31.5.03

A Unha
Ao Mestre Baden Powell

Tocando as cordas do violão,
Fazendo o som que sai tão delicado...
Ditando o ritmo da canção
Pros versos de Vinicius musicado...
A unha tocando as cordas... Ah... Purissima...
Delicia incomparável. Nada imita.
A mão precisa. A nota afinadissima
Como se fosse a voz quando recita.
A unha toca a corda do violão.
O violão responde impressionando.
Ah, Mestre Baden Powell, a tua mão
E a tua unha me emocionando...
E o violão dizendo serenatas
E sambas que parecem surreais.
Impressionante o modo como tratas
A confusão das notas musicais.
E dessa confusão o som inteiro.
O cheiro de escutar satisfação.
As tuas unhas carregam o roteiro
Do bem-impressionar o coração.
Tocando as cordas. Delicadeza.
Tecendo ritmos com malemolencia...
Ah, Mestre... Tua canção... Minha surpresa...
E esse poema por reverencia...
Receita para Tainá

Em vez da pinga com mel
Ou do Prozac,
Em vez da dose dulpa de conhaque
Para espantar essa melancolia,
Experimente poesia:
Ler poesia,
Tentar fazer poesia
Ou quasepoesia,
Ouvir poesia,
Pegar no sono e despertar poesia...
Talvez a vida fique bem mais leve
E a cuia da tristeza mais vazia...

28.5.03

A Palavra Dada, o livro...

Foi um trabalho de seleção.
O segundo em 1 ano.
80 poemas em um livro de 5 cadernos.
Divididos por temas porque alguma ordem era necessario ser determinada e esta me pareceu mais coerente que a simples ordem alfabética ou a ateatória.
A Palavra Dada.
Titulo de um de meus quaseversos.
Um dos oitenta que meu coração selecionou.
Sim.
Porque se o coração escreveu não é justo deixar que o raciocinio e suas regras atrapalhem a escolha.
São os 80 que mais me tocam, somente isso.
Entreguei cópias a duas amigas que amam poesia e são professoras de Literatura.
Aguardo, confesso, as suas opiniões e suas palavras de apresentação como quem aguarda um resultado da prova.
Deverei publica-lo assim que receber estas paginas amigas.
Será o primeiro volume de poesias de um médico que nunca alimentou pretensão nenhuma além da de cuidar de seus prematuros e febres e dores e crises de asma e gastar as madrugadas prescrevendo, examinando e seguindo dessa maneira.
A Palavra Dada.
Que o papel que a receba se espalhe e gere frutos e novos poemas...
Porque uma nova seleção começa a ser desenhada...
A Palavra Boa...


26.5.03

O perfume da palavra


A poesia, palavra dada...
Depois de dita, não tem jeito nem volta...
Lida em voz alta, escrita, declamada,
Louca de paixão, ou quase morta,
É a poesia palavra dada...
Perfume da palavra que se solta...
O próximo minuto

Nada definitivamente é mais exato
Nem mais impressionantemente absoluto
Do que o próximo minuto.
Talvez porque contenha o mapa do caminho
E a rota torta da escravidão,
A porta para o amor, que é com carinho,
E o convite para a perdição.
O próximo minuto
Guarda consigo a escuridão do oculto
E o azul claro da felicidade.
A dor, o sofrimento, o tempo bruto,
E a delicadeza, e a suavidade.
Ao mesmo tempo a próxima armadilha
E a tábua da salvação,
O mapa desvendando o fio da trilha
E a bala que transpassa o coração.
O próximo minuto.
A chave para o próximo poema
Ou para a imensa culpa e miserável,
A solução impossível do teorema
E a dor que se apresenta insuportável.
Portanto não há nada que o supere
Nem nada que por direito o subestime
Porque é ele, sem que se espere,
Quem livra o condenado e faz o crime,
Contém o germen da solidão,
Possui a cura do sofrimento,
A letra já esquecida da canção,
O nome do medicamento.
O próximo minuto: inesperado.
Como quem tece com delicadeza,
Traz do futuro e leva pro passado,
Contém a formula do acre e da beleza,
E traz a solução, a senha, a cura,
E a palavra maldita que condena,
A escuridão sem fim, soturna, escura,
E a manhã de sol em Ipanema.
E como um gesto rápido e astuto,
O próximo minuto
Nunca falha,
O próximo minuto nunca avisa,
Impositivo, nunca se atrapalha,
E é imperceptível, como a brisa.
O próximo minuto,
O mais sonhado,
A solução de tudo, o beijo, o tiro.
As vezes feito um gesto planejado.
As vezes, súbito, o ultimo suspiro.
Nunca te esqueças, portanto: ele é implacável.
Ele não deixa de ser um só instante
Absolutamente abominável
E inexplicavelmente impressionante.
O próximo minuto. O mais discreto.
A única certeza alem do luto.
O mágico minuto. O mais completo.
O mais temido: o próximo minuto.

22.5.03

Poeminha sem Significado

..."És belo, és forte, impávido"... Espere...
Uma palavra... E a frase deu errado...
Tentei compreender... Nada confere...
Impávido... Perfeito! ... Mas truncado...

Se fossse intrépido eu compreenderia...
Ou impetuoso... Talvez impressionante...
Mas impávido... Quem fez essa poesia?
Quem foi que a escreveu tão dissonante?

Eu sigo rápido pro Dicionário....
O que a palavra impávido significa?
O que ela traz guardado em seu poder?

