25.11.07

O dicionário

Desculpe,
Mas não uso dicionário,
Meu dicionário é o meu coração,
Não há palavra que ele desconheça,
Não há nenhuma
Que lhe cause confusão,
E não importa a língua:
Inglês,
Nagô,
Castelhano,
Francês,
Turco,
 Alemão,
O coração conhece,
Entende,
Fala,
Responde,
Escreve
E diz
Com perfeição...
Por isso é que eu não uso Dicionário,
O dicionário
Não cabe
Na minha mão,
Prossegue além da letra,
Da palavra,
Do significado
E da razão,
E não tem regras,
Nem páginas,
Nem índice,
Nem letras,
Nem pecado,
Nem perdão...
Eu não preciso de dicionários,
Todos turvos...
Meu dicionário
É o meu coração...

11.10.07

Eternesencias...
Para minha irmãzinha Rose in http://www.eternessencias.blogspot.com/

Por ter achado aqui morada boa,
Terreno fertil para se plantar,
Casa de campo deliciosa,
A poesia, que não se perdoa,
Vai se vestir de letra preguiçosa
E entrar aqui para descansar...

Por ter achado aqui alivio e alento,
Reparo, amparo, refazimento,
E principalmente boa companhia,

A poesia, mal acostumada,
Vai ficar viciada...
Ai ai ai ai coitada da poesia...

29.9.07

Esse seu olhar...

É como se fosse um verso de Drummond,
Uma letra pra Chico Buarque musicar,
É como se fosse uma musica do Tom,
Esse seu olhar...

É como se fosse um passatempo bom
Que não deixasse o tempo passar,
É como Caetano criando um som,
Esse seu olhar...

É como se fosse coisa de cinema,
Raio de lua, risco de poema,
Banho de rio, beira de mar...

É como um doce que não termina,
Bela menina,
Esse seu olhar...

28.9.07

O que vale

A coisa que valoriza uma pessoa
Não é a idade e o sexo que ela tem,
Não é se o beijo é bom, se a boca é boa,
Não é o namorado dela é quem...

Não é se é nova demais ou se é coroa,
Se tem seu carro, se ganha bem,
Se é rico, e porque é rico, se ri à toa,
Se tá sempre faturando algum de alguém,

A coisa que valoriza o ser humano
Longe de ser o carro do ano,
É a consciencia tranquila, é a paz serena,

É errar e redimir-se diariamente,
Seguindo devagar e lentamente
Abandonando o que não vale à pena...
Orkutiana IV

Eu adiciono gente bonita
E gente feia, e gente nem tanto,
Gente tristinha, gente esquisita,
Gente que acredita em Pai de Santo,

Eu adiciono. Isso não me irrita.
Gente é bom demais. Eu não me espanto,
É como receber uma visita,
E se a conversa tá chatinha eu canto...

Eu adiciono quase toda gente
Triste, pra lá de baixo astral, contente,
Gente que vive com sono...

Eu não me importo com mesquinharias...
Não coleciono quinquilharias...
Não penso duas vezes... Adiciono...
Orkutiana III

Eu sempre adiciono os curiosos,
Os irremediaveis fofoqueiros,
Os insensatos, os maliciosos,
E os da própria inveja prisioneiros...

Adiciono profiles mentirosos,
Adiciono profiles interesseiros,
Adiciono profiles perigosos,
Adiciono profiles passageiros,

Eu sempre adiciono. E não me importo
Se é verdadeiro ou não o texto, a foto,
Se cada palavra contem sinceridade...

Eu simplesmente vou adicionando
Como que segue colecionando
Sementes pequenininhas de amizade...

Orkutiana II


 

Eu sempre adiciono caucasianos,

Mulatos, afros, índios, orientais,

Paranaenses, pernambucanos,

Nascidos em Quito, criados em La Paz,


 

Fãs de Cauby Peixoto ou Los Hermanos,

De Chico Buarque ou Science, tanto faz,

Gente com mais de cinqüenta anos,

Gente novinha demais...


 

Canhotos, destros, desajeitados,

Tímidos, loucos, bem apessoados,

Ricos, famosos e desconhecidos...


 

Os impacientes e os apressados,

Os que chegarem de todos os lados

Eu sempre os adiciono como amigos...


 


 


 


 


 


 

 

14.9.07

O Aleitamento materno


 

Ao mesmo tempo alimento e poesia,

Fermento sólido para a maternagem,

Para a articulação temporo-mandibular, um guia,

Para a família, motivo de tietagem,


 

Tese de doutorado para a Pediatria,,

Prova de fogo para a equipe de Enfermagem,

Para os alunos , uma minimonografia,

Para a mãe o pai e o filho, uma viagem...


 

Ao mesmo tempo poético e cientifico,

Instintivo, cultural, técnico, mítico,

É um misto de vontade com virtude...


 

Fonte da vida por ele preservada,

Força titânica em veste delicada,

Mapa da fonte da juventude...

O amor sem fim

Para Luisa


 

Por quanto tempo o amor que não termina?

A entrega total mais arrebatadora?

E o coração, por quanta adrenalina

Jura a jura de amor mais duradoura?


 

E a paixão mais pura e cristalina,

A mais incrivelmente arrasadora,

Em quanto tempo vira purpurina,

Resto de coisa própria pra vassoura?


