3.5.07

A mãe ...

Ao saber da noticia da morte de Herodes, a mãe do menino por ele assassinado se perturba e ora...




A mãe do menino morto
Quando soube do ocorrido,
Quedou-se tremula e pálida
Como um pássaro ferido...

E ainda pálida e tremula
Mal conseguiu escutar
A noticia do Rei morto
Que vieram lhe contar.

Gelou a mão nessa hora,
E, sem conseguir falar,
Desatinada da vida
Desconsolou-se a chorar...

No instante em que lhe contaram
Do Rei cruel que morrera
Seus olhos se encheram d’água
Pelo filho que perdera

Naquela noite sem nome,
Aqueles gritos de não,
A dor, o sangue, a tragédia
Sem nenhuma explicação...

Reviu o filho no colo
Que a morte veio buscar
Seu corpo desfalecido,
Sua vida a lhe escapar,

O choro do desespero,
A crueza do soldado,
Os restos mortais do filho
Sem vida, despedaçado...



A mãe do menino, atônita,
Chorou, dor desconsolada...
Ali perdera sua vida
Na que se lhe fora roubada,

Ali secara-lhe o animo,
E a sua esperança inteira,
Sua dor, sua fome, seu sono,
Seu nome quase esquecera,

A mãe do menino, em pranto,
Naquela hora, atordoada,
Reviu a imagem do filho
Reviu o corte da espada,

Perdeu a voz, já sem forças,
Sentou-se ao lado da esteira
No mesmo triste cantinho
Onde seu filho morrera,

Sentou sozinha e em silencio,
Sentiu um breve arrepio,
Abraçou o próprio colo
Sem percebê-lo vazio,

Lembrou ali do menino,
Das risadas que ele dava,
Das farras que ele fazia,
Das noites que ele chorava,

Lembrou das horas de febre,
Das dores de vez em quando,
Das noites de sono leve,
Dos dias de amamentando...

A mãe do menino morto,
Sem que pudesse entender,
Trazia o filho em seus braços
E viu seu filho morrer...

Daquela hora em diante
Também aos poucos morreu,
Sem filho, ficou sozinha,
Sem luz, tudo escureceu,



Seu sorriso foi-se embora,
Sua vida, abandonada,
Perdeu sua identidade,
Sua forca, esvaziada...

Naquela hora tão triste
Viu morrer sua alegria,
Quis lutar, mas não lutava,
Gritar, mas não conseguia,

Quis brigar... Mas de que jeito?
Fugir... Mas para onde iria?
Quis fazer voltar o tempo...
Quis morrer... Mas não sabia...

Foram tempos de silencio,
De luto, de depressão,
Desencanto, sofrimento,
Desalento, solidão,

Ate que aquela noticia
Trazida não sei por quem,
Tocou a mãe tão sofrida
Do menino de Belém...

Morrera o Rei desumano...
Seu nome, ela não dizia...
Sua lei, não questionava...
Sua ordem, não discutia...

Sobre ele não falava,
Comentários não ouvia,
Pois morto ele já estava
E mais morto aquele dia...

Chorando, a mãe do menino
Ao saber do acontecido,
Orou a Deus, recordando
Seu filho morto querido,

Rogou a Deus, comovida
Na oração que ela fazia,
Improvisando uma prece
Que, mais ou menos, dizia:

“Senhor, que de hoje em diante
E por toda a eternidade
A ira seja asfixiada
Pelas mãos da piedade.



Que o ódio seja banido
Desde esse dia em diante
Transformando horror e medo
Em amor ao semelhante,

A crueldade impostora
Que seja desmascarada
Tornando-se auxilio e apoio
Para cada alma cansada,

Que a lamina fria da espada
Deixe assim de existir
E cada mãe assustada
Possa voltar a sorrir,

Que cada filho levado
Pelos soldados sem Deus
Seja tido como um Anjo
Um mensageiro dos Céus,

E o Rei, já depois de morto
Vendo essa transformação
Caia em si, desesperado,
E aprenda a grande lição:

Que suplique por piedade,
Mergulhado em sofrimento,
Sofrendo cada maldade,
Vivendo cada lamento,

Cada dor, cada crueldade,
Cada morte encomendada,
Que assim viva intensamente
Ate não restar mais nada

E quando não mais houver
Nenhuma dor não sentida,
Nenhuma morte ignorada,
Nenhuma lagrima esquecida,

Então que a Misericórdia
Divina aja em seu favor
E aceite o arrependimento
Revelado pela dor,



E livre de sua miséria,
E longe do seu poder.
Possa o Rei tornar-se homem
E começar a viver...”

Foi quando a mãe do menino
Terminando, silenciou.
Seus olhos possuíam brilho
Quando a oração acabou.

Parecia enternecida,
Uma paz a dominava.
Já não trazia na face
O medo. Já não chorava.

E conta-se que depois disso,
Essa mãe, recuperada,
Fez-se mãe fortalecida,
Fez-se mãe modificada,

Daquele dia em diante
Passou a prestar auxilio
Às mães mais necessitadas
Em memória do seu filho,

Ofereceu sua ajuda
Às mães com filhos menores,
Tornando seus dias tristes
Dias um pouco melhores...

Recuperou seu sorriso,
Retomou a sua vida,
Arrumou a sua casa,
Retornou à sua lida,

Vivendo solidariedade,
Descobrindo comunhão,
Distribuindo amizade,
Disseminando perdão,

Reconstruindo sua paz
E a paz da sua vizinhança,
Deixando, pelo caminho,
Sinais de vida e esperança...

Depois dali, nunca mais
Tanta dor desabalada,
Tanta dor incompreendida,
Tanta dor inconformada,

Depois dali, e para sempre,
Se dor, desespero não,
Se desanimo, coragem,
Sempre luz, se escuridão,

Pois nenhuma tirania,
Nenhuma ordem ou poder,
Nenhum exercito insano
Tem força capaz de vencer

Nenhuma mãe
Companheira obstinada,
E o amor dessa mãe
Para com os seus...
“Mãe não tem limite
É tempo sem hora”,
Imitação
Fiel
E essencial
De Deus...