31.3.04

A Vaga

Cheguei ao Hospital de manhã cedo.
Tentei estacionar: mas que suplicio...
Encontrar vaga pra parar, que enredo...
Questão de sorte. Quase um sacrificio.

Quatro milhões de carros amontoados
De todas as maneiras pelo chão...
Quatorze fuscas enfileirados
Em frente a um Audi... Que situação...

Doze ambulancias comunitárias,
Outras dezoito da Prefeitura,
Imensa movimentação diária,
Um alvoroço sem noção nem cura...

Tentei, no entanto, seguir meu caminho,
Achar a vaga tão desejada
Pra não ter que parar o meu carrinho
Do outro lado da rua, na calçada...

Que sorte grande: bem na minha frente
A vaga... A vaga... Cheguei primeiro...
Mas esse mundo de Deus é incoerente:
Perdi a vaga para um Enfermeiro...

Mais adiante uma outra vaga havia
Em frente à Emergencia do Hospital.
Tentei. Corri. Mas... Pura ironia...
Tomou-a uma Assistente Social...

Mas era meu dia de sorte e mais adiante
A vaga que eu pedi a Deus... Porreta!!!
Mas que situação decepcionante:
Perdi a vaga pruma fisioterapeuta...

Uma outra vaga ali... Que coisa boa...
Ja imaginava o fim desse monólogo...
Mas isso estressa qualquer pessoa:
Perder a vaga para um Psicólogo...

Dei mais um giro... Tudo lotado...
Mas de repente, não mais que de repente,
Aquela ali... Mas algo deu errado...
Perdi a vaga pro meu paciente...

Mas não desisto fácil. Fui seguindo.
Incorporei Cabral e: Vaga a vista!!!!
E quando eu tava quase conseguindo
Perdi a vaga pruma Nutricionista...

Outra pro Segurança, pro Copeiro,
Pro Academico, pro Administrador,
Pra todo mundo, pro mundo inteiro,
Pro Cozinheiro, pro Padre, pro Pastor...

E quando eu tava quase desistindo
De achar lugar pra estacionar,
Quando eu já tava quase me sentindo
Um sem vaga, e meu carro, um sem lugar,

Muita calma nessa hora, eu ponderei...
Quem sabe dessa vez ela aparece...
Cincoenta e cinco voltas depois cansei...
Estacionar aqui ninguem merece...

Uma hora e meia... O tanque já sem saldo...
Decidi, atrasado e quase morto:
Ou uso a vaga do Doutor Geraldo
Ou vou estacionar no heliporto...


28.3.04

O Silencio
À todos os prematuros que nos deixam mais sozinhos...

Agora só o silencio ocupa o espaço
Aonde o bebê prematuro agonizava,
Como se fosse o sono de um cansaço,
Um verso inteiro escrito sem palavra...

Agora só o silencio, absoluto
Aonde tudo em torno se agitava...
Silencio castigante. O som do luto.
O sofrimento quando se calava.

Ventilação, ambu, adrenalina,
Laringoscópio, tubo, dopamina...
Os convidados para a despedida...

Agora só o silencio. O resto cessa.
Já não há correria. Não há pressa.
Silencio onde ainda há pouco havia vida...

23.3.04

Os Anjos Moram Em Santa Maria, RS
Para Carlinha

A cada dia um carinho, uma mensagem,
um mail, um verso, uma palavra boa...
E pouco a pouco aquela sua imagem
Vai se tornando pra mim outra pessoa...

Um anjo que encontrei no meu caminho
Como eu pensei que nunca ia encontrar...
Um anjo que me trata com carinho
Como faz tempo ninguem vem me tratar...

Santa Maria... Porque tão distante?
Não podia ser logo ali adiante?
Porque tão longe, anjinho, sua morada?

Deve ser porque os anjos moram
Onde os meus pensamentos nunca choram...
Um beijo, anjinho. Um beijo. E só. Mais nada.

Para Carlinha
Que sem saber foi ficando meu anjo
E sem saber mora em meu coração.
Para Carlinha esse soneto tolo.
E meu carinho. E minha saudade.
E uma vontade de beber um chimarrão...

21.3.04

Falando do Amor
De uma carta para Carlinha, linda amiga...