 

E o que era absolutamente inseparável,

Inconfundivelmente inquebrantável

Em quanto tempo torna-se assim:


 

Pedaço, resto, lixo, pó, espuma,

Pedaço de nada, coisa nenhuma?

Quanto tempo dura o amor sem fim?


 


 


 


 


 


 


 


 

5.9.07

Idade nova...

Idade nova chegando...
Menos tempo, de hoje em diante, para errar...
Já faz bastante tempo, confesso, venho errando,
E já não há mais tanto tempo pra gastar...

Idade nova se completando...
E já sem tempo prá desperdiçar...
Desde que aqui cheguei fui me adaptando
Mas já está chegando a hora de voltar...

Idade nova, e eu fico imaginando
Que é como se a gente fosse se cansando
De querer tanto e de nunca se bastar...

Idade nova... Tempo de ir deixando
As vaidades de lado e ir caminhando
Até a idade do tempo se esgotar...

26.8.07

Os que atentaram


 

Quantos, exatamente, os que morreram?

Quantos aqueles os que atentaram?

Quantos mandaram? Quantos obedeceram?

Que coisas quantos deles combinaram?


 

Porque seus nomes jamais apareceram?

Com medo de que fardo se ocultaram?

Por que atrás de Herodes se esconderam

Ou livres de que penas se julgaram?


 

Que fatos não sabemos, mas aconteceram?

Quantos deles se arrependeram

Ou quantos outros jamais confessaram?


 

Desejavam vencer, mas não venceram...

Não poderiam perder... Mas se perderam...

Tiveram a honra de crer, mas fracassaram...

Assim que os anjos se foram...


 

E ouvindo isso, rapidamente seguiram

Para Belém, onde o procuraram...

Perguntaram a uns sobre o que viram,

E sobre o que ouviram, a outros perguntaram,

Até que num estábulo o descobriram,

Envolto em panos, numa manjedoura o encontraram...

Fizeram silencio,

Se aproximaram,

Olharam o menino

E se entreolharam...

E, assim, silenciosos,

Reconheceram

O menino de que os Anjos

Lhes falaram...

Quem sabe lhe trouxeram

Lã e leite,

Quem sabe queijo fresco

Lhe ofertaram...

Na sua pobreza,

Os pastores perceberam

O que o menino e seus pais

Passaram...

Assim que souberam

Vieram,

Maravilhados,

Sem se distraírem,

O adoraram,

Alguns fizeram preces

E sorriram,

Outros sorriram

Ao mesmo tempo

Que choraram...

Um se encantaram muito

Com o que viram,

Com o que ouviram,

Com o que lhes fora

Revelado...

Outros se extasiaram,

Agradecidos,

Com todas as coisas

Que presenciaram...

Algum tempo depois

Alguns saíram,

Outros, emocionados,

Continuaram...

Agradeceram a Deus

Que os fez lembrados,

Permanecendo um tempo ainda

Ajoelhados...

Até que todos

Se retiraram,

Absolutamente

Magnificados...

Sorriam

Enquanto iam,

E conversavam,

Pareciam nem sentir

O frio gelado...

Conta-se que disso

Nunca se esqueceram...

Mil vezes repetiram,

Outras mil contaram,

Dizendo dos Anjos

Que em Legião desceram,

Falando das musicas

Que os Anjos cantaram,

Contando da Boa Nova

Que os trouxeram

E do menino

Que visitaram,

Do Salvador

Que pessoalmente

Conheceram

Por terem sido

Pelos Anjos

Convidados...

Dizem que alguns

Nunca mais beberam...

Dizem que alguns

Nunca mais pecaram,

Dizem que alguns

Que viram e creram

De tal maneira

Se modificaram

Que seus amigos

Nunca entenderam

Porque mudaram...

Os pastores que os Anjos

Escolheram...

Os Pastores,

Os primeiros

Que o encontraram...

13.7.07

Somos mamiferos

Somos mamiferos
Do mesmo modo que o são
O cão e o gato,
A ovelha, o coelho, o lobo,
O lince, a vaca,
O canguru, a paca,
O leão,
O chimpanzé e o rato...
Mamiferos,
Dependentes dos ductos lactíferos
Do mesmo modo que o são os dromedários,
Nossos irmãos de hábitos mamários,
Como também o camelo,
O leão-marinho,
A anta,
O mico-leão-dourado,
A onça parda,
A onça pintada,
O quati,
O tamanduá
E o leopardo...
Que coisa boa:
Mamiferos como a leitoa
E os bacurinhos,
E quase, como eles, tão lindinhos...
Somos mamiferos
Como o elefante africano,
Da mesma forma que o rinoceronte...
Alimentamo-nos da mesma fonte
Que o texugo mama
E onde também a lhama...
Dependuramo-nos na mesma mama...
Irmãos da mesma livre demanda
Da ratazana,
Da jaguatirica,
Do gato do mato
E do urso panda...
E embora apaixonados por teorias,
Por técnicas, controversias, prós e contras,
Somos mamiferos
Como são os lobos, quem diria,
E os hipopótamos,
Os javalis e as lontras...
Como o morcego lanudo
E o ratinho caseiro,
Somos da mesma forma atraidos pelo cheiro
Do leite de peito.
E não tem jeito:
Somos mamiferos.
Alimentamo-nos das mesmas mamas cheias
Do modo como se alimentam as baleias,
E da mesma maneira
Que alimentam-se a toupeira
O gorila
E o boto,
E o rato-do-campo-de-rabo-curto,
O tatu-peba, se não me engano,
E ainda o tigre siberiano...
Do mesmo modo que eles
Nós mamamos...
Mesma atração instintiva por mamilos
Que possuem os veados e os esquilos,
E da mesma forma que a baleia-anã,
Nossa irmãzinha,
Somos os filhos da apojadura
Como o arminho,
Como a doninha,
Como a fuinha...
Somos os donos da proxima mamada
Como os sacarrabos,
Como os gatos bravos,
Como a onça bastarda...
Somos mamiferos,
E como nossos irmãos de peito
Sobrevivemos aos milenios do mesmo jeito:
Ninho, aconchego, calor,
E leite quente,
Naturalmente...
E muito embora
Aparentemente
Mais inteligentes,
Nós, homo-sapiens,
Não nos enganemos:
Do mesmo modo que os irmãos que temos,
Que mamam da mesma forma que o fazemos,
E crescem do mesmo modo que crescemos,
A mesma mama,
A mesma sucção,
Por que é que ainda não nos convencemos?
Somos mamiferos...
Por que é que tanta gente acha que não?

