16.8.12

Logo eu...


To tão feliz... E nem sei por que...
Não to apaixonado, não ganhei na loteria,
To rindo a toa, mesmo sem entender,
Uma forma qualquer de idiopatia...

To tão feliz, mesmo sem compreender
A causa dessa felicidade que me asfixia...
Não fui sorteado, não sai na TV,
E ainda falta tanto pra minha aposentadoria...

Mas to feliz... E se fico preocupado,
É que a felicidade às vezes deixa a gente abobado,
E incomoda demais os mal humorados...

Mas to feliz, e pronto. Muito feliz. E ponto.
E é tanta felicidade que nem te conto...
E logo eu, tão cheio de pecados...

A poesia

A poesia de madrugada,
A poesia quando o sono vai embora,
A poesia bem comportada,
A poesia, trem que não demora...

A poesia, às vezes van lotada,
As vezes moça que jura que me adora,
As vezes melhora, as vezes tão sem nada
Que nem adianta insistir senão piora...

A poesia madrugadeira...
Madrugadas assim dessa maneira
Nem se parecem com madrugadas...

A poesia, boa companhia,
As vezes a unica, a poesia,
Que gosta de passear comigo de mãos dadas...

A poesia

A poesia, visita distraída,
Não marca dia nem hora pra chegar,
Às vezes, mal chega e já está de saída,
Outras vezes nem pede licença pra entrar...

Às vezes, como uma mulher desinibida,
Fala de coisas que ninguém pediu pra ela falar,
Outras vezes, silenciosa, retraída,
Demora a dizer, não diz sem pensar...

A poesia, cofre sem segredo,
A poesia, e talvez seu único medo:
O de um dia não ter mais por onde se expressar...

Visita distraída, a poesia,
Inesperada, sem som nem garantia,
Que às vezes chega e me chama pra brincar... 

5.8.12

A minha mãe aos oitenta

Quando todo mundo se cansa, ela é quem segue,
E cresce a cada desafio que ela enfrenta,
Quando todo mundo desiste, ela consegue,
Quando todo mundo desaba, ela sustenta,
 
E quando todo mundo exige que ela negue,
Ela, ao contrario de toda gente, aguenta,
A sua fé faz com que ela não se entregue,
E minha mãe é assim, linda, aos oitenta:

Menina que sonha, que vive o que prega,
Menina que não se cansa e não sossega,
Que sabe como recarregar seu coração,

Menina aos oitenta, e cada vez mais menina,
Que aos oitenta auxilia, orienta, exemplifica e ensina,
Que aos oitenta faz da vida uma lição...
 

3.8.12

A mãe do mundo


A mãe coreana, a mãe tailandesa,
A mãe brasileira, a mãe americana,
A mãe nicaraguense, a mãe chinesa,
A mãe norueguesa, a mãe cubana,

A mãe espanhola, a mãe portuguesa,
A mãe argentina, a mãe peruana,
A mãe indiana, a mãe inglesa,
A mãe sudanesa, a mãe italiana,

A mãe que se entrega pacientemente,
A mãe que se dá silenciosamente,
A mãe que quase se esquece, se doando...

Que Deus a proteja, incondicionalmente,
Que Deus cuide dela pacientemente,
A mãe do mundo, serena, amamentando...

Desistência

Desisto de tentar compreender a espécie humana.
As vezes que tento vejo que tento em vão.
Eu devo possuir a alma insana,
A razão insana, insano o coração...

Desisto, prefiro um poema do Quintana,
Um show do Chico, um violão do João,
É muita estranha a minha espécie. E desumana.
Desisto de tentar explicação.

Espécie que se mata entre a fome africana
E a hipercolesterolemia americana
E não se define entre o marasmo e a indigestão...

Ah, pobre espécie infeliz que não me engana...
Desisto de compreende-la, doidivana,
Ah, pobre espécie em decomposição...