29.4.11

Eu toco sambinha
Para Vitor

Eu não toco violão. Eu toco sambinha.
Eu bem que adoraria saber tocar violão,
Mas eu só sei uma mesma batidinha
Como se eu fosse discipulo do João...

Tocar violão é uma vontade minha,
Mas eu só toco sambinha. Mais nada não.
É como se fosse uma mesma ladainha.
É como se fosse uma mesma oração:

Chega de Saudade. Injuriado. Eu vim da Bahia.
De volta ao samba. Vai passar. A Rita. Ligia.
Exaltação à Mangueira. Cartola. Adoniran.

O mesmo ritimo sempre. Como um missionário.
Como um peixinho dentro de um aquário.
Como se meu coração fosse um tantan...

Por isso não me peça por Lobão,
Adriana, Pato Fu, Legião, Peninha,
Adoro, mas não sei tocar Legião,
Ou toco, mas não sem perder a linha...

Por isso não me pergunte por Barão,
Renato Russo, Djavan ou A Galinha Pintadinha...
Sou samba de uma nota só, sou Samba do Avião,
Samba do Nelson, samba de Pixinguinha.

Assumo que eu não toco violão. Bem longe disso,
Eu toco sambinha: Sem Compromisso,
Eu toco sambinha: Mulata assanhada...

Toco sambinha como faz um batuqueiro,
Sou natural daqui do Rio de Janeiro,
Eu toco sambinha, mais nada...
Poema aéreo (entre Rios)
Escrito na manhã de 28/04, durante o voo entre Porto Alegre e Rio, parte da minha viagem de volta de Pelotas para Campos.

Entre o céu de Porto Alegre e o do Rio de Janeiro,
Sobre a Terra imensa que ficou distante,
Rascunho esse verso passarinheiro
Escrito antes da escala em Navegantes...

Parece que daqui da pra ver o mundo inteiro.
Depois de hoje as nuvens nunca mais serão como antes.
Como é bom escrever um verso voadeiro
Como se as nuvens fossem Espumas Flutuantes...

Entre o céu de Porto Alegre e o céu do Rio,
Um verso que eu escrevo... E enquanto eu crio,
O Rio de Janeiro se aproxima...

Fica distante o céu de Porto Alegre
À medida em que o verso se descreve
E eu fico espiando daqui de cima...

1.4.11

Madrugada

Em plena madrugada, atendimento...
Parece que a doença nunca para...
A febre é plena, madrugada adentro,
Parece que a saude é coisa rara...

Em plena madrugada o batimento
Das aletas nasais, a dor, a escara,
Desesperança, descontentamento,
Esse padecimento que não sara...

Em plena dor respira a madrugada
Como se a morte espreitasse na calada
Da noite a sua vitima distraida...

Madrugada plena, dor escancarada,
Pedaço de vida sem sono, amedrontada,
Pedaço de asa quebrada da vida...