9.7.07

A graça

Que graça teria a vida
Se não houvesse a poesia?
Nascer, viver, morrer,
Misturar-se à terra fria,
Tornar-se um Fisico, um Quimico,
Um Doutor em Pediatria,
Um Pós-graduado em Farmácia,
Um Professor de Biologia,
Our concour em Matemática,
Um Mestre em Fisioterapia,
Que graça, me diz, que graça
Se não houvesse a poesia?
Ganhar bastante dinheiro,
Trabalhar dia após dia,
Fazer amigos, casar-se,
Ver aumentar a familia,
Viajar o mundo inteiro
Numa imensa romaria:
Ir do Rio à Nova Iorque,
De Nova Iorque à Bahia,
Da Bahia ao Himalaia,
Do Himalaia à Hungria,
Da Hungria à Machu Picchu,
De Machu Picchu à Turquia,
Da Turquia até Passargada,
De Passargada à Utopia,
De Utopia à Montes Claros,
Dali à Santa Maria,
Aprender mil idiomas,
Mil costumes, mil manias,
Conhecer gentes e modas
Saber de Reis e Rainhas,
Fotografar paisagens
Que jamais ninguém havia...
Trazer o mundo no bolso...
Mas que graça isso teria
Sem a graça de poder
Rimar cotia com tia,
Ler um verso de Quintana,
Ter Castro Alves como guia,
Carlos Drummond como amigo,
Ferreira como companhia,
Chico Buarque como Mestre,
Vinicius como Sinfonia,
Bandeira como delirio,
Pessoa como terapia,
Mário de Andrade como ouro,
Gulherme de Almeida como prataria,
Augusto dos Anjos como astro,
Cecilia como maravilha...
Que graça teria a vida
Se a vida tivesse tudo
Mas caminhasse esquecida
Da poesia?

29.6.07

O tempo

Deixa que o tempo resolve tudo:
Carencia, ódio, desencanto, dor.
Ele age sempre bem, e, embora mudo,
É dono de um rugido assustador...

Deixa que o tempo resolve, sem descuido,
Até a morte, se preciso for...
O tempo é sempre o maior escudo,
Sempre o melhor cobertor...

Não tente resolver tudo sozinho...
Lembra-te desse bom companheirinho,
O tempo, que te segue e te acompanha...

Deixa, porque o tempo, bom companheiro,
É o teu melhor conselheiro...
Adota o tempo. Eu garanto: é causa ganha...

17.6.07

O Livro dos Espíritos

Recordo-me, menino ainda assustado,
De ter tomado nas mãos aquele livro
Cuja autoria maior era inequívoca...
Recordo-me, menino impressionado,
Das primeiras leituras, sem motivo,
E da impressão que me causou, magnífica.

Era um menino
De muitos sonhares,
Muitos poemas por escrever,
De um dia conhecer muitos lugares,
E muitas gentes para conhecer.

Era um menino
Cheio de perguntas
Que os outros meninos não sabiam responder.
E eram tantas, cada vez mais muitas,
Que eu insistia em fazer.

Era um menino
Ainda, quando um dia,
Tomei aquele livro em minha mão
Como se fosse um clarão na noite fria
Iluminando a minha escuridão.

E assustado, o menino, ao folheá-lo,
E antes que eu percebesse ou concordasse,
Aquele livro foi me convencendo.
E sem que ninguém me pedisse que o lesse,
E sem que ninguém me obrigasse,
Aquele livro foi me envolvendo.

Que é Deus? Decidido, perguntava.
Que se deve entender por Infinito?
É dado ao homem conhecer o princípio das coisas? continuava,
E o menino lia tudo, aflito...


Quando começou a Terra a ser povoada?
De onde vieram para a Terra os seres vivos?
E a cada pergunta formulada,
Respostas. Ensinamentos expressivos.
E as dúvidas que tem a alma encarnada
Formavam as respostas desse livro.

Que sucede à alma no instante da morte?
Como se explica a vida intra-uterina?
Em que consiste a missão dos espíritos encarnados?
E, como lista sem fim que não termina,
Do mesmo modo que o Mestre quando ensina,
A responderam espíritos abnegados.

