13.11.24

A primeira manhã

A primeira manhã sem dosar a glicemia,
Sem medir a temperatura e a pressão, 
É como tirar o gesso e ir pra folia,
Nem sei como descrever essa sensação.

É a primeira manhã, por isso tem poesia, 
Poesia é bom antes do café com pão,
Desperta o coração, e alivia,
Pra mim é meu jeito de meditação.

Eu sei que não é. Mas eu disfarço 
Eu acabo indo pra longe quando eu faço 
Rimar palavras até sem perceber,

Como essas pra primeira manhã livre do soro,
E eu me sentindo forte como um touro,
Feliz por ver o dia amanhecer...

Bom dia

O Doutor Fabiano

O doutor Fabiano pensou direitinho,
E decidiu que eu podia ser liberado:
O antibiótico já estava no finzinho,
E eu sem febre, e bem mais animado.

Vou te dar alta hoje, Luisinho,
Sua casa vai ser melhor pro seu estado.
Vai voltar ao trabalho devagarinho, 
E assim ficar completamente recuperado.

E o doutor Fabiano me liberou, 
A família toda comemorou,
E os amigos também comemoraram,

Finalmente em casa. Que coisa boa.
A casa é como o coração da pessoa. 
E dessa forma esses sonetinhos se encerraram.

Sétimo dia (12 de novembro)

Sétimo dia. Seguro a ansiedade. 
Na vida tudo passa. Nada é permanente. 
Uma semana internado. E a vontade 
De estar em minha casa novamente.

A alta pra hoje é só uma possibilidade. 
Não existe uma decisão exatamente:
Melhor ir pra casa livre da enfermidade 
Que ter de ser internado novamente.

Sétimo dia. Tudo quase pronto. 
Se eu tiver alta eu volto aqui e conto,
Se for só amanhã também tá bom.

Eu vou me divertindo com poesias,
A melhor forma de passar meus dias:
Mario, Bandeira, Vinícius e Drummond...

11.11.24

Sexto dia (11 de novembro)

Sexto dia. Véspera de ir embora. 
Nesses seis dias, como tive que aprender:
A aceitação fazendo parte da melhora,
O coração ficando em paz pra não sofrer.

Sexto dia. Tudo parece bem agora.
O pior já passou. É o que dá pra entender. 
O tempo com dor parece que demora, 
E a ansiedade faz a dor permanecer.

Felizmente amanheceu o sexto dia,
A alta próxima já provoca a poesia 
Pedindo pra sua rima cantarolar,

E a rima, cantarolando, porque a alta está pedindo, 
Sorri, como quem já está se despedindo,
E não faz planos ainda pra voltar...

Quinto dia (10 de novembro)

Pela janela do quarto do hospital 
Dá pra notar o quinto dia começando, 
Em pouco tempo vida normal,
Estou a cada dia melhorando: 

Urina normal, hemograma normal,
O pensamento normal, a fome retornando, 
Acho que só a bactéria é que tá passando mal:
Quis me prejudicar e acabou se prejudicando.

Quinto dia de pausa compulsória, 
Uma experiência que vai ficar pra história:
O cuidador aprendendo a ser cuidado,

Com disciplina, sem reclamar de nada, 
Reconhecendo que não fosse cada furada
Eu certamente não teria melhorado.

Quarto dia (9 de novembro)

Quarto dia. Segue o tratamento. 
Do lado de cá o tempo custa a passar.
O tempo não se atrasa no seu tempo,  
A gente é que costuma se apressar.

Mas é melhor seguir o regulamento:
Cada coisa em sua hora, cada hora em seu lugar. 
Eu tô melhor. Me falta agradecimento 
Pra tanta gente torcendo pra eu melhorar.

Paciência é uma tática soberana:
Corpore sano, mens sana,
Tá tudo bem como era mesmo pra estar,

Obrigado a todos pela torcida, 
Pela melhora, pela alta, pela vida,
Era só um tempinho pra eu poder parar...

Terceiro dia (8 de novembro)

Sai meropenem, entra rocefin, terceiro dia,
E as bactérias vão ficando apavoradas,
Foram mexer logo com quem não devia,
Por isso estão morrendo despedaçadas,

Rocefin na veia, medida da glicemia,
Temperatura, pressão, não precisa de mais nada,
E tem a dieta. Mesmo que chegue fria.
Nada como uma refeição bem preparada.

E assim os dias vão se seguindo, 
As bactérias pouco a pouco vão sumindo, 
E a infecção vai desaparecendo,

Viva os antibióticos e a medicina, 
Capazes de tratar a infecção de urina 
E fazer a gente novamente ir renascendo.

Segundo dia (7 de novembro)

Segundo dia. Sigo internado. 
Ontem uma febrinha apareceu,
Mas nada demais. Não vou ficar chateado.
A doença faz o dela, eu faço o meu.

Até acordei mais animado. 
Comi uma banana que a acompanhante não comeu.
Já caminhei. Agora estou deitado.
Segundo dia. Pena que Trump venceu. 

Mas não há de ser nada. Americanos 
Não podem atrapalhar os nossos planos 
De amor, acolhimento e compaixão.

Sigamos então o que temos planejado:
Um mundo mais gentil e civilizado. 
Ninguém é mais forte que uma multidão.


Bom dia 
🌹

Primeiro dia (6 de novembro)

Primeira manhã da segunda internação,
Já me sentindo mais fortalecido,
É muita gente me dando a mão, 
Tô me sentindo muito agradecido.