Que coisa, que sentido extraordinário
Essa palavra carrega mas não explica?
O que afinal impávido quer dizer?

12.5.03

Mães
Escrito na manhã de Domingo das Mães, na hora improvável do descanso na madrugada, durante o plantão em uma UTI Neonatal da minha cidade.
À minha mãe.
À todas as mães do mundo.
No seu dia e para sempre.


Mães que nunca fracassaram.
Mães que nunca permitiram.
Mães que nunca despertaram.
Mães que nunca desistiram.

Mães que nunca engravidaram.
Mães que quase conseguiram.
Mães que por ter tanto medo nem tentaram.
Mães que por falta de medo nem sentiram.

Mães que partiram na hora do parto.
Mães que tornaram-se mães sem saber.
Mães que forjaram-se mães por contrato.
Mães que não precisaram de filhos prá ser.

Mães que não souberam escapar.
Mães que não puderam conhecer.
Mães que se tornaram saudades de chorar.
Mães que se transformaram em imagens de não ter.

Mães que se foram para outra vida.
Mães que jamais retornaram pro lar.
Mães que sentem ate hoje a dor comprida.
Mães que continuam a esperar.

Mães que não fizeram força pra ser.
Mães que fizeram questão de evitar.
Mães que não foram, por isso o sofrer...
Mães que não foram pra se poupar...

Que Deus as proteja, ilumine e suporte
E afaste delas todo mal e iniquidade.
Que Deus as acompanhe além da morte
E as guarde em luz por toda a eternidade.

Mães. Porque não há outro caminho.
Mães. Porque não há maior lição.
Nada que substitua o seu carinho,
Que se compare ao seu coração.

Mães. Porque não há outra saida.
Mães. Igualando nobres e plebeus.
Mães. Nada tão forte em nossa vida.
Mães. Nada mais próximo de Deus.

7.5.03

Soneto para Marilia

Disse assim Marilia sobre um verso que escrevi: ..."Eu sempre quis escrever sonetos, mas não presto pra isso, tem que ter muito talento"...
Para Marilia, esse soneto...


Tenta um soneto, Marilia...
Faz um verso e continua...
Segue o tino, cava a trilha,
Sai do canto e ganha a rua...

Não precisa ser Cecilia,
Bilac, Drummond, Pessoa...
Tenta um soneto, Marilia,
Feito de palavra boa...

Tenta, da palavra mais mundana...
Nada de anjos... Só coisa humana...
Não precisa ser a oitava maravilha...

Tenta Marilia, o soneto que te atenta...
E fica atenta, Marilia, bem atenta
E tenta logo um soneto, vai, Marilia...

3.5.03

A Diferença

Eu sou pior do que os versos que eu escrevo...
Eu tomo os meus poemas como guia...
Se eu tenho sede eles são a água que eu bebo
Se estou sozinho eles são minha companhia...

Eu sou pior do que os versos que eu escrevo...
Não tenho tanta rima e ritmo em mim.
Meu verso é o meu chapéu que me protege
Do homem que hoje eu sou... fraco... ruim...

Eu sou pior do que os versos que eu desenho...
Em mim carece haver mais poesia...
Em mim a rima se desajustou...

Eu sou menor do que os versos pois não tenho
Em mim as cores leves da harmonia...
Por isso a poesia me adotou...

2.5.03

A Derrota

Não há derrota nenhuma em ter perdido,
Em não ter sido chamado...
Não há derrota em ter sido vencido...
Não há derrota em ter sido derrotado...

Nem é derrota ter sucumbido...
Nem ninguém perde por ter falhado...
Não há derrota em ter sido destruido...
Não há derrota em ter sido goleado...

Derrota sim, é ter desistido...
Derrota é ter, sim, se acovardado...
Não ter lutado por ter fugido...

É deixar de ser sem nem ter sido...
É morrer antes de ter nascido...
É cair antes de ter sido derrubado...
90 anos
Essa letra de canção foi escrita em 31 de dezembro de 1996. Inspirada na dramatização do poema Tintino de Francisca Clotilde, psicografado por Chico Xavier. Achada casualmente ao revirar papéis, já não me lembrava mais dela. Considerei pronta para ocupar lugar nesse nosso caderninho eletronico. Tintino é a estória de um palhaço que aos 90 anos passa sua vida à limpo. Dedico aos nossos velhinhos de todas as idades.

O velho, que já foi moço, curva-se ao tempo, se inclina ao chão.
O corpo, cansado, dobra. A pele se enruga. O seu coração
De tanto bater, cansado, bate sem pressa e suave. A mão
É tremula , tenue... Quase que não sossega. Quase que não

Se acalma. E a voz é calma. Sibilo doce. Doce canção.
Encarquilhado, cansado, mão no cajado, parece tão
Diminuido, acabado, desanimado, sem condição...
Sem ter ninguém do seu lado, vai ladeado da solidão...

O velho, que já foi moço, curva o pescoço... Sua alma não...
Serena, segue liberta. Desperta. Leve. Com decisão.
Dispensa cansaço, dores, rugas na face, tremor na mão...
Suave, segue sem medo, bate suas asas, vai n'amplidão...
A calunia

A calunia
É a propriedade
De fazer da mentira
Uma verdade
A intriga

A intriga
Tem o dom impressionante
De transformar formiga
Em elefante.
A fofoca

A fofoca
Tem o poder extraordinario
De transformar o A
No abecedário