31.12.22

Último dia

O último dia do ano. O último dia.
Já não dá tempo de fazer mais nada.
Mas ainda há tempo de uma última poesia, 
Discreta, comedida, simplificada,

Porque a poesia nunca se esvazia,
Acaba o ano e ela permanece intocada,
Como se guardasse em si uma magia
Que o ano não guarda, mas que a poesia guarda.

Então poesia para esse dia derradeiro,
Mas poesia pra durar o ano inteiro, 
Porque poesia para nunca se acabar,

Poesia, como um amor verdadeiro,
Poesia livre, como um veleiro, 
Que brinca de escrever versos no mar...

30.12.22

Pelé

O menino, uma bola e um gramado,
O menino, mas que parecia um gigante,
Que deixou o mundo inteiro impressionado
Com seu jeito de jogar desconcertante,

Falava com a bola o menino, esse encantado,
E a bola respondia, confiante,
E o menino matava a bola no peito, e, com gingado,
Mandava a bola pra rede, radiante,

Uma, dez, cem, mais de mil vezes assim,
O menino e a bola, talvez pra mim
A mais linda parceria de toda a história,

O menino camisa dez e a sua bola,
Um amor que ganhou o mundo e fez escola,
E viverá para sempre na memória...

26.12.22

A última semana

Essa semana podia passar em um dia,
E esse dia podia logo acabar,
Daí esse governo atual se escafedia,
E dava lugar pro outro que vai entrar, 

Porque foram quatro anos de grosseria
Que a gente precisou aguentar,
Mas nada é para sempre. Nem a tirana. 
E tudo tem o seu tempo de passar. 

Então passou. Mas o tempo não termina. 
Um dia. Depois outro dia. A vida ensina. 
Então é preciso saber onde pisar,

Porque a sombra que aparentemente foi embora,
Fica na espreita, aguardando a melhor hora
De um dia ser sua hora de voltar...

Canção de quase ano novo

O fim de um ano que nem deveria ter existido, 
Mas que se existiu, trouxe lições de se tirar,
Que serão importantes termos aprendido,
Pra não repetirmos o que pode nos machucar,

Um ano que acaba, outro que chega bem vestido,
Mas cheio de marcas que ele não pode apagar,
E apesar dessas marcas, não chega desmilinguido,
Chega arretado, prontinho para enfrentar, 

E pra cansar, e também pra dar canseira, 
E pra se repartir em 52 segundas feiras,
Todo adubado em sonhos por acontecer,

Um ano novo revigorado,
Que vai aproveitar as lições do ano passado,
Um ano novo que vai valer a pena viver...

13.12.22

Maus perdedores

Maus perdedores em desalinho, 
Levando caos e desordem por onde vão,
Deixando um rastro de ódio pelo caminho,
E um cheiro azedo de devastação, 

Maus perdedores, de coração mesquinho,
Alguns, eu arriscaria, até sem coração,
Sem lenço, sem documento, sem vizinho,
Sem nada mesmo que defina um cidadão,

Maus perdedores, gente ruim,
Gente de um tempo que já chegou ao fim,
E que fazem questão de não aceitar,

Mas hão de aceitar, certamente, ainda, um dia,
Porque ninguém sobrevive à própria asfixia,
Nem os maus perdedores, pode acreditar...