soneto A LEI de Augusto dos Anjos , psicografados por Francisco Candido Xavier no Parnaso de Além Tumulo.

Ao ator Paulo Gustavo, com carinho.

3.5.21

Por tras de toda dor existe dor


A displicência esconde sofrimento,
A falta de cuidado, inquietação, 
O coração que não sara seu sangramento 
Não cuida bem de um outro coração, 

Não é uma decisão, é um desabamento,
O caminho de quem já não domina outra opção,
O sofrimento por trás de um comportamento,
A negligência, e por trás, a autodestruição,

Por trás de toda dor, por mais violenta,
Há uma outra dor de quem não se sustenta 
E não percebe o tamanho da própria dor,

Por trás de toda dor, por mais cruenta,
Há uma outra dor que não se aguenta,
E um coração que nem se percebe sofredor

2.5.21

Sala de parto


Quatro da manhã. Um nascimento. 
O parto normal está virando rotina. 
Cercado da família, esse momento 
É um banho de segurança e ocitocina.

Quatro da manhã. Chora o rebento. 
Toma a primeira dose de vitamina. 
Minutos depois, já tira o seu sustento
Do seio materno. Coisa mais fina.

E dai em diante é só tomar cuidado. 
Viver é evitar o rumo errado
E não apressar o rio, porque ele corre sozinho...

Quatro da manhã. Domingo frio. 
Eu não me esqueço: não apresse o rio,
E vou colhendo amor pelo caminho.

1.5.21

Primeiro de maio


Trabalhador, o primeiro a ser chamado,
E também o primeiro a ser esquecido,
Sempre o primeiro a ser encaminhado, 
Estranhamente o último a ser reconhecido,
Sempre o primeiro, quando tudo dá errado,
A ser culpado e também a ser punido,
A ver seu salario, que deveria ser sagrado,
Ser bloqueado, ser reduzido,
Ou a ter seu dia de pagamento adiado,
Como se isso fosse permitido,
Trabalhador,
O primeiro a ser listado,
E o ultimo da lista a ser ouvido, 
Porque o último a ser valorizado, 
Embora seja o mais comprometido,
O primeiro, quando o patrão está quebrado, 
A ser avisado que está despedido,
O primeiro a ficar desesperado 
Enquanto o patrão segue em frente, garantido,
Trabalhador, 
O primeiro a ser enganado,
O primeiro na conta a ser subtraído,
Sempre o primeiro a ser sacrificado,
Sempre o primeiro a ser substituído,
Como se fosse um pacote no mercado,
Um contratado só pra ser demitido,
E quando o lucro da empresa tiver multiplicado,
É o primeiro no papel do ilustre desconhecido.
Primeiro de maio. Trabalhador comemorado,
Mas a essa altura, quase nenhum iludido,
Porque o que o trabalhador precisa é ser vacinado,
E ser bem remunerado, e ser ouvido,
E não de flores para ser homenageado,
E nem de churrascos para ser iludido,
Precisa é de um ambiente de trabalho bem cuidado,
E de um plano de cargos reconhecido,
De um calendário de pagamento aprovado, 
Com reajuste real e merecido, 
Trabalhador precisa ser bem tratado,
Não é só servir bem, precisa ser bem servido,
Porque seu coração já está esgotado,
E não aguenta mais no seu ouvido 
Promessas de patrão mal intencionado,
Papinhos de político fingido, 
Projetos de um futuro do passado 
Sobre coisas que já deveriam ter acontecido,
Porque na hora em que o desafio é apresentado,
E nessa hora é preciso um esforço desmedido, 
O trabalhador é o primeiro a ser chamado,
O primeiro a ser escolhido, 
O primeiro imediatamente a ser escalado,
Mas o último a ser verdadeiramente reconhecido. 
Trabalhador, trabalhador, muito obrigado,
Recebe esse poema agradecido,
E lembre-se: trabalhador unido, como está gravado,
Jamais e em tempo nenhum será vencido. 

30.4.21

A minha irmã morte


Ela me observa pela minha vida inteira,
Se aproxima e se vai logo em seguida,
É minha irmã, mas como gata borralheira,
Nunca se mostra, vive escondida...