Eu te diria que eu não soube amar
Nem conservar o amor que eu conquistei.
Por conta disso eu me perdi num mar
De desamor... Foi quando eu me afoguei...

E acrescentaria: eu tentei me salvar.
E ao tentar salvar-me, eu me enganei.
Eu juro que eu tentei, sem descansar,
Salvar meu coração... Como eu tentei...

Confessaria que eu não soube. Eu fui
Feito um balão que se perdeu no espaço,
Um pássaro sem asas prá voar...

Feito um Castelo à beira-mar que rui,
Feito um desenho resumido a um traço,
Feito uma carta de ninguém mandar...

14.3.04

Um poema para o Dia Nacional da Poesia
Em 1847, 14 de Março, nasceu Antonio de Castro Alves, o Poeta dos Escravos.
O Dia 14 de março é o Dia Nacional da Poesia.
À Castro Alves, poeta imortal e sempre presente em minha vida...


Um poema para o Dia
Nacional da Poesia
Chamando a rima suave
Para a nossa companhia,
Trazendo a letra caliente
Para a nossa vida fria,
Infusão deliciosa
De cor e perfumaria...

Um poema para o Dia
Nacional da Poesia
Que secasse os malfeitores
E abolisse a hipocrisia,
Desmascarasse os falsários,
Que tombasse a dinastia
Do larápio que roubou
Nossa alegria...

Um poema para o Dia
Nacional da Poesia
Tecido com rima leve,
Sutil feito um fio guia,
Oásis de letra boa,
Recarga prá alma vazia,
Repouso para a cansada,
Sabor prá monotonia...

Um poema para o Dia
Nacional da Poesia...
Um poema... Ah, se eu soubesse
Eu tentaria...

10.3.04

A Prematuridade
Aos meus prematurinhos registrados em www.fotolog.net/oprematuro, aos som de Aguas de Março.

O olhar capaz
De julga-la incapaz
Por tão somente
Ver nela os sinais
De delicadeza
E fragilidade,
Deixa escapar,
Por olhar sem olhar,
E de perceber
O que há de melhor
Na prematuridade:
O gigante escondido
Em corpo frágil,
A persistencia
Ante a desolação,
A Resistencia,
A vontade,
O banho de animo
E a promessa de vida
Que mora
Em seu coração...

7.3.04

O por do Sol
À minha irmã, após visitar seu post de hoje em www.fotolog.net/foradapista

O sol se pondo parece o sol nascendo.
E como o sol é o nosso dia a dia:
A gente pensa que está morrendo...
Que o mundo inteiro está se acabando...
Mas de repente, eis que a poesia...
O Poema impedivel

Não peça que eu escreva nenhum verso.
Eu nunca escrevo verso. É o coração
Que tem a idéia e me traz a letra
E põe a letra pronta em minha mão...

Por isso, não... Não peça... Eu não escrevo...
Adoraria. Mas não sei não.
É o coração quem colhe a palavra
E tece a rima feito um artesão...

E quando ele se cala, e não diz nada,
E a poesia queda calada,
E faz silencio como quem termina,

É que a palavra, quando gestada,
Simula o som sutil da madrugada
Preparando a manhã que se aproxima...

Por isso não espere que eu escreva.
Eu não escrevo nada. É impressão.
Quem tem a idéia e burila a letra
E prepara o verso é meu coração...

5.3.04

Sobre ser seu amigo...
Para Drikaper

Ser amigo seu deve ser facil.
E delicioso. Também deve ser bom.
Feito musica de Chico
E voz de Caetano
Em verso de Drummond...
Saudade
Para Tahiana Fernandes

A saudade é assim:
A gente sente,
Ela aumenta.
A gente esquece,
Ela passa.
E quando a gente finge que não lembra
Ela persiste, oculta, feito traça.
Saudade.
Que traz presente quem vai distante.
Balde gigante onde cabe o mundo inteiro...
Por conta da saudade
Estar alhures
É como estar no Rio de Janeiro.
O furto
A Marcos Caiado após leitura de seu poema LAMENTO. (www.marcoscaiado.blogger.com.br)

O furto feito
A dor proporcionada
Não acrescentam nada
Ao que roubou...
O amor não cessa
E ter a impressão de que se acaba
É feito olhar
E não conseguir absorver
O amor...