Era uma onda imensa e benfazeja,
De luz intensa, arrebatadora,
Era o alicerce de uma nova igreja,
Sem rituais, sem reis, mas reveladora.

Recordo-me, menino ainda assustado,
Como colhido por um redemoinho,
Que já não me era possível mais fugir.
Recordo-me, absolutamente extasiado,
Daquele grande mapa do caminho
Do qual era impossível desistir.

Hoje, o menino de ontem, já crescido,
Ao deparar-se com aquelas mesmas letras,
Confessa-se ainda emocionado
Ao compreender-se um recém-nascido,
Um pó na infinitude dos planetas
E pela mesma grande Lei subjugado.

Hoje, o menino de ontem, quase nada,
Toma nas mãos o Livro dos Espíritos
E para si mesmo diz: Tudo o que eu sei
Vai nestas letras atribuídas a Kardec:
Nascer, viver, morrer,
Renascer ainda
E progredir continuamente,
Esta é a lei.

3.5.07

A mãe ...

Ao saber da noticia da morte de Herodes, a mãe do menino por ele assassinado se perturba e ora...




A mãe do menino morto
Quando soube do ocorrido,
Quedou-se tremula e pálida
Como um pássaro ferido...

E ainda pálida e tremula
Mal conseguiu escutar
A noticia do Rei morto
Que vieram lhe contar.

Gelou a mão nessa hora,
E, sem conseguir falar,
Desatinada da vida
Desconsolou-se a chorar...

No instante em que lhe contaram
Do Rei cruel que morrera
Seus olhos se encheram d’água
Pelo filho que perdera

Naquela noite sem nome,
Aqueles gritos de não,
A dor, o sangue, a tragédia
Sem nenhuma explicação...

Reviu o filho no colo
Que a morte veio buscar
Seu corpo desfalecido,
Sua vida a lhe escapar,

O choro do desespero,
A crueza do soldado,
Os restos mortais do filho
Sem vida, despedaçado...



A mãe do menino, atônita,
Chorou, dor desconsolada...
Ali perdera sua vida
Na que se lhe fora roubada,

Ali secara-lhe o animo,
E a sua esperança inteira,
Sua dor, sua fome, seu sono,
Seu nome quase esquecera,

A mãe do menino, em pranto,
Naquela hora, atordoada,
Reviu a imagem do filho
Reviu o corte da espada,

Perdeu a voz, já sem forças,
Sentou-se ao lado da esteira
No mesmo triste cantinho
Onde seu filho morrera,

Sentou sozinha e em silencio,
Sentiu um breve arrepio,
Abraçou o próprio colo
Sem percebê-lo vazio,

Lembrou ali do menino,
Das risadas que ele dava,
Das farras que ele fazia,
Das noites que ele chorava,

Lembrou das horas de febre,
Das dores de vez em quando,
Das noites de sono leve,
Dos dias de amamentando...

A mãe do menino morto,
Sem que pudesse entender,
Trazia o filho em seus braços
E viu seu filho morrer...

Daquela hora em diante
Também aos poucos morreu,
Sem filho, ficou sozinha,
Sem luz, tudo escureceu,



Seu sorriso foi-se embora,
Sua vida, abandonada,
Perdeu sua identidade,
Sua forca, esvaziada...

Naquela hora tão triste
Viu morrer sua alegria,
Quis lutar, mas não lutava,
Gritar, mas não conseguia,

Quis brigar... Mas de que jeito?
Fugir... Mas para onde iria?
Quis fazer voltar o tempo...
Quis morrer... Mas não sabia...

Foram tempos de silencio,
De luto, de depressão,
Desencanto, sofrimento,
Desalento, solidão,

Ate que aquela noticia
Trazida não sei por quem,
Tocou a mãe tão sofrida
Do menino de Belém...

Morrera o Rei desumano...
Seu nome, ela não dizia...
Sua lei, não questionava...
Sua ordem, não discutia...

Sobre ele não falava,
Comentários não ouvia,
Pois morto ele já estava
E mais morto aquele dia...

Chorando, a mãe do menino
Ao saber do acontecido,
Orou a Deus, recordando
Seu filho morto querido,

Rogou a Deus, comovida
Na oração que ela fazia,
Improvisando uma prece
Que, mais ou menos, dizia:

“Senhor, que de hoje em diante
E por toda a eternidade
A ira seja asfixiada
Pelas mãos da piedade.



Que o ódio seja banido
Desde esse dia em diante
Transformando horror e medo
Em amor ao semelhante,

A crueldade impostora
Que seja desmascarada
Tornando-se auxilio e apoio
Para cada alma cansada,

Que a lamina fria da espada
Deixe assim de existir
E cada mãe assustada
Possa voltar a sorrir,

Que cada filho levado
Pelos soldados sem Deus
Seja tido como um Anjo
Um mensageiro dos Céus,

E o Rei, já depois de morto
Vendo essa transformação
Caia em si, desesperado,
E aprenda a grande lição:

Que suplique por piedade,
Mergulhado em sofrimento,
Sofrendo cada maldade,
Vivendo cada lamento,

Cada dor, cada crueldade,
Cada morte encomendada,
Que assim viva intensamente
Ate não restar mais nada

E quando não mais houver
Nenhuma dor não sentida,
Nenhuma morte ignorada,
Nenhuma lagrima esquecida,

Então que a Misericórdia
Divina aja em seu favor
E aceite o arrependimento
Revelado pela dor,



E livre de sua miséria,
E longe do seu poder.
Possa o Rei tornar-se homem
E começar a viver...”