De vez em quando me toca, sorrateira,
Sorri, mas ao ver que não é correspondida,
Afasta-se de mim, de tal maneira 
Que eu volto à minha vida distraída...

Porém a minha irmã morte, eu sei que um dia
Vai precisar da minha companhia, 
Porque nós somos filhos da mesma criação,

E nesse dia, em seu abraço derradeiro,
Ela me dirá, de modo desinteresseiro:
Fica comigo, eu te amo, meu irmão...

Os escotomas

Ah, essas luzinhas malditas que me cegam,
Que chegam antes da dor aparecer, 
Que vem do nada e de repente me pegam,
E brilham ao notar que vou sofrer.

Escotomas. Só eu enxergo. Os outros não enxergam,
Por isso ficam sem entender.
Eu tento, mas os meus gestos não negam:
Alguma coisa de mal vai acontecer.

Dai eles passam. Em minutos vão embora.
E antes que eu comemore, chega a hora
Da dor de cabeça, inimiga insuportável...

Lá se vão 40 anos com essas crises...
_Tem cura doutor?  O que me dizes? 
_Pergunta difici não. Seja razoável.


Kkkkk

27.4.21

A alegria empática


Não é a minha alegria. Nem é a sua alegria. 
Não fui eu e tampouco foi você quem a recebeu. 
Porque se você ficar feliz me faz ganhar meu dia,
Então seu coração feliz torna feliz o meu.

É como uma conexão que nos recria
E a gente não percebe como aconteceu. 
Alegria empática. Não a teoria. 
A prática. O que torna um só você e eu.

E a partir dai, alegrias misturadas,
Como se estivessem, de alguma forma, costuradas,
Geram mais luz aliadas que sozinhas,

Alegria empática. Esta na literatura. 
Mas ao vivo e à cores tem muito mais belezura
E mais poesia que essas pobres linhas

🌹

O medo


Bom dia. Mas eu vou logo avisando:
Às vezes o dia não sai como planejado,
A única saída é ir tentando,
E assim, tentar não ficar apavorado,

Afinal de contas, não é se apavorando 
Que o dia se torna menos complicado.
Respira fundo. Vai se conectando.
E escuta seu coração, seu aliado. 

É nessa hora que o coração vai se mostrando,
E ai convém fazer silêncio sempre quando 
O coração tiver sido convocado...

E na medida em que o dia vai passando,
Você aprende, simplesmente caminhando,
Que o medo não precisa deixar você paralisado.

25.4.21

Mãe


Mãe não tem limite. É tempo sem hora.
Tem mais poesia que Drummond e que Bandeira,
Carinho de mãe? Quem é que não adora?
Quem é que não quer ter pra vida inteira? 

Que outra palavra existe mais sonora,
Capaz de deixar o coração dessa maneira? 
Porque perto dela tudo melhora? 
Por que é que ela encara qualquer tranqueira?

Quando Deus criou o mundo em sete dias,
Mandou as mães para serem nossos guias,
E deu a elas, como missão,

Amar de um amor com toda intensidade,
Viver para sempre, por toda a eternidade,
E morar dentro do nosso coração.

A sala de parto

4 da manhã. Cesariana. 
Quem dormiu, dormiu. Quem não dormiu não dorme mais.
Madrugada. Domingo. Fim de semana. 
Mas pra quem está de sobreaviso, tanto faz.

4 da manhã. O hospital chama. 
Tomo um cafezinho e vou atrás. 
Sou o primeiro a chegar. O coração nem reclama. 
Com o tempo, qualquer prazer já satisfaz.

O tempo passa. A equipe vai chegando. 
O pai, assustado, me conta, quase chorando,
Que o seu primeiro filho daqui a pouquinho vai nascer...

6 da manhã agora, de volta pra minha cama,
Rabisco esse poema, de pijama,
Enquanto observo o dia amanhecer...

Bom dia...

22.4.21

O sono

Meu sono viajou. Foi pro Japão. 
Mas talvez tenha ido pro Pará. 
Fez as malas. Pegou o primeiro avião 
E avisou que não ia mais voltar 

Deixou pra mim de presente a televisão 
E alguns comprimidinhos pra eu tomar,
Mas ele sabia que não era solução,
Sabia e preferiu não me contar...

