5.9.05

O poeta faz quarenta e seis anos...

Quando mais tarde
Já for madrugada,
E o dia for o sexto desse mês,
E já estiver dormindo a gurizada,
Vamos soprar as velhinhas:
Parabéns...
O poeta hoje
Faz quarenta e seis...

Vamos soprar as velhinhas
Pro poeta
De versos diversos
De amor e insensatez...
Versos de diversão e desespero,
Versos de contra mão e de atoleiro,
Versos de coração pro mundo inteiro
Porque essa vez
É a do poeta fazer quarenta e seis...

Depois de versos em castelhano
Jamais escritos, como em javanês,
Tampouco rimas feitas em alemão,
Ou redondilhas todas em inglês,
Quem sabe um dia como no Japão,
Como no Congo ou no Cazaquistão,
Quem sabe um dia em francês,
Mas hoje não,
Porque o poeta hoje
Faz quarenta e seis...

Depois de rimas para Lindamara,
Depois de versos para Marines,
Depois de estrofezinhas para Iara,
De decassílabos para alguma ex,
Sonetos para Lara,
Quadrinhas para Sara,
Repentes para Maria das Mercês,
Hoje o poeta,
Figura rara,
Fica em silencio
E faz quarenta e seis...

Depois de versos proscritos
Temperados com acidez,
Palavras contra
Maldades alheias,
Rimas brigando contra a estupidez,
Depois de textos malditos
Escritos pra enfrentar
A luz e as leis,
Hoje descansa
A velha criança
Que no poeta
Faz quarenta e seis...

Depois de ritmos diversos,
Dia a dia,
Mês a mês,
Muitos versos,
Vários versos,
Três ou quatro
Ou cinco ou seis,
Depois de pencas de versos
Então eis
Que hoje o poeta
Faz quarenta e seis...

Por isso guardou suas rimas,
Escondeu seu português,
Jogou a caneta fora,
O notebook? Talvez...
Parece que foi-se embora,
Disseram que não demora,
Terá ido jantar fora?
Não sabeis?
O poeta esta dormindo
Por agora...
O poeta acaba
De fazer quarenta e seis...