Foi quando a mãe do menino
Terminando, silenciou.
Seus olhos possuíam brilho
Quando a oração acabou.

Parecia enternecida,
Uma paz a dominava.
Já não trazia na face
O medo. Já não chorava.

E conta-se que depois disso,
Essa mãe, recuperada,
Fez-se mãe fortalecida,
Fez-se mãe modificada,

Daquele dia em diante
Passou a prestar auxilio
Às mães mais necessitadas
Em memória do seu filho,

Ofereceu sua ajuda
Às mães com filhos menores,
Tornando seus dias tristes
Dias um pouco melhores...

Recuperou seu sorriso,
Retomou a sua vida,
Arrumou a sua casa,
Retornou à sua lida,

Vivendo solidariedade,
Descobrindo comunhão,
Distribuindo amizade,
Disseminando perdão,

Reconstruindo sua paz
E a paz da sua vizinhança,
Deixando, pelo caminho,
Sinais de vida e esperança...

Depois dali, nunca mais
Tanta dor desabalada,
Tanta dor incompreendida,
Tanta dor inconformada,

Depois dali, e para sempre,
Se dor, desespero não,
Se desanimo, coragem,
Sempre luz, se escuridão,

Pois nenhuma tirania,
Nenhuma ordem ou poder,
Nenhum exercito insano
Tem força capaz de vencer

Nenhuma mãe
Companheira obstinada,
E o amor dessa mãe
Para com os seus...
“Mãe não tem limite
É tempo sem hora”,
Imitação
Fiel
E essencial
De Deus...

5.4.07

Sempre a poesia...

A poesia, que ampara os tristes
E dá suporte aos desconsolados,
Que vale como um trago de carinho
Aos corações em dor, desamparados...

A poesia, que acolhe os fracos
E dá sustento aos corações cansados,
A poesia, unica companhia
Dos que se desesperam, isolados...

A poesia, que estanca as dores,
Que, como um bálsamo, ameniza horrores,
Que arranja um jeito pro que não tem jeito...

Como um milagre da vida, a poesia,
Como um Tratado de Psicologia,
A poesia, como o leite de peito...

3.4.07

A poesia...

Eu tornei poesia descontentamentos,
A alegria que eu tinha, eu tornei poesia,
Eu fiz versos dos restos dos meus pensamentos,
Da minha tristeza, da minha azia,

Dos meus desafetos, dos meus lamentos,
Dos meus episódios de taquicardia,
Disfarcei com poesia desapontamentos,
Desenhei com sonetos minha alma vazia,

Desde ai a poesia tornou-se a primeira,
A mais longa, sincera e fiel companheira
A me indicar o caminho de saida...

Desde ai, por não haver outra maneira,
Desde ai, a poesia inteira...
Desde ai a poesia, a minha vida...

26.3.07

Gostar é assim...

Gostar é assim mesmo.
Indefinido.
Nem sempre dois e dois
Ali
São quatro.
Às vezes é tudo culpa do cupido.
Outras, do excesso de salto
No sapato.

Gostar é assim mesmo.
Ora atrevido.
Ora tão cheio de dedos
E recato.
Às vezes é como um naufrago
Perdido.
Às vezes è como um cisne
Amar um pato.


Gostar é assim então.
Complicadinho.
Tem quem goste só pouquinho
Mas tem quem goste
Pela vida inteira.


Gostar é por vezes
Cheio de carinho.
Por outras vezes
É gostar sozinho.
Mas sempre é bom.
De qualquer maneira.

17.3.07

Para minha irmã

Anjos não fazem aniversário.
Não surgem. Não vão embora.
Não são classificados pelo calendário.
Não tem data. Não tem dia. Não tem hora.

Anjos são simplesmente atemporais,
Não tem formato ou aspecto definido.
Anjos são todos iguais:
São assim mesmo, não fazem ruído...

Anjos padecem e superam crises,
Regeneram rapidamente cicatrizes,
As suas e as outras, dos queridos seus...

Anjos são sempre assim: leves, discretos,
Ao mesmo tempo suaves e diretos...
Anjos são Anjos. Acima deles, só Deus.

4.3.07

O caminheiro...
Durante sua longa jornada de Nazaré até Belém, José e Maria, esta grávida do menino Jesus, cruzam em seu caminho, a certa altura da estrada, com um caminheiro que deles se aproxima, olha-os de perto, troca com eles discreto cumprimento e segue adiante, mas não os reconhece...

Caminheiro, seguindo pela estrada,
Quando cruzares pelo caminho
Com um homem, uma mulher embarrigada
E um burrinho,

Se não notares, nessa hora, nada,
E prosseguires, sozinho,
Continuando tua caminhada
Devagarinho,

Terás perdido a chance a ti cedida,
Talvez a única da tua vida,
Talvez a mais importante...

Quando, de novo, José e Maria?
Quando, de novo, esse dia?
Quando, dali pra diante?

