27.2.09

O pequeno verso

Um verso pequeno,
De palavra incerta
E de significado
Insignificante,
É certamente um verso
Mais que suficiente
Pra ser como um Davi
Diante de um gigante...
Um verso minimo,
De palavra torta
E mal escolhida,
Tem o impressionante
Poder de conduzir
A carne morta
À vida além da vida
E mais adiante...
Um verso todo
De palavra quase,
Mesmo sem sentido,
Tem um tom triunfante...

26.2.09

A volta

Depois dos dias de samba e de doideira,
Nessa manhã de sol de quinta feira
A poesia voltou, timida e breve,
Num verso quase de eter, quase nada,
Pra contrastar com o ziruguidum da batucada
E com o batuque do coração de quem a escreve.

A volta silenciosa da palavra
Que longe de toda folia descansava
E longe de toda gente adormecia
É pois assim, silenciosa e etérea,
E imprevisível, como a bactéria,
A volta definitiva da poesia...

22.2.09

Carnaval

O verso tentou,
O soneto escreveu,
A quadra, absoluta, se exibiu...
Mas não adiantou...
Anoiteceu
E o surdo,
Ensimesmado,
Não ouviu...

21.2.09

Carnaval

Sabado de samba,
De seguir o trio,
Sabado de sunga,
De tocar surdão,
Sabado de pinga,
De vestir a saia,
Mascarado sujo,
Sabado folião...
Carnaval

Afina o surdo,
Prepara o corpo,
Ajeita o carro de som...
Roupas de mulher,
Lenço no cabelo,
Rouge, lapis, sombra,
Gloss, Batom...
É o carnaval
Do povo brasileiro,
Cachaça, lança,
Folião ferrado...
A fila anda,
Ninguém é de ninguém,
E quarta feira
Tudo terminado...

20.2.09

Carnaval

_Mas só quarta feira
Depois de meio dia
Vai ter poesia?
E o verso ritimado?
E o soneto cadenciado?
E a redondilha?

_Verso ritimado?
Soneto cadenciado?
Redondilha?
Pra que?
Se o que importa
É ver o desfile
Da União da Ilha...

19.2.09

Carnaval

Até quarta feira
Depois de meio dia,
Viver significa
Cair na folia
E a vida significa
Carnaval...
Fica adiada, por isso,
A poesia
Até quarta feira
Depois de meio dia,
Quando a vida comum
Volta ao normal...

12.2.09

A minha amiga Roberta Profice

Sabe das letras o sentido inteiro,
E das palavras o significado.
Tem do poema o paladar e o cheiro,
Do verso tem o tom cadenciado.
Sabe do coração o paradeiro,
Do amor conhece o um lado e o outro lado,
Da dor já decorou todo tempero,
E traz o coração já estampado
Da multiplicidade de um salgueiro
E da ternura de um gesto abençoado.
A minha amiga do Rio de Janeiro
A quem esse versinho é dedicado...
A minha amiga Carla que eu amo muito

É ela que eu amo,
É ela que eu tenho sempre do meu lado,
E mesmo estando ela
A quilometros de distancia,
Eu a vejo diariamente,
E é por ela
Que meu coração
Bate descompassado...

6.2.09

Caminho

Devagarinho...
Um dia
Eu tive pressa,
Já não tenho mais.
Perigo
Em cada encosta
Escondidinho,
Pra não falar
Do calor
Que às vezes faz...
E as vezes chove,
E outras
Um friozinho...
Tem dias que a fome
Não me deixa em paz...
E nada faz cansar,
Chutar o balde,
Ficar olhando
Insistente
Só prá trás...
É de amanhã,
É de sonho
Meu caminho,
Já foi um dia
Só espasmos
Cerebrais...
Hoje é semente,
O universo
Num grãozinho...
É quase nada...
Mas é todo gás...

O meu caminho...

5.2.09

Caminho

Muito,
Pra frente,
Desafinado,
Às vezes cansado,
Na maioria não...
Sempre,
Preciso,
Sempre precisado,
Sozinho sempre,
E o meu coração...
Caminho...
Pesado,
Imperativo,
As vezes triste,
As vezes quase,
Outras vezes
Solidão...
Nem sempre um copo
Tinto de vinho...
Nem sempre
Mais que um copo...
Um garrafão...
Caminho

Por onde passo,
Por onde passam
Verdades,
Versos,
Fardos
E mentiras...
Caminho por onde cato
Distraido
As pedras
Que distraida
Tu me atiras...
Dificil,
Torto,
Cruel
E demorado,
Desarrumado,
Muito sozinho...
Mapa de vento,
Deserto
Rascunhado,
Sutil
E delicado
O meu
Caminho...
Caminho

Devagarinho
Não tenho pressa nenhuma
De seguir.
Desvio
De algumas pedras no caminho.
Não vou correndo pra nenhum lugar.
Caminho
Feito de pedra e de tempo
De esperar...
Não tenho nada
Que eu não precise agradecer...
Nenhuma entrega
Que eu não precise
Quantificar...

3.2.09

Danças

Gastei rimas ricas
E pleonasmos
Tentando um verso
Gostoso de se ler...
Palavras disfarçadas
De poemas...
Disfarces
Dançarinos
Do escrever...
Gastei o que eu tinha,
O que eu pensei que eu tinha,
O que eu não tinha
E o que eu tentava ter...
Gastei oxitonos
E onomatopéias,
Metáforas
Que usei sem conhecer...
E o verso
Como sempre indiferente
Sumiu
Como quem morre
Sem nascer...

1.2.09

Desavenças

Gastei lapiseiras
Rascunhando versos
Que as letras não quiseram
Registrar...
Palavras,
Rimas,
Frases inteiras,
Quem há de compreender
A poesia?
Provoca,
Arrisca,
Finge que chega
E de repente
Dá de evaporar...
Sonetos,
Versos livres,
Quadras,
Frases,
E nada escrito
Só por ironia...
Onde é que o poema
Que avisa que vem
E se manda,
Onde é que esse poema
Vai morar?
Desconfianças

Gastei minhas horas
Estudando um verso
E a poesia
Não soube me dizer
Que dia,
Como,
Onde,
Quando,
Quanto,
De que quantas
Formas possiveis,
E pra que...