30.4.08

Uma Declaração Universal de Direitos para o Bebê Prematuro

Artigo I

        Todos os prematuros nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão  e consciência. Possuem vida anterior ao nascimento, bem como memória, aprendizado, emoção e capacidade de resposta e interação com o mundo em sua volta.    

Artigo II

        Todo prematuro tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.    

Artigo III

        Nenhum prematuro será arbitrariamente exilado de seu contexto familiar de modo brusco ou por tempo prolongado. A preservação deste vínculo, ainda quando silenciosa e discreta, é parte fundamental de sua vida.   

Artigo IV

        Todo prematuro tem direito ao tratamento estabelecido pela ciência, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Sendo assim, todo prematuro tem o direito de ser cuidado por uma equipe multidisciplinar capacitada a compreendê-lo, interagir com ele e a tomar decisões harmônicas em seu beneficio e em prol de seu desenvolvimento.   

 Artigo V

Todo prematuro tem direito à liberdade de opinião e expressão, portanto deverá ter seus sinais de aproximação e afastamento identificados, compreendidos, valorizados e respeitados pela equipe de cuidadores. Nenhum procedimento será considerado ético quando não levar em conta para sua execução as necessidades individuais de contato ou recolhimento do bebê prematuro.

Artigo VI

        Nenhum prematuro será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Sua dor deverá ser sempre considerada, prevenida e tratada através dos processos disponibilizados pela ciência atual. Nenhum novo procedimento doloroso poderá ser iniciado até que o bebê se reorganize e se restabeleça da intervenção anterior. Negar-lhe esse direito é crime de tortura contra a vida humana.

Artigo VII

        Todo prematuro tem direito ao repouso, devendo por isso ter respeitados seus períodos de sono superficial e profundo que doravante serão tomados como essenciais para seu desenvolvimento psíquico adequado e sua regulação biológica. Interromper de forma aleatória e irresponsável sem motivo justificado o sono de um prematuro é indicativo de maus tratos.

Artigo VIII

        Todo prematuro tem o direito inalienável ao silencio que o permita sentir-se o mais próximo possível do ambiente sonoro intra-uterino, em respeito a seus limiares e à sua sensibilidade. Qualquer fonte sonora que desrespeite esse direito será considerada criminosa, hedionda e repugnante.

Artigo IX

        Nenhum prematuro deverá, sob qualquer justificativa, ser submetido a procedimento estressante aplicado de forma displicente e injustificada pela Equipe de Saúde, sob pena da mesma ser considerada negligente, desumana e irresponsável.

Artigo X

        Todo prematuro tem direito a perceber a alternância entre a claridade e a penumbra, que passarão a representar para ele a noite e o dia. Nenhuma luz intensa permanecerá o tempo inteiro acesa e nenhuma sombra será impedida de existir sob a alegação de monitorização continua sem que os responsáveis por estes comportamentos deixem de ser considerados displicentes, agressores e de atitude dolosa.

Artigo XI

Todo prematuro tem o direito, uma vez atingidas as condições básicas de equilíbrio e vitalidade, ao amor materno, ao calor materno e ao leite materno que lhe são oferecidos através do Método Mãe Canguru. Caberá à Equipe de Saúde prover as condições estruturais mínimas necessárias a esse vinculo essencial e transformador do ambiente prematuro. Nenhum profissional ou cargo de comando em nenhuma esfera tem a prerrogativa de impedir ou negar a possibilidade desse vinculo que é símbolo da ciência tecnocrata redimida.

Artigo XII

Todo prematuro tem o direito de ser alimentado com o leite de sua própria mãe ou, na falta desta, com o de uma outra mulher tão logo suas condições clinicas assim o permitirem. Deverá ter sua sucção corretamente trabalhada desde o inicio da vida e caberá à equipe de saúde garantir-lhe esse direito, afastando de seu entorno bicos de chupetas, chucas ou de qualquer outro elemento que venha interferir negativamente em sua sucção saudável, bem como assegurando seu acompanhamento por profissionais capacitados a facilitarem esse processo. Nenhum custo financeiro será considerado demasiadamente grande quando aplicado com esse fim. Nenhuma fórmula láctea será displicentemente prescrita e nenhum zelo será descuidadamente aplicado sem que isso signifique desatenção e desamparo. O leite materno, doravante, será considerado e tratado como parte fundamental da sua vida.

25.4.08

A pizzaria


 

Construíram uma imensa pizzaria

No coração da planície goitacá.

É casa cheia : o trenzinho da alegria

Não deixa a pizzaria esvaziar...


 

Sabor de tombo, de pilantraria,

Borda de recheio anti-liminar,

Só dá primeiro escalão: procuradoria,

Assessoria, vereadores, todos lá...


 

Tem pizza pro arquiteto e pra mocinha,

Tem pizza, dizem, de bananinha,

Quem come tá sempre querendo voltar...


 

Fizeram da minha cidade sem justiça

Uma imensa e imunda e incompreensível pizza

E a conta o povo é que vai pagar...

23.4.08

A hora da poesia
(para Margot)

A hora da poesia não tem hora,
É ao meio dia, é em plena madrugada,
É daqui a pouco, é amanhã, é agora,
É logo depois da próxima alvorada,

E por não ter hora, às vezes demora
Dias e dias, outras vezes nada...
Às vezes é quando todos vão embora,
Outras vezes é bem no meio da balada...

A hora da poesia é um parto e tanto,
É natural e ao som de um acalanto
Que embala a mãe amamentando a cria...

E não tem hora, definitivamente,
A poesia que alimenta a gente...
É toda hora a hora da poesia...

17.4.08

A falta

Ao meu pai Clóvis Tavares em lembrança de seus 24 anos de partida. 13 de abril 1984-13 de abril 2008


 


 

A boa palavra nunca mais escrita,

A frase boa nunca mais falada,

A boa conversa não mais repetida,

E, como a conversa, o olhar, a risada...

 
 

A personalidade do homem espírita

E uma vida inteira dedicada,

E a voz intensa, doce e às vezes aflita

Para a poesia belissimamente recitada...

 
 

O zelo, a perseverança, a inteligência,

A História, a poesia, o Cristianismo, a ciência

E uma presença desconcertante...

 
 

Ah, quanta falta, pai, do teu carinho...

E esse silencio que é escrever sozinho...

E essa saudade quase dissecante...

Capitulada

A minha cidade resiste à solidão,

Ao abandono, ao desespero, à mágoa,

Ao desencantamento, à ingratidão...

A minha cidade só não resiste à água...


 

Resiste à miséria, resiste à corrupção,

Ao poder publico submerso no atoleiro,

Ao grampo no telefone do ladrão...

A minha cidade só não resiste a um aguaceiro...


 

Resiste aos homens da Policia Federal,

Resiste ao camarote e ao carnaval

E ao rio das enchentes de águas turvas...


 

Resiste às pontes e aos golpes dos corruptos

E aos podres poderes dos homens estúpidos...

A minha cidade só não resiste às chuvas...


 

10.4.08

O sonho

Se não tiver nessa padaria
Procure naquela outra logo adiante,
Mas se a prateleira também estiver vazia
Não troque ainda o seu sonho por um refrigerante.

Segue, e duas quadras depois da livraria
Uma confeitaria muito elegante
Também vende sonhos... Mas que ironia:
Acabou de ser comido o sonho gigante...

Mas não desista ainda. Vai em frente.
Sonho que é sonho é sempre persintente,
Por isso nunca deixe de sonhar...

Persiga seu sonho na confeitaria
Ou no imporoviso de alguma poesia...
Só toma cuidado na hora de acordar...