3.3.07

Maria e Isabel
Naqueles dias, levantou-se Maria e foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá. Luc 1, 38

Assim que soube da historia do ocorrido,
Maria foi ter com Isabel, como relatado.
Por que com pressa Maria teria ido?
Que tempo juntas terão passado?
Apressadamente, teria Maria fugido?
Ou apressadamente, espírito extasiado?
Que coisas Maria com Isabel terá aprendido?
Que coisas Maria a Isabel terá ensinado?
Terão cortado e lavado que tecido?
Que alimentos terão preparado?
Que frutos terão colhido?
Que sementes semeado?
Terão os meninos, em seus ventres, remexido?
E os primos, nos ventres das primas, se agitado?
Que hinos, juntas, terão ouvido?
Que coisas belas terão cantado?
Que orações terão dito?
Que versos terão de clamado?
Quantas vezes a Deus terão bendito?
Quantas vezes a Deus magnificado?
Isabel e Maria... Como terá sido?
Como esse tempo terá passado?
Quantas noites de sono bem dormido?
Quantas de sonho acordado?
Ansiosas, terão emagrecido?
Encantadas, terão engordado?
Que coisas, nesse tempo, terão lido?
A quem terão visitado?
Quem as terá conhecido?
Terão com quem conversado?
Quem é que terá merecido
Esse agrado?
Com que gentes terão tido
Contato?
Quem soube do acontecido
E a quem terá revelado?
Que tantas coisas terão sentido?
Por que outras tantas terão passado?
Como terão convivido
Maria e Isabel, lado a lado?
Dois ventres pelo Espírito Santo concebidos...
Dois ventres absolutamente sem pecado...
Maria e o apoio do seu marido...
Isabel e o filho tão desejado...
Que coisas terão vivido?
Que coisas terão falado?
Que coisas terão permitido?
Que coisas terão recusado?
O que terá havido
Por aqueles lados?
O que as montanhas de Judá terão sabido?
O que as montanhas de Judá terão guardado?
Poema de Natal
Adaptação para estilo poético da "Oração de Natal" do volume "Um poema para o Natal", publicado em 2005 pela Editora Scortecci.

I
Recorda a Humanidade, neste dia
Os fatos que cercaram tua chegada:
O Anjo anunciando-te à Maria,
José quando acolheu a sua amada

De Nazaré a Belém, tua romaria,
Onde não havia vaga na pousada,
O teu nascimento numa estrebaria,
A manjedoura, tua primeira morada...

Recorda a Humanidade, entre louvores,
Os Anjos anunciando-te aos pastores,
Os magos e Herodes, a adoração e o medo...

Recorda a Humanidade nessa hora
Os primeiros movimentos da tua estória
Imensa e encantadora desde cedo...

II
Desde aqueles dias
Já se vão dois mil anos...
Do mesmo modo
Como os pastores,
Aqui estamos...
Soubemos da Boa Nova
E aqui viemos
Como fizeram os pastores
Há dois mil anos...
E, como os pastores,
Nós nos sabemos
Pobres seres humanos,
Nada possuímos
Nem trazemos,
Como os pastores
Há dois mil anos...
Não viemos,
Como os pastores,
Tão logo e assim que soubemos...
Nós nos atrasamos...
Mas aqui estamos
Na tua presença e,
Por tão pequenos,
Silenciamos...
E assim, orando,
Nós nos ajoelhamos,
Como os pastores
Nós nos alegramos,
Como os pastores
Há dois mil anos...

III
E aqui estamos de mãos vazias...
O que intencionávamos trazer perdemos
Com companhias, com teorias,
Com coisas que valiam menos...

E aqui estamos. Não trazemos nada.
O que tínhamos ficou pelo caminho.
Nós nos dispersamos pela caminhada
E caminhamos em desalinho...

E aqui estamos. Nada trazemos.
Nem mirra, nem ouro e nem incenso...
Pelo caminho nós os perdemos
E nos restou esse vazio imenso...

E aqui estamos. Nós nos dispersamos.
Nós nos atrasamos. Mas aqui viemos.
Já se passaram mais de dois mil anos
E ainda não aprendemos...

Aqui estamos. Ajoelhados.
De mãos vazias. Em pensamento.
Aqui estamos, muito cansados,
Diante do teu nascimento.

IV
O ouro que traríamos,
Valioso,
Peça imponente,
Belíssima cor,
Recebeu tantas ofertas
Nesses dias
Que o trocamos
Sem nenhum pudor
Por bugigangas,
Quinquilharias,
Sem garantias,
Coisas sem valor:
Bijouterias,
Peças sem valia,
Pedras sem brilho
E sem nenhum teor...
Gastamos todo
Com ninharias,
Trocamos,
Demos
E esquecemos
De repor...
Hoje não temos
Mais do que a lembrança
Do que já tivemos
E, alem disso,
Dor...
E porque gastamos,
E porque perdemos,
Comportamo-nos
Como o mau pastor
Que se descuida
Do que seria
Para cuidar
Como bom cuidador...
Aqui estamos
De mãos vazias,
Nada mais temos,
Nada nos restou...
De mãos vazias
Aqui estamos...
Vazios
Na presença
Do Senhor...

V
O aroma leve de um suave incenso
Nós preparamos para trazer.
Aspecto doce, odor delicado,
Especificamente preparado
Para o menino que viemos ver.