De vez em quando eu lembro do meu sono
Que foi morar nos braços de outro dono 
E me deixou nessa melancolia,

Mas graças a Deus ainda existe o vinho,
E alguns amigos bons pelo caminho,
Mas graças a Deus existe a poesia...

Alberto Mussa

Parece que sou eu, mas não sou eu,
É um primo meu, e isso é muito divertido:
Alberto foi o nome que o meu pai me deu
Quando meu primo não tinha nem nascido,

Daí, depois, quando meu primo nasceu,
Não sei por que motivo isso teria acontecido,
Seus pais lhe deram um nome igual ao meu,
Aliás, igual não, só muito parecido,

E foi assim que tudo aconteceu,
Nenhuma das duas famílias recorreu,
E o Alberto Mussa pros dois foi decidido. 

Passou o tempo. A gente cresceu. 
E cada um carregou consigo o Alberto seu,
Espero que todos tenham compreendido...

19.4.21

O meu poema

Um pouco falar, um pouco ser escutado,
Um pouco escrevê-lo sem ser interrompido,
Ou ser interrompido sem ser prejudicado,
Ou ser prejudicado pra depois fortalecido,

Um pouco mostrá-lo, um pouco deixá-lo guardado,
Um pouco depois saber que foi distribuído,
Um pouco para ser perdido, um pouco para ser plantado,
Um pouco para ser lembrado, outro para ser esquecido,

O meu poema, sempre um significado,
Pedacinho que mostro do que há em mim sagrado,
Lugares em que eu nunca imaginei ter ido,

Mas eis que quando o poema está gravado,
Eu fico imaginando: de onde foi tirado?
E nenhuma resposta, pra mim, me faz sentido...

13.4.21

Hoje contém esperança

O dia de hoje contém esperança 
Porque nele tudo pode acontecer:
Amar e pedir perdão e, na mesma dança,
O sol nascer, e em seguida se esconder,

Unidos, numa legítima aliança,
A dor e o alivio quando a dor doer,
Por isso contém esperança: se o mal avança 
O bem sabe bem como nos defender.

Contém esperança os dias nublados,
Quando os dias de sol ficam guardados
Porque a natureza sabe economizar... 

Hoje contém esperança, use a vontade,
Como um escudo contra o frio e a insanidade,
Como um tesouro que cabe em qualquer lugar...

11.4.21

Comunhão

Dividir é quase o mesmo que somar,
Doar é um dos sinônimos de receber,
Receber tem o mesmo sentido de entregar,
E guardar é quase a mesms coisa que não ter,

Viver é bom quando a palavra compartilhar 
É dita mais vezes do que a palavra reter,
Porque o melhor do rio é se dar ao mar 
E o mar se dar às ondas com prazer...

As mãos abertas, durante a jornada,
São a possibilidade da semente ser semeada,
E ao mesmo tempo a chance de colher o pão,

As mãos fechadas não semeiam nada,
Fazem perder o melhor da caminhada,
E o que há de bom na vida em comunhão

10.4.21

O chaveiro

Algumas portas muito bem trancadas,
Outras empoeiradas, esquecidas,
Umas com fechaduras enferrujadas,
Outras com dobradiças enrijecidas,

Portas estrategicamente localizadas
Em corredores e áreas proibidas,
Bem escondidas e mal iluminadas,
Portas fechadas, obstruidas,

Então a compaixão, como um chaveiro,
Como quem desmantela um cativeiro,
Permite que elas se abram, sem doer,

A compaixão, mostrando suas chaves,
Abrindo portas, desfazendo traves,
A compaixão mostrando seu poder...

9.4.21

As notícias difíceis

Aa notícias difíceis só são noticias difíceis
Porque são noticias complicadas de se dar,
Como uma carta escrita em letras ilegíveis
Que a gente precisa entender e entregar...

Notícias difíceis de efeitos irreversíveis,
Não há como ler para depois apagar,
Noticias difíceis, porque os caminhos não são fáceis,
Nem fácil é o jeito de caminhar...