Já acordei querendo café com pão, 
Essa era a fome que eu tinha perdido,
Pode chamar de fome de leão,
Juro que não vou ficar aborrecido.

Primeira manhã, e eu já fazendo poesia,
Não sei de onde eu peguei essa mania,
Só sei que é bom sinal, dá pra sentir,

Amanhecer mais forte e mais confiante
É o melhor passo pra seguir adiante,
É a melhor forma de não desistir.

1.11.24

Sexta-feira

Manhã de sexta-feira. Alvissareira. 
Véspera de coisa boa, geralmente. 
A gente espera pela sexta a semana inteira,
Sexta-feira chega, e a gente fica contente. 

Às vezes sem motivo nenhum. Às vezes por besteira. 
Sexta-feira feira causa felicidade na gente. 
Deus pode ter criado o sábado pra descansar, mas sexta-feira 
Deus criou porque era preciso criar um dia diferente, 

Pra quem tá cansado, sexta é como um mergulho,
Pena que não dá pra levar sexta num embrulho,
Nem dentro da maleta indo pro plantão, 

Sexta é pra respirar, feito a alegria, 
Sexta é uma carga extra de energia, 
Sexta é matéria do coração.

31.10.24

Cautela e cuidado

Já em casa. Feliz. Mas cheio de cuidados.
Nada de errado pode acontecer. 
Foram quase dez dias. Bem pesados.
A ordem do dia hoje é: reestabelecer. 

Alimentação e medicamentos, bons aliados.
Alertas ligados. Chega de sofrer. 
Bastante líquido. Alertas ligados. 
Cair também é uma forma de aprender. 

Já em casa. Feliz. E tem até poesia.
Não vai ser qualquer uma septicemia
Que vai me dar um susto e me tombar.

Não vai ser qualquer sepsis. Mas poderia,
Então cautela e cuidado como companhia,
São o elixir mais gostoso de tomar.

30.10.24

A poesia, sempre a poesia...

Aprisionado num leito hospitalar
Pelas amarras de uma internação,
Fico pensando estratégias de escapar,
E todas elas me respondem: não.

Inconformado, volto a tentar,
Quem sabe na próxima, coração?
Talvez na próxima, pois vale a pena arriscar,
Não nasci para viver numa prisão. 

E eis que a poesia, esse pássaro indomado,
Vem visitar meu pensamento aprisionado, 
E se oferece como opção,

E desde então, escrevendo poesia, 
Eu me concedo a minha própria carta de alforria,
E saio a passear pela amplidão.

A poesia, escrita libertária,
Me empresta sua liberdade imaginária,
A poesia, minha libertação.

29.10.24

Agradecimento a Equipe da UTI Geral da Unimed Campos

O caso é grave. Precisa ficar internado. 
Sepsis de origem renal. Eu me lembro ter ouvido. 
Cheguei aqui na UTI bastante debilitado,
Se não fossem vocês eu não teria conseguido. 

38.000 leucócitos. Que leucograma abusado.
E febre. E diarreia. E fraqueza. Eu estava quase perdido. 
Mas desde os seus iniciais gestos de cuidado 
Eu fui me sentindo novamente fortalecido.

Foi quando as bactérias foram desistindo, 
Os leucócitos foram, pouco a pouco, diminuindo, 
E eu fui me recuperando, graças a vocês,

A melhor Equipe de Saúde que já conheci na minha vida,
Equipe que encontrei numa hora tão estremecida,
E agora mora no meu coração de vez. 

20.10.24

O livro

O livro

O livro,
Como um roteiro,
Capaz de me fazer prender a respiração,
Cuidar até o fim,
Como trazer paz para a morte,
O livro como um oráculo,
O livro que se apresentou tão verdadeiro
Que acabou me parecendo uma revelação,
Cuja palavra foi me levando devagarinho
Para um lugar onde o medo habitava no meu coração,
O livro,
Como quem desvendava um segredo,
O livro,
Como quem ia me conduzindo pela mão,
E me fazendo perguntas,
E me oferecendo respostas,
E me mostrando muito além da simples explicação,
E bem mais que isso,
Confrontando meus pensamentos,
Desafiando minhas verdades,
Vasculhando minhas memórias,
E chamando por minha razão,
O livro,
Como um achado,
O livro como um chamado,
Como um degrau que eu ia subindo
Assustado, 
Mas definitivamente sem hesitação,
O livro,
Ressignificando meu passado,
E necessariamente o meu futuro,
Como se já estivesse estado sempre em minha mão,
O livro,
Que ao mesmo tempo ia me assustando, 
E me acalmando,
E abrindo os meus olhos,
E me fazendo pensar,
O livro bom que ia me desafiando,
Ao mesmo tempo que parecia me abraçar,
O livro, 
Como um presente precioso,
Como um perfume de essência rara de encontrar, 
O livro 
Que eu tenho agora junto comigo, 
Meu derradeiro guia de cuidar.

II

Cuidar até o fim. 
Não a palavra. Muito mais a ação. 
Como aquele que assume um compromisso:
Cuidar até o fim como única opção. 

Do nascimento à morte. 
E depois da morte, como se a morte não ocupasse a última posição, 
Cuidar até o fim. Cuidar a vida inteira. 
Fazendo desse cuidado uma missão. 

Cuidar da vida desde o primeiro dia,
A forma mais delicada de poesia, 
O jeito mais suave de dizer amar,

Cuidar da vida, como quem confia 
Na grande impermanência das coisas que nos guia,
Às vezes só é necessário esse cuidar...