12.3.22

Meu violão

Às vezes meu violão, sem perceber, 
É como uma espécie de anestesia, 
Capaz de fazer minha dor parar de doer
Sob o efeito de música e de poesia, 

E basta um dedilhado pra fazer
Minha solidão descobrir-se mais vazia, 
Suas cordas fazem meu coração bater,
Minha vida é mais feliz com melodia,

Às vezes meu violão, sem eu notar,
Não me deixa desistir nem reclamar, 
E nem me deixa eu me sentir sozinho, 

Às vezes meu violão, meu companheiro, 
Me faz viajar cantando o mundo inteiro 
Num acorde dissonante bem baixinho...

Maria Clara

Maria Clara já vai crescendo, 
Adolescendo pra vida,
O tempo passa e a gente não percebendo,
Mas Clara não passa a vida distraída,

Vai ensinando enquanto vai aprendendo 
Lições de uma vida comprometida:
Há um poema dentro dela florescendo,
De rima rica, de música embutida,

Dezessete anos de idade, quem diria,
Um bebezinho que se transformou em poesia, 
E uma poesia que quer se multiplicar

Em outros mil novos poemas delicados,
Que serão pelos seus gestos recitados, 
E que o seu coração há de espalhar...

A humanidade

E como se não bastasse o sofrimento diário
Que a humanidade não faz questão de disfarçar, 
A guerra e seu instinto sanguinário 
Surge de vez em quando pra lembrar 

Como é cruel esse mundo, e ordinário, 
Pouco a pouco nos especializamos em matar, 
Reviramos esse planeta ao contrario,
Correndo o risco de capotar...

Porque, como se não bastasse o sofrimento humano,
Fomos nos especializando em sofrimento desumano, 
Esse que somente um abraço é incapaz de confortar,

Como foi se tornando insensível a humanidade, 
Vítima da própria teia de rivalidades
Que ela já não consegue superar...