Noticias difíceis, mas porque necessárias,
É necessário compreender as várias
Formas de transmiti-las com leveza...

Noticias difíceis, como são os enigmas,
Notícias difíceis, como são os estigmas,
Um exercício improvável de delicadeza...

5.4.21

A cidade asfixiada

Hoje minha cidade deveria estar parada
E o virus impedido de ter por onde andar,
Aqui ninguém, naquela esquina nada,
Porque ninguém mais pode se contaminar,

O médico está cansado, a UTI lotada,
E a enfermeira com vontade de chorar,
Pára, cidade, sua saude está quebrada,
Seu oxigênio já começa a escassear...

Silencio, cidade. Mais de trezentos mil mortos.
Não há sepultura para tantos corpos.
A esperança precisa dar um jeito de voltar,

Porque hoje, minha cidade asfixiada,
Ou você para, ou acaba sepultada,
Não há nenhuma outra forma de escapar...

28.3.21

As fotografias

Eu precisava tanto
Ver as fotografias
Das UTIs vazias 
E dos vários monitores ociosos,
Dos medicos e enfermeiros não fazendo nada,
Da maca desocupada,
Da maleta de reanimação fechada,
E das cadeiras sobrando na recepção,
Eu precisava tanto
Ver as fotografias
Das balas de oxigênio ainda lacradas,
Das quipes nas emergências contando piadas,
E das bombas infusoras desligadas por ninguém precisar de bombas de infusão,
Ampolas de pancuronio engavetadas
E faceshields descansando no balcão,
Ver funerárias de portas cerradas,
Precisava ver gentes sorrindo
E contando seus causos de recuperação...
Eu precisava tanto ver fotografias
Que desmentissem as notícias que passam na televisão,
Ver ambulâncias paradas nas garagens,
E não em remoções de vida ou morte,
Cortando caminho pela contramão...
Brava gente brasileira,
Queridissimos irmãos,
Obedeçam as ordens do chefe da nação:
Invadam postos e hospitais vazios,
E mostrem para mim médicos sadios
E de braços cruzados,
Porque eu quero ver leitos desocupados,
E preciso muito acreditar nessa versão:
É tudo mentira,
Coisa de jornalista esquerdinha e traira
Pra meter medo na população...
Não deixem que eles continuem espalhando isso não,
Enviem fotos
De nossa pátria amada,
Idolatrada,
E bem cuidada,
Mostrem pra mim que não está acontecendo nada,
Porque eu preciso ter certeza de que tudo isso não passa de invenção,
Deixem o número de óbitos pros pessimistas,
Sejamos imperialistas,
Sigamos o exemplo do capitão,
Contem pra mim que essa dor nunca existiu,
São fantasias
De alguns filhos desvairados
De seu solo, oh, mãe gentil,
Patria amada,
Brasil,
Por isso eu precisava muito ver essas fotografias,
Mostrem pra mim,
Porque já não cabe tanto medo
E tanta dor
No que restou
Do meu cansado coração...

23.3.21

A balada

Na balada sempre cabe mais um. Na UTI não. 
O som que rola na UTI é diferente:
Na balada, o som que agrada é o batidão,
Na UTI é o respirador que embala a gente. 

Na balada tem sempre lugar prum valentão, 
Na UTI é bem mais difícil ser valente:
Aminas, cateteres, intubação,
A morte gritando bem ali na sua frente...

É muito bom passar a noite na balada,
Mas lembre-se de que prudência desprezada
É uma armadilha de onde é difícil escapar,

Então, se você quer fugir dessa ratoeira,
Apascenta essa sua alma baladeira, 
E espera em casa o temporal passar...

22.3.21

A minha cidade

Minha cidade amanheceu fechada,
Decretos limitando a circulação,
Capacidade de atendimento nos hospitais saturada,
Fila de espera por internação,

Cidade adoecida, circulação limitada 
Tentando retardadar a disseminação 
De um mal que não poupa nem ninguém nem nada,
Como um pecado para o qual não há perdão,

E aqui em Campos, exatamente como na China, 
Enquanto não fartarem-se as vacinas,
Vai ser desse jeito, é a única solução:

Ou aceitamos essa medida dura,
Ou nos tornamos uma imensa sepultura
E implodimos nossa geração...

