31.10.08

Ao poeta Antonio Roberto

Versos traçados em eletrocardiografia,

Sonetos feitos de venopunção,

Rimas fingindo-se antibioticoterapia,

Quadrinhas sustentando a intubação...


 

Redondilhas contornando a arritimia,

Sextetos comandando a oxigenação...

Rimas ricas para a hipocalcemia,

Metáforas estimulando o coração...


 

O poeta, entre potássios e glicoses,

Vai declamando seu verso a várias vozes

E não esmorece, absolutamente...


 

Traduz em poesia tudo em torno

E faz da própria vida um grande forno

Que prepara poesia eternamente...

22.10.08

A busca
(Poeminha após a leitura das explanações fonoaudiológicas sobre o reflexo da busca)

Eu não a imaginava assim, tão importante,
E nem sabia, sinceramente,
Que ela era um marco tão significante,
O começo de tudo, praticamente...

Dominado pelo estigma do eterno principiante,
Eu sempre vi nela um reflexo somente,
Primário como o de Moro, e desimportante,
E temporário, e menor, e inaparente...

Mas a vida, de forma delicada e brusca,
Tratou de me ensinar a compreender a busca
De uma maneira jamais por mim antes compreendida...

A busca além de um dos reflexos primitivos...
A busca além da busca que há nos livros...
A busca como preservação da própria vida...