23.7.25

A assinatura do poema

Para Edna David

Quando um poema não é assinado 
E segue, desse jeito, seu caminho, 
Como uma obra sem certificado, 
Como uma escultura faltando um pedacinho, 

Quando um poema assim mesmo é lançado, 
Desassinado, assim desse jeitinho,  
Não se preocupe: não há nada de errado,
Não se preocupe: nada em desalinho,

A assinatura de uma poesia 
É o jeito especial com que ela cria 
A ideia que ela quer comunicar, 

Por isso não existe poesia sem assinatura, 
Porque poesia é palavra com escritura,
Impressão digital que ninguém consegue copiar.

19.7.25

Mãe

O coração cheio de saudade.
A casa vazia. Hora de acordar. 
A vida chamando para a realidade 
Mostrando que tudo vai continuar,

Resta a poesia, que tem capacidade 
De fazer o meu coração se acalmar. 
A poesia, como necessidade, 
Convidando meu coração pra conversar,

E o coração, cheio de saudade e poesia,
Vai caminhando pela casa vazia, 
Enquanto sua ausência vai se transformando 

Nessa homenagem para sua presença,
Silenciosa e ao mesmo tempo imensa,
Nos sustentando, nos inspirando...

2.7.25

As canções que eu escrevi pra ela

Ela pedia,
Eu criava,
As canções para as peças de teatro que ela escrevia,
E as notas do meu violão adivinhava,
Ela pedia,
E eu que não faço músicas, não negava,
Porque ela já pedia sabendo que eu iria,
E eu fazia, e no final ela gostava,
Tistu, Pinoquio, era uma alegria 
A cada novo personagem que ela encontrava,
Havia coro de crianças, coreografia, 
E o respeitável público adorava, 
Eu nunca fiz músicas por mera cantoria,
E até as que eu fazia pra ela eu nem guardava,
Tudo que eu fiz, eu fiz porque ela pedia,
Cada acorde do violão, cada palavra, 
Tudo foi pra ela com alegria, 
Ela escrevia as peças,  eu musicava,
A melhor parceria,
A única em que eu acreditava,
As vezes uma pessoa ou outra me pedia
Uma canção. Confesso: eu enrolava.
Mas as canções que ela me mostrava que queria,
Essas eu dava.
Hoje, o violão, em silêncio, já não cria, 
Ela já não me pede mais as canções que eu entregava,
Mas o coração traz guardada uma alegria: 
A de ter feito todas as canções que conhecia,
E de ter deixado ela feliz assim, com quase nada.