19.3.21

O Rio de Janeiro

Fecharam as praias do Rio de Janeiro,
A orla mais linda do planeta está parada,
Antes que o Rio inteiro se torne um covideiro,
E a praia de Copacabana não sirva mais pra nada...

Um Rio sem praias, sinal de desespero,
Ipanema com a sua beira mar abandonada,
A morte tocando o terror no rio inteiro:
Fecharam a praia pra salvar a moçada...

Tempos difíceis, decisões difíceis,
Como se estivéssemos caminhando entre mísseis
Prestes a detonar...

Fecharam as praias do Rio, que pecado,
Pra ver se o Rio fechado
Ainda tem chance de se salvar...

16.3.21

O Ministro da Saúde

Estou aqui para dar continuidade,
Seguir fazendo o que meu antecessor fazia:
Aumentar os índices de mortalidade, 
Fazer pouco caso da pandemia...

Quem manda é o presidente. Essa é a verdade.
Eu ocupo um cargo de fantasia. 
O mestre manda e eu faço. Questão de fidelidade. 
Eu tenho o currículo imenso e a alma vazia.

Agora que me tornei Ministro da Saúde,
Minha única esperança é que Deus nos ajude,
Porque eu não vou fazer nada pra ajudar...

Eu sou Ministro, mas pode me chamar de fantoche,
Eu sou Ministro, mas pode acreditar que é deboche,
Esse desastre está longe de acabar...

Tudo errado

"O Brasil está fazendo tudo errado"
Um presidente e seu governo devastador, 
Um capitão arrogante e equivocado
Guiando um pais mergulhado em dor...

E tudo feito de modo atrapalhado,
Na contramão do planeta, e sem pudor,
Escapar dessa vai ser complicado 
Tendo na presidência esse senhor...

E a cada número novo de mortos anunciado,
Ao invés de mover-se pra outro lado,
O presidente toca o terror:

"Parem de mimimi",  diz o abestado, 
Enquanto o pais vai sendo dizimado.
Um ogro imbecil. Sem tirar nem por.

14.3.21

Poema para Ana

Quem é que faz do domingo um dia de graça,
Transformando o domingo num dia acolhedor,
E de uma alegria que nunca passa,
E de um encantamento encantador?

E não importa o tempo ruim, a ameaça,
O desespero, a insensatez, a dor,
Ana aos domingos é o melhor da raça 
Humana. Ler Ana aos domingos é libertador. 

Ana Claudia que é Quintana, como o poeta,
Possui, com Deus, uma conexão direta,
Por isso esse seu dom que é de acalmar,

Eu tenho pra mim uma coisa como certa:
Lá do céu, vovó, feliz com sua neta,
Guarda os domingos para vir lhe visitar...

O silencio

Tem dias em que é melhor ficar calado
Do que seguir falando por falar:
Palavra é como um bem quase sagrado
Que não se pode desperdiçar...

Falar, às vezes, é um gesto exagerado
Nesses dias, quando o coração quer se calar,
O silencio quase sempre é menos complicado,
E bem mais fácil de se pronunciar,

Até que um dia chega o tempo apropriado,
E a palavra, que parecia ter se abandonado,
Volta, provando que continua a respirar,

E tudo segue no seu tempo, bem alinhado,
A palavra e o silencio, lado a lado,
Pra nós, de resto, só nos resta respeitar...

10.3.21

Grupo de cuidados paliativos

Gente linda, onde é que vocês estavam?
Porque demoraram tanto a aparecer? 
Eu chamava, vocês não escutavam? 
Eram vocês que eu queria conhecer,

Eu já tinha ouvido falar do que vocês falavam, 
Mas confesso que nunca parei para entender,
A vida passava, os dias passavam,
E um dia finalmente eu pude ver 

Que os meus conhecimentos me cegavam,
Que meus medicamentos não cuidavam,
Que eu nunca aprendi o significado de sofrer,

Mas os dias são como as águas quando lavam
As sujidades e os trastes que nos travam,
E finalmente nos permitem ver o sol nascer...