Foi quando ate aqui, pelo caminho,
Outros aromas doces conhecemos,
Por outros cheiros nos atraímos,
Outras essências sentimos,
Outras fragrâncias colhemos

E o aroma leve do incenso suave
Que preparamos foi se perdendo
E como a água quando escorre pelo ralo
Já não nos é possível agora identificá-lo...
_O que é que andamos fazendo?

Por outros cheiros nos seduzimos,
Outros perfumes vulgares,
Azedos, acres, fáceis, sedutores,
Odores oferecidos, maus odores,
Dezenas e centenas e milhares...

E assim o símbolo de tua espiritualidade
Contaminamos em nossa caminhada...
Estúpidos condutores, e descuidados,
E incautos, fomos contaminados
E hoje trazemos a alma infectada...

E o aroma suave do incenso doce
Já não possuímos nesse momento...
Envolve-nos, Senhor, com tua essência,
Ajoelhados, na tua presença,
Reverenciando teu nascimento...

VI
A mirra, preparamos com carinho
E embalamos cuidadosamente...
O sofrimento é parte do caminho...
A dor é sempre presente...

Mas dono de um cuidado tão mesquinho,
De um jeito tão displicente,
Bastou o primeiro copo de vinho
E o primeiro gole amargo de aguardente

E a mirra a derramamos e a perdemos,
A dor embriagada dói bem menos...
Desrespeitamos teu sofrimento...

E hoje aqui, não mais tão embriagados,
Postamos-nos diante de ti, ajoelhados,
Diante do teu nascimento...


VII
Submersos em trevas e isolados,
Por desacertos nos conduzimos...
Enfraquecidos, tolos, derrotados
Que a nós mesmos nos destruímos...

A sombra, como semente alimentada,
Cresceu e se espalhou, erva daninha...
A Humanidade quedou-se, acinzentada,
Perdeu o rumo, perdeu a linha...

O desafeto e o desamor, unidos,
Tornaram-se gestos diários
Que os homens fracos e os distraídos
Trataram como comportamentos necessários...

E assim, do desamor nasceram a usura,
A ira torpe, a falta de perdão,
O ódio entre a criatura e a criatura
E a rudeza do coração...

Mísseis cruzando os céus, caças insanos,
Botões dizimando nações sem piedade,
Homens selvagens, seres humanos
Vestidos de pura bestialidade...

A morte provocada pela guerra,
O lucro à custa da crueldade,
A sombra assustadora sobre a Terra
Ameaçando a Humanidade...

Flagelo. Fome. Miséria. Medo.
Terror. Suspeita. Desamparo. Dor.
O homem que vive entre feras desde cedo
Fica contaminado por esse horror.

A que chegamos... Não sobrou nada.
Nenhuma luz. Só ódio. Só discórdia.
E uma Humanidade necessitada
Da tua infinita Misericórdia.

E longe dela, ai de nós pelo que somos.
Pelo caminho ruim que caminhamos.
Pelo que fizemos. Pelo que fomos
E pelo muito que erramos.

Longe da tua Misericórdia, nada.
Ranger de dentes. Choro. Fome. Frio.
A tua Misericórdia é a luz da nossa estrada,
Cesto de peixe que nunca está vazio...

Aqui estamos, pois. Muito cansados.
Já não suportamos tanto sofrimento.
Aqui estamos, ajoelhados,
Diante do teu nascimento.

VIII
Mas é Natal, e assim,
Ecos dos Anjos
Ainda fazem-se ouvir
Em seu Louvor...
Ecos que anunciam
A Boa Nova:
_Eis que hoje vos nasceu
O Salvador.

Eis que é Natal.
E as vozes dos Anjos vibram.
Cânticos de Anjos
Em Legião
Dizendo:
_Hosana... Nasceu Jesus,
Alegrai, pois,
Vosso coração...

Eis que é Natal
E, por ai, pastores
Ainda se alegram
Com a anunciação...
Vibram e falam
Uns para os outros,
E alguns se postam
Em oração...

Que delicado
O cântico dos Anjos,
Escuta-se ao longe
Um trecho seu:
_Gloria a Deus nas alturas
E paz na Terra...
Jesus nasceu...

Santificada essa Boa Nova,
Iluminada essa hora
Como a esperança que se renova:
Toda alegria
Ao mesmo tempo
Agora...

É terna e pura a luz da tua estrela,
Silenciosa e serena,
E vê quem tem olhos de ver seu brilho,
Como quem entende um poema...

Acolhedora a tua manjedoura,
Tão pouco e ao mesmo tempo tanto, tanto...
Impressionantemente acolhedora
Como se fosse teu manto...

Suave e belo o significado
Da tua mensagem de amor,
Ao mesmo tempo imenso, delicado
E inexplicavelmente acolhedor...

Simples pastores por companhia,
Delicadeza, naturalidade...
De onde trouxeram tanta alegria
E tanta felicidade?

E a musica que cantam, como um coro
De varias vozes e grande harmonia,
Como quem cuida um tesouro,
Como se fossem os próprios José e Maria?

A musica que cantam... Que serena...
Retalhos inteiros feitos de paz...
Encantador recordar esta cena
Dos teus primeiros Natais...

E a gruta acolhedora, teu resguardo...
A manjedoura... Nenhuma ostentação...
Nem luz, nem brilho e, no entanto, nenhum fardo...
Nenhuma pena... Nenhum senão...