8.3.21

Dia internacional das mulheres

São tão únicas e tão numerosas,
Que eu nem sei por onde começar:
Pelas inspiradoras, pelas corajosas
Ou pelas com as quais adoro trabalhar?

Pelas carentes, pelas vaidosas,
Pelas que me fizeram um dia despertar? 
Pelas que transbordam poesias e prosas? 
Por aquelas com o coração maior que o mar?

E hoje é o dia delas estarem orgulhosas:
O mundo não seria tão lindo sem as rosas
Que cada uma delas sabe representar,

Umas mais tímidas, outras mais perigosas,
Mas todas absolutamente maravilhosas,
Difíceis de compreender, fáceis de amar...

7.3.21

Madrugada

Madrugada de domingo. Eu, acordado,
Imaginando um poeminha pra escrever,
E dou de cara com algum verso improvisado 
Que nem sei se alguém vai parar pra ler,

Um poeminha sem significado 
Na madrugada quando não sei o que fazer,
É como ter um deslise perdoado,
Achar uma moeda que acabou de perder,

Um poeminha domingueiro, sem sentido,
Horas assim, me sinto meio perdido,
E um poeminha é meu jeito de encontrar 

Se não o tesouro, o mapa do caminho 
Que eu sei que vou precisar seguir sozinho,
Mas tendo com quem conversar...

21.2.21

Domingo

Porque hoje é domingo, uma poesia,
Porque domingo as rimas gostam de brincar,
Vivem seu mundo de gostosa fantasia
Criando sonetos pra gente desenhar,

Porque hoje é domingo, hoje é dia
De falar mesmo sem ter o que falar,
Como numa embolada, ou numa cantoria,
Como num partido alto na roda de improvisar,

Porque hoje é domingo, me perdoem,
E se perdoem, e, se puderem, voem,
Porque domingo é um belo dia pra voar,

Porque hoje é domingo, descontraia,
Como disse Gilberto Gil, a fé não faia,
Porque a Lei de Deus não costuma descansar...

19.2.21

Aposta errada

Quem apostou no fim da baixaria 
Ja descobriu que apostou errado,
É um mar de lixo que nunca se esvazia,
Cumprindo exatamente o que foi pregado:

Um discurso de odio, de causar azia,
Uma prepotência de deixar o estômago embrulhado,
Negativismo, terraplanismo, e, quem diria,
Um extremismo que deixa o pais isolado,

Quem apostou que o mal submergia,
Bastou viver o dia a dia da pandemia 
Pra perceber que um país foi sepultado,

Um país de brava gente, que ironia,
Que vai morrendo a cada grosseria,
E que vai sendo a cada dia assassinado...

10.2.21

Poesia compassiva

Poemas compassivos para almas necessitadas,
Palavra usada como acolhimento,
Lugar de descanso para as dores cansadas,
Lugar de pausa para o sofrimento,

Poemas compassivos, de mãos dadas,
Como se nada atrapalhasse o seu momento,
O medo, o frio, as opiniões desastradas,
Nada contasse, somente a paz de dentro...

Poemas compassivos, feito curas,
Transformando em esperanças, amarguras,
Em dias de sol, as tardes mais nubladas...

Poemas compassivos, como abraços,
O amor se multiplicando em mil pedaços,
Como alimento para almas precisadas...

25.1.21

Falar de amor

Precisamos continuar a falar de amor,
Porque o amor precisa continuar 
A amenizar a dor de quem sente dor,
E o sofrimento que precisa se curar,

Por isso precisamos nos dispor 
A falar de amor, e, mais do que falar,
A espalhar amor por onde a gente for,
Porque o amor adora se espalhar, 

E amor que se espalha se multiplica,
De alguma forma que ninguém explica,
Porque faltam palavras pra explicar,

Precisamos falar de amor, então falemos,
O amor é o que faz o sofrimento doer menos,
O amor é o que faz a alma respirar...

19.1.21

Contém esperança...