A gruta, feita de simplicidade...
Nenhum Palácio significa tanto...
Não há vestígios de suntuosidade,
Há, sim, sinais de que é um lugar santo...

IX
E dois mil longos anos se passaram...
Aqueles que, como nós, te conheceram,
Durante esse tempo se desviaram
E após tantos desvios se perderam...

E em dois mil longos anos que afastaram
Da tua presença os que viram e não creram,
Multiplicaram-se os que te negaram,
Espalharam-se os que não te receberam...

E dois mil anos não foram bastante
Para que nós chegássemos aqui diante
De ti como em outra época Simeão...

Os nossos olhos, endurecidos,
Envoltos em trevas, escurecidos,
Ainda não compreenderam a tua lição...

X
Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo,
Caminho, verdade, vida,
Recebe nossa alma vazia nessa hora,
Pela tua Misericórdia, estremecida...

E permanece nosso pensamento assim:
Magnificado e em lagrimas submergido...
Deixamos lá fora as sandálias, o pó ruim,
Trazemos o pensamento enternecido,

Exatasiado com tua singeleza,
Complexa, imensa e cheia de verdade,
Admirados com a força gigantesca
Da tua aparente fragilidade...

Trazemos, humilhado,
O coração cansado,
Trazemos, destruído,
O coração sofrido,
Trazemos, derrotado,
O coração errado,
Trazemos, combalido,
O coração doído...

XI
Insufla nossa boca
Com teu sopro santo,
Fazendo-a cheia
Das palavras de Simeão:
Podemos partir,
Desde agora,
Porque nossos olhos
Viram
A salvação...

XII
Senhor Jesus,
Feliz Natal.
Nos Céus
Os Anjos
Dizem:
_Amém...
Cantando:
_Glória a Deus nas alturas
E Paz na Terra
Aos homens
A quem ele quer bem...

Que assim seja...

16.2.07

Se existisse longe...
Para minha amiga Carla Brasil

Longe é um lugar que não existe,
Mas se existisse eu ia lá te ver,
Brincar e correr pra nunca te ver triste
E inventar mil coisas pra fazer:

Catar coquinho, pentear macaco,
Amolar o bode, ir passear na esquina,
Levar-te até a praia pra cavar um buraco
Que nos levasse até a China...

Longe é um lugar aqui bem pertinho...
Pega uma estrada, vai até Carinho,
Mais uma curva e chegamos na Emoção...

Longe é um lugar? E fica aonde?
Não sei, mas se é por lá que tu te escondes,
Longe é um pedaço do meu Coração...

15.2.07

O amor de novo...
Para Maria Ninha que em seu www.fotolog.com/maria_ninha declara: Cansei!!!! O Amor que me encontre...

Cansou?
O amor que te encontre?
Eu nunca tinha lido assim
Algo tão certo...
E acredite,
Maria Ninha,
Quando o julgamos longe
Ele está perto...
Se achamos que ele foi
Pro Paquistão
Ele nos chega
Em forma de um cartão,
Se o vemos
Lindo
Num buque de flores,
É mais provavel
Que esteja

Em Açores...
Então voce tá certa...
Não procure.
O que é seu tá guardado
(diz o povo)...
E ainda que demore,
Custe,
Dure,
Ele te encontra...
E eis Maria Ninha
De amor novo...

14.2.07

Para João Hélio Fernandes...
Homenagem aos familiares do pequeno João Hélio Fernandes, recebido por Deus na sua grandeza, como um Anjo...
Porque João era um Anjo...

Imensa é a dor quando é da despedida,
A dor das "alegrias nunca mais"...
O fim da luz... A morte... O fim da vida...
A dor dilacerante... A dor sem paz...

Imensa é a dor... Profunda... Comovida...
Perder um anjo por modos tão brutais...
Sem piedade, a vida subtraida
Por bestas apocalipticas tão boçais...

Imensa a dor que dilacera o peito
A dor que não dá tregua e não tem jeito
A dor imensa que não quer passar...

Imensa a dor...E o coração, estreito,
Como se houvesse inda algo pra ser feito,
Encontra forças pra continuar...

9.2.07

A Poesia

A poesia, palavra dada,
Depois de lida, som que nao tem dono,
Depois de escrita, moça sem morada,
Sonho sem rumo que nao tem sono...

A poesia, escrava libertada,
Rainha que escapou do próprio trono,
Intensa, feito coisa desejada,
Definitiva, feito o abandono...

A poesia, terra sem fronteiras,
Palavra dita de várias maneiras
Tentando o mesmo significado...

E assim, sem dono, absoluta e boa,
Ave ligeira e soberana, voa,
Letra sem trava, cancela sem cadeado...

20.1.07

Pai
(20 de janeiro, aniversário de nascimento de meu pai, Sebastião Clóvis Tavares)

Olha por nós, teus filhos reincidentes,
Desaprendizes da tua lição,
Teimosos, errados, renitentes,
Mas filhos do teu coração...

Olha por nós, Pai, filhos carentes,
Que nos soltamos da tua mão...
Perdidos, como alunos repetentes,
Desarvorados, náufragos sem chão...

Ilhados das próprias enchentes,
Levados pelas correntes
Que levam os brincalhões sem atenção,

Pouco a pouco tornamo-nos doentes...
Fica conosco, filhos inconseqüentes,
Derrama sobre nós tua proteção...