Um dia abençoado pela frente,
Contém esperança o que está por acontecer:
Gente com esperança auxiliando gente
Com esperança de parar de sofrer...

Um dia abençoado, um dia potente,
O cansaço e o desanimo não vão vencer,
Uma formiguinha, outra formiguinha, e, de repente,
Um formigueiro. E formigueiros tem poder

De carregar esperança por onde vão,
Porque a esperança do seu coração
Se espalha mais rapidamente que a pandemia...

Por isso um dia cheio de esperança,
A dor dói menos onde a mão do amor alcança,
E onde há amor, o sofrimento se esvazia...


16.1.21

A Lei de Deus

Eu não me importo com a sua ideologia, 
Nem com seu time, nem com sua cor,
Nem com seu tique, nem com sua mania
De ficar me zoando porque eu sou tricolor...

Eu não me importo se você confia
Nesse presidente avassalador,
O mundo é uma gigantesca confraria,
Ninguém vive feliz sem ter amor,

E para amar é preciso misturar-se,
Imagina o mundo se todo mundo se amasse:
Semitas, anti semitas, cristãos, ateus...

Não sobraria razão pras diferenças,
O amor, acima de nossas crenças,
Ou do que quer que chamemos a Lei de Deus.

15.1.21

Sartreana

Você não é, definitivamente,
O que a vida, continuadamente,
E sem pudor nenhum, faz com você...
A verdade,
Mesmo quando você não consegue ver,
É que você é sempre, ao invés disso,
Exatamente 
Aquilo que você faz
Das coisas boas e más 
Que a roda da vida traz 
E a vida segue a fazer...
Você é sempre o que você escolhe ser...

13.1.21

Gael

Deus receba em seu Reino esse recém-nascido 
Que deixa o mundo sob mínimo sofrimento,
Partiu do modo como era pra ter sido,
Viveu com dignidade o seu momento,

A mãe o tomou no colo e ele, aquecido,
Foi preenchido de uma paz por dentro,
E foi assim que apesar de ter sofrido 
Cobriu com um manto de amor seu sofrimento...

O pequeno Gael agora já não chora,
O corpo já não faz Gael sofrer agora, 
Gael agora é luz e oração,

Saudade e vida, e será sempre o filho 
Que mesmo "pequenino feito grão de milho"
Viverá imenso em nosso coração...

O tempo

Para a amiga Ivani

O tempo, enquanto pensamos que nós temos,
Por quase todo o tempo desperdiçamos,
Somente lá na frente percebemos 
Que já não temos, porque gastamos

Com grandes brigas por ganhos bem pequenos, 
Por outras que nem sabemos porque brigamos,
Por ideologias que aprendemos 
E por comportamentos que ensinamos...

Mas o tempo, que inapelavelmente não espera,
Atravessa rapidamente a nossa primavera,
E quando a gente menos espera, já é o outono,

E dentre as coisas que a gente recupera,
O tempo é a única coisa que quando zera
A gente tenta recuperar, mas não há como...

6.1.21

A democracia


Hoje a democracia sai ferida,

Subtraida, esbofeteada,
E tenta, desesperada, uma saida,
Procura ainda respirar, desesperada,

E levantar-se, mesmo enfraquecida,
Resistindo em se confessar desanimada,
Como de outras vezes, quando quase foi vencida,
Como de outras vezes, quando quase foi executada...

A democracia, covardemente agredida
Por uma multidão enfurecida,
Por uma multidão desembestada...

A democracia, quase interrompida,
Que tenta se refazer, fortalecida,
Que não aceita morrer silenciada...



1.1.21

Ano Novo

Seja bem-vindo. A gente já estava aguardando.
Falamos de você o ano passado inteiro.
Parece que já estávamos adivinhando
Sua chegada em janeiro.

Foi muito bom ver você vir se chegando,
O ano que acabou foi um desespero.
Mas acabou. Já você tá começando
Exatamente no dia primeiro.

Então pode entrar. A casa é sua.
E com você, a luta continua,
Não vai ser o ano passado que vai nos derrubar.

Chega com tudo, ano novo, seu lindo.
A gente estava mesmo precisando de um dindo,
E era isso que a gente estava doido pra contar...